terça-feira, 11 de junho de 2019

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

O homem é criado para louvar, prestar reverência e servir a Deus Nosso Senhor e, mediante isso, salvar a sua alma; e as outras coisas sobre a face da Terra são criadas para o homem, para que o ajudem na prossecução do fim para que é criado. Assim o homem tanto há de usar delas quanto o ajudem para o seu fim e tanto afastar-se delas quanto para isso o impedem. Pelo que é necessário fazer-nos indiferentes a todas as coisas criadas, em tudo o que é concedido à liberdade do nosso livre-arbítrio, e não lhe está proibido; de tal maneira que não queiramos da nossa parte mais saúde que doença, riqueza que pobreza, honra que desonra, vida longa que vida curta e, consequentemente, em tudo o mais; mas somente desejando e elegendo o que mais nos conduz ao fim para o que fomos criados.

(Santo Inácio de Loyola)

SERMÃO DA SEXAGÉSIMA (III)


Nesta terceira parte do sermão, o Pe. Antônio Vieira demonstra que quando a Palavra de Deus não dá fruto não é por causa de Deus e nem por culpa dos ouvintes.

III

Fazer dar pouco fruto a palavra de Deus no mundo, pode proceder de um de três princípios: ou da parte do pregador, ou da parte do ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma alma se converter por meio de um sermão, há de haver três concursos: há de concorrer o pregador com a doutrina, persuadindo; há de concorrer o ouvinte com o entendimento, percebendo; há de concorrer Deus com a graça, alumiando. Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos. 

Que coisa é a conversão de uma alma, senão entrar um homem dentro de si e se ver a si mesmo? Para esta vista são necessários olhos, e necessária luz e é necessário espelho. O pregador concorre com o espelho, que é a doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça; o homem concorre com os olhos, que é o conhecimento. Ora suposto que a conversão das almas por meio da pregação depende destes três concursos: de Deus, do pregador e do ouvinte, por qual deles devemos entender o que falta? Por parte do ouvinte, por parte do pregador ou por parte de Deus?

Primeiramente, por parte de Deus, não falta nem pode faltar. Esta proposição é de fé, definida no Concílio Tridentino; e no nosso Evangelho a temos. Do trigo que deitou à terra o semeador, uma parte se logrou e três se perderam. E porque se perderam estas três? A primeira perdeu-se porque a afogaram os espinhos; a segunda, porque a secaram as pedras; a terceira, porque a pisaram os homens e a comeram as aves. Isto é o que diz Cristo; mas notai o que não diz. Não diz que parte alguma daquele trigo se perdesse por causa do sol ou da chuva. A causa por que ordinariamente se perdem as sementeiras é pela desigualdade e pela intemperança dos tempos ou porque falta ou sobeja a chuva ou porque falta ou sobeja o sol. 

Pois porque não introduz Cristo na parábola do Evangelho algum trigo que se perdesse por causa do sol ou da chuva? Porque o sol e a chuva são as afluências da parte do Céu e deixar de frutificar a semente da palavra de Deus nunca é por falta do Céu; sempre é por culpa nossa. Deixará de frutificar a sementeira, ou pelo embaraço dos espinhos, ou pela dureza das pedras, ou pelos descaminhos dos caminhos; mas por falta das influências do Céu, isso nunca é nem pode ser. Sempre Deus está pronto da sua parte, com o sol para aquecer e com a chuva para regar; com o sol para alumiar e com a chuva para amolecer, se os nossos corações quiserem: Qui solem suum oriri facit super bonos et malos, et pluit super justos et injustos [pois faz nascer o sol para os bons e para os maus e chover sobre os justos e os ímpios]. Se Deus dá o seu sol e a sua chuva aos bons e aos maus; aos maus que se quiserem fazer bons, como a negará? Este ponto é tão claro que não há para que nos determos em mais prova. Quid debui facere vineae meae, et non feci? [o que tive de fazer por minha vinha e não fiz? (Is 5,4)] disse o mesmo Deus por Isaías.

Sendo, pois, certo que a palavra divina não deixa de frutificar por parte de Deus, segue-se que ou é por falta do pregador ou por falta dos ouvintes. Por qual será? Os pregadores deitam a culpa aos ouvintes, mas não é assim. Se fosse por parte dos ouvintes, não daria a palavra de Deus muito grande fruto; mas não fazer nenhum fruto e nenhum efeito, não é por parte dos ouvintes. Provo.

Os ouvintes ou são maus ou são bons; se são bons, faz neles fruto a palavra de Deus; se são maus, ainda que não faça neles fruto, faz efeito. No Evangelho o vemos. O trigo que caiu nos espinhos, nasceu, mas afogaram-no: Simul exortae spinae suffocaverunt illud [cresceram juntos os espinhos e a sufocaram (a semente de trigo)]. O trigo que caiu nas pedras, nasceu também, mas secou-se: Et natum aruit [e ao nascer, secou]. O trigo que caiu na terra boa, nasceu e frutificou com grande multiplicação: Et natum fecit fructum centuplum [e nasceu e produziu fruto cem por um]. De maneira que o trigo que caiu na boa terra, nasceu e frutificou; o trigo que caiu na má terra, não frutificou, mas nasceu; porque a palavra de Deus é tão funda, que nos bons faz muito fruto e é tão eficaz que nos maus ainda que não faça fruto, faz efeito; lançada nos espinhos, não frutificou, mas nasceu até nos espinhos; lançada nas pedras, não frutificou, mas nasceu até nas pedras. 

Os piores ouvintes que há na Igreja de Deus são as pedras e os espinhos. E por quê? - os espinhos por agudos, as pedras por duras. Ouvintes de entendimentos agudos e ouvintes de vontades endurecidas são os piores que há. Os ouvintes de entendimentos agudos são maus ouvintes porque vêm só a ouvir subtilezas, a esperar galantarias, a avaliar pensamentos e, às vezes, também a picar a quem os não pica. Aliud cecidit inter spinas [outra parte caiu entre espinhos]: o trigo não picou os espinhos, antes os espinhos o picaram a ele; e o mesmo sucede cá. Cuidais que o sermão picou e vós, e não é assim; vós sois os que picais o sermão. Por isto são maus ouvintes os de entendimentos agudos. 

Mas os de vontades endurecidas ainda são piores porque um entendimento agudo pode ser ferido pelos mesmos fios e vencer-se uma agudeza com outra maior; mas contra vontades endurecidas nenhuma coisa aproveita a agudeza, antes dana mais, porque quanto as setas são mais agudas, tanto mais facilmente se despontam na pedra. Ó Deus nos livre de vontades endurecidas, que ainda são piores que as pedras! A vara de Moisés abrandou as pedras e não pôde abrandar uma vontade endurecida: Percutiens virga bis silicem, et egressae sunt aquae largissimae - Induratum est cor Pharaonis [batendo a vara na pedra duas vezes, irromperam águas em abundância (Nm 20, 11) - endureceu-se o coração do Faraó (Ex 7,13)]. E mesmo os ouvintes de entendimentos agudos e os ouvintes de vontades endurecidas sendo os mais rebeldes, é tanta a força da divina palavra que, apesar da agudeza, nasce nos espinhos e, apesar da dureza, nasce nas pedras.

Pudéramos arguir ao lavrador do Evangelho porque não cortar os espinhos e não arrancar as pedras antes de semear, mas por princípio deixou no campo as pedras e os espinhos para que se visse a força do que semeava. É tanta a força da divina palavra que, sem cortar nem aparar espinhos, nasce entre espinhos. É tanta a força da divina palavra que, sem arrancar nem deslocar as pedras, nasce nas pedras. Corações embaraçados como espinhos; corações secos e duros como pedras, ouvi a palavra de Deus e tende confiança! Tomai exemplo nessas mesmas pedras e nesses espinhos! Esses espinhos e essas pedras agora resistem ao semeador do Céu; mas virá tempo em que essas mesmas pedras o aclamem e esses mesmos espinhos o coroem.

Quando o semeador do Céu deixou o campo, saindo deste mundo, as pedras se quebraram para lhe fazerem aclamações e os espinhos se teceram para lhe fazerem coroa. E se a palavra de Deus até dos espinhos e das pedras triunfa; se a palavra de Deus até nas pedras, até nos espinhos nasce; não triunfar hoje por entre os arbítrios dos homens e nem nascer nos corações, não é por culpa e nem por indisposição dos ouvintes. Supostas estas duas demonstrações; suposto que o fruto e efeitos da palavra de Deus, não ficam nem por parte de Deus nem por parte dos ouvintes segue-se, por consequência clara, que fica por parte do pregador. E assim é. Sabeis, cristãos, porque não faz fruto a palavra de Deus? Por culpa dos pregadores. Sabeis, pregadores, porque não faz fruto a palavra de Deus? Por culpa nossa.

(Sermão da Sexagésima- Parte III, Pe. Antônio Vieira)

segunda-feira, 10 de junho de 2019

SERMÃO DA SEXAGÉSIMA (II)


Nesta segunda parte, o Pe. Antônio Vieira, dando início à sua pregação, se pergunta: se semen est verbum Dei [a semente é a Palavra de Deus] e é tão eficaz e poderosa, por que então são tão escassos os seus frutos entre os homens de hoje?

II

Semen est verbum Dei

O trigo que semeou o pregador evangélico, diz Cristo que é a palavra de Deus. Os espinhos, as pedras, o caminho e a terra boa em que o trigo caiu, são os diversos corações dos homens. Os espinhos são os corações embaraçados com cuidados, com riquezas, com delícias; e nestes, afoga-se a palavra de Deus. As pedras são os corações duros e obstinados e nestes, seca-se a palavra de Deus, e se nasce não cria raízes. Os caminhos são os corações inquietos e perturbados com a passagem e tropel das coisas do mundo, umas que vão, outras que vêm, outras que atravessam, e todas passam; e nestes, é pisada a palavra de Deus, porque a desatendem ou a desprezam. Finalmente, a terra boa são os corações bons ou os homens de bom coração; e nestes prende e frutifica a palavra divina, com tanta fecundidade e abundância, que se colhe cem por um: et fructum fecit centuplum.

Este grande frutificar da palavra de Deus é o que reparo hoje e é uma dúvida ou admiração que me traz suspenso e confuso, depois que subo ao púlpito. Se a palavra de Deus é tão eficaz e tão poderosa, como vemos tão pouco fruto da palavra de Deus? Diz Cristo que a palavra de Deus frutifica cem por um e já eu me contentara com que frutificasse um por cento. Se com cada cem sermões se convertera e emendara um homem, já o mundo seria santo. Este argumento de fé, fundado na autoridade de Cristo, se aperta ainda mais na experiência, comparando os tempos passados com os presentes. 

Lede as histórias eclesiásticas, e achá-las-eis todas cheias de admiráveis efeitos da pregação da palavra de Deus. Tantos pecadores convertidos, tanta mudança de vida, tanta reformação de costumes; os grandes desprezando as riquezas e vaidades do mundo; os reis renunciando aos cetros e às coroas; as mocidades e as gentilezas metendo-se pelos desertos e pelas covas. E hoje? Nada disto. Nunca na Igreja de Deus houve tantas pregações, nem tantos pregadores como hoje. Pois se tanto se semeia a palavra de Deus, como é tão pouco o fruto? Não há um homem que um sermão entre em si e se resolva, não há um moço que se arrependa, não há um velho que se desengane. Que é isto? Assim como Deus não é hoje menos onipotente, assim a sua palavra não é hoje menos poderosa do que era antes. Pois se a palavra de Deus é tão poderosa, se a palavra de Deus tem hoje tantos pregadores, porque não vemos hoje nenhum fruto da palavra de Deus? Esta, tão grande e tão importante dúvida, será a matéria do sermão. Quero começar pregando-o a mim. A mim será e também a vós; a mim, para aprender a pregar; a vós, para que aprendais a ouvir.

(Sermão da Sexagésima- Parte II, Pe. Antônio Vieira)

domingo, 9 de junho de 2019

NA DIVERSIDADE DOS DONS, O MESMO ESPÍRITO

Páginas do Evangelho - Festa de Pentecostes


Emitte Spiritum tuum et creabuntur. Et renovabis faciem terrae

'Enviai, Senhor, o vosso espírito criador e será renovada toda a face da terra'

Originalmente, Pentecostes representava uma das festas judaicas mais tradicionais de 'peregrinação' (nas quais os israelitas deviam peregrinar até Jerusalém para adorar a Deus no Templo), sempre celebrada após 50 dias da Páscoa e na qual eram oferecidas a Deus as primícias das colheitas do campo. No Novo Pentecostes, a efusão do Espírito Santo torna-se agora o coroamento do mistério pascal de Jesus Cristo, na celebração da Nova Aliança entre Deus e a humanidade redimida.

Eis que os apóstolos encontravam-se reunidos, com Maria e em oração constante, quando 'todos ficaram cheios do Espírito Santo' (At 2, 4), manifestado sob a forma de línguas de fogo, vento impetuoso e ruídos estrondosos, sinais exteriores do poder e da grandeza da efusão do Novo Pentecostes. Luz e calor associados ao fogo restaurador da autêntica fé cristã; ventania que evoca o sopro da Verdade de Deus sobre os homens; reverberação que emana a força da missão confiada aos apóstolos reunidos no cenáculo e  proclamada aos apóstolos de todos os tempos.

O Paráclito é derramado numa torrente de graças, distribuindo dons e talentos, porque 'Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos' (1 Cor 12, 4-6). Na simbologia dos vários membros de um mesmo corpo, somos mensageiros e testemunhas de Cristo no meio dos homens, na identidade comum de Filhos de Deus partícipes e continuadores da missão salvífica de Cristo: 'Como o Pai me enviou, também Eu vos envio' (Jo 20, 22).

No Espírito Consolador, não somos mais meros expectadores de uma efusão de graças e dons tão diversos, mas apóstolos e testemunhas, iluminados e portadores da Verdade, pela qual será renovada a face da terra e pelo qual será apagada a mancha do pecado no mundo: 'Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos' (Jo 20, 22-23).

sábado, 8 de junho de 2019

SERMÃO DA SEXAGÉSIMA (I)


O 'Sermão da Sexagésima' é o mais famoso dos sermões do Pe. Antônio Vieira (1608 - 1697) e refere-se à pregação correspondente ao chamado 'Domingo da Sexagésima', antiga referência litúrgica ao domingo imediatamente anterior ao Carnaval. O sermão original, dividido em dez partes, foi proferido provavelmente em 31 de janeiro de 1655, na então Capela Real da Coroa Portuguesa. 

I

Deus queira que este tão ilustre e tão numeroso auditório não saia hoje tão desenganado da pregação, como vem enganado com o pregador! Ouçamos o Evangelho, e ouçamo-lo todo, que todo é o caso que me levou e me trouxe de tão longe.

Ecce exiit qui seminat, seminare [eis que saiu o semeador a semear]. Diz Cristo que 'saiu o pregador evangélico a semear' a palavra divina. Bem parece este texto dos livros de Deus. Não só faz menção do semear, mas também faz caso do sair: exiit [sair], porque no dia da messe hão-nos de medir a semeadura e hão-nos de contar os passos. O mundo, aos que lavrais com ele, nem vos satisfaz o que dispendeis, nem vos paga o que andais. Deus não é assim. Para quem lavra com Deus até o sair é semear, porque também das passadas colhe fruto. Entre os semeadores do Evangelho há uns que saem a semear, há outros que semeiam sem sair. Os que saem a semear são os que vão pregar à Índia, à China, ao Japão; os que semeiam sem sair, são os que se contentam com pregar na Pátria. Todos terão sua razão mas tudo tem sua conta. Aos que têm a seara em casa, pagar-lhes-ão a semeadura; aos que vão buscar a seara tão longe, hão-lhes de medir a semeadura e hão-lhes de contar os passos. Ah Dia do Juízo! Ah pregadores! Os de cá, achar-vos-eis com mais paço; os de lá, com mais passos: exiit seminare [saiu a semear].

Mas daqui mesmo vejo que notais (e me notais) que diz Cristo que o semeador do Evangelho saiu, porém não diz que retornou porque os pregadores evangélicos, os homens que professam pregar e propagar a Fé, é bem que saiam, mas não é bem que retornem. Aqueles animais de Ezequiel que tiravam pelo carro triunfal da glória de Deus e significavam os pregadores do Evangelho que propriedades tinham? Nec revertebantur, cum ambularent: 'uma vez que iam, não retornavam'. As rédeas pelas quais se governavam eram o ímpeto do espírito, como diz o mesmo texto: mas esse espírito tinha impulsos para os levar, mas não tinha regresso para os trazer; porque sair para retornar, é melhor não sair. 

Assim arguís com muita razão e eu também assim o digo. Mas pergunto: e se esse semeador evangélico, quando saiu, achasse o campo tomado; se se armassem contra ele os espinhos; se se levantassem contra ele as pedras, e se lhe fechassem os caminhos: o que havia de fazer? Todos estes contrários que digo e todas estas contradições experimentou o semeador do nosso Evangelho. Começou ele a semear (diz Cristo), mas com pouca ventura: 'uma parte do trigo caiu entre espinhos, e afogaram-no os espinhos': aliud cecidit inter spinas et simul exortae spinae suffocaverunt illud. Outra parte caiu sobre pedras e secou-se nas pedras por falta de umidade: aliud cecidit super petram, et natum aruit, quia non habebat humorem. 'Outra parte caiu no caminho, e pisaram-no os homens e comeram-no as aves': aliud cecidit secus viam, et conculcatum est, et volucres coeli comederunt illud

Ora vede como todas as criaturas do mundo se armaram contra esta sementeira. Todas as criaturas quantas há no mundo se reduzem a quatro gêneros: criaturas racionais, como os homens; criaturas sensitivas, como os animais; criaturas vegetativas, como as plantas; criaturas insensíveis, como as pedras; e não há mais. Faltou alguma destas que se não armasse contra o semeador? Nenhuma. A natureza insensível o perseguiu nas pedras, a vegetativa nos espinhos, a sensitiva nas aves, a racional nos homens. E notai a desgraça do trigo, que onde só podia esperar razão, ali achou maior agravo. As pedras secaram-no, os espinhos afogaram-no, as aves comeram-no e os homens? Pisaram-no: Conculcatum est ab hominibus [foi pisado pelos homens].

Quando Cristo mandou pregar os Apóstolos pelo Mundo, disse-lhes desta maneira: euntes in mundum universum, praedicate omni creaturae: 'Ide, e pregai a toda a criatura'. Como assim, Senhor?! Os animais não são criaturas?! As árvores não são criaturas?! As pedras não são criaturas?! Pois hão os Apóstolos de pregar às pedras?! Hão-de pregar aos troncos?! Hão-de pregar aos animais?! Sim, diz São Gregório, depois de Santo Agostinho. Porque como os Apóstolos iam pregar a todas as nações do mundo, muitas delas bárbaras e incultas, haviam de achar os homens degenerados em todas as espécies de criaturas: haviam de achar homens homens, haviam de achar homens brutos, haviam de achar homens troncos, haviam de achar homens pedras. E quando os pregadores evangélicos vão pregar ar a toda a criatura, que se armem contra eles todas as criaturas?! Grande desgraça!

Mas ainda a do semeador do nosso Evangelho não foi a maior. A maior é a que se tem experimentado na seara aonde eu fui, e para onde venho. Tudo o que aqui padeceu o trigo, padeceram lá os semeadores. Se bem advertirdes, houve aqui trigo mirrado, trigo afogado, trigo comido e trigo pisado. Trigo mirrado: Natum aruit, quia non habebat humorem  [seco nas pedras por falta de umidade]; trigo afogado: exortae spinae suffocaverunt illud [afogado pelos espinhos]; trigo comido: volucres caeli comederunt illud [comido pelas aves]; trigo pisado: conculcutum est [pisado (pelos homens)]. Tudo isto padeceram os semeadores evangélicos da missão do Maranhão de doze anos até aqui.

Houve missionários afogados, porque uns se afogaram na boca do grande rio das Amazonas; houve missionários comidos, porque a outros comeram os bárbaros na ilha dos Aroãs; houve missionários mirrados, porque tais tornaram os da jornada dos Tocantins, mirrados da fome e da doença, onde tal houve, que andando vinte e dois dias perdido nas brenhas matou somente a sede com o orvalho que lambia das folhas. Vede bem como lhes calham o Natum aruit, quia non habebant humorem! [seco nas pedras por falta de umidade!]. E que sobre mirrados, sobre afogados, sobre comidos, ainda se vejam pisados e perseguidos dos homens: conculcatum est! [pisado (pelos homens)]. Não me queixo nem o digo, Senhor, pelos semeadores; só pela seara o digo, só pela seara o sinto. Para os semeadores, isto são glórias: mirrados sim, mas por amor de vós mirrados; afogados sim, mas por amor de vós afogados; comidos sim, mas por amor de vós comidos; pisados e perseguidos sim, mas por amor de vós perseguidos e pisados.

Agora torna a minha pergunta: e o que faria neste caso ou o que devia fazer o semeador evangélico, vendo tão mal logrados seus primeiros trabalhos? Deixaria a lavoura? Desistiria da sementeira? Ficar-se-ia ocioso no campo, só porque tinha lá ido? Parece que não. Mas se tornasse muito depressa a buscar alguns instrumentos com que limpar a terra das pedras e dos espinhos, seria isto desistir? Seria isto tornar atrás? Não por certo. No mesmo texto de Ezequiel com que arguistes, temos a prova. Já vimos como dizia o texto, que aqueles animais da carroça de Deus, 'quando iam não tornavam': nec revertebantur, cum ambularent. Lede agora dois versos mais abaixo, e vereis que diz o mesmo texto que 'aqueles animais retornavam à semelhança de um raio ou corisco': ibant et revertebantur in similitudinem fulgoris coruscantis. Pois se os animais iam e retornavam à semelhança de um raio, como diz o texto, por que quando iam não retornavam? Porque quem vai e volta como um raio, não retorna. Ir e voltar como raio, não é retornar, é ir adiante. 

Assim o fez o semeador do nosso Evangelho. Não o desanimou nem a primeira nem a segunda nem a terceira perda; continuou adiante no semear e o fez com tanta felicidade que, nesta quarta e última parte do trigo, se restauraram com vantagem as perdas das demais: nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, colheu-se, mediu-se, achou-se que por um grão multiplicara um cento: Et fecit fructum centuplum [e deu fruto cem por um].

Ó que grandes esperanças me dá esta sementeira! Ó que grande exemplo me dá este semeador! Dá-me grandes esperanças a sementeira porque, ainda que se perderam os primeiros trabalhos, lograr-se-ão os últimos. Dá-me grande exemplo o semeador, porque, depois de perder a primeira, a segunda e a terceira parte do trigo, aproveitou a quarta e última, e colheu dela muito fruto. Já que se perderam as três partes da vida, já que uma parte da idade a levaram os espinhos, já que outra parte a levaram es pedras, já que outra parte a levaram os caminhos, e tantos caminhos, esta quarta e última parte, este último quartel da vida, porque se perderá também? Porque não dará fruto? 

Porque não terão também os anos o que tem o ano? O ano tem tempo para as flores e tempo para os frutos. Porque não terá também o seu outono a vida? As flores, umas caem, outras secam, outras murcham, outras leva o vento; aquelas poucas que se pegam ao tronco e se convertem em fruto, só essas são as venturosas, só essas são as que se aproveitam, só essas são as que sustentam o mundo. Será bem que o mundo morra à fome? Será bem que os últimos dias se passem em flores? Não será bem, nem Deus quer que seja, nem há de ser. Eis aqui porque eu dizia ao princípio, que vindes enganados com o pregador. Mas para que possais ir desenganados com o sermão, tratarei nele uma matéria de grande peso e importância. Servirá como de prólogo aos sermões que vos hei-de pregar e aos mais que ouvirdes nesta Quaresma.

(Sermão da Sexagésima- Parte I, Pe. Antônio Vieira)

sexta-feira, 7 de junho de 2019

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (XXXII)

XLI

DOS PRECEITOS RELATIVOS À JUSTIÇA CONTIDOS NO DECÁLOGO: DOS TRÊS PRIMEIROS E DOS QUATRO ÚLTIMOS

Existem preceitos relativos à virtude da Justiça e suas anexas e com o seu complemento, o dom de piedade?
Sim, Senhor; todos os preceitos do Decálogo (CXXXII, 1)*.

Logo, o Decálogo limita-se a preceituar estas virtudes?
Sim, Senhor; e os mandamentos referentes a outras são posteriores e à maneira de complemento e explicação dos primeiros (CXXII, 1).

Por que?
Porque, sendo os mandamentos do Decálogo primeiros princípios da lei moral, devem ter por objeto matérias de justiça, e a justiça se encarna no conceito da coisa devida e na vontade de dá-la, chave das relações humanas fundadas na virtude (Ibid).

Como se classificam os preceitos do Decálogo?
Em dois grupos, chamados Tábuas da Lei.

Quais são os que compreende a primeira tábua?
Os três primeiros, referentes à religião ou às relações do homem com Deus.

Em que ordem estão dispostos?
Os dois primeiros removem os principais obstáculos que se opõem ao culto divino; a superstição ou o culto dos falsos deuses e a irreligião ou falta de acatamento ao verdadeiro Deus; o terceiro indica o único culto digno de Deus (CXXII, 2, 3).

Que obrigações impõe o terceiro mandamento do Decálogo?
As de abster-se de trabalhos servis e dedicar-se aos do serviço de Deus (CXXII, 4 ad 3).

Que entendeis por abster-se de trabalhos servis?
A obrigação de abandonar qualquer trabalho manual dispensável para a manutenção da vida material ou não imposto por uma necessidade urgente e inadiável, em um dia da semana que, na atual disciplina, é o domingo, e nas festas de preceito que são em toda a Igreja, as da Natividade, Circuncisão, Epifania, Ascensão, Festa de Corpus Christi, a Imaculada Conceição, a Assunção, festa de São José, São Pedro e São Paulo e Todos os Santos (CXXII, 3, ad 3; Código, 1247).

A que obriga o mandamento de empregar-se nas obras do serviço divino?
Obriga a estar desimpedido para ouvir missa aos domingos e dias de festa, sob pena de pecado mortal (Ibid).

Aquele que, em dia de preceito, não pode ouvir missa, fica obrigado a praticar algum outro exercício de piedade?
Não, Senhor; porém, certamente faltará à obrigação de santificar as festas o que desejasse passar estes dias sem exercitar ato algum de religião.

Quais são os mandamentos que contem a segunda tábua?
Os que se referem à virtude da piedade para com os pais e aos deveres de estrita justiça para com o próximo (CXXII, 5, 6).

XLII

DA FORTALEZA COMO VIRTUDE E COMO ATO: O MARTÍRIO  VÍCIOS OPOSTOS: COVARDIA, INDIFERENÇA E TEMERIDADE

Qual é a terceira virtude cardeal?
A fortaleza (CXXII-CXL).

Que entendeis por fortaleza?
Uma perfeição moral da parte afetiva sensível cujo objeto é afrontar com denodo e intrepidez os grandes riscos ou moderar os ímpetos da audácia nos perigos de morte em guerra justa, mantendo sempre o homem no cumprimento do dever (CXXIII, 1-6).

Tem esta virtude algum ato em que se condense toda a sua perfeição?
Sim, Senhor; o martírio (CXXIV).

Que entendeis por martírio?
Um ato da virtude da fortaleza mediante o qual não teme o cristão a morte, para dar testemunho da verdade, nesta espécie de guerra privada que deve sustentar contra os perseguidores do nome de Cristo (CXXIV, 1-5).

Que vícios se opõem à virtude da fortaleza?
De um lado, a covardia, própria de quem desmaia e se aterra nos transes da morte; e a impassibilidade diante do perigo, vício de quem não o evita, podendo e devendo fazê-lo. De outro lado, a temeridade, pecado dos que postergam os conselhos da prudência para ir ao encontro do perigo (CXXV-CXXVII).

Logo, é possível pecar por excesso de valor?
Não, Senhor; é, porém, possível pecar por excesso nesta matéria, nos arrebatamentos de ousadia não refreados pela razão, executar atos que pareçam de valor e em realidade não o sejam (CXXVII, 1 ad 2).

XLIII

DAS VIRTUDES ANEXAS À FORTALEZA: A MAGNANIMIDADE — VÍCIOS OPOSTOS: PRESUNÇÃO, AMBIÇÃO, VANGLÓRIA, PUSILANIMIDADE

Existem virtudes parecidas com a da fortaleza na maneira de obrar, ainda que em matéria menos difícil?
Por um conceito, parecem-se a magnanimidade e a magnificência, e, por outro, a paciência e a perseverança (CXXVIII).

Em que se distinguem estes dois grupos de virtudes?
Em que, as duas primeiras, têm semelhança com a fortaleza, porque os seus atos são árduos e difíceis, e as duas últimas porque têm por objeto conservar alentos e serenidade nas grandes aflições e situações violentas (Ibid).

Qual é o objeto próprio da magnanimidade?
Infundir no ânimo alento e esperanças para levar ao fim empresas ilustres e gloriosas (CXXIX, 1, 2).

Logo, tudo é grande na magnanimidade?
Sim, Senhor; é a virtude própria dos grandes corações.

Opõe-se-lhe algum vício?
Sim, Senhor, muitos; uns por defeito, outros por excesso.

Quais são os que se lhe opõem por excesso?
A presunção, a ambição e a vangloria (CXXX -CXXXII).

Em que se diferenciam?
Em que a presunção nos arrasta a iniciar empresas superiores às nossas forças; a ambição, a procurar honras indevidas ao nosso estado e merecimentos; e a vanglória, a procurar fama e nomeada sem objeto, ou por falta de méritos em que apoiá-las ou por não serem ordenadas para o seu verdadeiro fim, que é a glória de Deus e o bem do próximo (Ibid).

A vanglória é pecado capital?
Sim, Senhor; porque é a grande propensão dos homens e arrasta-os a cometer uma multidão de pecados, o prurido de alardear a sua própria valia e excelência (CXXXII, 4).

Quais são as suas filhas ou os vícios que dela se derivam?
São os de jactância, hipocrisia, pertinácia, discórdia, emulação e desobediência (CXXXII, 5).

Que vício se opõe por defeito à magnanimidade?
A pusilanimidade (CXXXIII).

Por que é pecado a pusilanimidade?
Por ser contrária à lei natural que obriga a todos os seres a desenvolver a sua atividade, contribuindo para isso com todos os meios e energias de que estejam dotados (CXXX, 1).

Logo, é censurável a conduta dos que, por desconfiança em si mesmos ou por humildade mal entendida, não fazem frutificar todos os talentos que receberam de Deus?
Sim, Senhor (Ibid).

XLIV

DA MAGNIFICÊNCIA — VÍCIOS OPOSTOS: MESQUINHARIA E DESPERDÍCIO

Em que consiste a virtude da magnificência?
Em projetar e empreender obras de difícil execução, sem recuar diante da grandeza do trabalho nem dos gastos necessários para levá-las a cabo (CXXXIV, 1, 2).

Logo, o exercício desta virtude supõe grandes riquezas e ocasião propícia para empregá-las no culto de Deus ou em proveito e utilidade dos nossos concidadãos?
Sim, Senhor (CXXXIV, d).

É por conseguinte, a virtude própria dos ricos e poderosos?
Sim, Senhor.

Que vícios se lhe opõem?
A mesquinharia ou avareza, que obriga a mesurar e cercear, mais do que é justo, os gastos necessários para as obras em projeto ou execução e o vício do desperdício ou dos gastos supérfluos e injustificados, em relação com a obra construída (CXXXVI, 1-3).

referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular)

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS


A Grande Revelação do Sagrado Coração de Jesus foi feita a Santa Margarida Maria Alacoque durante a oitava da festa de Corpus Christi de 1675...

         'Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e se consumir para lhes testemunhar seu amor. Como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelas suas irreverências, sacrilégios, e pela tibieza e desprezo que têm para comigo na Eucaristia. Entretanto, o que Me é mais sensível é que há corações consagrados que agem assim. Por isto te peço que a primeira sexta-feira após a oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa particular para  honrar Meu Coração, comungando neste dia, e O reparando pelos insultos que recebeu durante o tempo em que foi exposto sobre os altares ... Prometo-te que Meu Coração se dilatará para derramar os influxos de Seu amor divino sobre aqueles que Lhe prestarem esta honra'.


... e as doze Promessas:
  1. A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de meu Sagrado Coração.
  2. Eu darei aos devotos do meu Coração todas as graças necessárias a seu estado.
  3. Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias.
  4. Eu os consolarei em todas as suas aflições.
  5. Serei seu refúgio seguro na vida, e principalmente na hora da morte.
  6. Lançarei bênçãos abundantes sobre todos os seus trabalhos e empreendimentos.
  7. Os pecadores encontrarão em meu Coração fonte inesgotável de misericórdias.
  8. As almas tíbias se tornarão fervorosas pela prática dessa devoção.
  9. As almas fervorosas subirão em pouco tempo a uma alta perfeição.
  10. Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais empedernidos.
  11. As pessoas que propagarem esta devoção terão os seus nomes inscritos para sempre no meu Coração.
  12. A todos os que comungarem nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna.

    ATO DE DESAGRAVO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS 
    (rezai-o sempre, particularmente nas primeiras sextas-feiras de cada mês)

Dulcíssimo Jesus, cuja infinita caridade para com os homens é deles tão ingratamente correspondida com esquecimentos, friezas e desprezos, eis-nos aqui prostrados, diante do vosso altar, para vos desagravarmos, com especiais homenagens, da insensibilidade tão insensata e das nefandas injúrias com que é de toda parte alvejado o vosso dulcíssimo Coração.

Reconhecendo, porém, com a mais profunda dor, que também nós, mais de uma vez, cometemos as mesmas indignidades, para nós, em primeiro lugar, imploramos a vossa misericórdia, prontos a expiar não só as nossas próprias culpas, senão também as daqueles que, errando longe do caminho da salvação, ou se obstinam na sua infidelidade, não vos querendo como pastor e guia, ou, conspurcando as promessas do batismo, renegam o jugo suave da vossa santa Lei.

De todos estes tão deploráveis crimes, Senhor, queremos nós hoje desagravar-vos, mas particularmente das licenças dos costumes e imodéstias do vestido, de tantos laços de corrupção armados à inocência, da violação dos dias santificados, das execrandas blasfêmias contra vós e vossos santos, dos insultos ao vosso vigário e a todo o vosso clero, do desprezo e das horrendas e sacrílegas profanações do Sacramento do divino Amor, e enfim, dos atentados e rebeldias oficiais das nações contra os direitos e o magistério da vossa Igreja.

Oh, se pudéssemos lavar com o próprio sangue tantas iniquidades! Entretanto, para reparar a honra divina ultrajada, vos oferecemos, juntamente com os merecimentos da Virgem Mãe, de todos os santos e almas piedosas, aquela infinita satisfação que vós oferecestes ao Eterno Pai sobre a cruz, e que não cessais de renovar todos os dias sobre os nossos altares.

Ajudai-nos, Senhor, com o auxílio da vossa graça, para que possamos, como é nosso firme propósito, com a viveza da fé, com a pureza dos costumes, com a fiel observância da lei e caridade evangélicas, reparar todos os pecados cometidos por nós e por nossos próximos, impedir, por todos os meios, novas injúrias à vossa divina Majestade e atrair ao vosso serviço o maior número possível de almas.

Recebei, ó Jesus de Infinito Amor, pelas mãos de Maria Santíssima Reparadora, a espontânea homenagem deste nosso desagravo, e concedei-nos a grande graça de perseverarmos constantes até a morte no fiel cumprimento dos nossos deveres e no vosso santo serviço, para que possamos chegar todos à Pátria bem-aventurada, onde vós, com o Pai e o Espírito Santo, viveis e reinais, Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.