quinta-feira, 12 de setembro de 2019

AS TRÊS VIRTUDES DA PERFEIÇÃO CRISTÃ


'Há, além disso, três virtudes que aperfeiçoam a pessoa devota no que diz respeito ao controle dos seus próprios sentidos. Estas são: a modéstia, a continência e a castidade. Pela virtude da modéstia, a pessoa devota governa todos os seus atos exteriores. Com razão, então, São Paulo recomendou esta virtude a todos e declarou como é necessária e como se isso não bastasse, ele considera que esta virtude deveria ser óbvia para todos. 

Pela continência, a alma exercita a retenção de todos os sentidos: visão, tato, paladar, olfato e audição. Pela castidade, uma virtude que enobrece a nossa natureza e faz com que seja semelhante à dos anjos, nós suprimimos a nossa sensualidade e a afastamos dos prazeres proibidos. Este é o retrato magnífico da perfeição cristã. Feliz aquele que possui todas estas belas virtudes, todas elas frutos do Espírito Santo que habita dentro dele. Essa alma não tem nada a temer e vai brilhar no mundo como o sol no céu'.

(São Pio de Pietrelcina)

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

PALAVRAS ETERNAS (II)

'Nimm mich mir, und gib mich Dir' 


'Senhor, tomai-me de mim e dai-me a Vós'
(São Nicolau de Flüe)


terça-feira, 10 de setembro de 2019

AS 5 VIRTUDES DA INFÂNCIA ESPIRITUAL

Nosso Senhor disse aos seus Apóstolos: 'se vos não converterdes e vos não tornardes como crianças, não entrareis no reino dos céus' (Mt 18,3). São Paulo acrescenta: 'o Espírito Santo dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus (Rm 8, 16) e nos aconselha frequentemente a uma grande docilidade ao Espírito Santo. Esta docilidade encontra-se particularmente na via da infância espiritual, recomendada por muitos santos e, ultimamente, por Santa Teresa do Menino Jesus. Esta via, tão fácil e proveitosa para a vida interior, é muito pouco conhecida e seguida.

Por que pouco seguida? Porque muitos imaginam erroneamente que esta é uma via especial, reservada às almas que se conservaram completamente puras e inocentes; e outros, quando lhes falamos desta via, pensam em uma virtude pueril, uma espécie de infantilidade, que não poderia lhes convir. Estas idéias são falsas. A via da infância espiritual não é nem uma via especial nem uma via de puerilidade. A prova é que foi Nosso Senhor, ele mesmo, quem a recomendou a todos, mesmo àqueles responsáveis pelas almas, como os Apóstolos formados por Ele.

Para se ter uma visão de conjunto da via da infância espiritual, é preciso de início notar suas semelhanças e, em seguida, suas diferenças com a infância corporal. As semelhanças são patentes. Quais as qualidades inatas das crianças? Em geral, elas são simples, sem nenhuma duplicidade; são ingênuas, cândidas, não representam, mostram-se tais como são. Ademais, têm consciência de sua deficiência, pois precisam receber tudo de seus pais, o que as dispõe à humildade. São levadas a crer simplesmente em tudo o que dizem as suas mães, a depositar uma confiança absoluta nelas e a amá-las de todo seu coração, sem cálculo.

Quais as diferenças entre a infância ordinária e a infância espiritual? A primeira diferença é notada por São Paulo: 'não sejais crianças na compreensão, mas sede pequeninos na malícia' (1Cor 14, 20). A infância espiritual se distingue da outra pela maturidade do julgamento e de um julgamento sobrenatural inspirado por Deus. Uma segunda grande diferença é indicada por São Francisco de Sales: na ordem natural, quanto mais o filho cresce, mais ele tem de se tornar auto-suficiente, pois um dia seu pai e sua mãe lhe faltarão. Ao contrário, na ordem da graça, quanto mais o filho de Deus cresce, mais ele compreende que não poderá jamais se bastar e que dependerá sempre intimamente de Deus. Quanto mais ele cresce, mais ele deve viver da inspiração especial do Espírito Santo, que vem suprir por seus dons a imperfeição de nossas virtudes, de modo que, no fim, o filho de Deus torna-se mais passivo sob a ação divina do que entregue à sua atividade pessoal e no fim entra no seio do Pai, onde encontrará a beatitude por toda a eternidade.

Os moços e as moças, quando chegam à idade adulta, deixam seus pais para viverem suas vidas; mais tarde, o homem de quarenta anos vem com bastante frequência visitar a sua mãe, mas ele não depende dela como antes; é ele agora que a sustenta. Ao contrário, o filho de Deus, ao crescer, se é fiel, torna-se mais e mais dependente de seu Pai, até que nada faça sem ele, sem suas inspirações ou seus conselhos. Então, toda a sua vida é banhada pela oração; é a melhor parte que não lhe será tirada. Santa Teresinha de Lisieux o compreendeu assim. Ela, após ter atravessado a noite do espírito, chegou desse modo à união transcendental nela. Tais são as características gerais da infância espiritual: suas semelhanças e suas diferenças com a infância corporal.

Vejamos agora as principais virtudes que se manifestam nela. De início, a simplicidade, a ausência total de duplicidade. Por que? Porque o olhar desta alma não procura senão a Deus e vai direito a ele. Assim, verifica-se aquilo que é dito no Evangelho: 'O teu olho é a luz do teu corpo; se o teu olho for simples, todo o teu corpo será luz; mas se o teu olho for mau, todo o teu corpo estará em trevas' (Mt 6, 22). Do mesmo modo, se a intenção de tua alma é simples e direta, pura e sem duplicidade, toda a tua vida será iluminada como o rosto de uma criança. Então, a alma simples, que tudo sempre considera com relação a Deus, acaba por vê-lo nas pessoas e eventos; em tudo o que acontece, ela vê aquilo que é desejado por Deus, ou, ao menos, o que é permitido por ele para um bem superior.

Humildade. Ao seguir esta via, a alma torna-se humilde. A criança tem consciência de sua deficiência, ela depende de sua mãe para tudo e pede constantemente sua ajuda ou se refugia perto dela à menor ameaça. Do mesmo modo, o filho de Deus sente que, deixado a si mesmo, ele não é nada; ele se lembra com frequência das palavras de Jesus: 'sem mim, não há nada que possais fazer' (Jo 15, 5). E assim, ele tem uma necessidade instintiva de se esquecer de si mesmo, de depender de Nosso Senhor, de se abandonar a Ele. A alma cessa de se estimar de modo vão, de querer ocupar um lugar no espírito dos outros; ela desvia seu olhar de si mesma. Por causa disso, ela combate muito eficazmente o amor próprio. E, com o sentimento de sua deficiência, ela experimenta a necessidade de se apoiar constantemente em Nosso Senhor e de ser em tudo guiada e dirigida por ele. Ela se lança em seus braços, como a criança nos braços de sua mãe. Por isso, o espírito de oração se desenvolve muito nela.

Fé. Assim como o filho crê sem hesitar e firmemente em tudo o que sua mãe lhe diz, o filho de Deus, acima de todo raciocínio, de todo exame, baseia-se totalmente na palavra de Nosso Senhor. 'Jesus o disse', seja por si mesmo, seja por sua Igreja, isto é suficiente para que ele não tenha nenhuma dúvida em seu espírito. Que se segue? Assim como a mãe fica feliz em poder instruir seu filho, tanto mais quanto ele se mostrar atento, Nosso Senhor se compraz em manifestar a profunda simplicidade dos mistérios da fé aos humildes que o escutam. Ele dizia: 'Eu te dou graças, ó Pai, por ter escondido estas coisas dos prudentes e dos sábios e de as ter revelado aos pequenos' (Mt 11, 25). A fé dessa alma torna-se então penetrante, saborosa, contemplativa, radiante, prática, fonte de mil conselhos excelentes. O espírito da fé leva a ver os mistérios revelados, as pessoas, os fatos como Deus os vê; vê-se Deus em tudo. Mesmo que o Senhor permita a noite escura, a alma a atravessa segurando sua mão, como o filho segura a mão de sua mãe, que a protege.

A confiança torna-se, desde então, mais e mais firme, inteira. Por que? Porque ela repousa no amor de Deus por nós, em suas promessas, nos méritos infinitos de Nosso Senhor. Como a criança está segura de sua mãe, porque se sabe amada por ela, a alma de que falamos está segura de Deus. Ela não pode duvidar de sua fidelidade em manter suas promessas: pedi e recebereis. Ela não se baseia em seus próprios méritos, em sua sorte pessoal, mas nos méritos infinitos do Salvador, que são para ela; do mesmo modo, os bens do pai são para seus filhos que ainda não possuem bens pessoais. A fragilidade a desencoraja? De modo algum. O filho não se desencoraja por causa de sua deficiência. 

Ao contrário, ele sabe que, por causa de sua impotência, é que sua mãe está sempre pronta para protegê-lo. Do mesmo modo, Nosso Senhor sempre protege os pequenos e os pobres que se fiam nele. O Espírito Santo, que ele nos enviou, é chamado Pater pauperum [Pai dos pobres]. Esta alma não confia senão em Deus, em Nosso Senhor e na Virgem, e naqueles que vivem de Deus, como a criança não confia senão em sua mãe e naquelas pessoas a quem sua própria mãe o confia por um momento. É uma confiança total, mesmo nas horas mais graves. Nós nos lembramos então do que dizia Santa Teresinha: 'Senhor, vós a tudo vedes, tudo podeis, e vós me amais'. O único temor desta alma é o de não amar o bastante a Nosso Senhor, de não se abandonar totalmente a Ele.

A caridade é o amor de Deus por Ele mesmo e das almas em Deus, para que elas o glorifiquem no tempo e na eternidade. A criança pequena ama sua mãe de todo o seu coração, mais que os carinhos que recebe dela; ela vive de sua mãe. Do mesmo modo, o filho de Deus vive de Deus e o ama por si mesmo, por causa das infinitas perfeições que nele transbordam. O que este filho de Deus ama não é a sua própria perfeição, mas o próprio Deus, sobre o qual ele se apóia. A este amor ele refere tudo, é um amor delicado, simples, que inspira a piedade filial e uma grande caridade pelo próximo, na medida em que este é amado por Deus e chamado a o glorificar eternamente. O filho de Deus, porém, é tão prudente como simples: simples com Deus e as almas de Deus, ele está sob a inspiração do dom de conselho e é prudente com aqueles em quem não podemos ter confiança. Ele é deficiente, mas é do mesmo modo forte, pelo dom de fortaleza que se manifestou nos mártires, e até nas jovens virgens e nos velhos. 

(Pe. Garrigou-Lagrange, 1945; tradução Revista Permanência)

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (XXXVIII)

IV

DAS GRAÇAS E PRIVILÉGIOS COM QUE DEUS ENOBRECEU A NATUREZA HUMANA UNIDA AO VERBO NA ENCARNAÇÃO. GRAÇA HABITUAL OU SANTIFICANTE, VIRTUDES E DONS DO ESPÍRITO SANTO — GRAÇAS GRATIS DATAE

Existem na natureza humana e nas faculdades da alma, unidas à pessoa do Verbo, dons criados de ordem gratuita?
Sim, Senhor; porém, não se lhe concederam para que ela pudesse unir-se à pessoa divina, senão como efeito de união tão sublime e transcendente (VI, 6)*.

Quais são?
Na essência da alma, a graça habitual; nas potências, todas as virtudes, exceto a fé e a esperança; todos os dons do Espírito Santo e todas as graças gratis datae, cujo objeto é manifestar ao mundo a verdade divina, sem excetuar a profecia no que propriamente ela tem do estado profético (VII, 1-8).

Que objeto tem a graça habitual na alma com Cristo?
Tem e terá por toda a eternidade o de fazê-la participante da essência divina e, derivando-se nas potências, fazer que possua os princípios sobrenaturais da ação, alma das virtudes (VII, 1).

Por que dizeis que a alma de Cristo possui todas as virtudes, exceto a fé e a esperança?
Porque estas duas virtudes supõem alguma coisa de imperfeito, incompatível com a perfeição da alma de Cristo (VII, 3, 4).

Em que consiste esta imperfeição?
Em que a fé supõe que não se compreende o que se crê, e a esperança impele para Deus os que O não possuem (Ibid).

Que entendeis por graças gratis datae?
Certos privilégios catalogados por São Paulo na primeira Epístola aos Coríntios (cap. XII, V-8 e seguintes), a saber: fé, sabedoria, ciência, graça de curar enfermos, de fazer prodígios, discernimento de espírito, diversidade de idiomas e interpretação de palavras (VII, 7).

A fé, graça gratis data, é distinta da fé virtude?
Sim, Senhor; porque, como graça gratis data, consiste numa segurança e certeza extraordinárias das verdades reveladas que habilitam o homem a ensiná-las com fruto (l.a 2, CXI, 4 ad 2).

As graças de ciência e sabedoria são distintas das virtudes intelectuais e dons do Espírito Santo do mesmo nome?
Sim, Senhor; porque consistem em certa abundância de luz e sabedoria, em virtude da qual o homem se encontra apto não só para discorrer acertadamente em coisas divinas, como para instruir os outros e refutar os erros (l.a, 2, CXI, 4 ad4).

Jesus Cristo utilizou neste mundo a graça gratis data chamada diversidade de línguas?
Não teve necessidade disso, visto que exerceu o ministério do apostolado só entre os judeus ou entre os gentios que conheciam a sua língua; todavia, possuía-a em grau eminente e, se a oportunidade se apresentasse, a teria utilizado (VII, 7 ad 3).

Que significa que Jesus Cristo possuiu a graça da profecia no que propriamente ela tem do estado profético?
Considerando que a vida de Jesus Cristo neste mundo era igual à nossa, estava, neste sentido, incomunicado com o céu, e, por conseguinte, com as verdades divinas de que falava, ainda que a parte superior de sua alma visse e gozasse os mistérios ocultos em Deus: anunciar, pois, o que naturalmente não se pode saber é próprio e característico da profecia (VII, 8).

Que relação guardam as graças gratis data com a graça habitual e com as virtudes e os dons?
A graça habitual, as virtudes e os dons têm por objeto santificar a quem os possui e as graças gratis datae, habilitar a quem exerce junto ao próximo, o ministério do Apostolado (1.ª, 2, CXI, 1, 4).

Pode o homem possuir um destes gêneros de graças sem possuir o outro?
Sim, Senhor, a que todos os justos possuem, graça habitual ou santificante, conjuntamente com as virtudes e os dons inseparáveis dela; porém as gratis data são mercês que se fazem aos destinados a exercer algum ministério. Nestes costumam andar unidas, mas também podem estar separadas, como sucedeu com Judas, que era um malvado, e, apesar disso, possuía as graças gratis data conferidas a todos os Apóstolos.

Possuía Cristo, simultaneamente, todos os ditos gêneros de graças e no mais alto grau de perfeição?
Sim, Senhor (VII, 1, 8).

Por que?
Porque a sua dignidade pessoal era infinita, e era, além disso, o Doutor por excelência em matéria de fé (VII, 7).

V

DA PLENITUDE DA GRAÇA CONCEDIDA À NATUREZA HUMANA DO FILHO DE DEUS

Podemos dizer que na humanidade de Cristo atingiu a graça toda a sua plenitude?
No sentido de que não há graça que Ele não tivesse e de que possuiu todas as graças no grau mais eminente possível, sim, Senhor (VII, 10).

Exigia a humanidade de Cristo tal plenitude de graça?
Sim, Senhor; por sua união pessoal com Deus, fonte e origem da graça, e pelo objeto da vinda de Cristo, que foi fazer os homens participantes da sua graça (VII, 10).

Poderemos dizer que a natureza humana de Jesus Cristo teve graça infinita?
De certo modo, sim Senhor; a graça de união é infinita no sentido mais amplo da palavra, visto que consiste no assumir a natureza humana para subsistir com a subsistência da Pessoa divina. A graça habitual, com seu séquito de virtudes e dons, excede, incomparavelmente, no plano atual da Providência divina, aquela que tiveram e terão todos os demais seres juntos, ainda que em si mesma é finita, visto ser coisa criada (VII, 11).

Podia ser aumentada a graça inicial de Cristo?
Em absoluto, sim, Senhor; o poder de Deus é infinito; considerada, porém, a atual ordem divina, não podia ser aumentada (VII, 12).

Que conexões têm a graça habitual com a de união?
A de ser efeito seu e proporcional a ela (VII, 13).

Que nome tem a graça de união, causa e princípio de todas as outras?
Tem o nome de graça de união hipostática, de uma palavra grega que significa pessoa, pois, como temos dito, consiste no fato único, incompreensível, obra do Filho de Deus, de acordo com o Pai e o Espírito Santo, de conferir à natureza humana um excesso de honra e dignidade, unindo-a imediatamente à divina na pessoa do Verbo.

VI

DA GRAÇA CAPITAL PRÓPRIA DA NATUREZA HUMANA ASSUMIDA PELO FILHO DE DEUS FEITO HOMEM

Além da graça habitual ou santificante, com seu cortejo de virtudes e dons e das graças gratis datae conferidas à natureza humana de Cristo em atenção à graça de união hipostática, e tendo em conta o objeto da vinda do Salvador (graça que convinha a Cristo pessoalmente como indivíduo distinto dos outros) não teve Ele outra, chamada capital, como chefe e cabeça de seu corpo místico que é a Igreja?
Sim, Senhor (VIII).

Que entendeis ao dizer que Jesus Cristo é cabeça e chefe do seu corpo místico, a Igreja?
Que o Verbo Encarnado é o ser mais próximo de Deus, possui a perfeição absoluta e a plenitude de todas as graças, e tem o poder de comunicá-las a todos aqueles que, por qualquer título, estejam incorporados à ordem da graça (VIII, 1).

É Jesus Cristo chefe da Igreja somente quanto à alma ou também o é quanto ao corpo?
Também o é quanto ao corpo, e isso quer dizer que a alma e o corpo de Cristo são instrumentos da divindade para distribuir os bens sobrenaturais, principalmente nas almas, mas também nos corpos; aqui na terra, para que o corpo auxilie a alma na prática da virtude e, no céu, para receber a parte de glória e imortalidade que lhe corresponde (VIII, 2).

É Jesus Cristo cabeça de todos os homens no sentido que acabamos de explicar?
Sim, Senhor; pois se bem que aqueles que tiveram a desgraça de morrer na impenitência final não são membros seus e estão separados Dele por toda a Eternidade, em compensação o é de uma maneira particularíssima dos que morreram em graça e desfrutam agora das doçuras da glória; é-o também de todos aqueles que, unidos a Ele por meio da graça, estão no Purgatório, ou vivem neste mundo; dos que lhe estão unidos pelos laços da fé, embora não possuam a caridade; dos que nem ainda pela fé lhe estão incorporados, mas o estarão algum dia, em conformidade com os decretos da divina predestinação; é-o, finalmente, de quantos vivem neste mundo pois, enquanto ainda aqui estão, têm capacidade para ser membros seus, embora de fato nunca cheguem a sê-lo (VIII, 3).

Podemos dizer que Jesus Cristo é também chefe e cabeça dos anjos?
Sim, Senhor; porque é o primeiro entre todas as criaturas chamadas a participar da visão beatífica, possui a plenitude da graça, e da sua plenitude participam todos (VIII, 4).

A graça capital de Cristo, com a extensão que acabamos de expor, identifica-se com a sua própria graça pessoal, como tal, homem determinado, distinto dos outros homens e com maior razão, dos anjos?
Sim, Senhor; no fundo e na essência é a mesma graça, porém recebe os nomes de graça pessoal e capital pela dupla função que desempenha: enquanto aperfeiçoa a natureza humana do Filho de Deus chama-se pessoal; e capital, enquanto se comunica aos que Dele dependem (VIII, 5).

É próprio e exclusivo de Cristo ser chefe e cabeça da Igreja?
Sim, Senhor; pois, no que respeita à comunicação dos bens interiores da graça, só a humanidade de Cristo pode justificar interiormente ao homem, atenta a sua união hipostática com a divindade; tratando-se do governo exterior da Igreja, podem intervir, e de fato intervém os homens, que, com hierarquia e títulos diferentes, governam ou seja uma parte, como os bispos as suas dioceses, ou toda a Igreja Militante, como o Soberano Pontífice durante o seu pontificado; porém, tendo sempre presente que estes superiores se limitam a exercer o cargo de vigários e lugares tenentes do único superior efetivo, Jesus Cristo, em cujo nome governam (VIII, 6).

Logo, Jesus Cristo, concentra e cumula em si mesmo toda a obra da Redenção e santificação dos homens?
Sim, Senhor.

Assim como Jesus Cristo é superior e cabeça dos bons, existe também um chefe dos maus, cujos intentos são fomentar as suas rebeldias contra Deus e conduzi-los à perdição eterna?
Sim, Senhor; é Satanás, caudilho dos anjos rebeldes (VIII, 7).

Em que sentido dizemos que o demônio é o superior do império do mal, como Jesus Cristo o é da sua Igreja?
No sentido de que Satanás pode infundir intrinsecamente a maldade, à maneira como Jesus Cristo infunde o bem, com a diferença que, no governo e disposição dos sucessos, ele se esforça por apartar aos homens de Deus, ao passo que Jesus Cristo se esforça por uni-los a Deus; e também, em que o pecador imita a rebeldia e orgulho de Satanás, como o justo a submissão e obediência de Cristo (Ibid).

Logo, é certo que, como consequência desta oposição, existe um empenhado duelo pessoal entre Jesus Cristo, chefe dos bons e Satanás, caudilho dos maus, cujas origens explicam o estado de luta perpétua e incompatibilidade irredutível entre bons e maus em todos os períodos da história?
Certamente que sim.

Virão tempos em que esta guerra adquirirá tais caracteres de violência que pareça que Satanás tenha concentrado toda a sua malícia e poder destruidor num só indivíduo, assim como o Filho de Deus acumulou a sua potência redentora na natureza humana que uniu à sua divina Pessoa?
Sim, Senhor; isto sucederá durante o reinado do Anticristo.

Logo, o Anticristo terá qualidades e títulos especiais para ser chefe dos maus?
Sim, Senhor; porque terá maior quantidade de malícia que homem algum antes dele teve, será o agente mais ativo e competente de Lúcifer e se esforçará em perder os homens e em acabar com o reino de Cristo, com tenacidade e meios de destruição dignos do chefe dos demônios (VIII, 8).

Que partido devem tomar os homens diante da luta perene e irredutível entre os dois chefes do gênero humano?
O de não pactuar em coisa alguma com o demônio e seus satélites e o de alistar-se debaixo das bandeiras de Cristo e, às suas ordens, lutar como valentes e não abandoná-las jamais.

referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular)

domingo, 8 de setembro de 2019

PÁGINAS COMENTADAS DOS EVANGELHOS DOS DOMINGOS


'Acaso alguém teria conhecido o teu desígnio, sem que lhe desses Sabedoria e do alto lhe enviasses teu santo espírito? Só assim se tornaram retos os caminhos... e os homens aprenderam o que te agrada e pela Sabedoria foram salvos' (Sb 9, 17-18)

sábado, 7 de setembro de 2019

OREMUS! (250)

A sequência completa destes pensamentos e reflexões é publicada diariamente na Página OREMUS na Biblioteca Digital deste blog.

07 DE SETEMBRO

Intra in cubiculum tuum [entra no teu aposento (quarto) (Mt 6,6)]

Não posso viver enclausurado em mim mesmo, pensando apenas em me santificar. Não sou sacerdote para mim, mas para as almas que me foram confiadas. E o trabalho é tanto! Em toda parte, a todo momento, ele está à minha espera, exigindo todo o meu tempo e todas as minhas forças.

Mas não posso esquecer que um trabalho contínuo deve ser uma contínua oração. Se não for assim, nenhum valor terá toda a atividade com que eu encher os meus dias. Por isso tenho que estabelecer em minha alma esse cubiculum [aposento], onde eu viva enclausurado com o meu Deus, em meio a todas as preocupações que me cercam. Enquanto elas gritam, exigindo minhas atenções, querendo transformar a minha vida numa agitação desordenada, Deus irá orientar o meu trabalho e dele receberei a paciência, a coragem e a reta intenção.

Mesmo assim, eu sei que, com o tempo, vão se afrouxando os laços que me prendem a Deus. Preciso apertá-los, de vez em quando; e a meditação, o Breviário e a leitura espiritual muito me irão ajudar nesse trabalho. Não seria, porém, demais, se mensalmente eu pudesse passar um dia menos ocupado com o trabalho exterior, para estar mais a sós com a minha consciência. Com um pouco de esforço e boa vontade,  isso não será tão difícil. E o resultado será dos melhores.

(Oremus — Pensamentos para a Meditação de Todos os Dias, do Pe. Isac Lorena, 1963, com complementos de trechos traduzidos do latim pelo autor do blog).

PRIMEIRO SÁBADO DO MÊS