sábado, 2 de julho de 2022

VERSUS: PERDÃO X PERDÃO


Há uma misericórdia no Céu à qual se chega através da misericórdia na terra. E há dois tipos de esmola: uma é boa e a outra melhor. Uma consiste em dar pão aos pobres; a outra, em perdoar imediatamente ao teu irmão que pecou contra ti. Com a ajuda do Senhor, apressemo-nos a praticar estes dois tipos de esmola, para podermos receber o perdão eterno e a verdadeira misericórdia de Cristo.

Pois Ele mesmo disse: 'Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai vos não perdoará as vossas' (Mt 6,14-15). E o Espírito Santo então clama: 'Um homem guarda rancor contra outro homem e pede a Deus que o cure? Não tem compaixão pelo seu semelhante e pede o perdão dos seus pecados? (Eclo 28, 3-4).

Apressemo-nos, enquanto pudermos e enquanto vivermos, a praticar esses dois tipos de esmola e a distribuí-la aos outros. Assim, no dia do nosso julgamento, poderemos dizer com confiança: 'Dá-nos, Senhor, porque demos'.

(São Cesário de Arles)


Cristo nos pede duas coisas: que condenemos os nossos pecados e perdoemos os dos outros; e que façamos a primeira por causa da segunda, que nos será então mais fácil, pois aquele que pensa sobre os seus pecados será menos severo para com os seus companheiros de miséria. E que não perdoemos apenas com a boca, mas do fundo do coração, para não voltarmos contra nós próprios o ferro com que pensamos trespassar os outros. Que mal pode fazer-te o teu inimigo, em comparação com o que podes fazer a ti próprio com o teu azedume?

Considera pois quantas vantagens retiras de uma ofensa acolhida com humildade e mansidão. Desse modo, em primeiro lugar - e é o mais importante - mereces o perdão dos teus pecados. E, depois, porque exercitas a paciência e a coragem. Em terceiro lugar, adquires a mansidão e a caridade, pois aquele que é incapaz de se zangar com os que lhe fizeram mal será ainda mais caridoso com os que o amam. Em quarto lugar, arrancas totalmente a cólera do teu coração, o que é um bem incomparável; evidentemente, aquele que liberta a sua alma da cólera também se desembaraça da tristeza: não desperdiçará a sua vida em tristezas e vãs inquietações.

É que nós punimo-nos a nós próprios quando odiamos os outros; só fazemos bem a nós próprios quando os amamos. Além disso, todos te respeitarão, mesmo os teus inimigos, ainda que sejam os demônios. Melhor ainda, se assim te comportares, até deixarás de ter inimigos.

(São João Crisóstomo)

PRIMEIRO SÁBADO DO MÊS

  

sexta-feira, 1 de julho de 2022

A PACIÊNCIA É A MEDIDA DA NOSSA CRUZ

Escreve Tomás de Kempis: 'A cruz te espera por toda parte e por isso é preciso que tenhas paciência em toda parte, se quiseres viver em paz. Se carregares a cruz com boa vontade, ela te levará a ti ao fim desejado'. Cada qual neste mundo procura a paz e desejaria encontrá-la sem sofrimento; isso, porém, é impossível no estado presente, pois as cruzes nos esperam em todo lugar em que nos acharmos. 

Como, pois, encontrar a paz no meio dessas cruzes? Pela paciência, abraçando a cruz que se nos apresenta. Diz Santa Teresa que todo aquele que arrasta sua cruz com má vontade sente o seu peso, por menor que seja; quem, porém, a abraça com boa vontade, não a sente, ainda que seja muito pesada. E Tomás de Kempis ajunta que todo aquele que leva a cruz com resignação, a mesma cruz o conduzirá ao fim desejado, que neste mundo é agradar a Deus e no outro amá-lo eternamente. 

O mesmo autor continua: 'Qual dos santos viveu sem a cruz? Toda a vida de Cristo foi cruz e martírio, e tu buscas o gozo?' Que santo foi admitido no céu sem a insígnia da cruz? Como poderão entrar os santos no céu sem a cruz, se a vida de Jesus Cristo, nossa cabeça e redentor, foi uma cruz contínua e um martírio? Jesus, inocente, santo, filho de Deus, quis padecer durante sua vida inteira e nós andamos atrás de prazeres e consolações? 

Para dar-nos um exemplo de paciência, quis eleger uma vida cheia de ignomínias e dores internas e externas e nós queremos nos salvar sem sofrer ou sofrendo sem paciência, o que é padecimento duplo, mas sem fruto e com o acréscimo do castigo. Como poderemos pensar em amar a Jesus Cristo, se não queremos padecer por amor dele, que tanto padeceu por nós? Como poderá gloriar-se de ser discípulo do crucificado quem recusa ou recebe de má vontade os frutos da cruz, que são os sofrimentos, os desprezos, a pobreza, as dores, as enfermidades e todas as coisas contrárias ao nosso amor próprio? 

Não nos esqueçamos, antes sempre nos recordemos, das chagas do crucifixo, porque delas hauriremos a força de sofrer os males desta vida, não só com a paciência, mas até com alegria e satisfação, como o fizeram os santos: 'Tirareis águas com alegria das fontes do Salvador' (Is 12,3). São Boaventura comenta: 'Das fontes do Salvador significa das chagas de Jesus Cristo' e exorta-nos a ter os olhos sempre fixos em Jesus moribundo, se quisermos viver sempre unidos com Deus. A devoção consiste, segundo São Tomás, em estarmos prontos a executar tudo o que Deus exige de nós. Cristo, nosso modelo. 

Eis a bela instrução a que nos dá São Paulo para vivermos sempre unidos a Deus e suportarmos com paciência as tribulações desta vida: 'Recordai-vos daquele que dos pecadores suportou contra si uma tal contradição, para que não vos fatigueis desfalecendo em vossos ânimos' (Hb 12,3). Ele diz: 'Recordai-vos'. Para sofrer com resignação e paz as penas da vida, não basta pensar de passagem, poucas vezes no ano, a paixão de Jesus Cristo; é preciso pensar a miúdo e mesmo todos os dias recordar-se das penas que Jesus suportou por nosso amor. 

E que penas foram essas? O Apóstolo diz: sofreu tal contradição. Tal foi a contradição que Jesus sofreu de seus inimigos que dele fizeram o homem mais vil, o homem das dores, segundo a predição do profeta: o último dos homens, o homem das dores, deixando-o morrer de pura dor e saciado de opróbrios em um patíbulo destinado aos mais perversos. E por que quis Jesus abraçar esse acervo de dores e vitupérios? Para que não vos fatigueis desfalecendo em vossos ânimos, isto é, para que nós, vendo quanto um Deus quis padecer para dar o exemplo da paciência, não esmoreçamos, mas tudo soframos para nos libertarmos dos pecados.

(Excertos da obra 'A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo', de Santo Afonso Maria de Ligório)

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS

   

DEVOÇÃO DAS NOVE PRIMEIRAS SEXTAS - FEIRAS 

quinta-feira, 30 de junho de 2022

QUANDO O INFERNO É AQUI...


Santa Catarina, Brasil. Uma criança de 11 anos, vítima de estupro e grávida de sete meses, estava sendo mantida pela justiça de Santa Catarina em um abrigo longe da família para evitar que fizesse o aborto. Diante dessa situação, o Ministério Público Federal (MPF) fez uma intervenção brutal e recomendou (?) a remoção imediata do feto - independentemente do período gestacional. O caso virou manchete nacional da grande mídia, quase que integralmente no contexto de execração da juíza que mantinha suspensa a ação abortiva, de pressão sobre o hospital que havia negado inicialmente fazer o procedimento, dos defensores da manutenção da gravidez da criança e da tragédia representada pelo ato do famigerado estuprador diante da criança vulnerável. O procedimento foi então aplicado em regime de urgência e o aborto se consumou.

Fato consumado - e somente então - ficou-se sabendo que o 'famigerado estuprador' era uma outra criança, um adolescente de 13 anos, filho do padrasto da menina e residente na mesma casa, o que originou um relacionamento íntimo recorrente entre as duas crianças. O procedimento de recolhimento da menina em um abrigo pela justiça tinha, portanto, o propósito claro de se evitar a continuidade do abuso em casa. A mídia assumiu o abrigo como 'cárcere'. Nessa toada de insanidades e manipulações dos fatos, a solução adotada foi a mais previsível de todas: matou-se a terceira criança, a vítima mais inocente e vulnerável das três. Quando o mal se impõe sob o rugido diabólico de suas entranhas e o bem se curva sob o indiferentismo, o inferno é aqui...

quarta-feira, 29 de junho de 2022

29 DE JUNHO - FESTA DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO

 

'Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo' (Mt 16,16)

'Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé' (II Tm 4,7)

Excertos da Homilia do Papa João Paulo II, na Solenidade de São Pedro e São Paulo, em 29/06/2000

1.'E vós, quem dizeis que Eu sou?' (Mt 16, 15). Jesus dirige aos discípulos esta pergunta acerca da sua identidade, enquanto se encontra com eles na Alta Galileia. Muitas vezes acontecera que foram eles a interrogar Jesus; agora é Ele quem os interpela. A sua pergunta é específica e espera uma resposta. Simão Pedro toma a palavra em nome de todos: 'Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo' (Mt 16, 16). A resposta é extraordinariamente lúcida. Nela se reflete de modo perfeito a fé da Igreja. Nela nos refletimos também nós. De modo particular, reflete-se nas palavras de Pedro, o Bispo de Roma, por vontade divina o seu indigno sucessor.

2. 'Tu és o Cristo!'. À confissão de Pedro, Jesus replica: 'És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne nem o sangue quem to revelou, mas o Meu Pai que está nos céus' (Mt 16, 17).

És feliz, Pedro! Feliz, porque esta verdade, que é central na fé da Igreja, não podia emergir na tua consciência de homem, senão por obra de Deus. 'Ninguém', disse Jesus, 'conhece o Filho senão o Pai, como ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar' (Mt 11, 27). Reflitamos sobre esta página evangélica particularmente densa: o Verbo encarnado revelara o Pai aos seus discípulos; agora é o momento em que o próprio Pai lhes revela o seu Filho unigênito. Pedro acolhe a iluminação interior e proclama com coragem: 'Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!'

Estas palavras nos lábios de Pedro provêm do profundo do mistério de Deus. Revelam a verdade íntima, a própria vida de Deus. E Pedro, sob a ação do Espírito divino, torna-se testemunha e confessor desta soberana verdadeA sua profissão de fé constitui assim a sólida base da fé da Igreja: 'Sobre ti edificarei a minha Igreja' (Mt 16, 18). Sobre a fé e a fidelidade de Pedro está edificada a Igreja de Cristo.

3. 'O Senhor assistiu-me e deu-me forças a fim de que a palavra fosse anunciada por mim e os gentios a ouvissem' (2 Tm 4, 17). São palavras de Paulo ao fiel discípulo Timóteo: escutamo-las na Segunda Leitura. Elas dão testemunho da obra nele realizada pelo Senhor, que o tinha escolhido como ministro do Evangelho, 'alcançando-o' na via de Damasco (Fl 3, 12). Envolvido numa luz fulgurante, o Senhor se lhe havia apresentado, dizendo:  'Saulo, Saulo, por que Me persegues?' (At 9,4), enquanto uma força misteriosa o lançava por terra.

'Quem és Tu, Senhor?', perguntara Saulo. 'Eu sou Jesus, a quem tu persegues!'. Foi esta a resposta de Cristo. Saulo perseguia os seguidores de Jesus e Jesus fez-lhe tomar consciência de que era Ele mesmo a ser perseguido neles. Ele, Jesus de Nazaré, o Crucificado, que os cristãos afirmavam ter ressuscitado. De Damasco, Paulo iniciará o seu itinerário apostólico, que o levará a defender o Evangelho em tantas partes do mundo então conhecido. O seu impulso missionário contribuirá assim para a realização do mandato de Cristo aos Apóstolos: 'Ide, pois, ensinai todas as nações...' (Mt 28, 19).

4. Caríssimos Irmãos no Episcopado vindos para receber o Pálio, a vossa presença põe em eloquente ressalto a dimensão universal da Igreja, que derivou do mandato do Senhor: 'Ide... ensinai a todas as nações' (Mt 28, 19). Todas as vezes que vestirdes estes pálios, recordai, irmãos caríssimos que, como pastores, somos chamados a salvaguardar a pureza do Evangelho e a unidade da Igreja de Cristo, fundada sobre a 'rocha' da fé de Pedro. A isto nos chama o Senhor; esta é a nossa irrenunciável missão de guias previdentes do rebanho que o Senhor nos confiou.

5. A plena unidade da Igreja! Sinto ressoar em mim a recomendação de Cristo. Deus nos conceda chegarmos quanto antes à plena unidade de todos os crentes em Cristo. Obtenhamos este dom dos Apóstolos Pedro e Paulo, que a Igreja de Roma recorda neste dia, no qual se faz memória do seu martírio e, por isso, do seu nascimento para a vida em Deus. Por causa do Evangelho, eles aceitaram sofrer e morrer e se tornaram partícipes da ressurreição do Senhor. A sua fé, confirmada pelo martírio, é a mesma fé de Maria, a Mãe dos crentes, dos Apóstolos,  dos Santos  e Santas de  todos  os séculos.

Hoje a Igreja proclama de novo a sua fé. É a nossa fé, a imutável fé da Igreja em Jesus, único Salvador do mundo; em Cristo, o Filho de Deus vivo, morto e ressuscitado por nós e para a humanidade inteira.

São Pedro e São Paulo, rogai por nós!

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (XXI)

MÃE DO CRIADOR, rogai por nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)