segunda-feira, 13 de junho de 2022

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (XIV)


 MÃE DA DIVINA GRAÇA, rogai por nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

13 DE JUNHO - SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA

 

SÍNTESE BIOGRÁFICA

1195: Nasce em Lisboa, filho de Maria e Martinho de Bulhões. É batizado com o nome de Fernando. Reside na frente da Catedral.

1202: Com sete anos de idade, começa a frequentar a escola, um privilégio raro na época.

1209: Ingressa no Mosteiro de São Vicente, dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho, perto de Lisboa. Torna-se agostiniano. 

1211: Transfere-se para Coimbra, importante centro cultural, onde se dedica de corpo e alma ao estudo e à oração, pelo espaço de dez anos.

1219: É ordenado sacerdote. Pouco depois conhece os primeiros franciscanos, vindos de Assis, que ele recebe na portaria do mosteiro. Fica impressionado com o modo simples e alegre de viver daqueles frades.

1220: Chegam a Coimbra os corpos de cinco mártires franciscanos. Fernando decide fazer-se franciscano como eles. É recebido na Ordem com o nome de Frei Antônio, enviado para as missões entre os sarracenos de Marrocos, conforme deseja.

1221: Chegando a Marrocos, adoece gravemente, sendo obrigado a voltar para sua terra natal. Mas uma tempestade desvia a embarcação arrastando-a para o sul da Itália. Desembarca na Sicília. Em maio do mesmo ano participa, em Assis, do capítulo das Esteiras, uma famosa reunião de cinco mil frades. Aí conhece o fundador da Ordem, São Francisco de Assis. Terminado o Capítulo, retira-se para o eremitério de Monte Paolo, junto aos Apeninos, onde passa 15 meses em solidão contemplativa e em trabalho braçal. 

1222: Chamado de improviso a falar numa celebração de ordenação, Frei Antônio revela uma sabedoria e eloquência extraordinárias, que deixam a todos estupefatos. Começa a sua epopeia de pregador itinerante.

1224: Em brevíssima Carta a Frei Antônio, São Francisco o encarrega da formação teológica dos irmãos. Chama-o cortesmente de 'Frei Antônio, meu bispo'.

1225: Depois de percorrer a região norte da Itália, passa a pregar no sul da França, com notáveis frutos. Mas tem duras disputas com os hereges da região.

1226: É eleito custódio na França e, um ano depois, provincial dos frades no norte da Itália.

1228: Participa, em Assis, do Capítulo Geral da Ordem, que o envia a Roma para tratar com o Papa de algumas questões pendentes. Prega diante do Papa e dos Cardeais. Admirado de seu conhecimento das Escrituras, Gregório IX o apelida de 'Arca do Testamento'.

1229: Frei Antônio começa a redigir os 'Sermões', atualmente impressos em dois grandes volumes.

1231: Prega em Pádua a famosa quaresma, considerada como o momento de refundação cristã da cidade. Multidões acorrem de todos os lados. Há conversões e prodígios. Êxito total! Mas Frei Antônio está exausto e sente que seus dias estão no fim. Na tarde de 13 de junho, mês em que os lírios florescem, Frei Antônio de Lisboa morre às portas da cidade de Pádua. Suas últimas palavras são: 'Estou vendo o meu Senhor'. As crianças são as primeiras a saírem pelas ruas anunciando: 'Morreu o Santo'.

1232: Não tinha bem passado um ano desde sua morte, quando Gregório IX o inscreveu no catálogo dos santos.

1946: Pio XIII declara Santo Antônio Doutor da Igreja, com o título de 'Doutor Evangélico'.

MILAGRE DOS PEIXES


Certa vez, quando o Frei Antônio pregava o Evangelho na cidade de Rímini, Itália, os moradores locais não queria escutá-lo e começaram a ofendê-lo a ponto de ameaçá-lo de agressão física. Santo Antônio saiu da praça e caminhou em direção à praia e, dando as costas aos seus detratores, falou em voz alta. 'Escutai a Palavra de Deus, vós que sois peixes e vives no mar, já que os infiéis não a querem ouvir.' Diversos peixes agruparam-se à beira da praia e, postando suas cabeças para fora d’água, ficaram em posição como de escuta das palavras do santo: 'Bendizei ao Senhor, vós que sois também criaturas de Deus!' E aqueles que presenciaram este milagre espantoso creram e se converteram ao cristianismo!

EXCERTOS DE UM SERMÃO: 'A CEGUEIRA DAS ALMAS '
(SERMÃO DO DOMINGO DA QUINQUAGÉSIMA) 

Um cego estava sentado... etc. Omitidos todos os outros cegos curados, só queremos mencionar três: o primeiro é o cego de nascença do Evangelho, curado com lodo e saliva; o segundo é Tobias que cegou com excremento de andorinhas, e se curou com fel de peixe; o terceiro é o bispo de Laodicéia, ao qual diz o Senhor no Apocalipse: 'Não sabes que és um infeliz e miserável, pobre, cego e nu. Aconselho-te que me compres ouro provado no fogo, para te fazeres rico, e te vestires com roupas brancas, e não se descubra a tua nudez, e unge os teus olhos com um colírio, para que vejas'. Vejamos o que significa cada uma destas coisas.

O cego de nascença significa, no sentido alegórico, o gênero humano, tornado cego nos protoparentes. Jesus restituiu-lhe a vista, quando cuspiu em terra e lhe esfregou os olhos com lodo. A saliva, descendo da cabeça, significa a divindade, a terra, a humanidade; a união da saliva e da terra é a união da natureza humana e divina, com que foi curado o gênero humano. E estas duas coisas significam as palavras do cego sentado à borda do caminho e a clamar: 'Tem piedade de mim (o que diz respeito à divindade), Filho de Davi' (o que se refere à humanidade).

No sentido moral, o cego significa o soberbo. A este respeito lemos no profeta Abdias: 'Ainda que te eleves como a águia e ponhas o teu ninho entre os astros, eu te arrancarei de lá, diz o Senhor'. A águia, voando mais alto que todas as aves, significa o soberbo, que deseja a todos parecer mais alto com as duas asas da arrogância e da vanglória. É a ele que se diz: 'Se entre os astros, isto é, entre os santos que, neste lugar tenebroso, brilham como astros no firmamento, puseres o teu ninho, isto é, a tua vida, dali te arrancarei, diz o Senhor'. 

O soberbo, pois, esforça-se por colocar o ninho da sua vida na companhia dos santos. Donde a palavra de Job: 'A pena do avestruz, isto é, do hipócrita, é semelhante às penas da cegonha e do falcão, isto é, do homem justo'. E nota que o ninho em si tem três caracteres: no interior é forrado de matérias brandas; externamente é construído de matérias duras e ásperas; é colocado em lugar incerto, exposto ao vento. Assim a vida do soberbo tem interiormente a brandura do deleite carnal, mas é rodeada no exterior por espinhos e lenhas secas, isto é, por obras mortas; também está colocada em lugar incerto, exposta ao vento da vaidade, porque não sabe se de tarde ou se de manhã desaparecerá. E isto é o que se conclui: 'De lá eu te arrancarei, ou seja, arrancar-te-ei para te lançar no fundo do inferno, diz o Senhor'. Por isso, escreve-se no Apocalipse: 'Quanto ela se glorificou e viveu em delícias, tanto lhe dai de tormentos'.

E nota que este cego soberbo é curado com saliva e lodo. Saliva é o sêmen do pai derramado na lodosa matriz da mãe, onde se gera o homem miserável. A soberba não o cegaria se atendesse ao modo tão triste da sua concepção. Daí a fala de Isaías: 'Considerai a rocha donde fostes tirados. A rocha é o nosso pai carnal; a caverna do lago é a matriz da nossa mãe. Daquele fomos cortados no fétido derrame do sêmen; desta fomos tirados no doloroso parto. Por que te ensoberbeces, portanto, ó mísero homem, gerado de tão vil saliva, criado em tão horrível lago e ali mesmo nutrido durante nove meses pelo sangue menstrual?' Se os cereais forem tocados por esse sangue não germinarão, o vinho novo azedará, as ervas morrerão, as árvores perderão os frutos, a ferrugem corroerá o ferro, enegrecerão os bronzes e se dele comerem os cães, tornar-se-ão raivosos e, com as suas mordeduras, farão enlouquecer as pessoas. 

domingo, 12 de junho de 2022

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Ó Senhor, nosso Deus, como é grande vosso nome por todo o universo!' (Sl 8)

 12/06/2022 - Solenidade da Santíssima Trindade

29. GLÓRIA À TRINDADE SANTA!


O mistério da Santíssima Trindade é um mistério de conhecimento e de amor. Pois, desde toda a eternidade, o Pai, conhecendo-se a Si mesmo com conhecimento infinito de sua essência divina, por amor gera o Filho, Segunda Pessoa da Trindade Santa. E esse elo de amor infinito que une Pai e Filho num mistério insondável à natureza humana se manifesta pela ação do Espírito Santo, que é o amor de Deus por si mesmo. Trindade Una, Três Pessoas em um só Deus.

Mistério dado ao homem pelas revelações do próprio Jesus, posto que não seria capaz de percepção e compreensão apenas pela razão natural, uma vez inacessível à inteligência humana: 'Tudo o que o Pai possui é meu. Por isso, disse que o que ele (o Espírito Santo) receberá e vos anunciará, é meu' (Jo 16, 15). Mistério revelado em sua extraordinária natureza em outras palavras de Cristo nos Evangelhos: 'Em verdade, em verdade vos digo: O Filho não pode de si mesmo fazer coisa alguma, mas somente o que vir fazer o Pai; porque tudo o que fizer o Pai, o faz igualmente o Filho. Porque o Pai ama o Filho, e mostra-lhe tudo o que ele faz (Jo 5, 19-20) ou ainda 'Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece o Filho senão o Pai; nem alguém conhece o Pai senão o Filho (Mt 11, 27).

Nosso Senhor Jesus Cristo é o Verbo de Deus feito homem, sob duas naturezas: a natureza divina e a natureza humana: 'Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele' (Jo 3, 16 - 17). Enquanto homem, Jesus teve as três potências da alma humana: inteligência, vontade e sensibilidade; enquanto Deus, Jesus foi consubstancial ao Pai, possuindo inteligência e vontade divinas.

'Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo'. Glórias sejam dadas à Santíssima Trindade: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Neste domingo da Santíssima Trindade, a Igreja exalta e ratifica aos cristãos o maior dos mistérios de Deus, proclamado e revelado aos homens: O Pai está todo inteiro no Filho, todo inteiro no Espírito Santo; o Filho está todo inteiro no Pai, todo inteiro no Espírito Santo; o Espírito Santo está todo inteiro no Pai, todo inteiro no Filho (Conselho de Florença, 1442).

sábado, 11 de junho de 2022

A VIDA OCULTA EM DEUS: OS PERFUMES DIVINOS


A alma que se aproxima de Deus às vezes experimenta em si a doce impressão de que perfumes misteriosos a envolvem e a impregnam completamente. Não são como os perfumes naturais que afetam os sentidos. Não. Mas essas realidades espirituais têm meios de se manifestar à alma de modo análogo às emanações dos odores físicos. Nesse sentido existem perfumes espirituais. Eles têm o privilégio de não só serem mil vezes mais agradáveis ​​que o mais requintado dos bálsamos, mas também, e sobretudo, de serem sobrenaturalmente benéficos. Eles fortalecem e se propagam. Sob o seu influxo, a alma desenvolve e respira livremente. E cresce. A vida, uma vida totalmente divina, é infundida nela por dentro. Ela se compenetra disso e percebe que a causa imediata de tudo é esse perfume misterioso.

Quando Deus faz a alma entrar em união imediata com as realidades espirituais, sobretudo consigo mesmo, algo similar acontece quando se percebem as propriedades sensíveis dos corpos; perfumes, por exemplo. A bondade de Deus tem o seu aroma, assim como tem um também a sua doçura, e de forma semelhante com os outros atributos divinos. Parece que tudo acontece como se, de fato, a alma fosse dotada de um olfato espiritual, harmonizado pelo Criador com os seres da ordem sobrenatural, que lhe são reconhecidos pelo olfato. Quando a alma quer traduzir para a linguagem humana o que experimenta em sua união íntima com Deus, não encontra melhor comparação: 'As coisas divinas me fazem experimentar prazeres que são para mim, na ordem espiritual, o que na ordem sensível são os prazeres do olfato impregnados pelo perfume das flores'.

Nessa intimidade, Deus quer falar com a alma predileta e suas palavras fluem docemente. A alma interior capta então toda a sua graça. Antes mesmo de serem articulados quaisquer sons, já a encantam a delicadeza e o suave perfume que exalam. Não queremos dizer certamente com isso que Deus possui lábios ou que Jesus deixa, por um momento, contemplar os seus. Não é isso; mas a alma interior e Deus estão tão próximos que se podem falar, como de uma boca para outra boca. Toda a afeição verdadeira, profunda e pura que lábios humanos poderiam expressar é refletida, sobre a alma interior, como uma projeção nascida da boca de Deus. Na expressão e no movimento desses lábios misteriosos, a alma subtende que agrada a Deus e que é amada por Ele.

Um delicioso perfume brota dos lábios divinos. Pode-se dizer que vem do mais íntimo do Coração de Deus e faz a alma interior provar todos os encantos de outros perfumes. Por que a essência divina não deveria ter o seu perfume? É isso que subtende a esposa na hora abençoada de sua união. Esse perfume que ela chama de 'essencial', essa 'mirra puríssima', já lhe antecipa algo das alegrias do céu. Uma espécie de atmosfera perfumada a envolve por completo. Ela se sente, ao mesmo tempo, isolada e protegida por esse ambiente, invisível e ao mesmo tempo tão real. E então pode amar a Deus sem reservas. E faz isso sem contratempos e sem esforço, movida por um instinto divino que a impele e a sustenta ao mesmo tempo. A alma interior saboreia essa nova maneira de viver desconhecida até agora, mas compreende que encontrou nela a verdadeira vida e então exulta de alegria.

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte III - A União com Deus; tradução do autor do blog)

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (XIII)

 

MÃE DE JESUS CRISTO, rogai por nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

sexta-feira, 10 de junho de 2022

SOBRE A INSUSTENTÁVEL FAMILIARIDADE COM DEUS

Amar a Deus é empresa audaciosa e árdua, mas a divina misericórdia fez um preceito daquilo que em si é inefável privilégio. E' difícil, porém, amar com ardor e ternura e, ao mesmo tempo, com reverência. E resulta daí que, para muitos, a familiaridade se prende ao amor e o contamina. A familiaridade na oração consiste em meditar sem preparação, em empregar certas palavras insuficientemente medidas, em adotar atitudes cômodas, em usar epítetos irrefletidos, em levantar queixas impertinentes, e em pedir levianamente aquilo que os santos pediram. 

Isso não passa de intolerável familiaridade para com a grande majestade de Deus. E vai sempre piorando. O hábito traz a negligência, e a negligência torna-nos profanadores. A familiaridade com os sacramentos consiste em confessarmo-nos após rápido exame, seguido de um simples ato de contrição, em omitir as ações de graça e não nos preocupar com a penitência, como se fôssemos pessoas privilegiadas e tivéssemos o direito de tomar liberdade com o precioso sangue de Jesus. 

Com a Santíssima Eucaristia, consiste em comungarmos frequentemente sem licença, ou com licença forçada; sem a menor preparação, com ações de graça negligentes (como se toda a vida fosse preparação e ação de graça adequadas); em aparentar liberdade de espírito, por meio de uma atitude livre e fácil para com o adorável sacramento. A familiaridade com as tentações consiste em perdermos o horror que tínhamos ao seu caráter corrupto, em repeli-las frouxa e lentamente, em amortecer o ódio que lhes temos, em não as receiar, certos de que tal virtude está tão firme, que não nos é possível cair.

Tais familiaridades estendem-se sobre nós, qual sono que se aproxima insidiosamente. Sentimos aumentar a repugnância em afastá-las e sacudi-las de nós. O pensamento do inferno e do purgatório, por mais salutar que seja, far-nos-á menos bem que a meditação dos adoráveis atributos de Deus. Se a nossa carne fosse sempre traspassada pelas flechas do santo temor, quão angélica tornar-se-ia a nossa vida!

(Excertos da obra 'Progresso na Vida Espiritual', do Pe. Frederick Faber)