segunda-feira, 9 de setembro de 2019

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (XXXVIII)

IV

DAS GRAÇAS E PRIVILÉGIOS COM QUE DEUS ENOBRECEU A NATUREZA HUMANA UNIDA AO VERBO NA ENCARNAÇÃO. GRAÇA HABITUAL OU SANTIFICANTE, VIRTUDES E DONS DO ESPÍRITO SANTO — GRAÇAS GRATIS DATAE

Existem na natureza humana e nas faculdades da alma, unidas à pessoa do Verbo, dons criados de ordem gratuita?
Sim, Senhor; porém, não se lhe concederam para que ela pudesse unir-se à pessoa divina, senão como efeito de união tão sublime e transcendente (VI, 6)*.

Quais são?
Na essência da alma, a graça habitual; nas potências, todas as virtudes, exceto a fé e a esperança; todos os dons do Espírito Santo e todas as graças gratis datae, cujo objeto é manifestar ao mundo a verdade divina, sem excetuar a profecia no que propriamente ela tem do estado profético (VII, 1-8).

Que objeto tem a graça habitual na alma com Cristo?
Tem e terá por toda a eternidade o de fazê-la participante da essência divina e, derivando-se nas potências, fazer que possua os princípios sobrenaturais da ação, alma das virtudes (VII, 1).

Por que dizeis que a alma de Cristo possui todas as virtudes, exceto a fé e a esperança?
Porque estas duas virtudes supõem alguma coisa de imperfeito, incompatível com a perfeição da alma de Cristo (VII, 3, 4).

Em que consiste esta imperfeição?
Em que a fé supõe que não se compreende o que se crê, e a esperança impele para Deus os que O não possuem (Ibid).

Que entendeis por graças gratis datae?
Certos privilégios catalogados por São Paulo na primeira Epístola aos Coríntios (cap. XII, V-8 e seguintes), a saber: fé, sabedoria, ciência, graça de curar enfermos, de fazer prodígios, discernimento de espírito, diversidade de idiomas e interpretação de palavras (VII, 7).

A fé, graça gratis data, é distinta da fé virtude?
Sim, Senhor; porque, como graça gratis data, consiste numa segurança e certeza extraordinárias das verdades reveladas que habilitam o homem a ensiná-las com fruto (l.a 2, CXI, 4 ad 2).

As graças de ciência e sabedoria são distintas das virtudes intelectuais e dons do Espírito Santo do mesmo nome?
Sim, Senhor; porque consistem em certa abundância de luz e sabedoria, em virtude da qual o homem se encontra apto não só para discorrer acertadamente em coisas divinas, como para instruir os outros e refutar os erros (l.a, 2, CXI, 4 ad4).

Jesus Cristo utilizou neste mundo a graça gratis data chamada diversidade de línguas?
Não teve necessidade disso, visto que exerceu o ministério do apostolado só entre os judeus ou entre os gentios que conheciam a sua língua; todavia, possuía-a em grau eminente e, se a oportunidade se apresentasse, a teria utilizado (VII, 7 ad 3).

Que significa que Jesus Cristo possuiu a graça da profecia no que propriamente ela tem do estado profético?
Considerando que a vida de Jesus Cristo neste mundo era igual à nossa, estava, neste sentido, incomunicado com o céu, e, por conseguinte, com as verdades divinas de que falava, ainda que a parte superior de sua alma visse e gozasse os mistérios ocultos em Deus: anunciar, pois, o que naturalmente não se pode saber é próprio e característico da profecia (VII, 8).

Que relação guardam as graças gratis data com a graça habitual e com as virtudes e os dons?
A graça habitual, as virtudes e os dons têm por objeto santificar a quem os possui e as graças gratis datae, habilitar a quem exerce junto ao próximo, o ministério do Apostolado (1.ª, 2, CXI, 1, 4).

Pode o homem possuir um destes gêneros de graças sem possuir o outro?
Sim, Senhor, a que todos os justos possuem, graça habitual ou santificante, conjuntamente com as virtudes e os dons inseparáveis dela; porém as gratis data são mercês que se fazem aos destinados a exercer algum ministério. Nestes costumam andar unidas, mas também podem estar separadas, como sucedeu com Judas, que era um malvado, e, apesar disso, possuía as graças gratis data conferidas a todos os Apóstolos.

Possuía Cristo, simultaneamente, todos os ditos gêneros de graças e no mais alto grau de perfeição?
Sim, Senhor (VII, 1, 8).

Por que?
Porque a sua dignidade pessoal era infinita, e era, além disso, o Doutor por excelência em matéria de fé (VII, 7).

V

DA PLENITUDE DA GRAÇA CONCEDIDA À NATUREZA HUMANA DO FILHO DE DEUS

Podemos dizer que na humanidade de Cristo atingiu a graça toda a sua plenitude?
No sentido de que não há graça que Ele não tivesse e de que possuiu todas as graças no grau mais eminente possível, sim, Senhor (VII, 10).

Exigia a humanidade de Cristo tal plenitude de graça?
Sim, Senhor; por sua união pessoal com Deus, fonte e origem da graça, e pelo objeto da vinda de Cristo, que foi fazer os homens participantes da sua graça (VII, 10).

Poderemos dizer que a natureza humana de Jesus Cristo teve graça infinita?
De certo modo, sim Senhor; a graça de união é infinita no sentido mais amplo da palavra, visto que consiste no assumir a natureza humana para subsistir com a subsistência da Pessoa divina. A graça habitual, com seu séquito de virtudes e dons, excede, incomparavelmente, no plano atual da Providência divina, aquela que tiveram e terão todos os demais seres juntos, ainda que em si mesma é finita, visto ser coisa criada (VII, 11).

Podia ser aumentada a graça inicial de Cristo?
Em absoluto, sim, Senhor; o poder de Deus é infinito; considerada, porém, a atual ordem divina, não podia ser aumentada (VII, 12).

Que conexões têm a graça habitual com a de união?
A de ser efeito seu e proporcional a ela (VII, 13).

Que nome tem a graça de união, causa e princípio de todas as outras?
Tem o nome de graça de união hipostática, de uma palavra grega que significa pessoa, pois, como temos dito, consiste no fato único, incompreensível, obra do Filho de Deus, de acordo com o Pai e o Espírito Santo, de conferir à natureza humana um excesso de honra e dignidade, unindo-a imediatamente à divina na pessoa do Verbo.

VI

DA GRAÇA CAPITAL PRÓPRIA DA NATUREZA HUMANA ASSUMIDA PELO FILHO DE DEUS FEITO HOMEM

Além da graça habitual ou santificante, com seu cortejo de virtudes e dons e das graças gratis datae conferidas à natureza humana de Cristo em atenção à graça de união hipostática, e tendo em conta o objeto da vinda do Salvador (graça que convinha a Cristo pessoalmente como indivíduo distinto dos outros) não teve Ele outra, chamada capital, como chefe e cabeça de seu corpo místico que é a Igreja?
Sim, Senhor (VIII).

Que entendeis ao dizer que Jesus Cristo é cabeça e chefe do seu corpo místico, a Igreja?
Que o Verbo Encarnado é o ser mais próximo de Deus, possui a perfeição absoluta e a plenitude de todas as graças, e tem o poder de comunicá-las a todos aqueles que, por qualquer título, estejam incorporados à ordem da graça (VIII, 1).

É Jesus Cristo chefe da Igreja somente quanto à alma ou também o é quanto ao corpo?
Também o é quanto ao corpo, e isso quer dizer que a alma e o corpo de Cristo são instrumentos da divindade para distribuir os bens sobrenaturais, principalmente nas almas, mas também nos corpos; aqui na terra, para que o corpo auxilie a alma na prática da virtude e, no céu, para receber a parte de glória e imortalidade que lhe corresponde (VIII, 2).

É Jesus Cristo cabeça de todos os homens no sentido que acabamos de explicar?
Sim, Senhor; pois se bem que aqueles que tiveram a desgraça de morrer na impenitência final não são membros seus e estão separados Dele por toda a Eternidade, em compensação o é de uma maneira particularíssima dos que morreram em graça e desfrutam agora das doçuras da glória; é-o também de todos aqueles que, unidos a Ele por meio da graça, estão no Purgatório, ou vivem neste mundo; dos que lhe estão unidos pelos laços da fé, embora não possuam a caridade; dos que nem ainda pela fé lhe estão incorporados, mas o estarão algum dia, em conformidade com os decretos da divina predestinação; é-o, finalmente, de quantos vivem neste mundo pois, enquanto ainda aqui estão, têm capacidade para ser membros seus, embora de fato nunca cheguem a sê-lo (VIII, 3).

Podemos dizer que Jesus Cristo é também chefe e cabeça dos anjos?
Sim, Senhor; porque é o primeiro entre todas as criaturas chamadas a participar da visão beatífica, possui a plenitude da graça, e da sua plenitude participam todos (VIII, 4).

A graça capital de Cristo, com a extensão que acabamos de expor, identifica-se com a sua própria graça pessoal, como tal, homem determinado, distinto dos outros homens e com maior razão, dos anjos?
Sim, Senhor; no fundo e na essência é a mesma graça, porém recebe os nomes de graça pessoal e capital pela dupla função que desempenha: enquanto aperfeiçoa a natureza humana do Filho de Deus chama-se pessoal; e capital, enquanto se comunica aos que Dele dependem (VIII, 5).

É próprio e exclusivo de Cristo ser chefe e cabeça da Igreja?
Sim, Senhor; pois, no que respeita à comunicação dos bens interiores da graça, só a humanidade de Cristo pode justificar interiormente ao homem, atenta a sua união hipostática com a divindade; tratando-se do governo exterior da Igreja, podem intervir, e de fato intervém os homens, que, com hierarquia e títulos diferentes, governam ou seja uma parte, como os bispos as suas dioceses, ou toda a Igreja Militante, como o Soberano Pontífice durante o seu pontificado; porém, tendo sempre presente que estes superiores se limitam a exercer o cargo de vigários e lugares tenentes do único superior efetivo, Jesus Cristo, em cujo nome governam (VIII, 6).

Logo, Jesus Cristo, concentra e cumula em si mesmo toda a obra da Redenção e santificação dos homens?
Sim, Senhor.

Assim como Jesus Cristo é superior e cabeça dos bons, existe também um chefe dos maus, cujos intentos são fomentar as suas rebeldias contra Deus e conduzi-los à perdição eterna?
Sim, Senhor; é Satanás, caudilho dos anjos rebeldes (VIII, 7).

Em que sentido dizemos que o demônio é o superior do império do mal, como Jesus Cristo o é da sua Igreja?
No sentido de que Satanás pode infundir intrinsecamente a maldade, à maneira como Jesus Cristo infunde o bem, com a diferença que, no governo e disposição dos sucessos, ele se esforça por apartar aos homens de Deus, ao passo que Jesus Cristo se esforça por uni-los a Deus; e também, em que o pecador imita a rebeldia e orgulho de Satanás, como o justo a submissão e obediência de Cristo (Ibid).

Logo, é certo que, como consequência desta oposição, existe um empenhado duelo pessoal entre Jesus Cristo, chefe dos bons e Satanás, caudilho dos maus, cujas origens explicam o estado de luta perpétua e incompatibilidade irredutível entre bons e maus em todos os períodos da história?
Certamente que sim.

Virão tempos em que esta guerra adquirirá tais caracteres de violência que pareça que Satanás tenha concentrado toda a sua malícia e poder destruidor num só indivíduo, assim como o Filho de Deus acumulou a sua potência redentora na natureza humana que uniu à sua divina Pessoa?
Sim, Senhor; isto sucederá durante o reinado do Anticristo.

Logo, o Anticristo terá qualidades e títulos especiais para ser chefe dos maus?
Sim, Senhor; porque terá maior quantidade de malícia que homem algum antes dele teve, será o agente mais ativo e competente de Lúcifer e se esforçará em perder os homens e em acabar com o reino de Cristo, com tenacidade e meios de destruição dignos do chefe dos demônios (VIII, 8).

Que partido devem tomar os homens diante da luta perene e irredutível entre os dois chefes do gênero humano?
O de não pactuar em coisa alguma com o demônio e seus satélites e o de alistar-se debaixo das bandeiras de Cristo e, às suas ordens, lutar como valentes e não abandoná-las jamais.

referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular)

domingo, 8 de setembro de 2019

PÁGINAS COMENTADAS DOS EVANGELHOS DOS DOMINGOS


'Acaso alguém teria conhecido o teu desígnio, sem que lhe desses Sabedoria e do alto lhe enviasses teu santo espírito? Só assim se tornaram retos os caminhos... e os homens aprenderam o que te agrada e pela Sabedoria foram salvos' (Sb 9, 17-18)

sábado, 7 de setembro de 2019

OREMUS! (250)

A sequência completa destes pensamentos e reflexões é publicada diariamente na Página OREMUS na Biblioteca Digital deste blog.

07 DE SETEMBRO

Intra in cubiculum tuum [entra no teu aposento (quarto) (Mt 6,6)]

Não posso viver enclausurado em mim mesmo, pensando apenas em me santificar. Não sou sacerdote para mim, mas para as almas que me foram confiadas. E o trabalho é tanto! Em toda parte, a todo momento, ele está à minha espera, exigindo todo o meu tempo e todas as minhas forças.

Mas não posso esquecer que um trabalho contínuo deve ser uma contínua oração. Se não for assim, nenhum valor terá toda a atividade com que eu encher os meus dias. Por isso tenho que estabelecer em minha alma esse cubiculum [aposento], onde eu viva enclausurado com o meu Deus, em meio a todas as preocupações que me cercam. Enquanto elas gritam, exigindo minhas atenções, querendo transformar a minha vida numa agitação desordenada, Deus irá orientar o meu trabalho e dele receberei a paciência, a coragem e a reta intenção.

Mesmo assim, eu sei que, com o tempo, vão se afrouxando os laços que me prendem a Deus. Preciso apertá-los, de vez em quando; e a meditação, o Breviário e a leitura espiritual muito me irão ajudar nesse trabalho. Não seria, porém, demais, se mensalmente eu pudesse passar um dia menos ocupado com o trabalho exterior, para estar mais a sós com a minha consciência. Com um pouco de esforço e boa vontade,  isso não será tão difícil. E o resultado será dos melhores.

(Oremus — Pensamentos para a Meditação de Todos os Dias, do Pe. Isac Lorena, 1963, com complementos de trechos traduzidos do latim pelo autor do blog).

PRIMEIRO SÁBADO DO MÊS


sexta-feira, 6 de setembro de 2019

PALAVRAS ETERNAS (I)

'Moriar, Domine, amore amoris tui, 
qui amore amoris mei dignatus es mori' 


'Que eu morra, Senhor, pelo amor do vosso amor, vós que, 
pelo amor do meu amor, vos dignastes morrer'

(oração que rezava o sacerdote quando recebia o crucifixo na imposição da batina)

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS


quinta-feira, 5 de setembro de 2019

COMPÊNDIO DE SÃO JOSÉ (XX/Final)


96. Se na atualidade a arte sacra tem contribuído para uma imagem de um São José mais bíblico, o mesmo tem feito a arte profana?

Evidentemente que a arte profana tem pouco se interessado deste campo; contudo, um dos grandes meios de penetração e de formação de opinião na sociedade, o cinema, não deixou de registrar através do filme 'Jesus de Nazaré' de Franco Zeffirelli, a importância de São José na história da encarnação de Jesus, inserindo-o na árvore genealógica de Davi, dando-lhe assim o fundamento jurídico ao seu título de Messias. Zeffirelli apresenta um José atraente e jovem com a missão de pai de Jesus e protetor de Maria, inserido dentro de uma família normal e exercendo a sua profissão de carpinteiro. Um indivíduo humanamente completo, enriquecido de uma grande religiosidade que o tornava dócil aos planos de Deus. Entretanto, se bem que o perfil humano de José apresentado no filme seja bem conduzido, todavia deixa a desejar no aspecto teológico, pois apresenta José desconhecedor do mistério da gravidez de Maria e, portanto suspeito de sua honestidade, buscando inclusive uma solução para o impasse com o conselho de um rabino. Omite também o anúncio do Anjo a José durante o sono, não evidenciando que ele era divinamente guiado. Contudo, muitos valores da pessoa e da missão de José não passaram desapercebidos. 

97. Olhando a história, percebemos que houve um crescimento na reflexão sobre a pessoa de São José. A que ponto se encontra hoje os estudos josefinos?

Na verdade, o que se tem hoje organizado em nível internacional de estudos sobre São José é fruto de uma caminhada iniciada desde 1945 quando em Barcelona, junto ao Santuário de 'San José de La Montaña', foi organizado o primeiro Congresso Josefino com o intuito de se estudar São José. Depois, em 1947, por iniciativa dos Carmelitanos Descalços de Valladolid (Espanha), iniciou-se a publicação da primeira revista de pesquisas sobre São José, denominada de 'Estudios Josefinos'. Os mesmos Carmelitanos Descalços, em 1951, criaram a 'Sociedad Ibero-Americana de Josefologia', compreendendo as nações americanas de língua espanhola e portuguesa. Esta iniciativa, liderada por Pe. José Antonio Carrasco, foi tão válida que outras semelhantes surgiram em outros países. Por isso, em 1952, foi fundado, junto ao Oratório de São José em Montreal no Canadá, o 'Centro de Pesquisa e Documentação sobre São José', que passou a publicar no ano seguinte os Cahiers de Josephologie. Tudo evoluiu e, em 1962, o Pe. Roland Gauthier, grande estudioso de São José, fundou a Sociéte Nord-Américaine de Joséphologie do Canadá.

Outra iniciativa importante na promoção da teologia e do culto a São José surgiu em 1981 em Roma denominada 'Movimento Giuseppino', por meio da Congregação dos Oblatos de São José, fundada pelo Bem-aventurado José Marello. Da mesma forma, sob a responsabilidade de Pe. Tarcisio Stramare, um dos maiores conhecedores da Teologia Josefina, surgiu também na Itália, após a publicação da exortação apostólica Redemptoris Custos, o centro de formação Josefina para sacerdotes, religiosos e leigos denominado Meeting Point Redemptoris Custos. Surgiu também o centro de estudos josefinos de Kalisz denominado Studium Jozefologii Kaliszu na Polônia. Na América Latina, os missionários Josefinos do México fundaram o 'Centro de Estudios Josefinos' na cidade do México, passando, a partir de 1983, a ser denominado 'Centro de Documentación e de Estudios sobre San José de México'. Também em El Salvador em 1985 surgiu a 'Sociedade Centro Americana de Investigación e Divulgación de San José'. Todos estes centros de estudos publicam continuamente estudos sobre São José.

98. Existe alguma iniciativa em âmbito mundial de estudos sobre São José? 

Hoje existe uma teologia de São José chamada com o termo técnico de 'Josefologia'. Os estudos da teologia de São José são publicados pelos vários centros de estudos josefológicos de diversas maneiras. Recentes pesquisas apontaram que hoje existem mais de 8000 volumes publicados e catalogados sobre São José e, somados a estes, juntam-se vários grossos volumes publicados pelas semanas de estudos josefinos promovidas anualmente e os volumosos tomos de estudos publicados a cada três anos como resultado dos Simpósios Internacionais sobre São José Na verdade, estudiosos desta matéria teológica de todas as partes do mundo reúnem-se a cada três anos, num determinado país, para estudos, conferências, debates e exames do progresso desta matéria, constituindo-se assim, por meio da organização das sociedades e centros de estudos Josefinos da Europa e da América Latina, os 'Simpósios Internacionais sobre São José'. Desde 1970 até hoje, já foram realizados sete simpósios. O primeiro foi realizado em Roma em 1970 e abordou estudos sobre 'São José nos primeiros 15 séculos da Igreja', buscando assim a origem e os princípios fundamentais da teologia josefina. O segundo Simpósio Internacional foi realizando em Toledo (Espanha) em 1976 e estudou-se 'São José no Renascimento' (1450-1600). O terceiro ocorreu em Montreal (Canadá) em 1980 desenvolvendo 50 conferências sobre 'São José no século XVII'. O quarto Simpósio foi organizado em Kalisz (Polônia) em 1985 e o tema foi: 'São José no Seiscentos'. O quinto foi celebrado na cidade do México em 1989 e foi desenvolvido o tema: 'São José no século XVIII'. O sexto simpósio ocorreu novamente em Roma em 1993, junto ao Santuário Romano de São José al Trionfale e abordou estudos sobre 'São José no século XIX'. O sétimo simpósio internacional sobre São José realizou-se em 1997 em Malta e foi enfocado o estudo sobre: 'São José no século XX'. 

Todos estes simpósios foram realizados com estudiosos de São José, abordando o caminho percorrido ao longo dos séculos quanto aos estudos josefinos, constituindo-se assim uma preciosa coletânea de material indispensável para uma teologia josefina que se pretende colocar como científica para sociedade de hoje, exigente e pouco disposta a aceitar aquilo que não é devidamente documentado e sério. Tudo isso demonstra que nosso querido santo mais do que nunca encontra-se num lugar importante no coração da Igreja e dos homens.

99. A presença de São José no Brasil foi significativa desde o seu descobrimento? 

No Brasil, desde a colonização tanto os indígenas como os africanos adotaram exteriormente os elementos do culto católico impostos pelos colonizadores, especialmente as imagens dos santos, para poderem manter sob esta fachada ortodoxa a fé dos ancestrais; desta forma, escondiam o próprio ritual secreto e defendiam o seu patrimônio cultural e religioso. Por isso, houve também uma dificuldade de se implantar desde o princípio uma devoção a São José. Conjuntamente com isso, a devoção popular católica teve a sua alta expressão em Nossa Senhora, como de resto em toda a América, marcada pela presença dos colonizadores portugueses que manifestaram uma veneração a Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora dos Prazeres, Nossa Senhora do Rosário… enquanto que o povo simples se identificou mais com Santo Antônio, São Jorge, São Cosme e Damião, São Sebastião… Entretanto isto não significa que, desde o princípio, São José não foi venerado; basta lembrar o grande número de localidades, províncias, cidades e depois, a partir do século XVIII, as igrejas, ermidas e capelas que tiveram São José como seu patrono. Salienta-se ainda que o nome José foi desde o início da colonização brasileira um dos mais populares entre as pessoas. Hoje encontramos dioceses, catedrais e cidades importantes brasileiras com o nome de São José; contudo não podemos constatar ainda de uma maneira organizada e conhecida racionalmente, um centro de irradiação e de estudos sobre São José, talvez porque este despertar para o conhecimento e a valorização do nosso santo é ainda uma iniciativa que está dando os seus primeiros passos. 

100. O Brasil, sendo um país de predominância católica e constituído por um povo de sensibilidade religiosa, não poderia promover uma iniciativa para a divulgação de São José? 

Sim e isto poderia dar-se sobretudo através das Congregações Religiosas Josefinas, tanto masculinas como femininas as quais, com maior ou menor intensidade, têm São José como protetor e modelo. Neste sentido a Congregação dos Oblatos de São José, fundada por São José Marello em 1878 em Asti (Itália) organizou e mantém o 'Centro de Espiritualidade Josefina' na cidade de Apucarana/PR, com a finalidade de se constituir um centro de irradiação da espiritualidade, da devoção, da iconografia e dos estudos de josefologia.

('100 Questões sobre a Teologia de São José', do Pe. José Antonio Bertolin, adaptado)