sábado, 1 de abril de 2023

DIÁRIO DA QUARESMA 2023 - DIA XXXVII

    

Trigésimo Sétimo Dia

A penitência ou contrição pode ser considerada como um sacramento ou como virtude ou ato de virtude e consiste em sentir sincera dor pelos pecados cometidos, manifestando-se adotar então uma firme determinação de não cometê-los mais. Eis o fundamento da penitência: dor do pecado e o propósito de não mais pecar.

Propósito do Dia: Rezar o Salmo Penitencial CXLII dado abaixo e escolher uma destas práticas (que pode ser nova ou repetida de dia anterior ou adotando-se qualquer outra que julgar mais conveniente) para viver esta Quaresma no dia de  amanhã.

Salmo CXLII

Senhor, ouvi a minha oração; pela vossa fidelidade, escutai a minha súplica, atendei-me em nome de vossa justiça.
Não entreis em juízo com o vosso servo, porque ninguém que viva é justo diante de vós.
O inimigo trama contra a minha vida, ele me prostrou por terra; relegou-me para as trevas com os mortos.
Desfalece-me o espírito dentro de mim, gela-me no peito o coração.
Lembro-me dos dias de outrora, penso em tudo aquilo que fizestes, reflito nas obras de vossas mãos.
Estendo para vós os braços; minha alma, como terra árida, tem sede de vós.
Apressai-vos em me atender, Senhor, pois estou a ponto de desfalecer. Não me oculteis a vossa face, para que não me torne como os que descem à sepultura.
Fazei-me sentir, logo, vossa bondade, porque ponho em vós a minha confiança. Mostrai-me o caminho que devo seguir, porque é para vós que se eleva a minha alma.
Livrai-me, Senhor, de meus inimigos, porque é em vós que ponho a minha esperança.
Ensinai-me a fazer vossa vontade, pois sois o meu Deus. Que vosso Espírito de bondade me conduza pelo caminho reto.
Por amor de vosso nome, Senhor, conservai-me a vida; em nome de vossa clemência, livrai minha alma de suas angústias.
Pela vossa bondade, destruí meus inimigos e exterminai todos os que me oprimem, pois sou vosso servo.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. Como era no princípio, agora e sempre. Amém. 

O DOGMA DO PURGATÓRIO (LIII)

Capítulo LIII

Auxílio às Santas Almas - A Santa Missa - A Libertação do Monge de Clairvaux - Beato Henrique Suso e o Purgatório 

Nada, de tudo o que podemos fazer em favor das almas do Purgatório, nada há de mais precioso do que a imolação do nosso Divino Salvador sobre o altar. Além de ser a doutrina expressa da Igreja, manifestada em seus Concílios, muitos fatos milagrosos, devidamente autenticados, não deixam margem para dúvidas quanto a este ponto.

Já falamos do monge de Clairvaux que foi libertado do purgatório pelas orações de São Bernardo e sua comunidade. Este monge, cuja vida religiosa não tinha sido tão meritória, apareceu depois da sua morte para pedir a ajuda de São Bernardo. O santo abade, com todos os seus fervorosos discípulos, apressou-se em oferecer orações, jejuns e missas pelo pobre irmão falecido. Este, tendo alcançado a libertação, mostrou-se, cheio de gratidão, a um religioso mais idoso da comunidade, que rezara com especial devoção em sua intenção. Questionado sobre o sufrágio que mais lhe tinha sido proveitoso, em vez de responder diretamente, tomou o ancião pela mão e, conduzindo-o à igreja onde se celebrava a missa, disse, apontando para o altar: 'Eis o grande poder redentor que quebrou minhas correntes; eis o preço do meu resgate: é a hóstia salvadora, que tira os pecados do mundo' (L'Abbe Postel, Le Purgatoire, cap. 5; cf. Rossign., Merv., 47).

Eis aqui outro fato, relatado pelo historiador Fernando de Castela, e citado pelo padre Rossignoli. Havia em Colônia, entre os alunos das classes superiores da universidade, dois religiosos dominicanos de grande talento, um dos quais era o beato Henrique Suso. Os mesmos estudos, o mesmo tipo de vida e, sobretudo, o mesmo gosto pela santidade, fizeram-nos contrair uma íntima amizade e a repartirem mutuamente as mercês que recebiam do Céu.

Terminados os estudos, vendo que iam separar-se, para regressarem cada um ao seu convento, concordaram e prometeram-se mutuamente que o primeiro dos dois que morresse seria assistido pelo outro, durante um ano inteiro, pela celebração de duas missas por semana – uma na segunda-feira como missa de Requiem como era de costume e outra, na sexta-feira (dia da Paixão do Senhor), na medida em que as liturgias permitissem. Assim comprometidos, despediram-se com um beijo da paz e deixaram Colônia. Por vários anos, ambos continuaram a servir a Deus com fervor muito edificante. O irmão, cujo nome não é mencionado, foi o primeiro a falecer e, então, Suso recebeu a notícia com os mais perfeitos sentimentos de resignação à vontade divina. Quanto ao compromisso feito entre ambos, o tempo o fez esquecer. Rezava muito em intenção do amigo, impondo-se contínuas penitências e muitas outras boas obras, mas não pensava em oferecer as missas que havia prometido.

Certa manhã, enquanto meditava em recolhimento na capela, de repente viu aparecer diante dele a alma do amigo defunto, que, olhando para ele com ternura, o repreendeu por ter sido infiel à sua palavra, dada e aceita, à qual tinha direito legítimo de ter recebido dele com toda confiança. O bem aventurado Suso, envergonhado, desculpou-se por seu esquecimento, enumerando as orações e mortificações que havia oferecido e que ainda continuava a oferecer pelo amigo, cuja salvação lhe era tão cara quanto a sua. 'É possível, meu querido irmão' - acrescentou - 'que tantas orações e boas obras que ofereci a Deus não foram suficientes para você?' 'Ó não, querido irmão' - respondeu a alma sofredora - 'isso não é suficiente. É preciso o sangue de Jesus Cristo para extinguir as chamas que me consomem; somente o augusto Sacrifício pode me redimir destes terríveis tormentos. Rogo-te, pois, que cumpras a tua palavra, e não me recuses o que me deves por justiça'.

O Beato Suso apressou-se em responder ao apelo da alma sofredora e, para reparar a sua falta, celebrou e fez celebrar mais missas do que havia prometido. No dia seguinte, vários sacerdotes, a pedido de Suso, uniram-se a ele para oferecer o Santo Sacrifício pelo falecido e repetiram estes atos de caridade por vários dias. Depois de certo tempo, o amigo de Suso apareceu novamente para ele, mas agora em uma condição muito diferente; seu semblante estava radiante e envolvido por uma luz brilhante: 'Obrigado, meu fiel amigo' - disse ele - 'eis que pelo Sangue do meu Salvador fui liberto dos meus sofrimentos. Agora vou para o Céu contemplar Aquele que tantas vezes adoramos juntos sob o véu eucarístico'. Suso prostrou-se para agradecer ao Deus de toda misericórdia e compreendeu, mais do que nunca, o valor imponderável do Santíssimo Sacrifício do Altar (Rossignoli, Merv., 34; Fernando de Castela).

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog.

PRIMEIRO SÁBADO DO MÊS

   

DEVOÇÃO DOS CINCO PRIMEIROS SÁBADOS  

sexta-feira, 31 de março de 2023

SOBRE A DOÇURA E A MANSIDÃO

Cuidai de que não desapareça jamais a mansidão de vosso coração, diz Santo Agostinho: De corde lenitas non recedat. Não vos vingueis por vossa própria conta, mas dai lugar a que passe a cólera, diz São Paulo: Non vos metipsos defendentes, sed date locum irae (Rm 12, 19). Deixai passar a ira, isto é, guardai silêncio, cedei aquele que se enfurece, sede dóceis, sofrei com paciência a injúria, não digais nada até que a calma tenha modificado vosso coração para que caiba nele a doçura e a caridade.

'Irmãos meus' - diz São Paulo aos Gálatas - 'se alguém cair desgraçadamente em algum delito, vós que sois espirituais, cuidai de levantá-lo com doçura, refletindo naquilo que se passa com cada um de vós mesmos, e temendo cair, como ele, na tentação': Fratres, et si praeoccupatus fuerit homo in aliquo delicto; vos, qui spiritales estis, hujusmodi instruite in spiritu lenitatis, considerans te ipsum ne et tu tempteris (Gl 6, 1).

Jesus Cristo, diz Santo Agostinho, pronunciou estas palavras: 'Aprendei de mim, não a fazer um mundo, não a criar as coisas visíveis e invisíveis, não criar outras maravilhas aqui na terra, nem a ressuscitar os mortos; mas, sim, aprendei de mim como ser manso e humilde de coração': Discite a me, non mundum fabricare, non cuncta visibilia et invisibilia creare, non ipso in mundo mirabilia facere, et mortos suscitare; sed quoniam mitis sum et humilis corde. 'Praticai a mansidão para com todos', disse São Paulo a seu discípulo Timóteo: Sed mansuetum esse ad omnes (2 Tm 2, 25). Somente com a mansidão destroem-se os abusos.

Em que consiste a mansidão:

1. Conservar para com todos a bondade do coração e da linguagem;

2. Moderar a ira dos demais por uma resposta honrosa, quieta, e sem fel;

3. Sofrer com paciência as injúrias;

4. Alegrar-se nelas;

5. Vencer a animosidade de um inimigo, atraí-lo, ganhá-lo e convertê-lo em amigo, com bons procedimentos e benefícios;

6. Não querer vingança;

7. Conviver sem acidez, sem soberba, sem desdém, sem querer se antepor a ninguém, sem insultar ao desgraçado, sem confrontar ao soberbo; senão procurando ganhar a uns e a outros com tato e insinuar-se com habilidade no coração deles, sem que ninguém se aperceba disso.

Quando mais áspera e dura é a pessoa, ou quanto mais extravagante o caráter daquele com quem tenhamos de tratar, mais doçura, mais mansidão, e modos mais amistosos e sinceros devemos empregar na ocasião. Não devemos opor jamais raiva a raiva, violência a violência; pois, ao contrário, a paciência e a caridade devem ser nossa norma.

A doçura é certa habilidade de espírito que, tanto nas honras quanto nas humilhações, mantém ao homem em uma perfeita igualdade de caráter. É uma virtude que chega até a fazer-nos rezar, sem que nos perturbemos, por aqueles que nos perturbam e nos molestam. Pode-se comparar a mansidão a um rochedo elevado e inabalável que resiste aos furores do mar e arrebenta suas ondas embravecidas.

Convém não fazer resistência aos que nos maltratem. A lã detém uma bala de canhão; e, entretanto, a bala rompe, atravessa, destrói as mais duras e sólidas muralhas. Não resistir, é vencer pela virtude aquele que nos ataca pela paixão. Assim, nós nos manifestamos mais fortes que ele. Não resistir, é retirar da ira os meios de acender-se. Não contestando nada e conservando a calma e um rosto pleno de doçura, o homem manso triunfa de tudo.

Devemos tomar parte nos males que nosso próximo sofre, aguentar seu mau humor, desculpar seus defeitos, condescender a seus desejos quando o possamos, e humilhar-nos sem obstáculos. Há doçuras fingidas, doçuras desdenhosas, plenas de um orgulho oculto: existe uma ostentação e afetação de mansidão mais repugnante e insultante que o azedume declarado; é a mansidão do tigre, é uma doçura hipócrita, soberanamente detestável e perigosa. Nossa mansidão deve ser sincera, consciente, modelada sobre a de Nosso Senhor Jesus Cristo, e semelhante à mansidão de Moisés, de Davi, de São Francisco de Sales e de tantas outras almas escolhidas.

(Dos Tesouros de Cornélio à Lápide) 

DIÁRIO DA QUARESMA 2023 - DIA XXXVI

     

Trigésimo Sexto Dia

Ó Maria, Mãe da Esperança, vós que acreditastes esperando contra toda a esperança e assim cooperastes na obra do Salvador, livrai-nos do desânimo, do medo e do desespero. Ajudai-nos a caminhar na estrada da confiança e concedei-nos a graça de esperar unicamente em Deus.

Propósito do Dia: Meditar sobre a Sétima Dor de Nossa Senhora - Jesus é Sepultado e escolher uma destas práticas (que pode ser nova ou repetida de dia anterior ou adotando-se qualquer outra que julgar mais conveniente) para viver esta Quaresma no dia de  amanhã.

quinta-feira, 30 de março de 2023

DIÁRIO DA QUARESMA 2023 - DIA XXXV

 

Trigésimo Quinto Dia

Aquele que espera obter misericórdia tem de ter misericórdia; aquele que quer beneficiar da bondade tem de praticá-la; aquele que quer que lhe deem tem de dar. Se queres que tenham misericórdia de ti de certa maneira, seja misericordioso com os outros com a mesma prontidão, a mesma medida e da mesma maneira.

Propósito do Dia: Meditar sobre a necessidade da prática da caridade e da misericórdia para com todos os nossos irmãos (ver esta Leitura Espiritual) e escolher uma destas práticas (ou qualquer outra que julgar mais conveniente) para viver esta Quaresma no dia de amanhã.

POEMAS PARA REZAR (XLV)


Abide with me

1. Abide with me; fast falls the eventide;
the darkness deepens; Lord, with me abide.
When other helpers fail and comforts flee,
Help of the helpless, O abide with me.

2. Swift to its close ebbs out life's little day;
earth's joys grow dim; its glories pass away;
change and decay in all around I see;
O thou who changest not, abide with me.

3. I need thy presence every passing hour.
What but thy grace can foil the tempter's power?
Who, like thyself, my guide and stay can be?
Through cloud and sunshine, Lord, abide with me.

4. I fear no foe, with thee at hand to bless;
ills have no weight, and tears not bitterness.
Where is death's sting? Where, grave, thy victory?
I triumph still, if thou abide with me.

5. Hold thou thy cross before my closing eyes;
shine through the gloom and point me to the skies.
Heaven's morning breaks, and earth's vain shadows flee;
in life, in death, O Lord, abide with me.

* Abide with me é um poema escrito pelo poeta britânico anglicano Henry Francis Lyte (1793 - 1847), comumente adaptado como hino religioso muito tradicional em países de língua inglesa.

FICA COMIGO

1. Fica comigo; tão rápido já vem o entardecer;
a escuridão assume: Senhor, vem me socorrer.
quando tantos caem e se queda mudo o louvor,
socorre os desamparados: fica comigo Senhor!

2. Tão rápido se esvai o pequeno dia assim;
as alegrias da terra passam; sua glória tem fim;
tudo muda e sucumbe por inteiro ao meu redor
só Tu não mudas nunca: fica comigo Senhor!

3. Anseio pela tua presença a cada hora que passa:
só o alento de tua palavra e o poder da tua graça
podem fazer frustrar todas as ameaças do tentador.
Entre as nuvens e sob o sol, fica comigo Senhor!

4. Não temo mal algum; tua bênção é minha armadura
o sofrimento não pesa, as lágrimas não têm amargura.
Onde está o aguilhão da morte? E o grito do ceifador?
Eu ainda triunfo sobre tudo se ficas comigo Senhor!

5. Que a tua cruz faça abrir meus olhos retraídos
e que tua luz me mostre o Céu de todos os remidos
na manhã que dissipa as sombras da terra com furor:
na vida e na morte, fica sempre comigo Senhor!

(livre tradução do poema pelo autor do blog)