terça-feira, 4 de outubro de 2022

TESOURO DE EXEMPLOS (173/175)


173. 'É ELE, É A VIDA!'

Numa linda manhã, assentado debaixo de frondoso carvalho do cabo Montenegro, Lamartine assistia à saída do sol. Toda a criação parecia olhar para o oriente. Num instante brilhou o sol e parecia incendiar com seus raios o mar Mediterrâneo. Então o poeta lançou um grito de entusiasmo: 'É ele, é a vida!'

Ah esse grito do poeta deveria ser também o nosso; conheço outro sol, o Sol divino, em comparação do qual (como disse Miguel Ângelo), o nosso sol é uma sombra. O Sol divino é Jesus. Quando todos os dias se eleva sobre o altar, quando irradia sobre o cibório, deveríamos sentir fome dele; sim, deveríamos correr à sagrada mesa cantando: 'É Ele, é a vida!'

174. 'AGORA ÉS MUITO RICO!'

Quando Jacó entrou na casa de Labão, todas as coisas começaram a prosperar: aumentou a propriedade dos campos, o número dos servos, o número do gado e todas as riquezas aumentaram.
➖ Olha, Labão - disse-lhe um dia Jacó - muito pouco possuías quando eu cheguei; 'agora és muito rico'.

Estas palavras, com maior verdade, as repete Jesus a nós, quando vem à nossa alma na comunhão: 'Vê como eras pobre antes que eu entrasse em tua alma! Agora és rico com os meus dons'. Os que se aproximam do banquete divino terão tudo o que necessitam e ainda muito mais.

175. SANTA CLARA E OS SARRACENOS

Muitos sarracenos, sedentos de sangue e de ódio, assaltaram uma noite o convento de Santa Clara, em Assis. No meio do pranto e das orações das boas religiosas, a Irmã Clara corre à capela, toma o cibório que continha as hóstias consagradas e, por divina inspiração, levanta-o contra os bárbaros que subiam ao mosteiro. Os primeiros ficaram cegos por uma luz deslumbrante; os demais, batidos por uma força prodigiosa, fogem aterrorizados.

O demônio, o mundo e as paixões são como ondas de ferozes sarracenos que, de vez em quando, assaltam a nossa alma. Nós somos fracos e medrosos como aquelas religiosas, inermes contra um exército de bárbaros armados; mas, se, como Santa Clara, corrermos a Jesus, se levarmos a Eucaristia no coração, seremos valorosos e invencíveis. 

Os apóstolos, os mártires, as virgens de onde tiraram força e coragem nas perseguições, nas lutas contra o mal, contra os inimigos de Cristo? A comunhão foi a sua força; a comunhão será também a nossa força.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (LV)

 

CORDEIRO DE DEUS, QUE TIRAIS OS PECADOS DO MUNDO, 
perdoai-nos Senhor.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

SOBRE OS REGRAMENTOS DO BOM PASTOR

Que o pastor guarde um discreto silêncio e tenha uma palavra útil; não revele o que deve calar e não cale o que deve revelar. Uma palavra indevida leva ao erro, um silêncio excessivo mantém no erro aqueles que deveriam ser instruídos. Temendo perder a simpatia popular, acontece, frequentemente, que pastores imprudentes não dizem onde encontrar o bem e, então, segundo a palavra da Verdade, não cuidam do rebanho, a eles confiado, com a dedicação do pastor, mas agem como mercenários que fogem quando vem o lobo, escondendo-se no seu silêncio. 

Assim, o Senhor os admoesta, por meio do profeta, dizendo: canes muti non valentes latrare - 'cães mudos incapazes de latir' (Is 56,10). E se lamenta deles: non ascendistis ex adverso, neque opposuistis murum pro domo Israel, ut staretis in praelio in die Domini - 'não subistes por sobre as brechas para refazer uma muralha à casa de Israel, a fim de poder estar seguro no combate no dia do Senhor' (Ez 13,5). Subir contra o inimigo é enfrentar os poderes deste mundo, falando livremente em defesa do rebanho. Resistir no combate no dia do Senhor é resistir, por amor da justiça, aos ataques dos perversos. Para um pastor, ter medo de dizer o bem não significa, por este silêncio, voltar as costas? Mas, se enfrenta o perigo pelo seu rebanho, ele opõe ao inimigo uma muralha para a casa de Israel.

Por isso, se diz ainda ao povo que peca: prophetae tui viderunt tibi falsa et stulta; nec aperiebant iniquitatem tuam, ut te ad poenitentiam provocarent - 'os teus profetas anunciaram, a teu respeito, visões vãs e insensatas, e não te manifestaram a tua iniquidade para te evitar o cativeiro' (Lm 2,14). Na Sagrada Escritura, às vezes, os profetas são chamados de doutores porque, mostrando que o presente é fugaz, eles revelam o que haverá de suceder. Mas a Palavra divina denuncia as suas falsas visões, quando eles, pelo temor de corrigir os vícios, adulam os pecadores com uma vã promessa de segurança. Eles não abrem os olhos dos pecadores sobre a iniquidade quando calam a voz que os corrigiria. Chave que abre é a palavra que corrige: com a repreensão, desvela a culpa da qual, com frequência, não adverte a malícia, nem mesmo para quem a cometeu. 

Por isso, São Paulo diz: ut potens sit exhortari in doctrina sana, et eos qui contradicunt, arguere -  'para poder exortar segundo a sã doutrina e rebater os que a contradizem' (Tt 1,9). E assim também Malaquias afirma: labia enim sacerdotis custodient, scientiam, et legem requirent ex ore eius, quia angelus Domini exercituum est - 'porque os lábios do sacerdote guardam a ciência e é de sua boca que se espera a doutrina, pois ele é o mensageiro do Senhor dos exércitos' (Ml 2,7). Por meio de Isaías, o Senhor admoesta, dizendo: Clama, ne cesses, quasi tuba exalta vocem tua - 'clama em alta voz, sem cessar' (Is 58,1). Todo aquele que acede ao sacerdócio recebe o encargo de arauto: ele avança, gritando, antes da terrível vinda do Juiz. Portanto, se o sacerdote não sabe pregar, como poderá fazer ouvir a sua voz o arauto mudo?

Por isso, o Espírito Santo pousou sobre os primeiros pastores, em forma de línguas; aqueles que ele tocou tornaram-se prontamente, sob sua inspiração, homens capazes de falar. Também por isso se ordena a Moisés que o sacerdote, ao entrar na Tenda, levasse ao redor de si pequenos sinos, para dar anúncios de pregação e não ir, com seu silêncio, ao encontro do juiz que observa do alto. De fato está escrito: ut audiatur sonitus quando ingreditur ei egreditur sanctuarium in conspetctu Domini, et non moriatur - 'para que se ouça o som das campainhas quando entrar e sair do santuário, na presença do Senhor, para não morrer' (Ex 28,35).

Quando entra ou sai sem que se ouça a sua voz, o sacerdote morre, porque atrai sobre si a ira do juiz invisível; ele caminha sem que ressoe a sua pregação. Com razão, é prescrito que os pequenos sinos sejam pendurados nas suas vestes. O que devemos ver nas vestes do sacerdote, senão boas obras? O profeta atesta: sacerdotes tui induentur iustitiam, et sancti tui exsultent - 'teus sacerdotes revistam-se de justiça e teus fieis exultem de alegria' (Sl 131,9). As sinetas são penduradas nas vestes para as obras do sacerdote, unidas ao som de seus lábios, da palavra, proclamem onde se encontra o caminho da vida. Mas, quando o sacerdote se prepara para falar, coloque toda atenção e reflexão, e o faça com grande cautela; se ele deixar arrastar por um desejo desordenado de falar, o coração daqueles que ouvem poderá ser atingido pela ferida do erro, e querendo passar por sábio, romperia, de modo insensato, os laços da unidade. Por isso, diz a Verdade: habete in vobis sal, et pacem habete inter vos - 'tende sal em vós mesmos, e guardai a paz entre vós' (Mc 9,49).

Quando se esforça por falar sabiamente, tenha grande temor de turbar pelo seu discurso a unidade dos ouvintes. Tome-se o que diz São Paulo: non plus sapere quam oportet sapere, sed sapere ad sobrietatem - 'não façam de si próprios uma opinião maior do que convém, mas com sobriedade' (Rm 12,3). Por isso, na veste do sacerdote, segundo a palavra divina, as campainhas de ouro se juntam as romãs (Ex 28,34). O que significam essas romãs senão a unidade da fé? De fato, na romã, os numerosos grãos em seu interior são protegidos por fora por uma só casca exterior; do mesmo modo, a unidade da fé protege os inumeráveis povos da santa Igreja, contendo dentro de si uma diversidade de méritos. Para que o pastor imprudente não se meta apressadamente a falar, como já dissemos, a Verdade mesma grita aos seus discípulos: habete in vobis sal, et pacem habete inter vos - 'tende sal em vós mesmos, e guardai a paz entre vós'. Como se, através da figura da veste do sacerdote, dissesse: 'acrescentai romãs às sinetas para que, em tudo o que dizeis, possais conservar, com vigilante atenção, a unidade da fé'.

Além disso, os pastores devem tomar cuidado de não somente não fazer discursos errôneos, mas devem também evitar dizer a verdade de modo prolixo e desordenado. Porque, muitas vezes, as palavras perdem a sua força sobre o coração dos ouvintes, por causa de uma loquacidade desconsiderada e inoportuna. Essa loquacidade, incapaz de servir, com proveito, aos seus ouvintes, contamina também aquele que a exercita. Por isso se diz oportunamente por meio de Moisés: vir, qui, patitur fluxum seminis, immundus erit - 'aquele que padece de fluxo seminal, será imundo' (Lv 15,2). 

Na verdade, na alma ouvinte, a boa qualidade do discurso proferido faz das palavras ditas o sêmen do pensamento que formará; o ouvido acolhe uma palavra, e na mente é gerado um pensamento. 'Semeador de palavras', tal qual foi justamente o apelido dado ao pregador por excelência pelos sábios deste mundo. O homem que sofre de um fluxo seminal é, portanto, declarado impuro; escravo de sua loquacidade, ele se contamina com o que, expresso de modo ordenado, poderia gerar no coração dos ouvintes um pensamento justo; mas, com seu fluxo de palavras imprudentes, derrama o sêmen para contaminar e não para o bem de uma descendência. Assim, São Paulo, exortando o seu discípulo da urgência da pregação, lhe diz: testificor coram Deo, et Iesu Christo, qui iudicaturus est vivos et mortuos, per adventum ipsius, et regnum eius: praedica verbum, insta opportune, importune: argue, obsecra, increpa in omni patientia, et doctrina - 'Eu te conjuro em presença de Deus e de Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, por sua aparição e por seu Reino: prega a palavra, insiste oportuna e inoportunamente, repreende, amea­ça, exorta com toda paciência e empenho de instruir' (2Tm 4,1-2). Antes de dizer importune, antepôs opportune, porque a palavra 'importuno', se não considera o que é oportuno, perde toda eficácia na mente de quem a ouve.
(São Gregório Magno - excerto: Regula Pastoralis)

domingo, 2 de outubro de 2022

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Não fecheis o coração; ouvi vosso Deus!' (Sl 94)

 02/10/2022 - Vigésimo Sétimo Domingo do Tempo Comum
 
45. 'AUMENTA A NOSSA FÉ!'

'Aumenta a nossa fé!' (Lc 15,5). Eis o pedido dos apóstolos ao Senhor naquele dia. Eis a nossa súplica ao Senhor através dos tempos: eu creio firmemente, Senhor, mas aumenta a minha fé! O crescimento da fé implica a fé professada, vivida no cotidiano de nossas vidas, alimentada por atos de piedade e devoção cristãs. O incremento da fé implica a fé testemunhada pela conduta de cristãos no mundo, na doação às necessidades do próximo, na prática de uma caridade submersa por completo na gratuidade do amor de Deus.

E a resposta de Jesus é incisiva: 'Se vós tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda...' (Lc 15,6), tornar-se-ia possível arrancar uma planta de raízes profundas e vigorosas e arremessá-la ao mar, seria possível mover as montanhas de lugar e fazer portentos ainda maiores. Pois a fé mobiliza forças inauditas e incompreensíveis aos valores humanos, mas possíveis para a Santa Vontade de Deus, que não conhece abismos ou limites.

E Jesus, com a parábola do senhor e do seu empregado, resume o que deve ser a prática do exercício cristão da fé, como dever e obrigação, não como apropriação de mérito ou regalia de gratidão. A fé plena nos exige a caridade despojada, a entrega cotidiana às graças de Deus nas nossas pequenas ações de cada dia. Sejamos 'servos inúteis' (Lc 15, 10) na consumação completa do nosso eu em nossas ações para e tão somente à glória de Deus.

A fé é 'o precioso depósito que, com a ajuda do Espírito Santo, habita em nós' (2Tm1, 14). Na confiança irrestrita à vontade do Pai e na completa dependência aos seus desígnios, achemos consolação apenas em viver para servir e servir sem reservas, como oferta ao Senhor da vida e submissos à Santa Vontade de Deus, pois o homem justo não morrerá jamais e 'viverá por sua fé' (Hab 1, 4).

sábado, 1 de outubro de 2022

UMA SANTA EM ESTADO PURO

Nada como um dia após o outro. Nada como um santo após o outro. O santo de hoje ou santa - Santa Teresa de Lisieux - é, em praticamente tudo, o oposto do santo de ontem - São Jerônimo. A Teresa das escolhas mais pequenas e mais humildes, que a tornou mundialmente conhecida como ‘Santa Teresinha do Menino Jesus’, é um contraponto absurdo ao furacão cáustico e intenso do Jerônimo doutor da Igreja. Duas vidas santificadas em plenitude, tangidas pelo mesmo espírito de fé e de humildade, porque há todos os tipos de santos e santas, mas não há no Céu um santo ou uma santa que não tenham sido moldados pela humildade e pela caridade.

Esta simples freira carmelita viveu no mais absoluto ostracismo e morreu com apenas 24 anos de idade. Marie Françoise Thérèse Martin nasceu em Alençon, em 02/01/1873, e faleceu em Lisieux, em 30/09/1897. Foi canonizada em 17 de maio de 1925 pelo Papa Pio XI, que posteriormente a declarou ‘Patrona Universal das Missões Católicas’ em 1927. O Papa João Paulo II tornou-a Doutora da Igreja no dia 19 de outubro de 1997.

Por desígnios divinos, Santa Teresinha foi a preceptora de um particular caminho de santificação: a chamada ‘pequena via’, a via de confiança absoluta à vontade de Deus. Na plena aceitação dos desígnios divinos sobre as almas de cada um de nós, no abandono de nossas vidas nos braços de Jesus Cristo, na entrega total de nossas ações e pensamentos à proteção da Santíssima Virgem: eis aí a pequena via, o caminho da infância espiritual, a gloriosa trilha de santificação para os homens comuns, o espantoso atalho ao Céu, proposto e vivido intensamente pela santa carmelita. Eis a sua pequena via maravilhosa de santificação: basta aceitar a nossa própria pequenez, a imensa fragilidade humana que nos domina, as enormes limitações de viver em plenitude os desígnios de Deus sobre as nossas almas; fazer de tantas imperfeições e fragilidades, não meros obstáculos, mas as próprias pedras do caminho, rejuntadas e consolidadas firmemente num imenso amor e numa confiança sem limites na bondade e misericórdia de Deus.

Quão suave é o jugo do Senhor e como são infindáveis os seus caminhos! Sob o vozeirão de um santo que abominava a frouxidão ou sob a batuta suave da santa da pequena via, os ecos da graça ecoam e se reverberam nas almas dos justos, gritando ou apenas sussurrando: o amor a Cristo, o amor incondicional a Cristo, é a nossa estrada para o Céu. Por meio da pequena via, a santificação começa e termina pelo propósito de fazer, de cada dia, mais um passo nesta rota de peregrinação, transformando cada ação diária, cada ato da nossa vida mundana, por mais simples e despojado que seja, em obra de perfeição cristã, compartilhado e vivido para a plena glória do Pai (‘sede perfeitos como vosso Pai do Céu é perfeito’).

Dois santos absurdamente distintos, que se complementam e que se sucedem no mesmo espírito de fé e de humildade, como pedras contínuas da mesma via de santificação, tal como um dia após o outro. Ontem, um santo em estado bruto. Hoje, uma santa em estado puro. Modelos tão diversos quanto a assimetria dos temperamentos humanos, modelos tão radicalmente unidos pelo propósito comum de tornar as suas vidas, longas ou mais curtas, pura ou brutalmente, voltadas apenas para manifestar em plenitude a glória de Deus nessa terra.

PRIMEIRO SÁBADO DO MÊS

   

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

OS TRÊS DEGRAUS DA SABEDORIA MUNDANA

1. A sabedoria do mundo é terrestre e visa apenas os bens da terra. E desta sabedoria fazem secreta profissão os sábios mundanos, quando apegam o coração ao que possuem e se empenham em tornar-se ricos. Quando intentam processos e demandas inúteis para obter dinheiro ou para conservá-lo. Quando não pensam, não falam não agem, senão para alcançar ou conservar qualquer ganho terreno; a confissão, a oração e tudo o mais fazem superficialmente, como quem se desempenha de um ônus, a raros intervalos, para salvar as aparências.

2. A sabedoria do mundo é carnal, pelo amor ao prazer. E desta sabedoria fazem profissão os sábios mundanos, quando buscam apenas os prazeres dos sentidos. Quando gostam de boa mesa. Quando de si afastam tudo o que poderia mortificar ou incomodar o corpo, como os jejuns e as austeridades. Quando, ordinariamente, não pensam mais que em comer, beber, divertir-se, rir, passar agradavelmente o tempo. Quando andam em busca de leitos confortáveis, jogos que divirtam, festas agradáveis, companhias mundanas. E depois que sem escrúpulos se deram todos esses prazeres, vão atrás de um confessor - o menos escrupuloso que encontrarem - a fim de obter assim, por pouco preço, a paz em sua vida sensual e útil, e a indulgência plenária de todos os pecados.

3. A sabedoria do mundo é diabólica, porque é um amor pela estima e pelas honras. E desta sabedoria fazem profissão os sábios mundanos, quando aspiram, muito embora secretamente, grandezas, honras, dignidades e cargos elevados. Quando se esforçam para serem vistos, estimados, louvados e aplaudidos pelos homens. Quando não colimam em seus estudos, trabalhos, lutas, senão a estima e louvor dos homens, a fim de que sejam tidos por honestos, sábios, grandes líderes, sábios jurisconsultos, pessoas de infinito mérito e grande consideração. Quando não podem suportar o desprezo e a repressão. Quando escondem o que têm de falhas e só mostram o que possuem de belo.

É preciso, com Jesus Cristo, detestar e condenar estas sabedorias falsas, a fim de obter a verdadeira, que não busca seu interesse, que não é da terra, nem se encontra no coração dos que vivem em comodismo e que abomina tudo o que é grande e prestigioso aos olhos dos homens.

(São Luís Maria Grignion de Montfort)