quarta-feira, 7 de outubro de 2020

DICIONÁRIO DA DOUTRINA CATÓLICA (XIII)

 

JACULATÓRIA

É uma aspiração doce e fervorosa, repetida ou por palavras ou só mentalmente, para nos recordarmos da presença de Deus, do amor que lhe devemos e para nos conservarmos em união com Ele.

JEJUM EUCARÍSTICO

Além do jejum ordinário, que é penitência, há o jejum eucarístico ou natural, que consiste em não comer nem beber nada desde a meia noite até à comunhão [atualmente, não se alimentar uma hora antes da comunhão]. Quebra-se o jejum eucarístico quando alguma coisa digerível, vinda do exterior, se toma a modo de comida ou bebida. Pode-se comungar sem estar em jejum: em perigo de vida para receber o sagrado Viático; para evitar a profanação das sagradas espécies; para evitar em certos casos o escândalo ou a infâmia. Os doentes que estão de cama (e de que não se espera com certeza uma rápida convalescença) podem comungar, segundo o prudente parecer do confessor, uma ou duas vezes por semana, ainda que antes tomem algum alimento líquido ou algum remédio, mesmo sólido. 

JUGO DE CRISTO

É a Religião Católica. É ela que nos ensina e leva à prática da mansidão e da humildade. Quem pratica estas virtudes conserva a paz na sua alma e não perturba a paz do próximo. Para quem vive em paz, as cruzes que acompanham a vida são suaves; Deus alivia o seu peso. Foi Jesus que disse: 'Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas, porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve' (Mt 11, 29 - 30).

JUÍZO FINAL 

É o julgamento que Deus fará de todos os homens, no fim do mundo. Nesse momento, cada um pode ver tudo o que está na consciência dos outros, pois diz o Apóstolo: 'Virá o Senhor, o qual não só porá às claras o que se acha escondido nas trevas, mas descobrirá os desígnios dos corações' (I Cor 4, 5). A Sagrada Escritura previne-nos de como será feito o julgamento final. Serão todas as gentes congregadas diante de Jesus Cristo, que separará uns dos outros como o pastor separa os cabritos das ovelhas, e assim porá as ovelhas à direita, e os cabritos (os pecadores) à esquerda. Então dirá o Rei aos que hão de estar à sua direita (que são os justos): 'Vinde, benditos de meu Pai, possuí o reino (celeste) que vos está preparado desde o princípio do mundo'. Então dirá também aos que estão à esquerda: 'afastai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno, que está preparado para o diabo e para os seus anjos'. E irão estes para o suplício eterno, e os justos para a vida eterna (Mt 25, 32 -34, 41. 46). Tal é o fim de todo o homem que vem a este mundo, seja ele quem for, queira ou não queira, creia ou não creia.

JUÍZO PARTICULAR 

É aquele a que a alma se há de sujeitar imediatamente após a morte, para lhe ser determinado o lugar da sua morada eterna. Assim o ensina São Paulo dizendo: 'Está estatuído que o homem morre uma só vez, e que depois se lhe segue o julgamento' (Hb 9, 27), 'todos devemos comparecer diante do tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo cada um tiver feito bem ou mal' (II Cor 5, 10). O julgamento é mental e momentâneo. A alma, ao separar-se do corpo, encontra-se com Deus, que está em toda a parte; vê em si mesma todos os atos da sua vida, que estão todos presentes a Deus; Deus faz-lhe conhecer a sentença que merece, e a alma entra no lugar do seu justo destino: ou no purgatório, ou no céu ou no inferno.

JUÍZO TEMERÁRIO 

É a firme convicção, sem razão suficiente, do pecado ou do vício do próximo. É pecado contra a justiça, porque ofende, embora interiormente, a fama do próximo. Jesus Cristo previne-nos contra o juízo temerário, dizendo: 'Não queirais julgar segundo as aparências, mas julgai segundo a reta justiça' (Jo 7, 24). Não devemos julgar os outros sem estarmos, ao menos moralmente, certos de que é justo o nosso juízo. O juízo temerário procede de alguma destas causas: da maldade do que julga, do ódio, da vingança, ou da experiência da fragilidade humana. Quem não tem autoridade para julgar não se constitua juiz do seu próximo. As dúvidas que se nos apresentam sobre as ações do próximo devem ser julgadas favoravelmente.

JUSTIFICAÇÃO 

Consiste na remissão do pecado mortal pela infusão da graça habitual. É a passagem do estado de pecado mortal ao estado de graça de Deus, de sorte que a alma que recebe a graça santificante ou habitual fica completamente transformada como se fosse uma alma nova. Assim o indica o Apóstolo São João, dizendo: 'Se confessarmos os nossos pecados, fiel é (Deus) e justo para nos perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda a iniquidade' (Jo 1, 9). Purificados de toda a iniquidade, ficamos em estado de entrar no Céu, como ensina o Apóstolo São Paulo, dizendo: 'Onde abundou o pecado, superabundou a graça, para que assim como o pecado reinou para a morte, assim também reine a graça pela justiça para a vida eterna, por meio de Jesus Cristo Senhor nosso' (Rm 20, 31). O homem justificado não pode julgar-se seguro de não perder a graça que o justificou; pode perdê-la, e perde-a logo que comete um pecado mortal. Jesus nos faz esta prevenção: 'Vigiai e orai para não cairdes em tentação' (Mt 26, 41). O que o Apóstolo São Paulo diz por estas palavras: 'Aquele que julga estar seguro acautele-se para não cair' (1 Cor 10, 12). Não troquemos a graça de Deus pela vileza dos prazeres sensíveis.

KYRIES 

São invocações que se fazem na Missa e nas ladainhas, acrescentando-se a elas a palavra Eleison. São duas palavras gregas que querem dizer: Senhor, tende misericórdia de nós. São dirigidas à Santíssima Trindade, e são ditas três vezes na Missa e nas ladainhas. Como, porém, a segunda invocação se dirige a Jesus Cristo, em vez de Kyrie, diz-se nesse caso Christe.

LADAINHA 

É palavra que significa súplica. É uma série de invocações que a Igreja faz ao nome de Deus, da Virgem Maria e dos santos. Há várias ladainhas: a de Nossa Senhora, invocando a Virgem Maria sob diversos títulos; a de Todos os Santos, invocando a misericórdia de Deus por intercessão dos santos; a de São José e outras, que se rezam em certos atos de devoção. 

LAICISMO

É o sistema que tem como princípio fundamental a autonomia absoluta da razão e da vontade humana. Nega a possibilidade de qualquer religião, mesmo da religião natural.

LAUDES 

É a segunda parte do Oficio Divino, rezada imediatamente após Matinas.

LEIGOS 

São os fiéis que não pertencem à classe dos clérigos. Todos devem reverência aos clérigos e cometem o delito de sacrilégio quando lhes fazem uma verdadeira injúria. São dignos de louvor se entrarem nas associações eretas ou ao menos recomendadas pela Igreja, e devem estar acautelados contra as associações secretas, condenadas, sediciosas, suspeitas, ou que procuram fugir à vigilância da Igreja. Os leigos podem tomar parte na administração dos bens eclesiásticos. 

LEITURA ESPIRITUAL

É a leitura de livros espirituais, muito útil e mesmo necessária às pessoas que desejam seguir vida sobrenatural, assim como aos diretores de almas. A necessidade de tal leitura resulta das dificuldades que de ordinário se encontram no caminho da perfeição, e as dificuldades não são menores para o diretor do que para as pessoas dirigidas. Não deve, porém, a pessoa dirigida ler os livros que lhe apetecer e sim os que o seu Diretor Espiritual lhe indicar; por seu lado, o Diretor só deve indicar livros apropriados ao grau de perfeição da pessoa que dirige ou que aconselha. Na leitura desses livros, não deve entrar a curiosidade, mas o sincero desejo de encontrar incitamentos para uma maior perfeição, para a prática mais sólida das virtudes sobrenaturais.

LIVROS LITÚRGICOS 

São os livros que a Igreja usa nas orações e cerimônias litúrgicas: o Missal é o livro que contém as Missas que o sacerdote celebra durante todo o ano; o Breviário é o livro que contém a oração cotidiana oficial que a Igreja impõe aos seus ministros de ordens maiores e também aos monges perpetuamente ligados pelos votos;  o Ritual é o livro que contém a forma de administrar os sacramentos, exceto o da Ordem, as orações das várias bênçãos e o cerimonial das procissões.; o Cerimonial dos Bispos é o livro que contém as regras das cerimônias religiosas presididas pelo bispo e o Pontifical Romano é o livro pelo qual o bispo confere os sacramentos da Confirmação e da Ordem, e que contém as bênçãos que lhes são reservadas.

LUXÚRIA 

É um dos pecados capitais, e consiste no desordenado desejo dos vergonhosos deleites sensuais. São cinco os graus da luxúria: o olhar, o prazer, o deleite, o consentimento e a ação. Nenhuma paixão deprime a razão como a gula e a luxúria. As causas que provocam os pecados da luxúria são: a ociosidade e a sensualidade, as más leituras, as modas imodestas, a frequentação de assembleias mundanas e os espetáculos imorais. 'As más companhias corrompem os costumes', avisa o Apóstolo São Paulo (1 Cor 15, 33). E São João recomenda que 'não amemos o mundo porque tudo o que há no mundo é concupiscência da carne, concupiscência dos olhos, e soberba da vida' (I Jo 2, 16). Para evitar o pecado da luxúria, devemos afastar-nos das más companhias e dos prazeres que o mundo oferece, devemos mortificar os nossos sentidos e os movimentos desordenados da nossa carne, e devemos pedir
a Deus a graça preciosa para se guardar a virtude da castidade.

LUZ DA GLÓRIA 

É um auxílio que Deus concede aos bem-aventurados para que possam contemplar a Majestade Divina face a face.

(Verbetes da obra 'Dicionário da Doutrina Católica', do Pe. José Lourenço, 1945)

terça-feira, 6 de outubro de 2020

'ESTAMOS CRUCIFICADOS PARA O MUNDO!'

Assim que a tua devoção se for tornando conhecida no mundo, maledicências e adulações te causarão sérias dificuldades de praticá-la. Os libertinos tomarão a tua mudança por um artifício de hipocrisia e dirão que alguma desilusão sofrida no mundo te levou por pirraça a recorrer a Deus.

Os teus amigos, por sua vez, se apressarão a te dar avisos que supõem ser caridosos e prudentes sobre a melancolia da devoção, sobre a perda do teu bom nome no mundo, sobre o estado de tua saúde, sobre a necessidade de viver no mundo conformando-se aos outros e, sobretudo, sobre os meios que temos para salvar-nos sem tantos mistérios.

Filoteia, tudo isso são loucas e vãs palavras do mundo e, na verdade, essas pessoas não têm um cuidado verdadeiro de teus negócios e de tua saúde: Se vós fôsseis do mundo, diz Nosso Senhor, amaria o mundo o que era seu; mas, como não sois do mundo, por isso ele vos aborrece.

Veem-se homens e mulheres passarem noites inteiras no jogo; e haverá uma ocupação mais triste e insípida do que esta? Entretanto, seus amigos se calam; mas, se destinamos uma hora à meditação ou se nos levantamos mais cedo, para nos prepararmos para a santa comunhão, mandam logo chamar o médico, para que nos cure desta melancolia e tristeza. Podem-se passar trinta noites a dançar, que ninguém se queixa; mas por levantar-se na noite de Natal para a Missa do Galo, começa-se logo a tossir e a queixar de dor de cabeça no dia seguinte.

Quem não vê que o mundo é um juiz iníquo, favorável aos seus filhos, mas intransigente e severo para os filhos de Deus?

Só nos pervertendo com o mundo, poderíamos viver em paz com ele, e impossível é contentar os seus caprichos – Veio João Batista, diz o divino Salvador, o qual não comia pão nem bebia vinho, e dizeis: 'Ele está possesso do demônio'. Veio o Filho do Homem, come e bebe, e dizeis que é um samaritano.

É verdade, Filoteia, se condescenderes com o mundo e jogares e dançares, ele se escandalizará de ti; e, se não o fizeres, serás acusada de hipocrisia e melancolia. Se te vestires bem, ele te levará isso a mal e, se te negligenciares, ele chamará isso baixeza de coração. A tua alegria terá ele por dissolução e a tua mortificação por ânimo carrancudo; e, olhando-te sempre com maus olhos, jamais lhe poderás agradar.

As nossas imperfeições ele considera pecados, os nosso pecados veniais ele julga mortais, e malícias, as nossas enfermidades; de sorte que, assim como a caridade, na expressão de São Paulo, é benigna, o mundo é maligno.

A caridade nunca pensa mal de ninguém e o mundo o pensa sempre de toda sorte de pessoas; e, não podendo acusar as nossas ações, condena ao menos nossas intenções. Enfim, tenham os carneiros chifres ou não, sejam pretos ou brancos, o lobo sempre os há de tragar, se puder.

Procedamos como quisermos, o mundo sempre nos fará guerra. Se nos demorarmos um pouco mais no confessionário, perguntará o que temos tanto que dizer; e, se saímos depressa, comentará que não contamos tudo. Espreitará todas as nossas ações e, por uma palavra um pouco menos branda, dirá que somos insuportáveis. Chamará avareza o cuidado por nossos negócios, e idiotismo a nossa mansidão. Mas, quanto aos filhos do século, sua cólera é generosidade; sua avareza, sábia economia; e suas maneiras livres, honesto passatempo. É bem verdade que as aranhas sempre estragam o trabalho das abelhas!

Abandonemos este mundo cego, Filoteia; grite ele quanto quiser, como uma coruja para inquietar os passarinhos do dia. Sejamos firmes em nossos propósitos, invariáveis em nossas resoluções e a constância mostrará que a nossa devoção é séria e sincera. Os cometas e os planetas parecem ter o mesmo brilho; mas os cometas, que são corpos passageiros, desaparecem em breve, ao passo que os planetas brilham continuamente. Do mesmo modo muito se parece a hipocrisia com a virtude sólida e só se distingue porque aquela não tem constância e se dissipa como a fumaça, ao passo que esta é firme e constante.

Ademais, para assegurar os começos de nossa devoção, é muito bom sofrer desprezos e censuras injustas por sua causa; deste modo nós nos prevenimos contra a vaidade e o orgulho, que são como as parteiras do Egito, às quais o infernal Faraó mandou matar os filhos varões dos judeus no mesmo dia de seu nascimento. Enfim, nós estamos crucificados para o mundo e o mundo deve ser crucificado para nós. Ele nos toma por loucos; consideremo-lo como um insensato.

(Excertos da obra 'Filoteia: Introdução à Vida Devota', de São Francisco de Sales)

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

A VIDA OCULTA EM DEUS: À SOMBRA DA EUCARISTIA

A alma interior, abençoada por ser amada profundamente por Jesus Cristo quer, por sua vez, ser testemunha da afeição que dedica a Ele. Sabe que Ele habita no Tabernáculo. E, impulsionada pelo amor, ela se põe em oração diante dEle todas as noites para O louvar, mortificar e adorar, no silêncio do coração.

A alma interior recolhe-se em si, fecha a porta do santuário e fica completamente só em presença de Deus. A alma está verdadeiramente face a face com o seu Deus que permanece, antes de tudo, como uma presença divina nos corações. Parece à alma, e é verdade, que ela não precisa fazer mais nada senão uma coisa: amar. E assim ama por horas sem se cansar. Se pudesse, ficaria ali para sempre, para amar para sempre.

Enquanto a alma interior dialoga com Jesus, ao pé do Tabernáculo, a lembrança de suas ações do dia lhe vem à mente. Ela se pergunta se procedeu bem em tudo. Certifica-se das faltas que lhe escaparam no momento da ação. Reconhece que não disse bem aquela palavra, não executou bem determinada ação, não aceitou com alegria aquele sofrimento ou aquela contradição. E reconhece então que carece de graça aos olhos de seu Amado Salvador. 

Ela se dá conta de suas imperfeições: tem algumas manchas nas mãos e no rosto. E isso lhe causa dor,  principalmente por Ele, que merecia ser mais amado e melhor servido. Lágrimas de arrependimento sobem do coração aos seus olhos. Compreende que, para reparar isso, é preciso amar muito mais. E, sob o aguilhão da dor, seu amor por Jesus é vivificado, torna-se mais forte e mais ardente do que nunca; sua chama é purificadora. E assim como o fogo faz desaparecer os menores vestígios de ferrugem, o ardor da caridade apaga também as menores imperfeições. A alma interior não ignora que isso ocorre e, assim, se alegra profundamente. E ela fica imersa então em uma paz perfeita.

O que pode ser mais suave para a alma interior do que a sombra de Jesus-Hóstia? É ali que a alma deve reclinar-se; é ali que Ele a espera em silêncio. Sim, há uma sombra espiritual na Custódia, tal como também está no Tabernáculo. Mas nem todo mundo a vê e nem todos se  recolhem sob o influxo dela. Mas quem nela se deleita, sabe os frutos que se colhem. No silêncio e na paz, alimenta-se a alma de um pão substancial, que é o próprio Cristo Jesus. E, pouco a pouco, a própria alma se transfigura por este alimento divino no próprio Jesus.

Sua aparência permanece a mesma ou quase a mesma, mas o que há de mais íntimo e profundo nela torna-se algo muito diferente. É Ele quem agora pensa, fala e trabalha por ela; é Ele quem vive por ela. Poderia haver algo mais suave para a alma do que se ver assim transformada no seu próprio Salvador, à sombra da Hóstia?

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte I -  O Esforço da Alma; tradução do autor do blog)

250 DOGMAS DE FÉ DA IGREJA CATÓLICA (IV)

 PARTE V - DEUS, O SANTIFICADOR

103. Há uma intervenção sobrenatural de Deus nas faculdades da alma, da qual precede a ação livre da vontade.

104. Há uma influência sobrenatural de Deus nas faculdades da alma que coincide no tempo com a ação livre da vontade do homem.

105. Para toda a ação salutar, é absolutamente necessária a graça sobrenatural interna de Deus (gratia elevans).

106. A graça sobrenatural interna é absolutamente necessária para o início da fé e salvação.

107. Sem o auxílio especial de Deus, o justificado não pode perseverar até o fim na justificação.

108. A pessoa justificada não é capaz na sua vida de evitar pecados, mesmo que sejam pecados veniais, sem o privilégio especial da graça de Deus.

109. Mesmo no estado de caído, o homem pode por sua natural força intelectual, saber as verdades religiosas e a moral.

110. Para o desempenho de ações moralmente boas, não se requer graça santificante.

111. No estado da natureza caída, é moralmente impossível ao homem sem a revelação sobrenatural, saber facilmente, com absoluta certeza, e sem uma mescla de erro, toda verdade religiosa e moral da ordem natural.

112. A graça não pode ser merecida por obras naturais mesmo condignamente ou congruamente. 
(não é doação do bem em si que implica o mérito da graça, e sim o desejo de fazer o bem a um irmão e o amor que se emprega na ação, porque Deus assim o deseja e pede).

113. Deus dá toda a graça suficiente para a observação dos mandamentos divinos.
(ninguém pode alegar que é tentado além de suas forças).

114. Deus, pela sua eterna resolução da Vontade, tem determinado certos homens para bem-aventurança eterna. 
(Deus, ao criá-los, já sabe que livremente se salvarão).

115. Deus, por uma resolução eterna da sua Vontade, predestina certos homens, por conta dos seus pecados previstos, para a rejeição eterna. 
(Deus, ao criá-los, já sabe que livremente irão se perder no inferno. Deus não interfere no seu livre desejo, como não interferiu com os anjos caídos. Estes homens recebem, como todos os outros, infinitas chances de salvação e rejeitam todas, por absoluta teimosia. Ao invés de amarem a Deus, eles decidem amar ao pecado, e morrem nele).

116. A vontade humana permanece livre sob a influência da graça eficaz, que não é irresistível. 
(se fosse irresistível todos se salvariam, e então não haveria livre arbítrio).

117. Há graça que é verdadeiramente suficiente e mesmo assim permanece ineficaz. 
(A graça da salvação é suficientemente dada também aos que se perdem, mas estes a rejeitam livremente).

118. As causas da Justificação são as seguintes (definidas pelo Concílio de Trento):
(i) A causa final é a honra de Deus e de Cristo e a vida eterna dos homens.
(ii) A causa eficiente é a misericórdia de Deus.
(iii) A causa meritória é Jesus Cristo que, como mediador entre Deus e os homens, se reconciliou por nós e mereceu-nos a graça pela qual nós somos justificados.
(iv) A causa instrumental da primeira justificação é o sacramento do Batismo; assim ela define que Fé é pré-condição necessária para justificação.
(v) A causa formal é a Justiça de Deus, não pela qual Ele por si é justo, mas a qual Ele nos faz justos, isto é, pela Graça Santificante.

119. O pecador pode e deve preparar-se pelo auxílio da graça atual para o recebimento da graça pela qual ele é justificado.

120. A justificação de um adulto não é possível sem a fé.

121. Além da fé, as ações futuras de disposição devem estar presentes. 
(A pessoa deve desejar a sua salvação e lutar bravamente por ela, senão não haveria mérito pessoal. Não basta dizer que se aceitou Jesus, e dispensar os sacramentos que eles nos deixou).

122. A graça santificante santifica a alma.

123. A graça santificante torna o homem justo amigo de Deus.

124. A graça santificante torna o homem justo um filho de Deus e dá-lhe um clamor para a herança do céu.

125. As três virtudes divinas ou teológicas da fé, esperança e caridade são infundidas com a graça santificante.

126. Sem a revelação divina especial, ninguém pode conhecer a certeza da fé, se ele está em estado de graça.

127. O grau da graça justificante não é idêntico em todos os justos.

128. A graça pode ser aumentada com as boas obras.

129. A graça pela qual nós somos justificados pode se perder, e é perdida por todo pecado grave.

130. Por suas boas obras, o homem justificado realmente adquire um clamor para a recompensa sobrenatural de Deus.

131. Um homem justo merece, por meio de cada boa obra, um aumento da graça santificante, a vida eterna (se a morte encontra-o no estado de graça) e um aumento na glória celeste.

(Compilação da obra 'Fundamentos do Dogma Católico', de Ludwig Ott)

domingo, 4 de outubro de 2020

PÁGINAS COMENTADAS DOS EVANGELHOS DOS DOMINGOS

'Não vos inquieteis com coisa alguma, mas apresentai as vossas necessidades a Deus, em orações e súplicas, acompanhadas de ação de graças. E a paz de Deus, que ultrapassa todo o entendimento, guardará os vossos corações e pensamentos em Cristo Jesus. Quanto ao mais, irmãos, ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, honroso, tudo o que é virtude ou de qualquer modo mereça louvor' (Fl 4, 6 - 8)

PÁGINAS DO EVANGELHO (2019 - 2020)