terça-feira, 23 de abril de 2019

COMO QUEREIS PAGAR OS VOSSOS PECADOS?

Queridos Amigos da Cruz, sois todos pecadores. Não há um só dentre vós que não mereça o inferno, e eu mais que ninguém. É preciso que nossos pecados sejam castigados neste mundo ou no outro. Se o forem neste, não o serão no outro. Se Deus os castigar neste mundo de acordo conosco, esta punição será amorosa: quem há de castigar será a misericórdia, que reina neste mundo, e não a justiça rigorosa. O castigo será leve e passageiro, acompanhado de atenuantes e de méritos, seguido de recompensas no tempo e na eternidade.

Mas se o castigo necessário dos pecados que cometemos for no tempo reservado para o outro mundo, a punição caberá à justiça vingadora de Deus, que leva tudo a fogo e sangue! Castigo espantoso, horrendo, inefável, incompreensível: 'Quem conhece o poder de tua cólera?' (Sl 89, 2). Castigo sem misericórdia, sem piedade, sem alívio, sem méritos, sem limite e sem fim. Sim, sem fim: esse pecado mortal de um momento que cometestes; esse pensamento mau e voluntário, que escapou ao vosso conhecimento, essa palavra que o vento levou; essa açãozinha contra a lei de Deus que durou tão pouco, será punida eternamente, enquanto Deus for Deus, com os demônios no inferno, sem que o Deus das vinganças tenha piedade de vossos soluços e de vossas lágrimas, capazes de fender as pedras! Sofrer para sempre sem mérito, sem misericórdia e sem fim!

Será que pensamos nisto, queridos irmãos e irmãs, quando sofremos alguma pena neste mundo? Como somos felizes de poder trocar tão vantajosamente uma pena eterna e infrutífera por outra, passageira e meritória, carregando nossa cruz com paciência! Quantas dívidas temos a pagar! Quantos pecados temos, cuja expiação, mesmo após amarga contrição e confissão sincera, será preciso que soframos no purgatório durante séculos inteiros, porque nos contentamos, neste mundo, de penitências leves demais! 

Ah! Paguemos neste mundo de forma amigável, levando bem a nossa cruz! Tudo deverá ser pago rigorosamente no outro, até o último centavo, mesmo uma palavra ociosa. 'No dia do castigo deveremos dar conta de toda palavra ociosa que houvermos dito' (Mt 12, 36). Se pudéssemos arrebatar ao demônio o livro de morte, onde anotou todos os nossos pecados e a pena que lhes corresponde, que grande debet [débito] verificaríamos, e como nos sentiríamos encantados de sofrer durante anos inteiros neste mundo, para não sofrer um só dia no outro!

(Excertos da 'Carta aos Amigos da Cruz', de São Luís Maria Grignion de Montfort)

segunda-feira, 22 de abril de 2019

COMPÊNDIO DE SÃO JOSÉ (IX)


41. A fuga para o Egito significa dizer que a Sagrada Família viveu em terra estrangeira? 

Mateus é genérico ao referir este acontecimento, pois apenas diz que o Anjo ordenou a José: 'Toma sua mãe e o Menino e foge para o Egito…' (Mt 2,13). Portanto, José poderia ter chegado apenas na fronteira do Egito ao sul de Gaza, fora do domínio de Herodes. São diversas as localidades que disputam a honra de ter recebido a família de José; dentre estas, destacamos Heliópolis, um lugarejo distante 100 km do Cairo. Também Cairo, que se lembra na Igreja de Abu Sargha construída, segundo a tradição, no lugar onde morava a Sagrada Família, assim como outras localidades disputam o mesmo privilégio. O importante é saber que a Providência Divina os destinou a um lugar seguro, provavelmente um dos bairros hebreus, próximo à fronteira. Existem muitas lendas a respeito da viagem da Sagrada Família pelo deserto até o Egito e durante a sua permanência lá, todas atribuídas aos apócrifos, portanto desprovidas de autenticidade e, portanto, não verídicas. No Egito, vivendo com toda probabilidade entre os seus compatriotas, José não deve ter encontrado dificuldade para instalar-se e trabalhar, mesmo porque as colônias judaicas no Egito naquele tempo formavam uma associação estruturada, onde havia ajuda recíproca entre todos. 

42. Quanto tempo a Sagrada Família viveu no exílio do Egito? 

Segundo uma das versões mais prováveis, dois anos após a matança dos inocentes, da qual Jesus escapou fugindo para o Egito, Herodes morreu e, logo em seguida José recebeu ordens do Anjo para voltar a Israel: 'Levanta-te, toma o menino e a mãe e retorna à terra de Israel…, avisado em sonho, retirou-se para as bandas da Galileia, indo morar numa cidade chamada Nazaré' (Mt 2,20-23). Portanto, o tempo da permanência no Egito foi aproximadamente de dois anos. Em Nazaré, depois de todas estas vicissitudes, José voltou à sua vida normal com Jesus e Maria, no exercício de sua profissão de carpinteiro. 

43. Como a Sagrada Família transcorria os seus dias em Nazaré? 

A casa de Nazaré tornava-se então o palco privilegiado da presença de Jesus, José e Maria. José, com suas mãos habilidosas, tirava o sustento para sua família de seu trabalho; o pequeno Jesus, nos joelhos de Maria sua mãe, recebia todo amor natural e os ensinamentos de sua vida exemplar que santificava a vida familiar no dia-a-dia. Na simplicidade e na pobreza, esta santa família transcorria uma vida normal aos olhos dos outros. Jesus, porém 'crescia robusto e cheio de sabedoria…' (Lc 2,40). Como qualquer outra criança, Jesus irá aos poucos conhecendo o ambiente e aprendendo com José a arte da carpintaria. Frequentará a sinagoga, ouvindo com atenção a Palavra Sagrada. Instruído por seus pais, irá aprendendo a história de seu povo e conhecendo os textos sagrados. 

44. Enquanto Jesus 'crescia robusto e cheio de sabedoria' sendo submisso aos seus pais, qual foi a característica do exercício da paternidade de José? 

Os sentimentos de José com respeito a Jesus foram expressões puras e genuínas de um amor autenticamente paterno. Ele exerceu a sua função de pai convivendo com Jesus, abraçando-o, nutrindo-o e educando-o com um paterno afeto. Ele teve para com Jesus, como afirma o Papa Pio IX: 'todo o amor natural, toda a afetuosa solicitude, que um coração de pai possa conhecer'. Jesus foi verdadeiramente amado, não sentiu o sofrimento psicológico de falta de afeto. José era consciente de sua missão de pai; por isso toda a sua vida foi vivida a serviço de Jesus. 'Ele colocou', nas palavras de Paulo VI, 'à disposição dos desígnios de Deus, a sua liberdade, a sua legítima vocação humana, a sua felicidade conjugal, aceitando da família a condição, a responsabilidade e o peso, renunciando, por um incomparável virgíneo amor, ao natural amor conjugal que a constitui e a alimenta para oferecer, com sacrifício total, toda a sua existência às imponderáveis exigências da vinda do Messias'. 

45. Podemos ponderar como foi o amor de José por Jesus? 

Escolhido por Deus para esta sublime missão de representá-lo aqui na terra, perante o seu Filho Unigênito, José exercitou a sua autoridade de modo exemplar, pois o próprio Deus tinha encontrado nele alguém segundo o seu coração, confiando-lhe com plena segurança o mais misterioso segredo de seu coração. Por isso, o seu amor paternal foi sem reservas, foi um amor traduzido em generosidade, em sacrifício e em serviço incondicional para Jesus.

('100 Questões sobre a Teologia de São José', do Pe. José Antonio Bertolin, adaptado)

domingo, 21 de abril de 2019

BÊNÇÃO URBI ET ORBI - PÁSCOA 2019

Sacada Central da Basílica Vaticana
Domingo, 21 de abril de 2019

1. Imagens Iniciais

2. Mensagem Urbi et Orbi - Páscoa 2019 (6:20 - 15:25)

3. Concessão da Indulgência Plenária (15:55 - 16:33)

4. Bênção Urbi et Orbi (16:46 - 18:03)

5. Imagens Finais

PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO

Páginas do Evangelho - Domingo da Páscoa


Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos! A mão direita do Senhor fez maravilhas, a mão direita do Senhor me levantou. Não morrerei, mas, ao contrário, viverei para cantar as grandes obras do Senhor! Aleluia! Aleluia! Aleluia!

Eis o grande dia do Senhor, em que a vida venceu a morte, a luz iluminou as trevas, a glória de Deus se impôs aos valores do mundo. Jesus veio para fazer novas todas as coisas, abrir o caminho para o Céu, eternizar a glória de Deus na alma humana. Cristo Ressuscitado é a razão suprema de nossa fé, penhor maior de nossa esperança, causa de nossa alegria, plenitude do amor humano. Como filhos da redenção de Cristo, cantamos jubilosos a Páscoa da Ressurreição: 'Tende confiança! Eu venci o mundo' (Jo 16, 33).

O Triunfo de Cristo é o nosso triunfo pois o o Homem Novo tomou o lugar do homem do pecado. Mortos para o mundo, tornamo-nos herdeiros da ressurreição da nova vida em Deus: 'Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. Pois vós morrestes, e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus (Cl 3, 1-3).

Entremos com Pedro no sepulcro agora vazio de Jesus: 'Viu as faixas de linho deitadas no chão e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte' (Jo 20, 6 -7). Este sepulcro vazio é a morte do pecado, a vitória da vida sobre a morte: 'Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?' (1 Cor 15, 55). Jesus ressuscitou! Bendito é o Senhor dos Exércitos que, com a sua Ressurreição, derrotou o mundo e nos fez herdeiros do Céu! Este é o dia da alegria suprema, do triunfo da vida, do gáudio eterno dos justos. Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos! 

Hæc est dies quam fecit Dominus. Exultemus et lætemur in ea!

DOMINGO DA RESSURREIÇÃO

SOLENIDADE DA RESSURREIÇÃO DE NOSSO SENHOR

'Haec est dies quam fecit Dominus. Exultemus et laetemur in ea
— 
'Esse é o dia que o Senhor fez. Seja para nós dia de alegria e felicidade'
 (Sl 117, 24)

Cristo ressuscitou! Eis a Festa da Páscoa da Ressurreição, a data magna da cristandade. Por causa da ressurreição de Jesus, podemos ter fé e esperança, obter o perdão dos nossos pecados e a salvação de nossas almas. Com a ressurreição de Jesus, a morte foi vencida. E as Portas do Céu foram abertas para toda a eternidade.

'Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está o teu aguilhão?' 
(1 Cor 15, 55)

sábado, 20 de abril de 2019

SÁBADO SANTO

VIGÍLIA PASCAL

Estamos prostrados em silêncio diante o Santo Sepulcro. Hoje é o dia da bênção do Fogo Novo, do Círio Pascal, da renovação das nossas promessas do batismo. Cantamos o Exultet com Maria. Com Maria, Mãe de todas as vigílias, aguardamos, em súplice espera, a Ressurreição do Senhor.


Vamos nos juntar à devoção com que Maria, o discípulo amado, Maria Madalena e as santas mulheres recolheram, em seus braços, o corpo de Jesus descido da cruz por José de Arimateia e Nicodemos. Com que ternura e amor Maria considera todas as suas chagas, olha todo o seu corpo dilacerado, beija todas as suas feridas! E o discípulo amado, como se projeta sobre aquele peito em que havia repousado a cabeça na noite anterior! Como O beija e se acende de vontade de se enterrar naquele peito aberto! E Madalena, como abraça os sagrados pés, de quem recebera o perdão; como os lava com as suas lágrimas e os enxuga com os seus cabelos! Entremos nos piedosos sentimentos dessas almas santas.

PRIMEIRO PONTO - O QUE NOS ENSINA O ENTERRO DE NOSSO SENHOR

Este mistério nos ensina primeiro COMO DEVEMOS COMUNGAR. Depois que o adorável corpo foi deposto da cruz, Nicodemos trouxe cem libras de um perfume precioso, composto de mirra e aloés, para embalsamá-lo. José de Arimateia ofereceu-se para envolvê-lo em linho branco e para levar o corpo até um sepulcro novo, talhado na rocha, que ainda não tinha sido utilizado; depois, a entrada do túmulo foi fechada por uma pedra, ficando sob a guarda da autoridade pública e a custódia de soldados. 

QUANDO O CORPO DE NOSSO SENHOR CHEGA ATÉ NÓS NA SAGRADA COMUNHÃO, DEVEMOS TAMBÉM ENVOLVÊ-LO COM O PERFUME DAS SANTAS INTENÇÕES, COM O PERFUME DAS BOAS OBRAS, COM A APRESENTAÇÃO DE UM CORAÇÃO PURO DA INOCÊNCIA, FIGURADA NAQUELE LINHO SEM MANCHA; COM UMA RÍGIDA DETERMINAÇÃO DE FAZER O BEM TAL QUAL A PEDRA DO SEPULCRO; UMA CONSCIÊNCIA INTEIRAMENTE RENOVADA PELA PENITÊNCIA; E, DEPOIS DA COMUNHÃO, DEVEMOS CERRAR AS PORTAS DO NOSSO CORAÇÃO COM A PEDRA E O SELO DO NOSSO RECOLHIMENTO, FRENTE A MODÉSTIA, MESURAS E ATENÇÃO COM NÓS MESMOS, COMO GUARDAS VIGILANTES PARA IMPEDIR QUE NOS ARREBATEM O TESOURO PRECIOSO QUE ACABAMOS DE RECEBER.

É assim que fazemos? Este mistério nos ensina, em segundo lugar, AS TRÊS PREMISSAS QUE CONSTITUEM A MORTE ESPIRITUAL A QUE ESTÁ CHAMADO TODO CRISTÃO, segundo a doutrina do Apóstolo: 'tomai-vos por mortos, porque mortos estais e vossa vida está escondida com Cristo em Deus'. O primeiro dessas premissas é AMAR A VIDA OCULTA; estar como morto, em relação a todas as coisas que podem ser ditas ou pensadas sobre nós, não buscar nem ver o mundo, nem ser visto por ele. Jesus, na noite do seu sepultamento, dá-nos esta lição. Que o mundo nos esqueça e até nos possa pisar, pouco nos importa. Nós não devemos nos preocupar com isso, mais do que se importa um morto. A felicidade de uma alma cristã é se esconder em Jesus e em Deus. Nossa perversa natureza se compraz em deleitar-se, em querer ser louvado, amado, ser distinguido de reputação e amizades; não lhe façamos caso; quanto mais sensível e extremado sejamos ao apreço dos outros, mais indigno este se torna e maior é a nossa necessidade de privar-nos dele. Que se nos livre da reputação, para que em nada nos levem em conta, que nem pensem em nós, que nos olhem com horror. Faça-se, Senhor, Vossa Santa Vontade! 

A segunda premissa da morte espiritual é USAR OS BENS SENSÍVEIS POR NECESSIDADE, SEM DAR-LHES NENHUMA IMPORTÂNCIA; não nos deleitar com a preguiça nem com os prazeres da vida, nem os prazeres da gula, nem a satisfação da curiosidade que quer ver e saber de tudo; estar, em suma, como mortos para os prazeres dos sentidos. Nesta segunda premissa é preciso juntar O ABANDONO DE SI MESMO À DIVINA PROVIDÊNCIA, abandono que, tal como um cadáver, nos deixamos levar, sem argumentar e nem querer ou desejar qualquer coisa, indiferentes a todas as coisas e a todas as ocupações. Quando deixarei de me amar desordenadamente? Quando morrerei em mim para viver somente em Vós?

SEGUNDO PONTO - O QUE NOS ENSINA A DESCIDA DA ALMA DE JESUS AO LIMBO

Este mistério nos ensina, em primeiro lugar, O AMOR DE JESUS AOS HOMENS. Ao deixar o sagrado corpo, sua santa alma poderia ter-se apresentado diante de Deus para descansar ali todas as suas dores; mas o seu amor para os homens O inspirou a descer ao limbo para consolar os Patriarcas e anunciar-lhes que, dentro de quarenta dias, eles O iriam acompanhar ao paraíso. É assim, pois, que o amor de Jesus não tem repouso. Após sua morte, como em sua vida, fez todo o bem possível aos homens. Obrigado, ó Jesus, mil vezes obrigado por este esforço em nos fazer tanto bem. 

Este mistério nos ensina, em segundo lugar, O NOSSO AMOR A JESUS. À vista dessa santa alma, os justos retidos não podem conter o seu júbilo e entoam cânticos de louvor, gratidão e amor, e entregam todos os seus corações ao Deus libertador. Eis aí os nossos modelos: Por que teríamos menos gratidão e amor, uma vez que Jesus morreu por nós e por eles, porque nos ama como amou a eles e, como a eles, nos prometeu seu Paraíso ?

(Excertos da obra 'Meditações para todos os dias do ano para uso do clero e dos fieis', de Pe. Andrés Hamon, Tomo II).