terça-feira, 29 de maio de 2018

A ALMA FRUSTRADA DO HOMEM MODERNO

O homem moderno não é mais uma unidade, mas um molho confuso de complexos e nervos. Acha-se tão desassociado, tão alienado de si mesmo, que se vê menos como uma personalidade do que como um campo de batalha, onde uma guerra civil se trava raivosa entre mil e uma antagônicas lealdades. Não há um propósito único, a todos os respeitos, em sua vida. Sua alma pode ser comparada a uma jaula na qual numerosas feras, cada qual buscando a sua própria presa, combatem umas com as outras. Pode ser ainda comparado a um rádio ligado para várias estações. Em vez de ouvir alguma delas claramente, recebe apenas uma estática intolerável.

Se a alma frustrada é educada, possui um verniz de desconexos pedaços de informação, sem a filosofia que os unifique. Por isso a alma frustrada pode dizer a si mesma: 'Penso às vezes que há dois egos em mim: uma alma viva e um doutor em filosofia'. Tal homem projeta sua própria confusão mental no mundo exterior e conclui que, visto não conhecer a verdade, ninguém pode conhecê-la. Seu próprio ceticismo (que ele torna universal como filosofia da vida) o repele cada vez mais para aquelas forças que rastejam nas escuras e úmidas cavernas de seu inconsciente. 

Muda sua filosofia, como muda de roupa. Na segunda-feira, assenta os trilhos do materialismo; na terça, lê um livro afamado, arranca os velhos trilhos e assenta os novos de um idealista; na quarta, sua nova estrada é comunista; na quinta, os novos trilhos do liberalismo são colocados; na sexta, ouve uma irradiação e decide viajar sobre trilhos freudianos; no sábado, toma uma demorada bebida para esquecer sua viagem e, no domingo, fica a matutar na tolice do povo em ir à igreja. Cada dia tem ele novo ídolo, cada semana, novo capricho. Sua autoridade é a opinião pública. Quando esta muda, sua frustrada alma muda com ela. Não há ideal fixo, grande paixão, mas apenas uma fria indiferença pelo resto do mundo. Vivendo num estado contínuo de referência a si próprio, os egos de sua conversa se repetem com crescente frequência, ao achar que todos os seus semelhantes se tornam cada vez mais enfadonhos por insistirem em falar a respeito de si mesmos, em vez de falar a respeito dele.

Isolamento do próximo - esta característica revela-se não só pelas duas guerras mundiais, num espaço de vinte e um anos, e pela constante ameaça de uma terceira; não só pelo aumento do conflito de classes e do egoísmo no qual cada homem procura apenas a sua satisfação; mas também pela quebra do homem com a tradição e a herança acumulada dos séculos. A revolta da criança moderna contra seus pais é uma miniatura da revolta do mundo moderno contra a memória de 2000 anos de cultura cristã e das grandes culturas hebraica, grega e romana que os precederam. 

Qualquer respeito por essa tradição é chamado de 'reacionário', dando em resultado haver-se a alma moderna transformado em uma mentalidade comentadora que julga o ontem pelo hoje e o hoje pelo amanhã. Nada é mais trágico para um indivíduo que foi sábio outrora, do que perder sua memória e nada é mais trágico para uma civilização do que a perda de sua tradição. A alma moderna, que não pode viver consigo mesma, não pode viver com seus semelhantes. Um homem, que não está em paz consigo mesmo, não estará em paz com seu irmão. As guerras mundiais não passam de sinais macrocósmicos das guerras psíquicas que se travam no íntimo das turvas almas microcósmicas. Se já não houvesse batalhas em milhões de corações, nenhuma haveria nos campos de batalha do mundo.

Numa alma alienada de si mesma, logo a desordem se segue. Uma alma que mantém uma luta dentro de si mesma, em breve manterá luta fora de si mesma contra outras. Uma vez que um homem deixa de ser prestativo ao seu vizinho, começa a tornar-se uma carga para este. Basta um passo, de recusar a viver com os outros, para recusar a viver para os outros. Quando Adão pecou, acusou Eva, e quando Caim assassinou Abel, fez a pergunta antissocial: 'Serei o guardião de meu irmão?' (Gn 4,9.) Quando Pedro pecou, saiu sozinho e chorou amargamente. O pecado de orgulho de Babel terminou em uma confusão de línguas que tornou impossível a manutenção da convivência.

Nosso ódio pessoal de nós mesmos sempre se torna ódio ao próximo. Talvez seja esta uma das razões da atração básica do comunismo, com sua filosofia da luta de classes. O comunismo possui especial afinidade pelas almas que já têm uma luta travada dentro de si mesmas. Associada a este conflito íntimo, existe uma tendência a tornar-se hipercrítico: as almas infelizes quase sempre censuram os outros, que não a si mesmas, por suas misérias. Fechadas dentro de si mesmas, estão necessariamente fechadas para os outros, exceto para criticá-los. 

Desde que a essência do pecado é a oposição à vontade de Deus, segue-se que o pecado de um indivíduo é forçado a opor-se a qualquer outro indivíduo, cuja vontade esteja em harmonia com a vontade de Deus. O afastamento do próximo que daí resulta é intensificado, quando se começa a viver só para este mundo. Então os bens do vizinho são olhados como algo que foi injustamente arrebatado da gente. Uma vez que o material se torna o alvo da vida, nasce uma sociedade de conflitos. Como disse Shelley: 'O acúmulo de matéria da vida externa excedeu a quantidade de força para assimilá-la às leis internas de nossa natureza'.

A matéria divide, assim como o espírito une. Divida uma maçã em quatro partes e sempre haverá possibilidade de uma questão para saber a quem deve caber a parte maior. Mas se quatro homens aprendem uma oração, nenhum deles priva o outro de possuí-la, tornando-se a oração a base de sua unidade. Quando o objetivo de uma civilização consiste, não na união com o Pai Celestial, mas na aquisição de coisas materiais, há um aumento nas potencialidades da inveja, da cobiça e da guerra. Divididos, os homens procuram então um ditador que os ajunte, não na unidade do amor, mas na falsa unidade dos três pês – poder, polícia e política.

(Excertos da obra 'A paz da Alma' do venerável Fulton Sheen)

segunda-feira, 28 de maio de 2018

CATEQUESES SOBRE O BATISMO (IV)


Catequeses Mistagógicas ('de Formação') para Recém-Batizados

(São Cirilo de Jerusalém)

Quarta Catequese: Presença Real de Cristo na Eucaristia

1. Este ensinamento do bem-aventurado Paulo foi estabelecido como suficiente para vos assegurar acerca dos divinos mistérios, dos quais tendo sido julgados dignos, vos tornastes concorpóreos e consanguíneos com Cristo. O próprio Paulo proclama precisamente: 'Na noite em que foi entregue, Nosso Senhor Jesus Cristo, tomando o pão e depois de ter dado graças, partiu-o e o deu a seus discípulos, dizendo: Tomai, comei, isto é o meu corpo. E tomando o cálice e tendo dado graças, disse: Tomai, bebei, isto é o meu sangue' (Mt 26,26).

2. Se ele em pessoa declarou e disse do pão: 'Isto é o meu corpo', quem se atreveria a duvidar doravante? E quando ele afirma categoricamente e diz: 'Isto é o meu sangue', quem duvidaria dizendo não ser seu sangue? Outrora, em Caná da Galileia, por própria autoridade, transformou a água em vinho. Não será digno de fé quando transforma o vinho em sangue? Convidado às bodas corporais, realizou, este milagre maravilhoso. Aos companheiros do esposo não se concederá, com muito mais razão, a alegria de desfrutar do seu corpo e sangue?

3. Portanto, com toda certeza recebemo-los como corpo e sangue de Cristo. Em forma de pão te é dado o corpo e, em forma de vinho, o sangue, para que te tornes, tomando o corpo e o sangue de Cristo, concorpóreo e consanguíneo com Cristo. Assim nos tornamos portadores de Cristo (cristóforos), sendo nossos membros penetrados por seu corpo e sangue. Desse modo, como diz o bem-aventurado Pedro, 'tornamo-nos participes da natureza divina'.

4. Falando, outrora, aos judeus Cristo dizia: 'Se não comerdes minha carne e não beberdes meu sangue, não tereis a vida em vós' (Jo 6,53). Como não entendessem espiritualmente o que era dito, escandalizados, se retiraram, imaginando que o Salvador os incitava a comer carne humana.

5. Também no Antigo Testamento havia pães de proposição. Mas esses pães, por pertencerem à antiga aliança, tiveram fim. Na nova aliança o pão celeste e o cálice de salvação santificam a alma e o corpo. Pois, como o pão se adequa ao corpo, assim o Verbo se harmoniza com a alma.

6. Não consideres, portanto, o pão e o vinho como simples elementos. São, conforme a afirmação do Mestre, corpo e sangue. Se os sentidos isto te sugerem, a fé te confirma. Não julgues o que se propõe segundo o gosto, mas pela fé tem firme certeza de que foste julgado digno do corpo e sangue de Cristo.

7. O bem-aventurado Davi te anuncia a força [deste mistério] dizendo: 'Preparaste para mim a mesa à vista de meus inimigos' (Sl 22, 5). Com isso ele quer dizer: Antes de tua vinda os demônios preparavam para os homens uma mesa contaminada e manchada, cheia de poder diabólico. Mas depois de tua vinda, ó Senhor, tu preparaste diante de mim uma mesa. Quando o homem diz a Deus: Tu preparaste diante de mim uma mesa, que outra coisa quer ele insinuar, senão a mística e espiritual mesa, que Deus nos preparou em oposição ao adversário, isto é, em oposição ao demônio? Sim, é isso mesmo. Pois a primeira mesa tinha comunhão com os demônios, essa, ao contrário, comunhão com Deus. 'Ungiste de óleo minha cabeça' (Sl 23, 5). Com o óleo te ungiu a cabeça, sobre a fronte, pelo sinal que tens de Deus, a fim de que te tornes assinalado santo de Deus. 'E teu cálice inebria-me como o melhor' (Sl 23,5). Vês aqui mencionado o cálice que Jesus tomou em suas mãos e sobre o qual rendeu graças dizendo: 'Este é o meu sangue, que é derramado por todos, em remissão dos pecados' (Mc 14,24-25).

8. Por isso também Salomão, aludindo a essa graça, disse: 'Vem, come teu pão na alegria' (Ec 9,7), o pão espiritual. Vem designa o apelo salutar e que faz bem-aventurado. 'E bebe, de bom coração, teu vinho' (Ec 9,7), o vinho espiritual. Derrama o óleo sobre tua cabeça (vês aqui mais uma alusão à unção mística?) Traja sempre vestes brancas, já que Deus sempre favorece as tuas obras (Ec 9,8). Pois agora Deus se agradou de tuas obras. Antes de te aproximares da graça eram tuas obras vaidade das vaidades. Todavia agora, tendo despido as velhas vestes e revestido espiritualmente a veste branca, é necessário estar sempre vestido de branco. Não dizemos isso absolutamente porque é preciso estar trajado de branco, mas porque deves, em realidade, revestir a veste branca, brilhante e espiritual, a fim de dizeres como o bem-aventurado Isaías: 'Com grande alegria me rejubilei no Senhor, porque me fez revestir a vestimenta da salvação e me cobriu com a túnica da alegria' (Is 61,10).

9. Tendo aprendido e estando seguro de que o que parece pão não é pão, ainda que pareça pelo gosto, mas o corpo de Cristo, e o que parece vinho não é vinho, mesmo que o gosto o queira, mas o sangue de Cristo e porque sobre isto dizia vibrando Davi: 'O pão fortalece o coração do homem, para que no óleo se regozije o semblante' (Sl 104,15) fortalece o teu coração, tomando este pão como espiritual e regozije-se o semblante de tua alma. Oxalá, tendo a face descoberta, em consciência pura, contempleis a glória do Senhor, para ir de glória em glória, em Cristo Jesus Senhor Nosso, a quem a glória pelos séculos dos séculos. Amém.

('Quarta Catequese Mistagógica aos Recém-iluminados', de São Cirilo de Jerusalém, século IV)

A REALIDADE OU A MERA INSANIDADE?


Falta combustível
falta gás
faltam frutas e verduras
começa a faltar carne
e vai faltar pão.

Deus nunca há de nos faltar.
Mas o que falta mesmo 
e parece que vai faltar sempre 
é a vergonha...

domingo, 27 de maio de 2018

ABERRAÇÕES LITÚRGICAS (IX)

'Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!' (Mt 18,7)


No domingo passado - domingo de Pentecostes - o padre João Batista de Almeida, Reitor do Santuário Nacional de Aparecida, celebrou no Santuário uma missa especial (mais uma daquelas 'missas especiais') e dirigida a uma 'romaria' organizada pelo Partido dos Trabalhadores, em favor da libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O que já seria um escárnio ao rito litúrgico, tornou-se um escândalo público. Durante as orações pela comunidade, um leitor fez a seguinte intenção explícita: 'Pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para que Nossa Senhora Aparecida o abençoe e dê muitas forças e se faça a verdadeira justiça para que o quanto antes ele possa estar entre nós, construindo com o nosso povo um projeto de país que semeie a justiça e a fraternidade, rezemos ao senhor...'. E os 'crentes' fervorosos da 'romaria' organizada pelo Partido dos Trabalhadores, de camisetas vermelhas estampando a imagem de Lula (e vermelha é a cor da liturgia de Pentecostes), entre palmas e aclamações, responderam em uníssono: 'Envia o teu espírito, Senhor, e renova a face da terra'. Um Pentecostes aviltado; uma conclamação blasfema ao Espírito Santo. Tristes tempos, pobres padres, falsa Igreja de Cristo.

Que os responsáveis pelo Santuário de Aparecida não se preocupem em pedir perdão 'pela dor que geraram à Mãe Igreja, aos fiéis e às pessoas de boa vontade', como fizeram em nota formal. Que se preocupem (e muito!) pelas suas pobres almas e em prestar contas ao Pai por um pecado de escândalo público, notório, e sacrílego. Porque ai do homem por quem vier o escândalo; ai do sacerdote que profana a Santa Missa com marolinhas ideológicas, ai do religioso que invoca a Santa Mãe de Deus para prover de bênçãos lobos em pele de ovelhas, ai da Igreja que se verga servilmente às estultices deste mundo. 

P.S.: Muitas vezes lamentamos o abuso e os desvios litúrgicos da Santa Missa cometidos por alguns padres e esquecemos daquelas que são celebradas por sacerdotes dedicados e no rigor litúrgico devido. Que Deus os ilumine sempre! E que Jesus e Maria nos possam legar sempre sacerdotes bons e fieis ao Evangelho, Sagradas Eucaristias e Santas Missas!  

GLÓRIA AO PAI, AO FILHO E AO ESPÍRITO SANTO

Páginas do Evangelho - Domingo da Festa Litúrgica da Santíssima Trindade


O mistério da Santíssima Trindade é um mistério de conhecimento e de amor. Pois, desde toda a eternidade, o Pai, conhecendo-se a Si mesmo com conhecimento infinito de sua essência divina, por amor gera o Filho, Segunda Pessoa da Trindade Santa. E esse elo de amor infinito que une Pai e Filho num mistério insondável à natureza humana se manifesta pela ação do Espírito Santo, que é o amor de Deus por si mesmo. Trindade Una, Três Pessoas em um só Deus.

Mistério dado ao homem pelas revelações do próprio Jesus, posto que não seria capaz de percepção e compreensão apenas pela razão natural, uma vez inacessível à inteligência humana: 'Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo' (Mt 28, 18 - 20). Mistério também revelado em sua extraordinária natureza, em outras palavras de Cristo nos Evangelhos: 'Em verdade, em verdade vos digo: O Filho não pode de si mesmo fazer coisa alguma, mas somente o que vir fazer o Pai; porque tudo o que fizer o Pai, o faz igualmente o Filho. Porque o Pai ama o Filho, e mostra-lhe tudo o que ele faz' (Jo 5, 19-20) ou ainda 'Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece o Filho senão o Pai; nem alguém conhece o Pai senão o Filho' (Mt 11, 27). 

Nosso Senhor Jesus Cristo é o Verbo de Deus feito homem, sob duas naturezas: a natureza divina e a natureza humana: 'Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele' (Jo 3, 16 - 17). Enquanto homem, Jesus teve as três potências da alma humana: inteligência, vontade e sensibilidade; enquanto Deus, Jesus foi consubstancial ao Pai, possuindo inteligência e vontade divinas.

'Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo'. Glórias sejam dadas à Santíssima Trindade: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Neste domingo da Santíssima Trindade, a Igreja exalta e ratifica aos cristãos o  maior dos mistérios de Deus, proclamado e revelado aos homens: O Pai está todo inteiro no Filho, todo inteiro no Espírito Santo; o Filho está todo inteiro no Pai, todo inteiro no Espírito Santo; o Espírito Santo está todo inteiro no Pai, todo inteiro no Filho (Conselho de Florença, 1442).

sábado, 26 de maio de 2018

sexta-feira, 25 de maio de 2018

QUARENTENÁRIO DA SANTIDADE


(Quarenta chamadas ou instruções para se alcançar a santidade)

O conhecimento de Deus

1. Quando nos é dito que Jesus é seu Filho bem-amado, o Pai nos revela sua Vida; e quando nós cremos nesta revelação, nós participamos do conhecimento do próprio Deus (Cristo em Seus Mistérios, 1919, p.504)

A adoção filial

2. O Santo, o mais elevado nos céus é aquele que, aqui em baixo, foi mais perfeitamente criança de Deus, que fez frutificar abundantemente nele a graça de sua adoção sobrenatural em Jesus Cristo (Cristo em Seus Mistérios, 1919, p.375)

3. É para todas as crianças a adoção, para todos aqueles que são os irmãos de Jesus pela graça santificante, que o Espírito Santo foi dado. E porque este dom é divino e contêm todos os dons mais preciosos de vida e de santidade, sua efusão em nós é 'uma fonte de alegria que preenche o mundo inteiro' (Cristo em Seus Mistérios, 1919, p.574)

4. Seremos santos se formos 'crianças de Deus' e se vivermos como verdadeiras 'crianças' do Pai Celeste, dignas de nossa adoção sobrenatural (Cristo em Seus Mistérios, 1919, p.60)

O Espírito forma Jesus em nós 

5. Pela sua ação infinitamente delicada e soberanamente eficaz, o Espírito Santo forma Jesus em nós (Cristo em Seus Mistérios, 1919, p.575)

A humanidade de Jesus

6. Quando assistimos com espírito de fé a esta cena deliciosa de Betânia, sentimos em nossos corações que Jesus é verdadeiramente um de nós. Deus vivo por nós, em nós, conosco (Cristo em Seus Mistérios, 1919, p.492)

A humanidade de Jesus como uma Via

7. A Santa Humanidade de Jesus é a 'Via'. Sua potência para nos unir ao Verbo é infinita. Sejamos santos para a sua glória (Um Mestre da Vida Espiritual, Thibaut*, 1932, p.372)

A união do Cristo e a Fé

8. Quando se tem uma fé viva no Cristo, não se tem medo nem das dificuldades, nem das contradições, porque se sabe que o Cristo habita em nós pela fé e que nos apoiamos sobre Ele (O Cristo, Ideal do Monge, 1922, p.707)

A imitação do Cristo

9. A Vida espiritual consiste, sobretudo, em contemplar o Cristo para reproduzir em nós seu estado de Filho de Deus e suas Virtudes (O Cristo, Vida da Alma, 1917, p.85)

10. O Cristo é mais que um modelo, mais que um pontífice que nos obteve a graça de imitá-lO; é aquele que, por seu Espírito, age no íntimo da alma para nos ajudar a imitá-lo (O Cristo, Vida da Alma, 1917, p.85)

11. O Cristo é o modelo perfeito de nossa santidade. Deus encontra nEle todas as suas delícias. Ele as encontra em nós segundo o grau de nossa semelhança com Jesus (A união com Deus, Thibaut*, 1938, p.42)

O discípulo, outro Cristo: morto e ressuscitado

12. Tornar-se discípulo de Jesus na fonte sagrada, por um ato que simbolize sua morte e sua ressurreição: devemos reproduzir esta morte e esta ressurreição durante os dias que temos de passar aqui embaixo (O Cristo, Vida da Alma, 1917, p.158)

A união ao Cristo pela Eucaristia

13. É o sonho da alma de ser um com Aquele que ela ama. A comunhão, na qual a alma recebe o Cristo, realiza este sonho, transformando pouco a pouco a alma no Cristo (O Cristo, Vida da Alma, 1917, p.249)

14. Se o quisermos, a mudança admirável ainda continua, pois é também por Sua Humanidade que na Mesa Santa, o Cristo nos infunde a Vida divina. É comendo sua Carne e bebendo seu Sangue, nos unindo à Sua Humanidade, que chegamos à própria fonte da Vida eterna (Cristo em Seus Mistérios, 1919, p.429)

A Eucaristia compartilhada e o próximo

15. Quando comungamos, devemos sempre estar prontos a abraçar numa mesma caridade o Cristo e tudo é a Ele unido; pois a medida da doação do Cristo às nossas almas é aquela de nossa própria doação aos nossos irmãos (Cristo, Ideal do Monge, 1922, p.961)

16. Não tenho medo de dizer que uma alma que se entrega sobrenaturalmente, sem reservas, ao Cristo na pessoa do próximo, ama muito o Cristo e é por Ele infinitamente amada; ela fará grandes progressos na união com Nosso Senhor (Cristo, Vida da Alma, 1917, p.306)

17. O Cristo se tornou próximo, ou melhor, nosso próximo; é o Cristo que se apresenta a nós sob tal ou tal forma (O Cristo, Vida da Alma, 1917, p.304)

O amor

18. A Via mais certa, a mais curta, a mais luminosa, a mais doce também, é a Via do Amor. Mas, para andar nesta Via, é necessária uma coerência muito grande (A União com Deus, Thibaut*, 1938, p.20-21)

19. O amor é o que mede, em última instância, o valor de todos os nossos atos, mesmo os mais ordinários (Cristo, Ideal do Monge, 1922, p.737)

20. Tudo aquilo que Deus faz por nós tem o amor como motivação. O amor está no fundo da criação e de todos os mistérios da Redenção (Cristo, Ideal do Monge, 1922, p.931)

21. Nosso amor deve ser sobrenatural; a Verdadeira caridade é o amor de Deus que inclui num mesmo abraço, Deus e tudo o que está unido a Ele (Cristo, Vida da Alma, 1917, p.309)

22. Se entregar ao próximo, ou melhor, se entregar ao Cristo na pessoa de seus membros, é a Verdadeira prova de amor (A União com Deus, Thibaut*, 1938, p.256)

A espiritualidade beneditina e o Evangelho

23. A espiritualidade de São Bento procede diretamente do Evangelho; é isto que dá a ela este selo de grandeza e de simplicidade, de força e de suavidade que a caracteriza acima de tudo (Cristo, Ideal do Monge, 1922, p.725)

A Lectio Divina e o Evangelho

24. O conhecimento de Jesus e de seus estados se apoiam no Evangelho. Feliz a alma que se abre a cada dia! Ela bebe da própria fonte das águas vivas (Cristo em Seus Mistérios, 1919, p.352-353)

A oração

25. A oração é como uma expressão de nossa vida íntima de ‘crianças’ de Deus, o fruto de nossa filiação divina no Cristo, desenvolvimento espontâneo dos dons do Espírito Santo (Cristo, Vida da Alma, 1917, p.282)

26. Quando a graça e o amor ocupam toda nossa Vida, toda a nossa existência é como um hino perpétuo à glória do Pai celeste (Cristo, Vida da Alma, 1917, p.222)

A humildade

27. A humildade é a confissão prática e contínua de nossa miséria, e esta confissão atrai a atenção de Deus (Cristo, Vida da Alma, 1917, p.799)

28. A verdadeira humildade não nega os dons de Deus; ela os utiliza, mas ela os devolve com toda a glória Àquele que os cedeu (Cristo, Ideal do Monge, 1922, p.818)

O perdão, a pobreza, a fraqueza

29. Quanto mais nos empobrecemos, mais as riquezas inefáveis do Cristo encontram seu lugar em nós. Nossa miséria conhecida e confessada atrai generosidade (A União com Deus, Thibaut*, 1938, p.156)

30. Nada desarma a justiça de Deus a nosso respeito como a misericórdia que temos pelos outros (A União com Deus, Thibaut*, 1938, p.182)

31. Somos miseráveis e nossas misérias unidas àquelas de Jesus gritam ao nosso Pai celeste (A União com Deus, Thibaut*, 1938, p.111).

32. Adoro pensar após a comunhão que o Verbo eterno que está ‘no seio do Pai’ está igualmente em mim ‘no seio de um pecador’. Tal pensamento desencadeia em mim adoração e ação de graças (Um Mestre da Vida Espiritual, Thibaut*, 1932, p.412)

A santidade

33. Ninguém pode dizer: a santidade não é para mim. O que pode torná-la impossível? Deus a deseja para nós (Cristo, Ideal do Monge, 1922, p.617)

34. Para nós é uma ambição legítima tender com todas as nossas forças na busca por esta glória que Deus colocou em nossa santidade (Cristo em Seus Mistérios, 1919, p.608)

Maria

35. Maria participa de alguma forma, na autoridade do Pai eterno sobre a humanidade de ser Filho. Jesus poderia dizer de Sua Mãe o que ele disse de seu Pai dos Céus: 'Cumpro sempre o que Lhe agrada' (Cristo, Vida da Alma, 1917, p.317).

36. Vejo hoje que Maria foi perfeita em sua fé sublime aos pés da Cruz. Oh! Que Ela nos obtenha esta graça, símbolo de uma fé perfeita, mesmo na nudez da provação! (Um Mestre da Vida Espiritual, Thibaut*, 1932, p.397)

37. Devemos ser como Jesus 'Filhos de Deus' e 'Filhos de Maria'. Se nós queremos reproduzir sua imagem em nós, devemos ter esta dupla qualidade (Cristo, Vida da Alma, 1917, p.313)

38. Que pediremos nós a Maria? Senão, antes de tudo e acima de tudo, que Ela forme Jesus em nós, nos comunicando sua fé e o seu amor? (Cristo, Vida da Alma, 1917, p.324)

39. Os que não conhecem a Virgem, os que não a tem pela Mãe de Jesus um amor verdadeiro, arriscam a não compreender frutuosamente os mistérios da humanidade do Cristo (Cristo em Seus Mistérios, 1919, p.444)

Consagração à Trindade Santa 

40. Ó Pai eterno, prostrados em humilde adoração aos vossos pés, nós consagramos todo nosso ser à glória de vosso Filho Jesus, o Verbo encarnado. Vós o constituístes Rei de nossas almas; submeta a Ele nossas almas, nossos corações, nossos corpos, e que nada em nós não se mova sem a sua ordenação, sem sua inspiração. Que unidos a Ele, nós sejamos levados ao vosso Seio e consumidos na unidade de vosso Amor. 

Ó Jesus, nos una a vós na vossa vida toda santa, toda consagrada ao vosso Pai e às almas. Seja a nossa sabedoria, nossa justiça, nossa santificação, nossa Redenção, nosso tudo. Santificai-nos na verdade. Santo Espírito, Amor do Pai e do Filho, estabeleça-vos como uma fornalha de amor no centro de nossos corações e elevai sempre - como chamas ardentes - nossos pensamentos, nossas ações e nossas afeições, para o alto; até o interior do Seio do Pai. Que a nossa vida inteira seja uma Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Ó Maria, Mãe do Cristo, Mãe do Santo Amor, conformai-nos vós mesma segundo o coração de vosso Filho (Consagração de Dom Columba Marmion à Trindade Santa, em 25 de dezembro de 1908).

* Dom Raymond Thibault foi secretário de Dom Columba Marmion e reuniu os seus escritos, homilias e pregações em três obras: 'Cristo, Vida da Alma' (1917); 'Cristo em seus Mistérios' (1919) e 'Cristo, Ideal dos Monges' (1922). 'Um Mestre da Vida Espiritual' (1932) e 'A União com Deus' (1938) são obras de sua autoria sobre Marmion.

(Quarenta chamadas ou instruções para se alcançar a santidade, extraídas dos escritos do Beato Columba Marmion (1858 - 1923), abade irlandês do Mosteiro de Maredsous, na Bélgica e beatificado pelo papa João Paulo II em 3 de setembro de 2000)