quarta-feira, 19 de setembro de 2018

PALAVRAS DE SALVAÇÃO


Se soubéssemos claramente em que lugar Deus coloca cada um de nós, aceitaríamos tal decisão sem nunca nos colocarmos nem acima nem abaixo desse lugar. Mas, no nosso estado presente, os decretos de Deus estão envoltos em trevas e a sua vontade nos está oculta. Por isso, o mais seguro, de acordo com o conselho da própria Verdade, é escolhermos o último lugar, de onde nos tirarão depois com honra, para nos darem um melhor. Ao passarmos debaixo de uma porta muito baixa, podemos baixar-nos tanto quanto quisermos sem nada temer; mas, se nos levantarmos um dedo que seja acima da altura da porta, bateremos com a cabeça. É por isso que não devemos recear nenhuma humilhação, mas antes temer e reprimir o menor movimento de auto-suficiência.

Não vos compareis, nem com os que são maiores que vós, nem com os vossos inferiores, nem com quaisquer outros, nem sequer com um só. Que sabeis sobre eles? Imaginemos um homem que parece o mais vil e desprezível de todos, cuja vida infame nos horroriza. Pensais que o podeis desprezar, não só por comparação convosco mesmos, que aparentemente viveis em sobriedade, justiça e piedade, mas até por comparação com outros malfeitores, dizendo que ele é o pior de todos. Mas sabeis se ele não será um dia melhor que vós e se o não é já aos olhos do Senhor? Por isso é que Deus não quis que ocupássemos um lugar intermédio, nem o penúltimo, nem sequer um dos últimos, mas disse: 'Toma o último lugar', a fim de ficarmos verdadeiramente sós na última fila. Desse modo não pensareis, já não digo em preferir-vos, mas simplesmente em comparar-vos com quem quer que seja.
(São Bernardo)

terça-feira, 18 de setembro de 2018

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (XVII)

SEGUNDA SEÇÃO 

Estudo concreto dos meios que o homem deve empregar para voltar para Deus


DOS ATOS BONS E MAUS EM PARTICULAR - VIRTUDES TEOLOGAIS 

Quais são as mais nobres entre as virtudes e aquelas cujos atos têm maior transcendência? 
As teologais.

Por que? 
Porque, por meio delas, o homem se encaminha para o fim sobrenatural, na medida que pode e deve procurar realizá-lo neste mundo. 

Logo, sem as virtudes teologais, não pode o homem executar atos meritórios de prêmio sobrenatural? Não, Senhor. 

Quais e quantas são elas? 
Três: Fé, Esperança e Caridade. 

II 

DA NATUREZA DA FÉ — FÓRMULA E QUALIDADES DE SEUS ATOS — O CREDO PECADOS OPOSTOS À FÉ: INFIDELIDADE, HERESIA, APOSTASIA E BLASFÊMIA 

Que coisa é a fé? 
Uma virtude sobrenatural, por cujo influxo o entendimento adere irrestritamente e sem temor de errar a Deus, como fim e objeto da eterna bem-aventurança, e às verdades por Ele reveladas, ainda que as não compreenda (I, II, IV)*.

Como pode o entendimento admitir de modo tão absoluto verdades que não compreende? 
Baseando-se na autoridade de Deus que nem pode enganar-se, nem enganar-nos (I, 1). 

Por que Deus não pode enganar-se nem enganar-nos? 
Porque é a verdade por essência (I, 1; IV, 8). 

Como podemos certificar-nos de quais sejam as verdades reveladas por Deus? 
Mediante o testemunho daqueles a quem as revelou ou daqueles a quem confiou o depósito da revelação (I, 6-10). 

A quem as revelou? 
Primeiramente a Adão, no Paraíso; mais tarde, aos Profetas do Antigo Testamento; por último, aos Apóstolos no tempo de Jesus Cristo (I, 7). 

Como o sabemos? 
Pelas asserções bem comprovadas da história a que se referem o fato da revelação sobrenatural e os milagres realizados por Deus, em testemunho de sua autenticidade. 

É o milagre prova concludente da intervenção sobrenatural divina? 
Sim, Senhor; visto que é ato próprio de Deus e nenhuma criatura pode realizá-lo com seus próprios meios. 

Onde se acha escrita a história da revelação e de outras ações sobrenaturais de Deus? 
Na Sagrada Escritura, chamada também a Bíblia. 

Que entendeis por Sagrada Escritura? 
Uma coleção de livros divididos em dois Grupos, chamados Antigo e Novo Testamento. 

São talvez estes livros resumo e síntese de outros livros? 
Não, Senhor; porque os demais livros foram escritos pelos homens, e estes pelo próprio Deus. 

Que quer dizer 'que foram escritos pelo próprio Deus'? 
Que Deus é seu autor principal e que, para escrevê-los, utilizou, à maneira de instrumentos, alguns homens por Ele escolhidos. 

Logo, é divino o conteúdo dos livros sagrados? 
Atendendo ao primeiro autógrafo original dos Escritores Sagrados, sim, Senhor; as cópias o são na medida em que se conformem com o original.  

Logo, a leitura destes livros equivale a ouvir a palavra divina? 
Sim, Senhor. 

Podemos equivocar e torcer o sentido da divina palavra? 
Sim, Senhor; porque, se bem que na Sagrada Escritura há passagens claríssimas, também abundam as difíceis e obscuras. 

Donde provém a dificuldade de entender a palavra divina? 
Em primeiro lugar, dos mistérios que encerra, visto que não raro enuncia verdades superiores ao alcance das inteligências criadas, e que somente Deus pode compreender; provém além disso da dificuldade que existe em interpretar livros antiquíssimos, escritos primeiramente para povos que tinham idioma e costumes muito diferentes dos nossos; finalmente, dos equívocos que tenham podido escapar tanto nas cópias como nos originais, como nas traduções feitas por elas e em suas cópias. 

Há alguém que esteja seguro de não se equivocar ao interpretar o sentido da palavra de Deus consignada na Bíblia Sagrada? 
Sim, Senhor; o Pontífice Romano e com ele a Igreja Católica, no magistério universal (I, 10). 

Por que? 
Porque Deus quis que fossem infalíveis. 

E por que o quis? 
Porque, se o não fossem, careceriam os homens de meios seguros para alcançar o fim sobrenatural para que estão chamados (Ibid). 

Por conseguinte, que entendemos quando se diz que o Papa e a Igreja são infalíveis em matéria de fé e costumes? 
Que quando enunciam e interpretam a palavra divina, não podem enganar-se nem enganarnos no referente ao que estamos obrigados a crer e a praticar para conseguirmos a bem aventurança eterna. 

Existe algum compêndio das verdades essenciais da fé? 
Sim, Senhor; o Credo ou Símbolo dos Apóstolos (1,6). Ei-lo aqui conforme o reza diariamente a Igreja: 'Creio em Deus Pai Todo Poderoso, Criador do Céu e da terra; e em Jesus Cristo seu único Filho, Nosso Senhor, o qual foi concebido do Espírito Santo; nasceu de Maria Virgem; padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu aos infernos; ao terceiro dia ressuscitou de entre os mortos; subiu aos céus e está sentado à mão direita de Deus Pai, Todo Poderoso; donde há de vir a julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja Católica, na Comunhão dos Santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na vida eterna. Amém'. 

É a recitação do Credo ou Símbolo dos Apóstolos o ato de fé por excelência? 
Sim, Senhor; e nunca devemos cessar de recomendar aos fiéis a sua prática diária. 

Podereis indicar-me alguma outra fórmula breve, exata e suficiente para praticar a virtude da fé sobrenatural? 
Sim, Senhor; eis aqui uma, em forma de súplica: 'Deus e Senhor meu; confiado em vossa divina palavra, creio tudo o que haveis revelado para que os homens, conhecendo-Vos, Vos glorifiquem na terra e gozem um dia de vossa presença no céu'. 

Quem pode fazer atos de fé? 
Somente os que possuem a correspondente virtude sobrenatural (IV, V). 

Logo, não podem fazê-los os infiéis? 
Não, Senhor; porque não creem na Revelação, ou seja porque, ignorando-a, não se entregam confiadamente nas mãos de Deus, nem se submetem ao que deles exige ou porque, conhecendo-a, recusam prestar-lhe assentimento (X). 

Podem fazê-los os ímpios? 
Tampouco, porque, se bem que têm por certas as verdades reveladas, fundadas na absoluta veracidade divina, a sua fé não é efeito de acatamento e submissão a Deus, a quem detestam, ainda que com pesar próprio se vejam obrigados a confessá-lo (V, 2 ad 2). 

É possível que haja homens sem fé sobrenatural e que creiam desta forma? 
Sim, Senhor; e nisto imitam a fé dos demônios (V, 2). 

Podem crer os hereges com fé sobrenatural? 
Não, Senhor; porque, embora admitam algumas verdades reveladas, não fundam o assentimento na autoridade divina, senão no próprio juízo (V, 3). 

Logo, os hereges estão mais afastados da verdadeira fé que os ímpios e até dos próprios demônios? Sim, Senhor; porque não se apoiam na autoridade de Deus. 

Podem crer com fé sobrenatural os apóstatas? 
Não, Senhor; porque desprezam o que haviam crido por virtude da palavra divina (XII). 

Podem crer os pecadores com fé sobrenatural? 
Podem, contanto que conservem a fé como virtude sobrenatural; e podem tê-la, se bem que em estado imperfeito, ainda quando, por efeito do pecado mortal, estejam privados da caridade (IV, 1-4). 

Logo, nem todos os pecados mortais destroem a fé? 
Não, Senhor (X, 1, 4). 

Em que consiste o pecado contra a fé chamado infidelidade? 
Em recusar submeter o entendimento, por veneração e amor de Deus, às verdades sobrenaturalmente reveladas (X, 1-3). 

E, sempre que isto sucede, é por culpa do homem? 
Sim, Senhor; porque resiste à graça atual com que Deus o convida e impele a submeter-se (VI, 1, 2). 

Concede Deus esta graça atual a todos os homens? 
Com maior ou menor intensidade e em medida prefixada nos decretos de sua providência, sim, Senhor. 

É grande e muito estimável a mercê que Deus nos faz ao infundir-nos a virtude da fé? 
É em certo modo a maior de todas. 

Por que? 
Porque, sem a fé sobrenatural nada podemos intentar em ordem à nossa salvação, e estamos perpetuamente excluídos da glória, se Deus não se digna a nos concedê-la antes da morte (II, 5-8, IV, 7). 

Logo, quando se tem a dita de possuí-la, que pecado será, frequentar companhias, manter conversações ou dedicar-se a leituras capazes de fazê-la perder? 
Pecado gravíssimo, fazendo-o espontânea e conscientemente, e de qualquer modo ato reprovável, que sempre o é, expor-se a semelhante perigo. 

Logo, importa sobremaneira escolher com acerto as nossas amizades e leituras para encontrar nelas, não obstáculos mas estímulos para arraigar a fé? 
Sim, Senhor; e especialmente nesta época, em que o descontrole de expressão, chamado liberdade de imprensa, oferece tantas ocasiões e meios de perdê-la. 

Existe algum outro pecado contra a fé? 
Sim, Senhor; o pecado da blasfêmia (XIII). 

Por que a blasfêmia é pecado contra a fé? 
Por ser diretamente oposta ao ato exterior da fé que consiste em confessá-la por palavras, e a blasfêmia consiste em proferir palavras injuriosas contra Deus e seus Santos (XIII, 1). 

É sempre pecado grave a blasfêmia? 
Sim, Senhor (XIII, 2-3). 

O costume de proferi-las escusa ou atenua a sua gravidade? 
Em vez de atenuá-la, agrava-a, pois o costume demonstra que se deixou arraigar pelo mal, em lugar de dar-lhe remédio (XIII, 2 ad 3). 

referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular)

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

CRISTO SEM CRUZ


No mundo de hoje, quantos são os católicos de fachada que se multiplicam no meio da Igreja deturpada de seus valores eternos. E isso se deve, em larga medida, à premissa de que seria possível viver e praticar os ensinamentos de Cristo sem a Cruz. Cristo sem Cruz. A catolicidade, esvaída da dor e do sofrimento, transformada em uma religião adocicada de católicos convertidos pelos chamamentos e prazeres estéreis do mundo. 

Cristo sem Cruz permite assumir estandartes e palavras de ordem de quaisquer seitas e doutrinas, ainda que formalmente contrárias aos ditames da autêntica fé cristã. Cristo sem Cruz é joeirar no terreno árido do sentimentalismo e das vicissitudes humanas; é proclamar a turbidez como virtude nas fontes cristalinas da graça;  é fomentar todo tipo de erva e de joio como frutos saudáveis das Santas Vinhas do Senhor. Cristo sem Cruz é viver o heroísmo da fé cristã com a fidelidade e a perseverança de um espantalho.

Sem a Cruz, torna-se fácil ao homem buscar um arremedo de fé nos apelos de um mundo indiferente a Deus, arraigado às frivolidades e comodismos de uma vida vazia. O ecumenismo passa a ser assimilado como causa de tolerância universal. Aceitar as distorções, os abusos, as aberrações, a iniquidade delirante é um atestado de sensibilidade e de sensatez. Mas ai de quem se opõe e se manifesta com veemência contra o domínio do mal: é atacado, ridicularizado, incriminado e perseguido de todas as formas possíveis. Porque a indiferença para com Deus por si só já não basta e é insuficiente, é preciso brandir, cada vez mais e com mais audácia e vigor, a espada do inconformismo contra a ideia de Deus, é preciso blasfemar contra o sagrado, é preciso impor ao mundo inteiro a negação de Deus, a morte de Deus. Enquanto isso tudo não é a realidade de todos, é preciso idolatrar o Cristo sem a Cruz.

Sem a Cruz, o homossexualismo passa a ser tratado com filial condescendência, o aborto é defendido como causa feminista, a eutanásia é uma opção admissível, a promiscuidade torna-se um libelo sexual do livre arbítrio, a iniquidade é aceita impassivelmente nos labirintos do respeito humano como uma personagem a mais nos domínios da graça. Sem a Cruz, basta aos homens serem homens; a ordem moral torna-se um mero pressuposto da razão incendida de questionamentos; a pequenez da alma se defronta com uma certeza: o relativismo do pecado, de todo e qualquer pecado. 

Sem a Cruz, Deus tem dimensões de um grande Anjo da Guarda, que nos indulta sempre de todos os nossos erros e pecados, posto que é infinitamente bom para nos condenar, posto que é infinitamente misericordioso para não nos salvar. Sem a Cruz, a justiça divina não existe, a ira divina não existe, não existe o inferno. A vida ordeira e cotidiana constitui, independentemente das almas ressequidas e duras, uma seara branda, amena e segura nos caminhos da eternidade com Deus. Assim, sempre que nos impacta a presença da morte que porventura se lamenta, vislumbra-se de pronto a certeza tenebrosa de que a alma libertada já pranteia jubilosa as delícias do Céu. Quanta insensatez e loucura!  

Sem a aceitação da dor e do sofrimento, sem as provações das injustiças e das falsas acusações, sem os percalços e dificuldades da vida em família e na sociedade, sem a Cruz de Cristo, não há salvação porque não existe merecimento, não há vida eterna para quem não perdeu a sua vida pelo amor ao Evangelho e porque ninguém - ninguém mesmo - pode entrar nos Céus sem carregar nos ombros a sua própria cruz, tesouro da glória emanado da Cruz de Cristo.

Sob a Cruz de Cristo, são forjadas convicções e não crenças fortuitas. Não há lugar para relativismos e concessões à iniquidade. No bom combate, os soldados de Cristo dão a sua vida em defesa da fé cristã e não se subordinam à covardia das almas tíbias e mornas, das almas insossas e adocicadas de católicos de fachada e de porão! Porque os que creem verdadeiramente vivem na crença confiante e definitiva das palavras do Senhor: 'quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, vai salvá-la' (Mc 8, 35). Na Cruz de Cristo, resplandece toda a glória dos Filhos da Luz.
(texto do autor do blog)

domingo, 16 de setembro de 2018

'E VÓS, QUEM DIZEIS QUE EU SOU?'

Páginas do Evangelho - Vigésimo Quarto Domingo do Tempo Comum


Num dado dia, na 'região da Cesareia de Felipe' (Mc 8, 27), Jesus revelou a seus discípulos a sua própria identidade divina e o legado da Cruz. Neste tesouro das grandes revelações divinas, o apóstolo Pedro será exposto a duas manifestações bastante distintas, fruto das próprias contradições humanas: num primeiro momento, dá um testemunho extraordinário de fé; num segundo momento, entretanto, é incapaz de entender a dimensão salvífica dAquele que acabara de saudar como o Messias Prometido.

Nesta ocasião, as mensagens e as pregações públicas de Jesus estavam consolidadas; os milagres e os poderes sobrenaturais do Senhor eram de conhecimento generalizado no mundo hebraico; multidões acorriam para ver e ouvir o Mestre, dominados pela falsa expectativa de encontrar um personagem mítico e um Messias dominador do mundo. Então, Jesus indaga aos seus discípulos: 'Quem dizem os homens que eu sou?' (Mc 8, 28) e, logo em seguida, 'E vós, quem dizeis que eu sou?' (Mc 8, 29). Se os homens do mundo O tomam por João Batista, por Elias ou por um dos antigos profetas, a resposta de Pedro é um primado de confissão de fé, transcrita pelo mais sintético dos evangelistas:  'Tu és o Messias' (Mc 7, 32). 

Jesus é o Cristo de Deus e o seu reino não é deste mundo. Ante a confissão de Pedro, Jesus revela a sua origem e a sua missão e faz o primeiro anúncio de sua Paixão, Morte e Ressurreição: 'o Filho do Homem devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei; devia ser morto, e ressuscitar depois de três dias' (Mc 8, 31). E, diante da incompreensão dos apóstolos expressa na repreensão pública de Pedro, dá o testemunho da cruz pela privação do mundo: 'Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois, quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, vai salvá-la' (Mc 8, 34 - 35).

Sim, Jesus Cristo é o Messias, o Filho de Deus Vivo: Deus feito homem na eternidade de Deus. Mas a missão salvífica de Jesus há de passar não por um triunfo de epopeias mundanas, mas por um tributo de Paixão, Morte e Ressurreição; não pelo manejo da espada ou por eventos feitos de glórias humanas, mas pela humildade, perseverança e um legado de Cruz. Eis aí o legado definitivo de Jesus aos homens de sempre: a Cruz de Cristo é o caminho da salvação e da vida eterna. Tomar esta cruz, não apenas hoje ou em momentos específicos de grandes sofrimentos em nossas vidas, mas sim, todos os dias, a cada passo, em cada caminho, é a certeza de encontrá-lo na glória e da plenitude das bem-aventuranças. A Cruz de Cristo é a Porta do Céu.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

14 DE SETEMBRO - EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ


'Quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim' (Jo 12, 32)

A festa da Exaltação da Santa Cruz tem origem na descoberta do Sagrado Lenho por Santa Helena, mãe do imperador Constantino, e na dedicação de duas basílicas construídas por ele, uma no Calvário e outra no Santo Sepulcro, dedicação esta realizada no dia 14 de setembro do ano de 335. No ano de 629, a celebração tomou grande vulto com a restituição da Santa Cruz pelo imperador Heráclio, retomada dos persas que a haviam furtado. Levada às costas pelo próprio imperador, de Tiberíades até Jerusalém, a Santa Cruz foi entregue, então, ao Patriarca Zacarias de Jerusalém.


O imperador Constantino e sua mãe, Santa Helena, veneram a Santa Cruz 

Conta-se, então, que o imperador Heráclio, coberto de ornamentos de ouro e pedrarias, não conseguia passar com a cruz pela porta que conduzia até o Calvário; quanto mais se esforçava nesse sentido, mais parecia ficar retido no mesmo lugar. Zacarias, diante desse fato, ponderou ao imperador que a sua ornamentação luxuosa não refletia a humildade de Cristo. Despojado, então, da vestimenta, e com pés descalços, o imperador completou sem dificuldades o trajeto final, encimando no lugar próprio a Cruz no Calvário, de onde tinha sido retirada pelos persas.

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo converteu a Cruz de um objeto de infâmia e repulsa na glória maior da fé cristã. A Festa da Exaltação da Cruz celebra, portanto, o triunfo de Jesus Cristo sobre o mundo e a imprimação do Evangelho no coração de toda a humanidade.

SALVE CRUX SANCTA

Salve, crux sancta, salve mundi gloria,
vera spes nostra, vera ferens gaudia,
signum salutis, salus in periculis,
vitale lignum vitam portans omnium.

Te adorandam, te crucem vivificam,
in te redempti, dulce decus sæculi,
semper laudamus, semper tibi canimus,
per lignum servi, per te, lignum, liberi.

Originale crimen necans in cruce
nos a privatis Christe, munda maculis, 
humanitatem miseratus fragilem 
per crucem sanctam lapsis dona veniam.

Protege salva benedic sanctifica 
populum cunctum crucis per signaculum, 
morbos averte corporis et animae 
hoc contra signum nullum stet periculum.

Sit Deo Patri laus in cruce filii 
sit coequalis laus sancto spiritui, 
civibus summis gaudium et angelis 
honor sit mundo crucis exaltatio. Amen.