domingo, 2 de julho de 2023

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'De todos os temores me livrou o Senhor Deus(Sl 33)

Primeira Leitura (At 12, 1-11) - Segunda Leitura (2Tm 4,6-8.17-18)  -  Evangelho (Mt 16,13-19)

 02/07/2023 - Solenidade de São Pedro e São Paulo Apóstolos

32. AS COLUNAS DA IGREJA

Neste domingo, a liturgia católica celebra a Solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, primícias da fé, fundamentos da Igreja. De toda a fundamentação bíblica do primado de Pedro, é em Mt 16, 18-19 que aflora, mais cristalina do que nunca, a água viva que brota e transborda das Palavras Divinas as primícias do papado e da Igreja, nascidos juntos com São Pedro: 'Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la' (Mt 16, 18). Esta será a Igreja Militante, a Igreja Temporal, A Igreja da terra, obra temporária a caminho da Igreja Eterna do Céu. Mas ligada a Pedro e aos sucessores de Pedro, sumos pontífices herdeiros da glória, poder e realeza de Cristo.

(Cristo entrega as chaves a São Pedro - Basílica de Paray-le-Monial, França)

E Jesus vai declarar, em seguida e sem condicionantes, o poder universal e sobrenatural da Santa Igreja Católica Apostólica e Romana: 'Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que desligares na terra será desligado nos céus' (Mt 16, 19). Ligado ou desligado. Poder absoluto, domínio universal, primado da verdade, Cátedra de Pedro. Na terra árida de algum ermo qualquer da 'Cesareia de Felipe', erigiu-se naquele dia, pela Vontade Divina, nas sementeiras da humanidade pecadora, a Santa Igreja, a Videira Eterna.

Com São Paulo, a Igreja que nasce, nasce com um gigante do apostolado e se afirma como escola de salvação universal. Eis aí a síntese do espírito cristão levado à plenitude da graça: Paulo se fez 'outro Cristo' em Roma, na Grécia, entre os gentios do mundo. No apostolado cristão de São Paulo, está o apostolado cristão de todos os tempos; a síntese da cristandade nasceu, cresceu e se moldou nos acordes pautados em suas epístolas singulares proferidas aos Tessalonicenses, em Éfeso ou em Corinto. Síntese de fé, que será expressa pelas próprias palavras de São Paulo: 'Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé' (2Tm 4,7).

(São Paulo Apóstolo - Basílica de Alba, Itália)

São Pedro foi o patriarca dos bispos de Roma, São Paulo foi o patriarca do apostolado cristão. Homens de fé e coragem extremadas, foram as colunas da Igreja. São Pedro morreu na cruz, São Paulo morreu por decapitação pela espada. Mártires, percorreram ambos os mesmos passos da Paixão do Senhor. E se ergueram juntos na Glória de Deus pela Ressurreição de Cristo.

sábado, 1 de julho de 2023

OS GRANDES SINAIS PRECURSORES DO JUÍZO FINAL (VII)

     

Et tunc parebit signum Filii hominis in cælo et tunc plangent omnes tribus terræ et videbunt Filium hominis venientem in nubibus cæli cum virtute multa et majestate

Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem. Todas as tribos da terra baterão no peito e verão o Filho do Homem vir sobre as nuvens do céu cercado de glória e de majestade' (Mt 24,30)

Introdução

Até aqui temos considerado os sinais que precederão o fim do mundo e o dia do Juízo Geral, e também a perseguição que será levada a cabo pelo Anticristo, que afastará quase todo o mundo de Jesus Cristo, em troca de bens, honras e prazeres mundanos como suborno, enganando as pessoas com falsos milagres e hipocrisia, e forçando-as a adotar os seus pontos de vista, ainda que sendo por meio de torturas cruéis. Vimos também o que devemos aprender com tudo isto. Em outro sermão, consideramos os sinais terríveis que serão vistos no sol, na lua e nas estrelas, e a perturbação que deve ocorrer em todos os elementos, sinais que encherão os ímpios de medo e os bons de consolação; e o mesmo deve ser entendido das calamidades públicas que afligem o mundo em nossos tempos. No domingo passado vimos que esses sinais são provas e efeitos da misericórdia e da bondade divinas para com os pecadores, a fim de que, atemorizados, recolham-se em si mesmos, façam penitência e escapem à cólera de Deus no último dia; assim também as calamidades de que sofremos hoje em dia são vozes de advertência vindas da bondade e da misericórdia de Deus, para nos castigar pelos nossos pecados, induzir-nos a emendarmo-nos e, assim, ajudar-nos a escapar ao castigo eterno do inferno. 

E o que é que deve acontecer depois de todos estes sinais e presságios, meus queridos irmãos? 'Então verão o Filho do Homem'; então virá o último dia e Jesus Cristo, com toda a sua majestade e glória, aparecerá no vale de Josafá para julgar os vivos e os mortos. Mas quando? Imediatamente após esses sinais ou muito tempo depois? Mas quem nos pode dizer isso? É inútil perguntar porque ninguém o sabe. Tudo o que sabemos com certeza é que o último dia virá sobre os homens de forma inesperada e, portanto, devemos estar sempre preparados para ele. É este o tema do meu sermão de hoje.

Plano do Discurso

Após o aparecimento dos sinais, o último dia de julgamento virá sobre os homens de forma repentina e inesperada. É o que mostrarei brevemente nesta primeira parte. Portanto, devemos estar preparados para ele a cada hora de nossas vidas: 'Endireitai o caminho do Senhor': esta conclusão eu provarei na segunda parte. Para que possamos observá-la cuidadosamente, ajudai-nos com a vossa graça, ó futuro Juiz dos homens! Nós vos pedimos isto por intercessão de Maria e dos nossos santos anjos da guarda.

Primeira Parte

Que o dia do juízo virá sobre os homens inesperadamente é evidente pelo fato de que Deus reservou o conhecimento deste dia somente para si mesmo, e não o revelou nem o revelará a nenhum dos Profetas ou a qualquer outro mortal. Houve muitos santos amigos de Deus a quem Ele revelou o dia, ou mesmo a hora, de sua morte; houve pecadores iníquos cujo tempo de morte e condenação eterna foi predito pelos Profetas. A Jerusalém Celeste foi mostrada a São João Evangelista. São Paulo foi arrebatado até ao terceiro céu, onde, como ele próprio nos diz, viu mistérios que não podem ser revelados aos homens. Jesus Cristo falou muitas vezes aos seus discípulos do reino de Deus, das alegrias indescritíveis que aí os esperavam como recompensa dos seus trabalhos: 'Mas eu vos chamei amigos porque tudo o que ouvi de meu Pai vos dei a conhecer'¹. Mas a respeito do tempo do fim do mundo e da vinda do Juiz, ninguém, nem no céu nem na terra, ouviu jamais uma palavra. 'Mas daquele dia ou daquela hora' - diz Nosso Senhor expressamente aos seus discípulos, depois de lhes ter falado dos sinais que hão de anunciar o último dia - 'ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, senão o Pai'². Com estas palavras, Ele refreou a curiosidade dos seus discípulos a respeito do tempo do julgamento final, como se lhes dissesse: 'porque haveríeis de querer saber o que está oculto aos anjos e até ao próprio Filho do Homem?'

Mas, caríssimo Senhor, como Vós não sabeis disso? Não sois Vós o Juiz dos vivos e dos mortos, a quem o Pai confiou o poder supremo de decidir a sorte dos mortais no último dia e, portanto, não compete a Vós fixar a data e determinar quando se realizará o julgamento? E como podeis Vós não saber nada sobre isso embora, segundo o testemunho do Apóstolo, todos os tesouros da sabedoria e da ciência de Deus estejam escondidos em Vós? Estas palavras de Nosso Senhor, meus caros irmãos, são interpretadas de diferentes maneiras pelos grandes sábios e doutores da Igreja, entre os quais São Gregório, Santo Ambrósio, São Hilário e Santo Agostinho. Dizer que o Filho do Homem não sabe nada sobre o último dia não equivale a ignorar isso em absoluto, mas apenas que não o quer revelar a nenhuma criatura; isto é, Jesus não tem disso um conhecimento que possa comunicar a outros. Da mesma forma, um sacerdote, se lhe perguntarem o que uma tal pessoa lhe disse em confissão, pode responder com a verdade: 'Não sei'. Porque, em tais circunstâncias, as palavras significam simplesmente: 'não o sei por um conhecimento que possa comunicar a outros'; ou então 'tenho tão pouca liberdade para falar disso como se o ignorasse absolutamente'. Assim, o conhecimento do tempo do último dia é mantido estritamente fora do alcance dos homens e, portanto, esse dia virá inesperadamente e cairá sobre os homens quando eles menos estiverem pensando nisso.

A mesma verdade é provada sem reservas pelas palavras de Nosso Senhor no Evangelho de São Mateus: 'Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e ilumina até o ocidente, assim será também a vinda do Filho do Homem'³. O relâmpago, como sabemos, aparece de repente e, antes que alguém se aperceba dele, emerge das nuvens e brilha diante dos nossos olhos e 'assim será também a vinda do Filho do Homem'. Ele aparecerá aos homens antes que eles tenham tempo de pensar na sua vinda. São Paulo diz: 'Mas, irmãos, quanto aos tempos e momentos, não necessitais de que vos escrevamos. Porque vós mesmos sabeis perfeitamente que o dia do Senhor virá como um ladrão de noite'⁴. Quase idênticas são as palavras que lemos na Epístola de São Pedro: 'o dia do Senhor virá como um ladrão'⁵. Um ladrão nunca se atreveria a entrar numa casa quando sabe que os seus habitantes estão de guarda. Não; aquele que é roubado só se apercebe disso quando vê que as suas coisas desapareceram. Como um ladrão na noite, o dia do Senhor chegará inesperadamente. A partir das palavras de São Paulo, São Crisóstomo conclui que a vinda do Juiz terá lugar durante a noite, quando os homens estiverem a dormir e nem sequer puderem pensar nisso.

De outra forma, a mesma verdade é confirmada em termos equivalentes por Nosso Senhor no Evangelho de São Lucas para descrever a maneira pela qual os homens daqueles tempos viverão. E como é que as pessoas agiam nessa altura? 'E como aconteceu nos dias de Noé, assim será também nos dias do Filho do Homem. Comiam e bebiam; casavam e davam-se em casamento até ao dia em que Noé entrou na arca. E veio o dilúvio, e destruiu-os a todos'⁶. Tremenda foi a cegueira e a estupidez dos homens daqueles dias; não deram a menor atenção aos recorrentes avisos do Patriarca Noé.

Durante cem anos, dedicou-se à construção da arca e o povo foi ver a sua obra; perguntaram-lhe, sem dúvida, para que servia a enorme estrutura, por que razão continha tantas divisões, alas, divisórias e estábulos. Noé lhes disse: 'Fazei penitência; não pequeis mais; aplacai a ira de Deus; dentro de poucos anos o mundo inteiro será destruído, porque as águas subirão mais alto do que a montanha mais alta e não restará terra seca suficiente para um passarinho repousar; convertei-vos, pois, a Deus'. 'Ó quão tolo és! - diziam-lhe - quem te meteu na cabeça essa insensatez? Por que te atormentas tanto com esse trabalho inútil? Diverte-te como nós; come, bebe e alegra-te'. Entretanto, chegou o momento do dilúvio: o céu escureceu, as nuvens começaram a acumular-se, o mar aprumou-se e invadiu a terra. Pobres mortais, ainda vos recusais a acreditar? Sim; não se sentem nem um pouco perturbados; continuam como antes, como se estivessem ainda na idade do ouro e não tivessem nenhum perigo a temer. Não faziam outra coisa senão comer, beber, dançar e cantar; divertiam-se em festas de casamento e outros festejos a valer: 'E veio o dilúvio, e destruiu-os a todos', pois enquanto viviam no meio dos seus pecados, abriram-se as comportas do céu e a água arrastou-os a todos. 'Do mesmo modo' - continua o Evangelista - 'aconteceu nos dias de Lot: todos comiam e bebiam, compravam e vendiam, plantavam e construíam e no dia em que Lot saiu de Sodoma, choveu fogo e enxofre do céu, e destruiu-os a todos'⁷.

'Assim será no dia em que o Filho do Homem se manifestar'⁸. Não deveríamos pensar que tantos sinais e presságios - guerras, fomes, pestes, terremotos, as perseguições do Anticristo, a perturbação dos elementos - seriam suficientes para tornar os homens daquele tempo atentos e vigilantes? Mas não! Quando o medo e o terror causados pelos sinais terminarem, eles retomarão o seu antigo modo de vida. Seguindo a opinião de São Jerônimo, que assim escreve sobre as palavras de São Paulo: 'Quando disserem paz e segurança, então virá sobre eles uma destruição súbita'⁹: eu sustento que, quando os sinais tiverem desaparecido, os homens viverão em paz e sossego durante algum tempo (quanto tempo ninguém pode dizer) e continuarão no seu modo de vida anterior; embora a verdadeira fé seja então proclamada em todo o mundo, ainda haverá pecadores que levarão uma vida muito má e cristãos tíbios que levarão uma vida muito preguiçosa. 

Nessas circunstâncias então, quando menos esperarem, 'num abrir e fechar de olhos'¹⁰ - como diz o Apóstolo - cairá fogo do céu e o mundo será reduzido a cinzas; então a terrível trombeta ressoará em todos os lugares e a voz do anjo será ouvida clamando: 'Levantai-vos, ó mortos, e vinde ao Juízo!' Aqui, meus caros irmãos, temos toda a preparação que será feita para introduzir o grande dia do julgamento final. E que conclusão devemos tirar disso? 'Endireitai o caminho do Senhor', ou seja, devemos preparar-nos cuidadosamente para esse dia desde agora, como vamos mostrar na Segunda Parte.

1. Vos autem dixi amicos, quia omnia quaecumque audivi a Patre meo, nota feci vobis (Jo 15,15).
2. De die autem illo vel hora nemo scit, neque angeli in caelo, neque Filius, nisi Pater (Mc 13,32).
3. Sicut enim fulgur exit ab Oriente, et Paret usque in Occidentem, ita erit et adventus Filii hominis (Mt 24,27).
4. De temporibus autem, et momentis, fratres, non indigetis ut scribamus vobis. Ipsi enim diligenter scitis, quia dies Domini, sicut fur in nocte, ita veniet (I Ts 5, 1-2).
5. Adveniet autem dies Domini ut fur (II Pd 2,10).
6. Sicut factum est in diebus Noe, ita erit et in diebus Filii hominis. Edebant, et bibebant; uxores ducebant et dabantur ad nuptias, usque in diem, qua intravit Noe in arcam; et venit diluvium, et perdidit omnes (Lc 17,26-27).
7.Similiter sicut factum est in diebus Lot: edebant, et bibebant; emebant, et vendebant; plantabant, et aedificabant; Qua die autem exiit Lot a Sodomis, pluit ignem et sulphur de caelo, et omnes perdidit (Lc 17,28-29).
8. Secundum haec erit qua die Filius hominis revelabitur (Lc 17,30).
9. Cum enim dixerint: Pax et securitas, tunc repentinus eis superveniet interitus (I Ts 5,3).
10. In ictu oculi (I Cor 15,52).

(Excertos da obra 'Sermons on the Four Last Things' - Sermon 30, do Rev. Francis Hunolt /1694 -1746/, tradução do autor do blog)

PRIMEIRO SÁBADO DO MÊS

      

DEVOÇÃO DOS CINCO PRIMEIROS SÁBADOS  

sexta-feira, 30 de junho de 2023

SOBRE AS VERDADES ETERNAS

Jesus: 'Não te deixes cativar pela elegância e sutileza dos dizeres humanos, porque o reino de Deus não consiste em palavras, mas na virtude (1 Cor 2,4). Atende às minhas palavras, que inflamam o coração, iluminam o espírito, levam à compunção e produzem muitas consolações. Nunca leias minha palavra com o fim de pareceres mais douto ou sábio. Aplica-te a mortificar teus vícios, porque isso te traz mais proveito que o conhecimento das mais difíceis questões.

Por muito que estudes e aprendas, terás que referir-se a tudo sempre ao único princípio. Sou eu que ensino ao homem a ciência, e dou aos pequeninos mais clara compreensão do que os homens são capazes de ensinar. Aquele a quem eu ensinar, depressa será sábio e muito aproveitará espiritualmente. Ai daqueles que indagam dos homens muitas coisas curiosas e tratam pouco dos meios de me servir. Tempo virá em que aparecerá o Mestre dos mestres, Cristo, Senhor dos anjos, para tomar lições de todos, isto é, para examinar a consciência de cada um. E com a lâmpada na mão perscrutará então Jerusalém e revelará o segredo das trevas, fazendo calar as objeções das línguas humanas.

Eu sou o que levanta num instante o espírito humilde, de maneira que compreenda melhor as razões das verdades eternas, do que se houvera estudado dez anos nas escolas. Eu ensino sem ruído de palavras, sem confusão de opiniões, sem espalhafato, sem contenda de argumentos. Eu sou o que ensina a desprezar as coisas terrenas, a aborrecer as coisas presentes, a buscar e apreciar as eternas, a fugir às honras, sofrer as injúrias, por em mim toda esperança, a não desejar coisa alguma fora de mim e amar só a mim, com todo fervor, acima de tudo.

Alguns, amando-me inteiramente, aprenderam com isso coisas divinas e falavam coisas maravilhosas. Mais aproveitaram em deixar tudo do que em estudar questões sutis. A uns, porém, falo coisas comuns, a outros, mais particulares; a alguns revelo-me docemente em sinais e figuras, a outros descubro os meus mistérios com muita luz. A mesma voz fala em todos os livros, mas não ensina a todos da mesma maneira; pois eu sou o que interiormente ensina a verdade, perscruta o coração, penetra os pensamentos e inspira as ações, distribuindo a cada um segundo me apraz'.

(Da 'Imitação de Cristo', de Tomás de Kempis)

quinta-feira, 29 de junho de 2023

29 DE JUNHO - FESTA DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO

 

'Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo' (Mt 16,16)

'Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé' (II Tm 4,7)

Excertos da Homilia do Papa João Paulo II, na Solenidade de São Pedro e São Paulo, em 29/06/2000

1.'E vós, quem dizeis que Eu sou?' (Mt 16, 15). Jesus dirige aos discípulos esta pergunta acerca da sua identidade, enquanto se encontra com eles na Alta Galileia. Muitas vezes acontecera que foram eles a interrogar Jesus; agora é Ele quem os interpela. A sua pergunta é específica e espera uma resposta. Simão Pedro toma a palavra em nome de todos: 'Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo' (Mt 16, 16). A resposta é extraordinariamente lúcida. Nela se reflete de modo perfeito a fé da Igreja. Nela nos refletimos também nós. De modo particular, reflete-se nas palavras de Pedro, o Bispo de Roma, por vontade divina o seu indigno sucessor.

2. 'Tu és o Cristo!'. À confissão de Pedro, Jesus replica: 'És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne nem o sangue quem to revelou, mas o Meu Pai que está nos céus' (Mt 16, 17).

És feliz, Pedro! Feliz, porque esta verdade, que é central na fé da Igreja, não podia emergir na tua consciência de homem, senão por obra de Deus. 'Ninguém', disse Jesus, 'conhece o Filho senão o Pai, como ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar' (Mt 11, 27). Reflitamos sobre esta página evangélica particularmente densa: o Verbo encarnado revelara o Pai aos seus discípulos; agora é o momento em que o próprio Pai lhes revela o seu Filho unigênito. Pedro acolhe a iluminação interior e proclama com coragem: 'Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!'

Estas palavras nos lábios de Pedro provêm do profundo do mistério de Deus. Revelam a verdade íntima, a própria vida de Deus. E Pedro, sob a ação do Espírito divino, torna-se testemunha e confessor desta soberana verdadeA sua profissão de fé constitui assim a sólida base da fé da Igreja: 'Sobre ti edificarei a minha Igreja' (Mt 16, 18). Sobre a fé e a fidelidade de Pedro está edificada a Igreja de Cristo.

3. 'O Senhor assistiu-me e deu-me forças a fim de que a palavra fosse anunciada por mim e os gentios a ouvissem' (2 Tm 4, 17). São palavras de Paulo ao fiel discípulo Timóteo: escutamo-las na Segunda Leitura. Elas dão testemunho da obra nele realizada pelo Senhor, que o tinha escolhido como ministro do Evangelho, 'alcançando-o' na via de Damasco (Fl 3, 12). Envolvido numa luz fulgurante, o Senhor se lhe havia apresentado, dizendo:  'Saulo, Saulo, por que Me persegues?' (At 9,4), enquanto uma força misteriosa o lançava por terra.

'Quem és Tu, Senhor?', perguntara Saulo. 'Eu sou Jesus, a quem tu persegues!'. Foi esta a resposta de Cristo. Saulo perseguia os seguidores de Jesus e Jesus fez-lhe tomar consciência de que era Ele mesmo a ser perseguido neles. Ele, Jesus de Nazaré, o Crucificado, que os cristãos afirmavam ter ressuscitado. De Damasco, Paulo iniciará o seu itinerário apostólico, que o levará a defender o Evangelho em tantas partes do mundo então conhecido. O seu impulso missionário contribuirá assim para a realização do mandato de Cristo aos Apóstolos: 'Ide, pois, ensinai todas as nações...' (Mt 28, 19).

4. Caríssimos Irmãos no Episcopado vindos para receber o Pálio, a vossa presença põe em eloquente ressalto a dimensão universal da Igreja, que derivou do mandato do Senhor: 'Ide... ensinai a todas as nações' (Mt 28, 19). Todas as vezes que vestirdes estes pálios, recordai, irmãos caríssimos que, como pastores, somos chamados a salvaguardar a pureza do Evangelho e a unidade da Igreja de Cristo, fundada sobre a 'rocha' da fé de Pedro. A isto nos chama o Senhor; esta é a nossa irrenunciável missão de guias previdentes do rebanho que o Senhor nos confiou.

5. A plena unidade da Igreja! Sinto ressoar em mim a recomendação de Cristo. Deus nos conceda chegarmos quanto antes à plena unidade de todos os crentes em Cristo. Obtenhamos este dom dos Apóstolos Pedro e Paulo, que a Igreja de Roma recorda neste dia, no qual se faz memória do seu martírio e, por isso, do seu nascimento para a vida em Deus. Por causa do Evangelho, eles aceitaram sofrer e morrer e se tornaram partícipes da ressurreição do Senhor. A sua fé, confirmada pelo martírio, é a mesma fé de Maria, a Mãe dos crentes, dos Apóstolos,  dos Santos  e Santas de  todos  os séculos.

Hoje a Igreja proclama de novo a sua fé. É a nossa fé, a imutável fé da Igreja em Jesus, único Salvador do mundo; em Cristo, o Filho de Deus vivo, morto e ressuscitado por nós e para a humanidade inteira.

São Pedro e São Paulo, rogai por nós! 

quarta-feira, 28 de junho de 2023

DOUTORES DA IGREJA (XV)

15. São Pedro Damião, Bispo (†1072)

Doutor Austero


Concessão do título: 1823 - Papa Leão XII

Celebração: 21 de fevereiro (Memória Facultativa)

 Obras e Escritos 

  • De Divina Omnipotentia
  • Dominus Vobiscum - 'O Senhor é convosco'
  • Vida de Romualdo
  • Obra Eremítica
  • Officium Beatae Virginis
  • Liber Gomorrhianus - Livro de Gomorra

PALAVRAS DA SALVAÇÃO

'Meu Senhor está na Cruz e perguntas por que choro? Quisera eu ser neste momento o maior oceano da terra para ter tudo isso de lágrimas. Quisera que se abrissem ao mesmo tempo todas as comportas do mundo e se soltassem as cataratas e os dilúvios para me emprestarem mais lágrimas. Mas ainda que juntemos todos os rios e mares, não haveria lágrimas suficientes para chorar a dor e o amor do meu Senhor Crucificado. Quisera ter as asas invencíveis de uma águia para atravessar as cordilheiras e gritar sobre as cidades: O Amor não é amado! O Amor não é amado! Como é que os homens podem amar uns aos outros se não amam o Amor?'

(São Francisco de Assis)