segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

O BATISMO DE JESUS CRISTO

Quando se impôs ao Filho de Deus o nome de Jesus?
Conforme o que o Anjo do Senhor havia ordenado a Maria e a José, foi-lhe imposto, no oitavo dia do seu nascimento, na cerimônia da circuncisão (XXXVII, 2)*.

O que significa o nome de Jesus imposto por ordem do Céu ao Filho de Deus feito homem?
Designa a sua qualidade característica na ordem da graça, a de Salvador do gênero humano.

Por que ao nome de Jesus se ajunta o de Cristo?
Por que a palavra Cristo, que significa Ungido, dá a entender a unção divina que o converte em Santo, Sacerdote e Rei dos domínios sobrenaturais (XXII, 1 ad 3).

Logo, qual é o seu significado integral e a quem designamos em concreto ao pronunciar o nome de Jesus Cristo?
Designamos ao Filho de Deus, coeterno e consubstanciai com o Pai e o Espírito Santo, Criador, conservador e governador supremo do universo; queremos dizer que este Verbo divino se revestiu da natureza humana e, sem deixar de ser Deus, se fez homem; que, com o dote de tão inefável união, obteve, enquanto homem, graças e privilégios de valor quase infinito, entre os quais sobressai a qualidade de Salvador dos homens, em virtude da qual é, por direito próprio, Mediador único junto de Deus, Pontífice Soberano, Rei Supremo, Profeta sem igual, chefe e cabeça dos eleitos, quer sejam homens ou anjos, pois uns e outros completam o seu corpo místico.

Por que, sendo Jesus Cristo o que acabamos de dizer, quis ser batizado com o batismo de São João ao começar a sua vida pública?
Porque assim convinha que inaugurasse a sua missão na terra. Era esta a de remir-nos; a Redenção consiste em perdoar os pecados, e esta remissão se efetuaria, por sua vez, mediante o batismo que ia promulgar e inaugurar. O batismo de Jesus Cristo é batismo de água, administrado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Todos os homens, sem exceção, devem recebê-lo, visto que todos são pecadores: por isso, querendo o divino Redentor dar a entender a sua imprescindível necessidade, solicitou Ele, que só a aparência tinha de pecador, o batismo de São João, simples figura do seu; e recebeu-o para santificar a água com o seu contato e dispô-la para ser a matéria do Sacramento. No seu batismo se revelaram e manifestaram as três Pessoas da Santíssima Trindade. Ele, na natureza humana; o Espírito Santo, na forma de pomba; e o Pai, na voz que se ouviu, como vinda do céu, dando-nos com isso a entender qual seria a forma do Sacramento. Por último, se declarou ali o seu efeito quando se abriu o céu sobre a cabeça do Salvador, pois também ao receberem a água batismal, o céu se abre para os homens, em virtude do batismo de Sangue com que Cristo havia de lavar em sua própria pessoa os pecados do mundo (XXXIX, 1-8).

* referências aos artigos da obra original

(Excertos da obra 'A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo - Parte III, de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular)

domingo, 8 de janeiro de 2023

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'As nações de toda a terra hão de adorar-vos, ó Senhor!(Sl 71)

Primeira Leitura (Is 60, 1-6) - Segunda Leitura (Ef 3,2-3a.5-6)  -  Evangelho (Mt 2, 1-12)

 08/01/2023 - Solenidade da Epifania do Senhor

07. EPIFANIA DO SENHOR  


Epifania é uma palavra grega que significa 'manifestação'. A festa da Epifania - também denominada pelos gregos de Teofania, significa 'a manifestação de Deus'. É uma das mais antigas comemorações cristãs, tal como a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo - era celebrada no Oriente já antes do século IV e, somente a partir do século V, começou a ser celebrada também no Ocidente.

Na Anunciação do Anjo, já se manifestara a Encarnação do Verbo, revelada porém, a pouquíssimas pessoas: provavelmente apenas Maria, José, Isabel e Zacarias tiveram pleno conhecimento do nascimento de Deus humanado. O restante da humanidade não se deu conta de tão grande mistério. Assim, enquanto no Natal, Deus Se manifesta como Homem; na Festa da Epifania, esse Homem se revela como Deus. Na pessoa dos Reis Magos, o Menino-Deus é revelado a todas as nações da terra, a todos os povos futuros; a síntese da Epifania é a revelação universal da Boa Nova à humanidade de todos os tempos.

A Festa da Epifania, ou seja, a manifestação do Verbo Encarnado, está, portanto, visceralmente ligada à Adoração dos Reis Magos do Oriente: 'Ajoelharam-se diante dele e o adoraram' (Mt 2, 11). Deus cumpre integralmente a promessa feita à Abraão: 'em ti serão abençoados todos os povos da terra' (Gn 12,3) e as promessas de Cristo são repartidas e compartilhadas entre os judeus e os gentios, como herança comum de toda a humanidade. A tradição oriental incluía ainda na Festa da Epifania, além da Adoração dos Reis, o milagre das Bodas de Caná e o Batismo do Senhor no Jordão, eventos, entretanto, que não são mais celebrados nesta data pelo rito atual.

A viagem e a adoração dos Reis Magos diante o Menino Deus em Belém simbolizam a humanidade em peregrinação à Casa do Pai. Viagem penosa, cansativa, cheia de armadilhas e dificuldades (quantos não serão os nossos encontros com os herodes de nossos tempos?), mas feita de fé, esperança e confiança nas graças de Deus (a luz da fé transfigurada na estrela de Belém). Ao fim da jornada, exaustos e prostrados, os reis magos foram as primeiras testemunhas do nascimento do Salvador da humanidade, acolhido nos braços de Maria: 'Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe' (Mt 2, 11): o mistério de Deus revelado de que não se vai a Jesus sem Maria. Com Jesus e Maria, guiados também pela divina luz emanada do Espírito Santo, também nós haveremos de chegar definitivamente, um dia, à Casa do Pai, sem ter que voltar atrás e 'seguindo outro caminho' (Mt 2, 12).

sábado, 7 de janeiro de 2023

ORAÇÃO MARIANA PELA SALVAÇÃO (SÃO GREGÓRIO DE NAREK)

 


Assisti-me com as asas de tuas orações,
ó tu que és proclamada Mãe de todos os viventes,
para que a minha partida deste vale de lágrimas
seja sem tormento e iluminada;
e me conduza às moradas da vida
que nos foi preparada;
embora minha alma diante de ti
esteja sobrecarregada por tanta iniquidade.

Faça deste dia de angústia uma festa de alegria,
ó reparadora das dores de Eva.
Seja a minha advogada
e peça e suplique por mim;
pois assim, como creio na tua pureza inexprimível,
também creio firmemente
na pronta acolhida sempre dada aos teus pedidos.

Ajuda-me na minha aflição com as tuas lágrimas,
ó bendita entre as mulheres,
prostre de joelhos em minha intenção,
ó Mãe de Deus;
seja o amparo da minha miséria,
ó Tabernáculo do Altíssimo;
segura a minha mão para que não venha a cair,
ó Templo Celestial.

Glorifica o teu Filho em ti:
que Ele tenha a alegria de intervir sobre mim
o milagre do perdão e da misericórdia.
Serva e Mãe de Deus,
que a tua honra seja exaltada em meu favor
e que, por meio de ti,
se manifeste e se dê a minha salvação.
Amém.

(Excertos do Livro de Orações de São Gregório de Narek - Oração 80, tradução do autor do blog)

PRIMEIRO SÁBADO DO MÊS E DO ANO

    

DEVOÇÃO DOS CINCO PRIMEIROS SÁBADOS  

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

TESOURO DE EXEMPLOS (195/197)

 

195. DUAS MORRERAM... SALVOU-SE UMA!

Eram três jovens, quase meninas. Acabavam de deixar o colégio, um bom colégio, onde tinham sido educadas. Lançaram- se ao mundo e o mundo, como um redemoinho absorvente, arrastou-as às suas festas e diversões. Não sonhavam senão com cinemas, teatros e bailes. Eram jovens! Ainda teriam tempo para fazer penitência. Não iriam passar os melhores anos da vida encerradas, como freiras, em casa e na igreja! Ah! isso não!

Uma tarde, uma delas me procurou. Chegou chorando e o terror espelhava-se no seu rosto. Sabeis o que se passara? Poucos dias antes as três amigas tinham sucumbido, deixando-se vencer por uma tentação perversa. Das más leituras haviam passado às más conversas, das más conversas às perigosas amizades e das perigosas amizades ao passo fatal. Estavam nas garras do demônio! Isso acontecera poucos dias antes da festa da Imaculada Conceição. Como ainda não tinham perdido a fé, os remorsos gritaram em seus corações protestando contra a sua conduta louca e pecadora. 

Mas as três convieram em responder à consciência: 'No dia da Imaculada iremos confessar-nos e tudo estará em ordem. No dia seguinte iriam a uma cidade vizinha para se divertirem. Encontrar-se-iam na estação à hora da partida. Só chegaram duas; a terceira chegava apressada quando o trem já ia saindo. As amigas, da janela do trem, diziam-lhe adeus entre risos e gargalhadas de alegria. Elas, quanto iriam gozar! Ela, abandonada e só... que raiva!

Poucas horas se passaram. Chega um telegrama terrível com uma notícia aterradora que circulava por toda a cidade: dera-se um encontro de trens e as vítimas eram muitas. Entre as vítimas achavam-se as duas amigas, mortas instantaneamente!
➖ Padre! - disse-me a que ficara - hoje Deus me livrou do inferno. Se tivesse ido com minhas amigas, com elas estaria morta e com elas condenada. Bendita seja a misericórdia de Deus! 'Filhos dos homens, temei a justiça divina!'

196. TUDO POR DEUS

Quereis um exemplo? Ei-lo: São Francisco Xavier. Amou a ciência; as ilusões da juventude; as alegrias dos camaradas; os entusiasmos da esperança; amou as diversões e o mundo. Um dia, porém, compreendeu que tudo aquilo era vaidade e que corria perigo a sua salvação eterna e deixou tudo. Desde aquele dia, só teve um ideal, o ideal de seu amigo Inácio de Loiola: a maior glória de Deus.

Ei-lo: não é velho, completou quarenta e seis anos, está no vigor da vida. Consomem-no agora as ânsias da salvação das almas perdidas e a glória de Deus. Não o interrogueis porque nunca falará do que realizou pelo nome de Deus. Eu o recordarei rapidamente. Percorreu a Itália. Embarcou para a Índia, penetrou em Goa e ali formou uma cristandade numerosa. E dali? Foi à Costa da Pescaria. E dali? A Travancore. E dali? Foi percorrer as ilhas Molucas e alcançou o arquipélago filipino. E dali? Voltou novamente à Índia para visitar as cristandades e consolidar nelas a fé cristã.
➖ E não descansou nunca?
➖ O amor de Deus não consente que repouse; parte para as costas de Yamaguchi e de Bungo.
➖ E continuou caminhando?
➖ Sim; soube que além de mares longínquos havia um povo de muita inteligência e amigo de grandes empresas: o Japão, e para lá se foi. Percorreu-o sem descanso e regressou de novo à Índia.
➖ Nem então lhe deu descanso o seu zelo?
➖ Pelo contrário; soube que havia um império imenso, chamado império da China, e concebeu o pensamento de ganhá-lo para Deus.

E põs-se logo a caminho.
➖ E percorreu muitas léguas?
➖ Mais de três mil léguas.
➖ E batizou muitos pagãos?
➖ Contam-se por milhares, talvez por milhões.
➖ Sofreu muito?
➖ Não há língua humana que o possa dizer.
➖ Sofreu muitas perseguições?
➖ Contínuas e imensas.
➖ E nunca desanimou?
➖ Nunca. Teve a sublime loucura de ganhar almas para Deus e levar a luz da fé e da verdade a todos os povos do mundo.
Abraçado ao crucifixo, morreu amando com todo ardor a Deus e as almas imortais.

197. UMA ÚLTIMA COMUNHÃO NO BOSQUE

No Tirol (Áustria), um sacerdote foi chamado para socorrer a um doente num sítio distante, na montanha. Tomou logo os Santos Óleos e o Santíssimo e montou a cavalo. Muito linda era a serra, entrecortada de límpidos regatos e vales cobertos de árvores. Ao voltar, pensava o padre, desfrutaria do ar fresco e perfumado dos pinheirais.

Chegou ao sítio, socorreu ao doente mas, ao dar-lhe a comunhão, notou que levara duas hóstias. Isto o contrariou um pouco, pois, em vez de passear, teria de regressar com o Santíssimo, em silêncio e rezando. De sobrepeliz e estola ia descendo e rezando, quando ouviu um grito:
➖ Um padre! Um padre!
Um moço veio correndo e disse:
➖ Senhor Padre, depressa, depressa! Um lenhador acabou de ter o peito esmagado por uma árvore.

Compreendeu logo porque levara duas hóstias. Era a Divina Providência! Confessou o pobre homem e ali mesmo lhe deu a última comunhão. Perguntou a ele, naquele momento final, se fizera algo especial para merecer tão grande graça.
➖ Padre - disse-lhe o homem - cada vez que via um sacerdote levar o viático a algum doente, rezava uma Ave-Maria para ter a graça de não morrer sem receber o Santíssimo Sacramento.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS E DO ANO

   

DEVOÇÃO DAS NOVE PRIMEIRAS SEXTAS - FEIRAS  

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

GALERIA DE ARTE SACRA (XXXIII)

A chamada Cathedra Petri (Trono de São Pedro) constitui um monumento único e singular da arte sacra, localizado na abside da Basílica de São Pedro, em Roma, conformando um cenário simbólico intimamente associado às colunatas da Praça de São Pedro. A obra imortal do arquiteto italiano Gian Lorenzo Bernini (1598 - 1680) foi especialmente encomendada pelo Papa Alexandre VII (1655 - 1667), para se consolidar como símbolo maior da realeza da Igreja e do próprio magistério pontifício, firmado sobre o trono (a cátedra) de Pedro, primeiro pontífice da Igreja.

A Cátedra de São Pedro (monumento) faz referência a um antigo costume romano de veneração aos mortos, cuja celebração incluía a utilização de uma cadeira suntuosa e vazia em memória de um ilustre falecido, que convergiu então para a figura de São Pedro. Historicamente, a festa da Cátedra de São Pedro comportou duas variantes, que incluíam procissões solenes da cátedra (trono) de Pedro e sua exposição em altares para veneração púbica dos fieis: uma em Antioquia (celebrada em 22 de fevereiro), em referência ao período antes da viagem e do martírio do Apóstolo em Roma e outra em Roma, em referência direta ao seu magistério romano (celebrada em 19 de janeiro). Ambos os eventos foram unificados para a data de 22 de fevereiro, após a reforma do calendário litúrgico do Papa João XXIII, em 1960.

O monumento em bronze e em estilo barroco de Bernini, construído entre 1657 e 1666, representa a Cátedra de Pedro em dimensões portentosas no alto da abside e atrás do altar-mor da Basílica. O conjunto da obra expressa um cenário extraordinário, com a cátedra vazia (com cerca de 7m de altura) sendo ladeada por anjos e sustentada por quatro estátuas (com cerca de 5m de altura) de grandes Padres da Igreja latina e grega: Santo Agostinho, Santo Ambrósio, Santo Atanásio e São João Crisóstomo. O espaço acima do trono é dominado por um cenário de nuvens douradas, envolvidas por anjos e raios irradiantes. No centro dessa área, uma janela liga com grande luminosidade a igreja ao mundo exterior e inclui a figura de uma pomba, símbolo do Espírito Santo a guiar o papado e a iluminar os homens. É a plena celebração da singularidade, da identidade e da unidade da Igreja sob o Papado.


No interior do monumento, totalmente confinada e com raríssimas exposições públicas, mantém-se preservada a cátedra original de Pedro em Roma (foto abaixo), embora algo modificada. A peça original em madeira de carvalho teria sido uma cadeira romana de transporte comum à época (sedes gestatoria), já bastante carcomida e deteriorada pelo tempo, pelo que foi reformada quase por completo por meio de inclusões de peças de madeira de acácia e por incrustações de marfim, após o que teria sido doada à Igreja enquanto Papa João VIII (872 - 882), pelo monarca britânico Carlos, o Calvo, em torno do ano 875 da nossa era.