quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

PROFISSÃO DE FÉ CATÓLICA (E DO ANTI-ECUMENISMO)


'Professo diante de Vós a minha fé, Pai e Senhor do Céu e da terra, meu Criador e Redentor, minha força e minha salvação, que desde os meus mais tenros anos não cessastes de nutrir-me com o pão sagrado da vossa Palavra e de confortar o meu coração.

A fim de que eu não vagasse, errando como as ovelhas transviadas que não têm pastor, Vós me congregastes no seio de vossa Igreja; colhido, me educastes; educado, continuastes a me ensinar com a voz daqueles Pastores nos quais Vós quereis ser ouvido e obedecido como em pessoa pelos vossos fiéis.

Confesso em alta voz, para a minha salvação, tudo aquilo que os católicos sempre acreditaram de bom direito nos seus corações. Abomino Lutero, detesto Calvino, amaldiçoo todos os hereges; não quero ter nada em comum com eles, porque não falam nem ouvem retamente, nem possuem a única regra da verdadeira Fé proposta pela Igreja una, santa, católica, apostólica e romana.

Uno-me, em vez disso, na comunhão, abraço a fé, sigo a religião e aprovo a doutrina daqueles que ouvem e seguem a Cristo, não apenas quando ensinada nas Escrituras, mas também quando julgada pela boca dos Concílios Ecumênicos e definida pela boca da Cátedra de Pedro, testemunhando-a com a autoridade dos Padres.

Professo-me também filho daquela Igreja Romana que os ímpios blasfemos desprezam, perseguem e abominam como se fosse anticristã; não me afasto de nenhum ponto da sua autoridade, nem me recuso a dar a vida e derramar o meu sangue em sua defesa, e creio que os méritos de Cristo podem obter a minha salvação e a de outros somente na unidade desta mesma Igreja.

Confesso essa Fé e doutrina que aprendi ainda criança, confirmei na juventude, ensinei como adulto, e que agora, com a minha débil força, defendo. Professo francamente, com São Jerônimo, ser uno com quem é uno à Cátedra de Pedro, e protesto, com Santo Ambrósio, seguir em todas as coisas a Igreja Romana que reconheço respeitosamente, com São Cipriano, como raiz e mãe da Igreja universal.

Ao fazer esta profissão, não me move outro motivo senão a glória e honra de Deus, a consciência da verdade, a autoridade das Sagradas Escrituras, o sentimento e o consenso dos Padres da Igreja, o testemunho de fé que devo dar aos meus irmãos e, finalmente, a salvação eterna que espero no Céu e a felicidade prometida aos verdadeiros fiéis.

Se acontecer de eu vir a ser desprezado, maltratado e perseguido por causa desta minha profissão, considerá-lo-ei uma graça e um favor extraordinários, porque isso significará que Vós, meu Deus, me destes a ocasião de sofrer pela justiça e não quereis que me sejam benevolentes aqueles que, como inimigos declarados da Igreja e da verdade católica, não podem ser vossos amigos.

No entanto, perdoai-os, Senhor, porque, instigados pelo diabo e cegados pelo brilho de uma falsa doutrina, não sabem o que fazem, ou não querem saber.

Concedei-me, contudo, esta graça: de que na vida e na morte eu renda sempre um testemunho autêntico da sinceridade e fidelidade que devo a Vós, à Igreja e à verdade, que não me afaste jamais do vosso santo amor, e que esteja em comunhão com aqueles que Vos temem e guardam os vossos preceitos na Santa Igreja Romana, a cujo juízo, com ânimo pronto e respeitoso, eu me submeto e toda a minha obra.

Todos os santos, triunfantes no Céu ou militantes na terra, que estais indissoluvelmente unidos no vínculo da paz na Igreja Católica, mostrai a vossa imensa bondade e rezai por mim.

Vós sois o princípio e o fim de todos os meus bens; a Vós sejam dados, em tudo e por tudo, louvor, honra e glória sempiterna. Amém.

(São Pedro Canísio, em sua obra Summa Doctrinae Christianae, 1571)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

PALAVRAS DA SALVAÇÃO

Disse o Apóstolo: 'Para mim o mundo está crucificado, e eu, para o mundo' (Gl 6,14). Para que saibamos, por fim, que nesta vida há morte e boa morte, exorta-nos a que levemos a morte de Jesus em nosso corpo (cf 2Cor 4,10). Pois quem tiver em si a morte de Jesus, precisa também ter em seu corpo a vida do Senhor Jesus. Atue, portanto, a morte em nós, para que também possa agir a vida. Vida excelente depois da morte, isto é, vida excelente depois da vitória; vida excelente, terminado o combate. Nela a lei da carne já não luta contra a lei do espírito, não há mais em nós peleja da morte contra o corpo, mas no corpo, a vitória sobre a morte. E francamente não sei qual tem maior força, esta morte ou a vida...  Por isto ensina ser desejável esta morte aos que ainda estão nesta vida, para que refulja em nossos corpos a morte de Cristo, aquela ditosa morte pela qual se destrói o ser exterior, a fim de ser renovado nosso homem interior (cf 2Cor 2,16) e se desfaça nossa habitação terrena (cf 2Cor 5,1), abrindo-se assim para nós a habitação celeste... Por isso, a morte é a passagem de tudo. É preciso que passes continuamente; passagem da corrupção para a incorrupção, da condição mortal à imortalidade, das perturbações para a tranquilidade. Por isto não te assuste a palavra morte, mas os benefícios da boa passagem te alegrem. Pois, que é a morte a não ser a sepultura dos vícios, o despertar das virtudes? 

(Santo Ambrósio de Milão)

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

SOBRE O JUÍZO PARTICULAR DA NOSSA ALMA

É sentimento comum entre os teólogos, que o juízo particular se faz assim que o homem expira e que, no próprio lugar onde a alma se separa do corpo, é julgada por Jesus Cristo, que não manda alguém em seu lugar, mas vem Ele mesmo para a julgar. Qual não será o espanto daquele que, vendo pela primeira vez o seu Redentor, o vir indignado!

Ante faciem indignationis eius quis stabit?  – Diante da face de sua indignação quem é que poderá subsistir? (Na 1,6). Este pensamento causava tal estremecimento ao Padre Luiz Dupont, que fazia tremer consigo a cela onde se achava. O bem-aventurado Juvenal Ancina, ouvindo cantar o Dies Irae, e pensando no terror que se há de apoderar da alma ao comparecer em juízo, resolveu deixar o mundo, o que efetivamente fez. O aspecto do Juiz indignado será o anúncio da condenação: Indignatio regis, nuntii mortis (Pv 16, 14). Segundo São Bernardo, será maior sofrimento para a alma ver Jesus Cristo indignado do que estar no inferno.

Tem-se visto criminosos banhados em suor frio na presença de um juiz terrestre. Pison, comparecendo no senado em traje de réu, sentiu tamanha confusão, que a si próprio se deu a morte. Que pena não é para um filho ou para um vassalo ver seu pai ou seu príncipe indignado! Que maior mágoa não deve sentir a alma à vista de Jesus Cristo, a quem desprezou durante toda a vida! Videbunt in quem transfixerunt  – Verão aquele a quem traspassaram (Jo 19,37). Esse Cordeiro, tão paciente durante a vida do pecador, então mostrar-se-lhe-á irritado, sem esperança de se deixar aplacar. Pelo que a alma pedirá às montanhas que a esmaguem e a furtem às iras do Cordeiro indignado: Montes, cadite super nos, abscondite nos ab ira Agni (Ap 6, 16).

Opinam os Doutores que o divino Juiz virá julgar a alma em forma humana e, portanto, com as mesmas chagas com que deixou a terra. Estas chagas serão motivo de consolação para os justos, mas que terror e espanto não inspirarão ao pecador! A vista do Homem-Deus, que, morreu para o salvar, far-lhe-á sentir mais vivamente a sua ingratidão.

Quando José do Egito disse a seus irmãos: 'Eu sou José, a quem vendestes' - diz a Escritura, que pelo terror perderam a fala e ficaram calados (Gn 45, 4.5). Que responderá, pois, o pecador a Jesus Cristo? Terá coragem de lhe pedir misericórdia, quando, primeiro que tudo, tem de lhe dar contas do abuso que fez da misericórdia? Que fará então? Pergunta Santo Agostinho, para onde fugirá o miserável, quando vir acima de si o Juiz irritado, por baixo o inferno aberto, a um lado os pecados que o acusam, a outro os demônios armados para execução do suplício e dentro de si os remorsos de sua consciência?

Ó meu Jesus, quero chamar-vos sempre Jesus; vosso nome me consola e me anima, recordando-me que sois o Salvador que morreu para me salvar. Aqui me tendes aos vossos pés; confesso que mereci o inferno tantas vezes quantas vos ofendi pelo pecado mortal. Sou indigno de perdão, mas Vós morrestes para me perdoar. Ah, meu Jesus, perdoai-me antes de virdes a julgar-me. Então não poderei implorar a vossa misericórdia; mas agora posso pedi-la e a espero. Então vossas chagas me inspirarão terror; agora inspiram-me confiança. Meu querido Redentor, acima de todos os males, arrependo-me de ter ofendido a vossa bondade infinita. Estou resolvido, antes, a aceitar todas as penas, todos os sacrifícios, do que vir a perder a vossa graça. Amo-vos de todo o coração. Tende piedade de mim, segundo a vossa grande misericórdia: Miserere mei secundum magnam misericordiam tuam (Sl 50,1). Ó Maria, Mãe de misericórdia, advogada dos pecadores, obtende-me uma grande dor dos meus pecados, o perdão e a perseverança no amor divino. Amo-vos, ó minha Rainha, e em vós ponho toda a minha confiança. 

(Excertos da obra 'Meditações Para todos os Dias e Festas do Ano' - Tomo II, Santo Afonso Maria de Ligório)

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

O DOGMA DO PURGATÓRIO (XLVIII)

Capítulo VII

Consolação das Almas - A Intercessão dos Anjos - Venerável Paula de Santa Teresa - Pedro de Basto: Vida de Santidade e Devoção pelas Almas do Purgatório 

Além das consolações que recebem da Santíssima Virgem, as almas são também assistidas e consoladas no Purgatório pelos santos anjos e, principalmente, pelos seus anjos da guarda. Os doutores da Igreja ensinam que a missão tutelar dos anjos da guarda só termina com a entrada dos protegidos no Paraíso. Se, no momento da morte, uma alma em estado de graça ainda não se tornou digna de ver a face do Altíssimo, o anjo da guarda a conduz ao lugar de expiação, e ali permanece junto dela para lhe providenciar toda a assistência e consolo em seu poder.

É uma opinião comum entre os santos doutores - diz o Padre Rossignoli - que Deus, que um dia enviará os seus anjos para reunir os eleitos, também os envia de tempos em tempos ao Purgatório, para visitar e consolar as almas sofredoras. Sem dúvida, não pode haver alívio mais precioso do que a visão dos habitantes do Céu, aquela morada abençoada para onde um dia irão para desfrutar de sua gloriosa e eterna felicidade. 

As Revelações de Santa Brígida estão repletas de exemplos dessa natureza e as vidas de vários santos também fornecem um grande número deles. A Venerável Irmã Paula de Santa Teresa, de quem já falamos no capítulo anterior, tinha uma devoção extraordinária para com a Igreja Padecente, pela qual foi recompensada em vida com visões milagrosas. Um dia, enquanto fazia uma oração fervorosa nesta intenção, foi transportada em espírito para o Purgatório, onde viu um grande número de almas mergulhadas nas chamas. Perto delas, ela viu nosso Salvador, assistido pelos seus anjos que apontavam, um após o outro, várias almas que Ele desejava levar para o Céu, para onde eram levadas sob indizível alegria. Diante da visão, a serva de Deus, dirigindo-se ao seu Divino Esposo, disse: 'Ó Jesus, por que esta escolha entre uma multidão tão vasta?' 'Eu libertei' - dignou-se a responder - 'aqueles que durante a vida realizaram grandes atos de caridade e misericórdia, e que mereceram que eu cumprisse a minha promessa a respeito deles: bem-aventurados os misericordiosos, porque obterão misericórdia'. 

Na vida do servo de Deus, Pedro de Basto, encontramos um exemplo que mostra como os santos anjos, mesmo enquanto velam por nós na terra, se interessam pelas almas do Purgatório. E já que mencionamos o nome do Irmão Basto, não podemos resistir ao desejo de dar a conhecer este admirável religioso aos nossos leitores; sua história é tão interessante quanto edificante.

Pedro de Basto, irmão coadjutor da Companhia de Jesus e a quem o seu biógrafo chama de Alfonso Rodríguez do Malabar, morreu em odor de santidade em Cochim, em primeiro de março de 1645. Nasceu em Portugal, da ilustre família dos Machado, unidos pelo sangue a toda a nobreza de toda a província entre o Douro e o Minho. Os duques de Pastrano e Hixar estavam entre seus parentes e o mundo lhe oferecia então uma carreira com as mais brilhantes perspectivas. Mas Deus o reservou para si mesmo e o dotou de maravilhosos dons espirituais. Ainda muito pequeno, quando levado à igreja, rezava diante do Santíssimo Sacramento com o fervor de um anjo. Ele acreditava que todo o povo via como ele, com os olhos do corpo, as legiões de espíritos celestiais em adoração perto do altar e do tabernáculo e, desde então, também o divino Salvador, oculto sob os véus eucarísticos, tornou-se por excelência o centro de todos os seus afetos e das inúmeras maravilhas que preencheram a sua longa e santa vida.

Foi aí que, mais tarde, como num sol divino, descobriu sem véus o futuro e os seus detalhes mais imprevistos. Foi a ele também que Deus mostrou os símbolos misteriosos de uma escada de ouro que unia o Céu e a terra, sustentada pelo tabernáculo, e do lírio da pureza, enraizado e se alimentando do divino trigo dos eleitos e do vinho que sozinho pode gerar virgens. Aos dezessete anos, graças à sua pureza de coração e à fortaleza cuja fonte inesgotável era o Sacramento da Eucaristia, Pedro fez em Lisboa um voto de castidade perpétua aos pés de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Ainda assim, não pensou em deixar o mundo e, alguns dias depois, embarcou para as Índias e por dois anos exerceu a profissão militar. Ao final desse período, e sob o risco de um naufrágio, indefeso à mercê das ondas por cinco dias inteiros, foi amparado e salvo pela Rainha do Céu e pela aparição do seu Divino Filho. Prometeu então dedicar-se inteiramente ao estado religioso pelo resto de sua vida. Assim que regressou a Goa, tendo então apenas dezenove anos, foi e ofereceu-se na condição de irmão leigo aos Superiores da Companhia de Jesus. Temendo que o seu nome lhe valesse algum sinal de distinção ou privilégio, adotou doravante o complemento do nome da humilde aldeia onde recebera o batismo, passando a chamar-se simplesmente Pedro de Basto.

Pouco tempo depois, durante uma das provações do seu noviciado, ocorreu este maravilhoso incidente que está registrado nos Anais da Sociedade e que é tão consolador para todos os filhos de Santo Inácio. O mestre de noviços do irmão Pedro enviou-o em peregrinação com dois jovens companheiros à ilha de Salsette, ordenando-lhes que não aceitassem a hospitalidade de nenhum dos missionários, mas que mendigassem de aldeia em aldeia o pão de cada dia e o alojamento da noite. Um dia, cansados ​​da longa viagem, encontraram acolhida em uma família muito humilde, constituída por um ancião, uma mulher e uma criança, que os recebeu com a maior caridade e os incitou a participar de uma refeição frugal. No momento da partida, depois de lhes ter retribuído a acolhida com mil agradecimentos, quando Pedro de Basto implorou aos seus anfitriões que lhe dissessem os seus nomes, de modo a recomendá-los expressamente às graças de Deus, ouviu a mulher lhe dizer: 'Nós somos os três fundadores da Companhia de Jesus', desaparecendo todos no mesmo instante.

Toda a vida religiosa desse santo homem até a sua morte – ou seja, quase cinquenta e seis anos – não foi senão uma cadeia de prodígios e de graças extraordinárias; mas, devemos acrescentar, que ele os mereceu e os comprou, por assim dizer, ao preço da virtude, do trabalho e dos sacrifícios mais heroicos. Incumbido alternadamente de cuidar da lavandaria, da cozinha ou da porta, nos seminários de Goa, de Tuticurin, de Coulao e de Cochim, Pedro nunca procurou afastar-se dos trabalhos mais árduos, nem reservar a si um pouco de lazer, às custas dos seus diferentes ofícios, para que pudesse desfrutar sempre das alegrias da oração. Doenças severas e cuja única causa era o trabalho excessivo - dizia ele sorrindo - eram as suas distrações mais agradáveis. Além disso, abandonado, por assim dizer, à fúria do demônio, o servo de Deus quase não gozava de descanso. Os espíritos das trevas apareceram para ele sob as formas mais terríveis e, muitas vezes, o espancavam severamente, especialmente na hora em que, todas as noites como era seu costume, ele interrompia o sono para ir rezar diante do Santíssimo Sacramento.

Um dia, enquanto viajavam, seus companheiros fugiram diante o alvoroço de uma tropa de homens de aparência formidável, montados em cavalos e elefantes, que vinham ao encontro deles em fúria. Só ele permaneceu calmo e quando seus companheiros expressaram seu espanto por ele não ter manifestado o menor sinal de medo, ele respondeu: 'Se Deus não permite que os demônios exerçam a sua raiva contra nós, o que temos a temer? E se Ele lhes dá permissão, por que então eu deveria me esforçar para escapar da sua fúria? Bastou invocar a Rainha do Céu e ela apareceu imediatamente ao meu lado, pondo em fuga a tropa infernal.

Muitas vezes parecia que tudo era confusão, até no fundo da sua alma, e ele só encontrava a paz e a tranquilidade quando estava no seu refúgio habitual, ou seja, Jesus presente na Santa Eucaristia. Carregado um dia de ultrajes, que lhe causaram alguma pequena perturbação, prostrou-se ao pé do altar e pediu ao nosso Divino Salvador o dom da paciência. Então Nosso Senhor lhe apareceu coberto de chagas, um manto púrpura sobre os ombros, uma corda no pescoço, um junco nas mãos e uma coroa de espinhos na cabeça; então, dirigindo-se a Pedro, disse: 'Veja o que o verdadeiro Filho de Deus sofreu para ensinar os homens a sofrer'.

Mas não falamos no ponto que queríamos ilustrar com esta vida santa – quero dizer, a devoção de Pedro de Basto para com as almas do Purgatório, devoção encorajada e secundada pelo seu bom anjo da guarda. Apesar dos seus numerosos trabalhos, ele recitava diariamente o Santo Rosário em intenção dos falecidos. Um dia, tendo-o esquecido, retirou-se sem o ter recitado mas, mal tinha adormecido, quando foi acordado pelo seu anjo. 'Meu filho' - disse o espírito celestial - 'as almas do Purgatório estão esperando o benefício de suas esmolas diárias'. E então Pedro levantou-se instantaneamente para cumprir esse dever de piedade.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)

domingo, 15 de janeiro de 2023

EVANGELHO DO DOMINGO

'Eu disse: Eis que venho, Senhor, com prazer faço a vossa vontade!
(Sl 39)

Primeira Leitura (Is 49,3.5-6) - Segunda Leitura (1 Cor 1, 1-3)  -  Evangelho (Jo 1, 29-34)

 15/01/2023 - Segundo Domingo do Tempo Comum

08. JESUS CRISTO É O CORDEIRO DE DEUS 


Neste segundo domingo do tempo comum, a mensagem profética que ressoa pelos tempos vem da boca de João Batista: 'Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo' (Jo 1, 29). E complementa: 'Dele é que eu disse: Depois de mim vem um homem que passou à minha frente, porque existia antes de mim' (Jo 1, 30). Eis o primado de João, o Precursor do Messias: Jesus veio ao mundo para resgatar e levar à salvação toda a humanidade e fazer novas todas as coisas.

Diante de Jesus, que viera pela segunda vez até ele às margens do Jordão, assim como foi Maria que visitou a sua prima Santa Isabel, João Batista reconhece no Senhor a glória e a eternidade de Deus 'porque existia antes de mim' (Jo 1, 30). Nas margens do Jordão, uma vez mais, no mistério da Encarnação, os desígnios de Deus são revelados aos homens por meio de João Batista.

Em seguida, reafirma a manifestação da Santíssima Trindade na pomba que desceu do céu, símbolo exposto em dimensão humana para o mistério insondável do Filho na intimidade com o Pai: 'Eu vi o Espírito descer, como uma pomba do céu, e permanecer sobre ele' (Jo 1, 32). O maior profeta de Deus, enviado para batizar com água, declara, então, de forma clara e incisiva, Jesus como Filho de Deus Vivo: 'Eu vi e dou testemunho: Este é o Filho de Deus!' (Jo 1, 34).

Eis aí a figura singular do Batista, de quem o próprio Cristo revelou: 'Na verdade vos digo que, entre os nascidos de mulher, não veio ao mundo outro maior que João Batista' (Mt 11, 11). A grandeza do Precursor é enfatizada por Jesus naquele que recebeu privilégios tão extraordinários para ser o profeta da revelação de tão grandes mistérios de Deus à toda a humanidade: Jesus Cristo é o Unigênito do Pai, o Filho de Deus Vivo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

sábado, 14 de janeiro de 2023

NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO, ROGAI POR NÓS!


'Suplico aos que lerem este livro, que não se deixem abater por esses tristes acontecimentos, mas que considerem que esses castigos tiveram em mira não a ruína, mas a correção de nossa nação. 

É sinal de grande misericórdia de Deus para conosco o fato de não suportar por muito tempo os maus e, assim, castigá-los imediatamente. 

Quanto às outras nações, o Senhor espera pacientemente, antes de puni-las, até que tenham enchido a medida de suas iniquidades. 

A nós, porém, ele prefere não nos tratar assim, com receio de ter que nos punir mais tarde, quando tivermos pecado demasiadamente.

Portanto, Ele nunca retira de nós a sua misericórdia e, quando castiga o seu povo com adversidades, nunca o desampara'.
(II Mac 6, 12 -16)

Nossa Senhora da Consolação, rogai por nós!

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

O MANDAMENTO DA CARIDADE

A caridade produz a perfeita paz. Pois acontece nas coisas temporais, que são desejadas com frequência que, uma vez obtidas, ainda a alma do que as deseja não repousa mas, pelo contrário, outra já lhe apetece: 'O coração do ímpio é como um mar revolto que não pode repousar' e ainda: 'Não há paz para o ímpio, diz o Senhor' (Is 57, 20). Mas isso não acontece na caridade para com Deus. Quem, de fato, ama a Deus, tem a paz perfeita: 'Muita paz tem os que amam a Tua lei, e não há nada que os perturbe' (Sl 118, 165).

E isto porque somente Deus é capaz de satisfazer o nosso desejo, porquanto Deus é maior do que o nosso coração, como diz o Apóstolo. E por isso diz Santo Agostinho, no primeiro livro das Confissões: 'Fizeste-nos, ó Senhor, para ti, e o nosso coração está inquieto enquanto não repousar em ti'. E ainda: 'É Ele quem cumula de bens a tua vida' (Sl 102, 5).

A caridade também torna o homem de grande dignidade. Com efeito, todas as criaturas servem à própria majestade divina, e por ela foram feitas, assim como as coisas artificiais servem ao artífice. Mas a caridade faz do servo um homem livre e um amigo. De onde diz o Senhor: 'Já não vos chamarei de servos, mas de amigos' (Jo 15, 15). Mas porventura Paulo não é servo? E os outros apóstolos não escreviam de si serem servos? 

Quanto a isto deve-se saber que há duas servidões. A primeira é a do temor, e esta é penosa e não meritória. Se, de fato, alguém se abstém do pecado somente pelo temor da pena, não merece nada por isto. Ainda é servo. A segunda servidão é a do amor. Se, na verdade, alguém opera não pelo temor da justiça, mas pelo amor divino, não opera como servo, mas como livre, porque voluntariamente, e é por isto que Cristo diz: 'Já não vos chamarei mais de servos'.

E por que? A isto responde o Apóstolo: 'Não recebestes o espírito de servidão para recairdes no temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos' (Rm 8, 15). 'Não há, de fato, temor no amor' (I Jo 4, 18). O temor traz certamente tormento, mas a caridade é deleite.

... Do que já foi dito, fica patente a utilidade da caridade. Pois que, portanto, seja tão útil, deve-se trabalhar diligentemente para adquiri-la e retê-la. Deve-se saber, porém, que ninguém pode por si mesmo possuir a caridade. Antes, ao contrário, é dom inteiramente de Deus. De onde que diz João: 'Não fomos nós que amamos a Deus, mas Ele quem nos amou primeiro' (I Jo 4,19), porque certamente não por causa de nós o amarmos primeiro que Ele nos ama, mas o próprio fato de o amarmos é causado em nós pelo seu amor.

Deve-se considerar também, que ainda que todos os dons sejam do pai das luzes, todavia este dom, a saber, o da caridade, supera todos os demais dons. De fato, todos os outros podem ser possuídos sem a caridade e o Espírito Santo; com a caridade, porém, possui-se necessariamente o Espírito Santo: 'A caridade de Deus foi derramada nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado' (Rm 5,5).

(Excertos da obra 'O Mandamento da Caridade, de São Tomás de Aquino)