sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

DOUTORES DA IGREJA (II)

 2. São Jerônimo, Presbítero (†420)

Doutor da Ciência Bíblica

Concessão do título: 1298 - Papa Bonifácio VIII
(como um dos primeiros 4 Grandes Doutores do Ocidente)
Celebração: 30 de setembro (Memória Obrigatória)
Obras e Escritos
  • Tradução da Bíblia para o Latim (Vulgata)
  • Cartas e Homilias (Evangelho de São Marcos, Salmos, etc)
  • A Perpétua Virgindade de Maria Santíssima
  • Comentários sobre os Profetas Menores
  • Liber Altercatio luciferiani et orthodoxi (O Diálogo Contra os Luciferianos)
  • Vita Malchi monachi captivi (A vida de Malco, o monge cativo)
  • Vita Hilarionis (A Vida de São  Hilarião)
  • Comentários sobre as Epístolas de São Paulo
  • Adversus Iovinianum (Contra Joviniano)
  • Adversus Vigilantium (Contra Vigilâncio)
  • Adversus Pelagianos (Contra os Pelagianos)
  • De Viris Illustribus (Sobre Homens Ilustres)
  • Apologia contra os Livros de Rufino

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

SOBRE A DISTRIBUIÇÃO DA EUCARISTIA

São Tomás de Aquino, na Suma Teológica – Parte III – Questão 82, sobre a distribuição ('dispensação') da Eucaristia:


São Tomás ratifica e nos alerta de forma cristalina que as mãos dos batizados não podem tocar a Eucaristia, sendo este um privilégio concedido exclusivamente aos presbíteros. E a razão substancial para tal impedimento é que a comunhão nas mãos viola por completo a distinção fundamental entre o sacerdócio ministerial e o sacerdócio comum a todos os batizados (heresia pregada por Lutero).

Mas... 'o bispo não recomendou assim?'*. Pode ter recomendado, imposto, exigido ou proclamado tal coisa em uma suma própria. O relativismo moral não é uma concessão diabólica destinada apenas aos leigos. Cuidado em assumir como doce o que tem um gosto amargo por princípio. É melhor uma comunhão espiritual bem feita do que uma comunhão eucarística indigna. Lembrando a passagem do evangelho do domingo passado: 'Seja o vosso ‘sim’: ‘Sim’, e o vosso ‘não’: ‘Não’. Tudo o que for além disso vem do Maligno' (Mt 4, 37). E, outra coisa, bispo nenhum vai estar ao seu lado quando no Juízo Particular da sua alma. Nesta hora tremenda, o seu livre arbítrio não poderá buscar refúgio de mediação entre os homens.

* parece que a epidemia somente mantém-se crítica no caso da comunhão na boca (vide carnaval, futebol, shows, etc). 

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

DOUTORES DA IGREJA (I)

1. Santo Ambrósio de Milão, Bispo (†397)
Doutor da Veneração a Nossa Senhora

Concessão do título: 1298 - Papa Bonifácio VIII
(como um dos primeiros 4 Grandes Doutores do Ocidente)
Celebração: 07 de dezembro (Memória Obrigatória)
Obras e Escritos  
  • De fide ad gratianum Augustum (Sobre a fé)
  • De Officiis Ministrorum (Sobre o Ofício dos Gabinetes de Ministros)
  • De Spiritu Sancto (Sobre o Espírito Santo)
  • De incarnationis Dominicae sacramento (Sobre o Sacramento da Encarnação do Senhor)
  • De mysteriis (Sobre os Mistérios)
  • Expositio evangelii secundum Lucam (Comentário sobre o Evangelho segundo Lucas)
  • De bono mortis (Sobre a Boa Morte)
  • De fuga saeculi (Sobre a Fuga do Mundo)
  • De Institutione Virginis et Sanctae Mariae virginitate perpetua ad Eusebium (Sobre o Nascimento da Virgem e a Perpétua Virgindade de Maria)
  • De Nabuthae (Sobre Naboth)
  • De paenitentia (Sobre a Penitência)
  • De paradiso (Sobre o Paraíso)
  • De sacramentis (Sobre os Sacramentos)
  • De viduis (Sobre as Viúvas)
  • De virginibus (Sobre as Virgens)
  • De virginitate (Sobre a Virgindade)
  • Exhortatio virginitatis (Exortação à Virgindade)
  • De sacramento regeneraçãois sive de philosophia (Sobre o Sacramento do Renascimento ou Sobre a Filosofia [fragmentos])
  • O Hexaemeron (Examerão - Seis Dias da Criação)
  • De Helia et ieiunio (Sobre Elias e o Jejum)
  • De Iacob et vita beata (Sobre Jacó e a Vida Feliz)
  • De Abraham (Sobre Abraão)
  • De Caim et Abel (Sobre Caim e Abel)
  • De Joseph (Sobre José)
  • De Isaac vel anima (Sobre Isaac ou Sobre a Alma)
  • De Noé (Sobre Noé)
  • De interpellatione Iob et David (Sobre a Oração de Jó e Davi)
  • De patriarchis (Sobre os Patriarcas)
  • De Tobia (Sobre Tobias)
  • Explanatio psalmorum (Explicação dos Salmos)
  • Explanatio symboli (Explicação dos Símbolos).
  • De obitu Theodosii; De obitu Valentiani; De excessu fratris Satyri (orações fúnebres)
  • 91 Epístolas Conhecidas
  • Uma coleção de hinos sobre a Criação do Universo.
  • Fragmentos de sermões
  • Ambrosiastro ou 'Pseudo-Ambrósio' (comentários sobre as Epístolas de São Paulo atribuídos a Ambrósio).
*eminens doctrina, insignis vitae sanctitas, et Ecclesiae declaratio (erudição eminente e insigne grau de santidade, proclamados formalmente pela Igreja)

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

O DOGMA DO PURGATÓRIO (L)


Capítulo IX

Auxílio às Santas Almas - Sufrágios pelas Boas Obras - A Misericórdia de Deus - Revelações de Santa Gertrudes - O Sacrifício de Judas Macabeu 

Se Deus consola as almas com tanta bondade, a sua misericórdia resplandece ainda mais claramente no poder que dá à sua Igreja de abreviar a duração dos seus sofrimentos. Desejando executar com clemência a severa sentença da sua Justiça, Ele concede alívio e mitigação da dor, mas o faz de forma indireta por meio da intervenção dos vivos. Ele nos dá todo o poder para socorrer os nossos irmãos padecentes por meio dos sufrágios, isto é, por meio da impetração e da satisfação.

A palavra sufrágio na linguagem eclesiástica é sinônimo de oração, mas quando o Concílio de Trento declara que as almas do Purgatório podem ser assistidas pelos sufrágios dos fiéis, o sentido da palavra toma um sentido mais abrangente, incluindo tudo aquilo que podemos oferecer a Deus em favor dos falecidos. Assim, podemos oferecer a Deus não apenas as nossas orações, mas todas as nossas boas obras, na medida em que se constituam impetratórias ou satisfatórias.

Para entender bem esses termos, lembremos que cada uma de nossas boas obras, realizadas em estado de graça, possui ordinariamente um triplo valor aos olhos de Deus: (i) o caráter meritório, ou seja, faz aumentar o nosso mérito e nos dá direito a um novo grau de glória no Céu; (ii)  o caráter impetratório (impetrar, obter) pelo que, tal como uma oração, tem a virtude de obter alguma graça de Deus; (iii) o caráter satisfatório, que incorpora, por assim dizer, um valor intrínseco capaz de satisfazer a Justiça Divina e pagar as nossas dívidas da pena temporal perante Deus. 

O mérito é inalienável e permanece sempre como propriedade da pessoa que pratica a ação. Pelo contrário, os valores impetratório e satisfatório das nossas boas obras pode beneficiar a outros, em virtude da comunhão dos santos. Isto entendido, coloquemos esta questão prática – Quais são os sufrágios pelos quais, segundo a doutrina da Igreja, podemos socorrer as almas do Purgatório? A esta pergunta respondemos: orações, esmolas, jejuns e penitências de toda espécie, indulgências e, sobretudo, o Santo Sacrifício da Missa. Por meio de todas estas obras, realizadas em estado de graça, Jesus Cristo nos permite oferecê-las à divina Majestade para alívio de nossos irmãos do purgatório e Deus as aplica a essas almas de acordo com as regras de sua justiça e misericórdia. Neste arranjo admirável, ao mesmo tempo em que protege os direitos de sua Justiça, nosso Pai Celestial multiplica os efeitos de sua Misericórdia, que é assim exercida, ao mesmo tempo, em favor da Igreja Padecente e da Igreja Militante. A assistência misericordiosa que Ele nos permite dar aos nossos irmãos sofredores é também de grande proveito para nós mesmos. É um exercício de graça não vantajoso apenas para os que partiram, mas também santo e salutar para os vivos - sancta et salubris est cogitatio pro de functis exorare.

Lemos nas Revelações de Santa Gertrudes que uma humilde religiosa de sua comunidade, tendo coroado uma vida exemplar com uma morte muito piedosa, Deus se dignou a mostrar à santa o estado da falecida na outra vida. Gertrudes viu sua alma adornada com beleza inefável e querida por Jesus, que a olhou com amor. No entanto, por causa de alguma negligência leve ainda não expiada, ela não pôde entrar no céu, mas foi obrigada a descer à morada sombria do sofrimento. Mal ela havia emergido em suas profundezas, a santa a viu reaparecer e subir ao Céu, conduzida pelos sufrágios da Igreja. Ecclesiae precibus sursum ferri (Legado Div. Pietatis, lib. 5., c. 5).

Mesmo na Antiga Lei, orações e sacrifícios eram oferecidos pelos mortos. A Sagrada Escritura relata como louvável a ação piedosa de Judas Macabeu após a sua vitória sobre Górgias, general do rei Antíoco. Os soldados cometeram uma falta ao retirar dos despojos alguns objetos oferecidos aos ídolos, o que por lei lhes eram proibidos de fazer. Então Judas, chefe do exército de Israel, ordenou orações e sacrifícios pela remissão de seus pecados e pelo repouso de suas almas. Vejamos como esse fato está relacionado nas Escrituras (2 Mc 12,39): 'Depois do sábado, Judas foi com sua companhia para levar os corpos daqueles que foram mortos e sepultá-los com seus parentes nos sepulcros de seus pais. E eles encontraram, sob as túnicas dos mortos, alguns dos donativos dos ídolos de Jamnia, que a lei proíbe aos judeus; de modo que todos viram claramente que, por essa causa, foram mortos. Então todos eles louvaram o justo julgamento do Senhor, que havia descoberto as coisas que estavam escondidas. E, pondo-se em oração, rogaram que o pecado deles fosse esquecido. O valoroso Judas exortou o povo a se abster do pecado, pois viram diante de seus olhos o que havia acontecido, por causa do pecado daqueles que foram mortos. E fazendo depois uma coleta, ele enviou doze mil dracmas de prata a Jerusalém para a oferta de um sacrifício pelos pecados dos mortos. Belo e santo modo de agir pela sua crença sobre a ressurreição! Pois, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles e por acreditar que aqueles que morrem piedosamente podem esperar uma grande graça reservada para eles. Portanto, é um pensamento santo e louvável rezar pelos mortos, para que possam ser perdoados dos seus pecados'.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)

domingo, 12 de fevereiro de 2023

EVANGELHO DO DOMINGO

    

'Feliz o homem sem pecado em seu caminho, que na lei do Senhor Deus vai progredindo!(Sl 118)

Primeira Leitura (Eclo 15, 16-21) - Segunda Leitura (1 Cor 2, 6-10)  -  Evangelho (Mt 5, 17-37)

 12/02/2023 - Sexto Domingo do Tempo Comum

12. 'E EU VOS DIGO...'

Nas palavras: 'Em verdade, Eu vos digo: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo se cumpra' (Mt 5, 18), Jesus proclama que a Boa Nova do Evangelho trazida à humanidade, como instrumento de resgate e não de abolição à Antiga Lei, está fundada na Verdade Absoluta, imutável no espaço e no tempo, desde os nossos primeiros pais até o último homem da face da terra. O pecado é o mesmo ontem e hoje, e os Dez Mandamentos modelam a história humana na dimensão divina.

A plenitude do exercício do Decálogo é a via de santificação perfeita. O Céu é uma porta aberta para os que se consomem e se alimentam da Verdade de Cristo, emanada da vivência profunda dos valores do Evangelho e não apenas sedimentados no alicerce frágil das exterioridades enormes da antiga Lei Mosaica: 'Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus' (Mt 5, 20). Nesta contextualização, Jesus vai passar dos conceitos formais expressos por 'vós ouvistes...' às premissas mais abrangentes da Nova Lei: 'e eu vos digo...' Assim, do pecado gravíssimo do homicídio formal, Jesus anuncia que na própria ira contra o próximo já se manifesta a gravidade do pecado. O pecado do adultério não se restringe ao ato consumado e definitivo, que era castigado com a morte, mas é igualmente perverso no desejo; o juramento falso é um ato abominável, mas é igualmente pecaminoso o simples juramento sobre qualquer coisa.

Jesus exorta, em todas estas passagens, a se cumprir, em tudo e para todos, a santificação em plenitude, traduzida na observância radical dos seus Mandamentos e na fuga da ocasião de pecado por todos os meios disponíveis, pelos mais extremos possíveis: 'Se o teu olho direito é para ti ocasião de pecado, arranca-o e joga-o para longe de ti! De fato, é melhor perder um de teus membros, do que todo o teu corpo ser jogado no inferno. Se a tua mão direita é para ti ocasião de pecado, corta-a e joga-a para longe de ti! De fato, é melhor perder um dos teus membros, do que todo o teu corpo ir para o inferno' (Mt 5, 29 - 30).

Não ceder ao pecado sob concessão alguma. Não afrontar a graça divina por nenhum propósito humano. A verdadeira santificação exige, portanto, vigilância extrema e oração constante. A superação da fragilidade de nossas limitações implica decisões claras e firmes em favor da pureza evangélica e aos ditames de Cristo, nosso Divino Mestre: 'Seja o vosso ‘sim’: ‘Sim’, e o vosso ‘não’: ‘Não’. Tudo o que for além disso vem do Maligno' (Mt 4, 37).

sábado, 11 de fevereiro de 2023

GLÓRIAS DE MARIA - NOSSA SENHORA DE LOURDES

Em Lourdes, Nossa Senhora apareceu a Bernadette Soubirous, para confirmar o dogma de sua imaculada conceição e para ratificar os valores incomensuráveis da oração, da penitência e da verdadeira vida de devoção a Deus. Nas palavras da própria vidente, eis o relato da primeira de um total de 18 aparições:

'A primeira vez que fui à gruta, era quinta-feira, 11 de fevereiro [quinta-feira anterior à quarta-feira de cinzas]. Após o jantar, saí para recolher galhos secos [a lenha para aquecer a casa simples de sua família havia acabado, durante um período de tempo particularmente frio] com a minha irmã Toinette e uma vizinha chamada Jeanne Abadie. Após procurarmos lenha em outros lugares sem sucesso, nos deparamos com o canal do moinho. Perguntei, então a elas se queriam ver onde a água do canal se encontrava com o Gave [rio Gave]. Elas me responderam que sim. Seguimos o canal do moinho até que nos encontramos diante de uma gruta [gruta de Massabielle], não podendo mais prosseguir.

Jeanne e minha irmã tiraram rapidamente os seus tamancos e atravessaram o fluxo que não era intenso. Após atravessarem o canal, começaram a esfregar os pés, dizendo que a água estava gelada. Isso aumentou a minha preocupação [Bernadette sofria de asma e não podia se expor à friagem]. Chegou a pedir a Jeanne [maior e mais forte que ela] para levá-la nos ombros, no que não foi atendida: 'Se você não consegue vir, fique aí então!' Apanhando galhos secos ali perto, as duas se afastaram e eu as perdi de vista. Tentei ainda buscar uma passagem mais embaixo sem ter que tirar os sapatos, colocando pedras no canal, mas não consegui passar. 

(gruta à época das aparições; em primeiro plano, o canal que Bernadette não conseguiu atravessar)

Então, regressei diante da gruta e comecei a tirar os sapatos, para fazer a travessia como elas fizeram. Tinha acabado de tirar a primeira meia, quando ouvi um barulho como de uma ventania. Então girei a cabeça para um lado e para o outro e não vi nada, nem nenhum movimento das folhas das árvores. Continuei a tirar os sapatos e nisso ouvi, mais uma vez, o mesmo barulho. Olhando em direção à gruta, vi um arbusto - um único arbusto encravado nas aberturas da rocha - balançando fortemente. Quase no mesmo tempo, saiu do interior da gruta uma nuvem de cor dourada e, logo depois, uma senhora, jovem e muito bonita, como eu nunca tinha visto antes, veio e se colocou na entrada da abertura, suspensa sobre uma roseira [mais tarde, instada a descrever a aparição, Bernadette a descreveu assim: 'Ela tinha a aparência de uma jovem de dezesseis ou dezessete anos e estava vestida com uma túnica branca, um véu também branco, uma cinta azul e os pés desnudos e ornados com uma rosa dourada em cada pé, ambos encobertos pelas últimas dobras do seu manto. Ela segurava na mão direita  um rosário de contas brancas com uma corrente de ouro brilhando como as duas rosas em seus pés]. 


Sorrindo para mim, fez um sinal para que eu me aproximasse. Eu pensei estar sendo vítima de uma ilusão. Esfreguei os olhos; porém, ao olhar outra vez, ela continuava ali e, sorrindo, me deu a entender que eu não estava enganada. Tirei o meu terço do bolso e, caindo de joelhos, tentei rezá-lo. Queria fazer o sinal da cruz, mas não conseguia sequer levar a mão à testa. A senhora fez com a cabeça um sinal de aprovação e, tomando o seu próprio terço, começou a oração e, somente então, pude fazer o mesmo. Assim que fiz o sinal da cruz, desapareceu o grande medo que sentia e fiquei tranquila. Deixou-me rezar o terço sozinha, somente acompanhando as contas com os dedos, em silêncio; somente rezando oralmente o Gloria  comigo, ao final de cada dezena. Ao final da recitação do terço, a senhora voltou ao interior da gruta e a nuvem dourada desapareceu com ela.

Assim que a senhora desapareceu, Jeanne e a minha irmã regressaram, encontrando-me de joelhos no mesmo lugar onde tinham me deixado, fazendo troça da minha covardia. Mergulhei os pés no canal e a água estava bem aquecida e elas aparentemente não se importaram com isso. Perguntei às duas se não haviam visto algo na gruta: 'Não'. Me disseram, então: 'Por que nos pergunta isso?' 'Ó, por nada, por nada', respondi tentando mostrar indiferença. Pensava sem parar em tudo o que tinha acabado de ver. No retorno à casa, diante da grande insistência delas, contei-lhes tudo o que acontecera, pedindo que não dissessem nada a ninguém.


À noite, em casa, durante a oração familiar, fiquei tão perturbada que comecei a chorar. Minha mãe me perguntou qual era o problema. Minha irmã começou a responder por mim e eu fui obrigada a contar os acontecimentos daquele dia. 'São ilusões' - respondeu minha mãe - 'tire essas coisas da cabeça e não volte mais à Massabielle'. Fui dormir, mas eu não conseguia tirar da memória o rosto e o sorriso doce da senhora. Era impossível acreditar que eu podia estar enganada'.