segunda-feira, 26 de março de 2018

MEDITAÇÕES SOBRE A PAIXÃO DE JESUS (II)


 JESUS LEVA A CRUZ AO CALVÁRIO

1. Publicada a sentença contra nosso Salvador, apoderam-se imediatamente dele com fúria. Arrancam-lhe novamente aquele trapo de púrpura e o revestem com suas vestes, para ser crucificado sobre o Calvário, lugar destinado para a morte dos malfeitores. ‘Despiram-lhe a clâmide e o revestiram com suas vestes e o conduziram para ser crucificado’ (Mt 27, 31). Arranjam duas rudes traves, fazem com elas às pressas uma cruz e obrigam-no a carregá-la sobre os ombros até ao lugar de seu suplício. Que barbaridade impor nos ombros do réu o patíbulo sobre o qual deve morrer. Mas assim deve ser, ó meu Jesus, pois que vós tomastes sobre vós todos os meus pecados.

2. Jesus não recusa a cruz, abraça-a até com amor, sendo ela o altar destinado para a consumação do sacrifício de sua vida pela salvação dos homens. ‘E levando sua cruz às costas, saiu para aquele lugar que se chama Calvário’ (Jo 19, 17). Os condenados saem da casa de Pilatos e entre eles se acha também nosso divino Salvador. Ó espetáculo que causou admiração ao céu e à terra: ver o Filho de Deus que segue para morrer por esses mesmos homens que a ela o condenam. Eis realizada a profecia: ‘E eu sou como um cordeiro que é levado para ser sacrificado’ (Lm 11, 19). Jesus oferecia um aspecto tão lastimoso, que as mulheres judias, ao vê-lo, não puderam deixar de chorar: ‘E o choravam e lamentavam’ (Lc 23, 27). Meu caro Redentor, pelos merecimentos dessa viagem dolorosa, dai-me a força de levar com paciência a minha cruz. Eu aceito todas as dores e desprezos que me destinais a sofrer; vós os tornastes amáveis e doces, abraçando-os por vosso amor. Dai-me força de suportá-los com paciência.

3. Contempla, minha alma, o que se passa com o vosso Salvador; vê como de suas chagas ainda frescas escorre o sangue, como está coroado de espinhos e carregado com a cruz. A cada movimento, renovam-se as dores de todas as suas chagas. A cruz começa a atormentá-lo já antes do tempo, pisando seus ombros chagados e martelando-lhes os espinhos da coroa. Ó Deus, quantas dores a cada passo. Consideremos também os sentimentos de amor com que Jesus vai subindo o Calvário, onde o espera a morte. Ó meu Jesus, vós ides morrer por nós. Eu vos voltei as costas no passado e quereria morrer de dor: mas no futuro não sou capaz de abandonar-vos mais, meu Redentor, meu Deus, meu amor, meu tudo. Ó Maria, minha Mãe, alcançai-me a graça de levar a minha cruz com toda a paz.

('A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo', de Santo Afonso Maria de Ligório)

MEDITAÇÕES SOBRE A PAIXÃO DE JESUS (I)


JESUS É CONDENADO POR PILATOS

1. Pilatos, depois de haver tantas vezes declarado a inocência de Jesus, mais uma vez a proclama, protestando ser ele inocente do sangue daquele justo (Mt 27, 24), e contudo pronunciou a sentença e o condenou à morte. Ó injustiça nunca vista no mundo! Ao mesmo tempo que o juiz declara inocente o acusado, ele o condena. Ah, meu Jesus, vós não mereceis a morte, mas eu a mereço. Visto, porém, que quereis satisfazer por mim, não é Pilatos, mas é o vosso próprio Pai que vos condena a pagar a pena a mim devida. Eu vos amo, ó Pai eterno, que condenais vosso Filho inocente para livrar-me a mim que sou réu. Eu vos amo, ó Filho eterno, que aceitais a morte devida a um pecador.

2. Pilatos, tendo condenado a Jesus, o entrega às mãos dos judeus, para que façam com ele o que desejavam: ‘Entregou Jesus ao arbítrio deles’ (Lc 23, 25). É de fato o que acontece: quando se condena um inocente, não se limita a pena, mas é ele abandonado às mãos dos inimigos, para que o façam padecer e morrer como lhes aprouver. Pobres judeus, vós então pedistes o castigo, dizendo: ‘Seu sangue caia sobre nós e nossos filhos’ (Mt 27, 25). E o castigo já veio! Desgraçados, sofreis e haveis de sofrer até ao fim do mundo o castigo desse sangue inocente. Ó meu Jesus, tende piedade de mim, que com minhas culpas também motivei a vossa morte. Não quero ficar obstinado como os judeus, quero chorar os maus tratos que vos dei e amar-vos sempre, sempre, sempre.

3. Eis que se lê diante do Senhor a injusta sentença, condenando-o à morte da cruz. Ele a ouve, e, inteiramente submisso à vontade do Pai, obediente a aceita com toda a humildade: ‘Humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até à morte e morte de cruz’ (Fl 2, 8). Pilatos na terra diz: 'Morra Jesus!' E o eterno Pai no céu diz também: 'Morra o meu Filho'. E o Filho responde por sua vez: 'Eis-me aqui; eu obedeço e aceito a morte e a morte da cruz'. Meu amado Redentor, vós aceitais a morte que me é devida. Seja bendita a vossa misericórdia para sempre: eu vos agradeço sumamente. Mas visto que vós, inocente, aceitais a morte da cruz por mim, eu, pecador, aceito a morte que me destinardes com todos os sofrimentos que a acompanharem e desde já a uno à vossa morte e a ofereço ao vosso eterno Pai. Vós morrestes por meu amor e eu quero morrer por amor de vós. Pelos merecimentos de vossa santa morte, fazei-me morrer na vossa graça e abrasado no vosso santo amor. Maria, minha esperança, recordai-vos de mim.

('A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo', de Santo Afonso Maria de Ligório)

INDULGÊNCIAS PLENÁRIAS DA SEMANA SANTA


No riquíssimo acervo das indulgências concedidas pela Santa Igreja, concessões diversas são dadas aos fieis por ocasião do Tríduo Pascal (Quinta-feira Santa, Sexta-feira Santa e Vigília Pascal) para a obtenção de indulgências plenárias, desde que atendidas as demais condições habituais*:

Quinta-Feira Santa

· Recitação ou canto do hino eucarístico 'Tantum Ergo' durante a solene adoração ao Santíssimo Sacramento que se segue à Missa da Ceia do Senhor;

· Visita e adoração ao Santíssimo Sacramento pelo prazo de meia hora.

Sexta-Feira Santa

· Participação piedosa da Veneração da Cruz na solene celebração da Paixão do Senhor.

Sábado Santo  

· Recitação do Santo Rosário.

· Participação piedosa da celebração da Vigília Pascal, com renovação sincera das promessas do Batismo.

Domingo de Páscoa

· Participação devota e piedosa à benção dada pelo Sumo Pontífice a Roma e ao mundo (bênção Urbi et Orbi), ainda que por rádio ou televisão.


* Condições adicionais para obtenção de uma indulgência plenária:

1. Exclusão de todo afeto a qualquer pecado, inclusive venial.

2. Confissão Sacramental, Comunhão Eucarística e Oração pelas Intenções do Sumo Pontífice. 

(i) estas condições podem ser cumpridas uns dias antes ou depois da execução da obra enriquecida com a Indulgência Plenária, mas é da maior conveniência que a comunhão e a oração pelas intenções do Sumo Pontífice se realizem no mesmo dia em que se cumpre a obra.

(ii) a condição de orar pelas intenções do Sumo Pontífice é cumprida por meio da oração de um Pai Nosso, Ave-Maria e Glória ou uma outra oração segundo a piedosa devoção de cada um.

domingo, 25 de março de 2018

'HOSANA AO FILHO DE DAVI!'

Páginas do Evangelho - Domingo de Ramos


No Domingo de Ramos, tem início a Semana Santa da paixão, morte e ressurreição de Nosso senhor Jesus Cristo. Jesus entra na cidade de Jerusalém para celebrar a Páscoa judaica com os seus discípulos e é recebido como um rei, como o libertador do povo judeu da escravidão e da opressão do império romano. Mantos e ramos de oliveira dispostos no chão conformavam o tapete de honra por meio do qual o povo aclamava o Messias Prometido: 'Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito seja o reino que vem, o reino de nosso pai Davi! Hosana no mais alto dos céus!' (Mc 11, 9 - 10).

Jesus, montado em um jumento, passa e abençoa a multidão em polvorosa excitação. Ele conhece o coração humano e pode captar o frenesi e a euforia fácil destas pessoas como assomos de uma mobilização emotiva e superficial; por mais sinceras que sejam as manifestações espontâneas e favoráveis, falta-lhes a densidade dos propósitos e a plena compreensão do ministério salvífico de Cristo. Sim, eles querem e preconizam nEle o rei, o Ungido de Deus, movidos pelas fáceis tentações humanas de revanche, libertação, glória e poder. Mas Jesus, rei dos reis, veio para servir e não para reinar sobre impérios forjados pelos homens. '... meu reino não é deste mundo' (Jo 18, 36). Jesus vai passar no meio da multidão sob ovações e hosanas de aclamação festiva; Jesus vai ser levado sob o silêncio e o desprezo de tantos deles, uns poucos dias depois, para o cimo de uma cruz no Gólgota.

Neste Domingo de Ramos, o Evangelho evoca todas as cenas e acontecimentos que culminam no calvário de Nosso Senhor Jesus Cristo: os julgamentos de Pilatos e Herodes, a condenação de Jesus, a subida do calvário, a crucificação entre dois ladrões e a morte na cruz...'Eli, Eli, lamá sabactâni?' (Mt 27, 46). Na paixão e morte de cruz, Jesus revela seu amor desmedido pela criação do Pai e desnuda a perfídia, a ingratidão, a falsidade e a traição dos que se propõem a amar com um amor eivado pelos privilégios e concessões aos seus próprios interesses e vantagens. 

A fé é forjada no cadinho da perseverança e do despojamento; sem isso, toda crença é superficial e inócua e, ao sabor dos ventos, tende a se tornar em desvario. Dos hosanas de agora ao 'Seja crucificado!' (Mt 27, 22 - 23) de mais além, o desvario humano fez Deus morrer na cruz.  O mesmo desvario, o mesmo ultraje, a mesma loucura que se repete à exaustão, agora e mais além no mundo de hoje, quando, em hosanas ao pecado, uma imensa multidão, em frenesi descontrolado, crucifica Jesus de novo em seus corações! 

sábado, 24 de março de 2018

O MISTÉRIO DA CRUZ


Redenção, palavra forte, cujo sentido muitos ignoram!
Há vinte séculos é tão difícil medir-lhe a extensão quanto sondar-lhe a profundidade. Há um mistério de luz, nas trevas do Calvário. Há um resgate de vida, por trinta moedas de sangue...

Condenamos a traição de Judas, mas traímos a vocação cristã.
Maldizemos a fraqueza de Pilatos, mas, fugimos aos compromissos do batismo.

Quantas vezes, na vida diária, a descrença macula as intenções e o desespero arruína a esperança. Somos filhos de Deus pela graça, mas, seguimos a carne pelo sangue.
Ouvimos o apelo dos Céus, mas, voltamos os olhos para a terra.
No entanto, Senhor, a mensagem é a mesma: 'Se alguém quiser Me seguir, tome a sua cruz e Me acompanhe'!

Meu Deus, uns conhecem a cruz e rejeitam o seu peso, outros suportam o peso, mas, não querem carregar a cruz. Uns arrastam a cruz porque não podem fugir do Calvário; outros chegam ao Calvário, mas, se negam a morrer na cruz.
A cruz para ser árvore de vida há de ser plantada na morte. A seiva que lhe esgarça os ramos, só dá frutos quando nela morremos.
A cruz é qual sementinha do campo, que morre na terra para rebentar com vida. Senhor, pela redenção, nos legaste a Vossa Cruz! Os lábios que pregam essa 'loucura', exprimirão o que a fé nos ensina. A alma que sente esta verdade, deve saber por que o mundo sofre.

Senhor, não é doce o tufão quando varre as areias do deserto.
Não é doce o calor, quando mata a virulência dos gérmens.
Não é doce o bisturi quando rasga a podridão da matéria.
Não é doce uma cruz quando estamos pregados nela.

A cruz só é leve na vida, quando aceitamos o seu peso de morte.
Daí, a renúncia que se faz entrega e o amor que gera o sacrifício.
Daí, o heroísmo que sagra os fortes e a vitória que consagra os santos.

Somos, por natureza, esquivos ao sofrimento.
Tudo o que nos rouba a fonte do prazer é espinho dorido macerando a nossa carne.

Há, na cruz, um plano da Providência que jamais se esgota.
A cruz não se pesa pela soma de sofrimentos, mas, pela unção paciente das dores. Uma cruz pequenina pode ser mais custosa que um madeiro imenso. Uma cruz gigantesca pode ser mais leve que um bloco de granito.

Aceitar, com paciência, a cruz, é diminuir-lhe o peso. Fugir ao seu domínio, é ser esmagado por ela. Na ordem do Cristianismo, em matéria de cruz, tudo depende dos ombros que se curvam e dos braços que a carregam.

Senhor, quem decifrará o mistério da dor?
As almas feridas são extremamente sensíveis; buscam o alívio das dores e escondem a cicatriz das chagas; suplicam a doçura do bálsamo e se esquecem do amor de gratidão.

O mundo sofre porque não sabe viver.
O mundo morre porque não sabe sofrer.
Senhor, dá-nos a conhecer o valor do sofrimento para aproveitarmos dos méritos da Vossa Paixão.

(Excertos da obra 'Vozes do silêncio, meditações eucarísticas', do Pe. Isnard da Gama, 1956)

sexta-feira, 23 de março de 2018

MÃE DE MISERICÓRDIA

Maria Santíssima revelou à Santa Brígida: 'A Mãe, à vista do filho exposto ao fogo inimigo, põe tudo em obra para o tirar desse perigo. Assim faço e hei de fazer sempre para todos os pecadores que implorarem a minha misericórdia; assim para com todos os meus filhos, por maiores pecadores que sejam, conquanto recorram a mim para obterem o meu socorro. Sou a Rainha do Céu e a Mãe de Misericórdia, a Alegria dos Justos e a porta por onde penetram no céu os pecadores.

Dos pecadores mais afastados de Deus e possuídos pelo demônio, foge imediatamente o inimigo, logo que eles invocam em seu auxílio, com verdadeira vontade de emendar-se, os dois poderosíssimos nomes de Jesus e Maria. Não há na terra pecador tão empedernido, que invocando meu nome com a boa vontade de se converter, não force o demônio a fugir logo. Todos os demônios tremem diante do meu nome. Só ao ouvirem esta palavra - Maria - logo são forçados a largar a alma que já segurava em suas garras.

De quaisquer pecados que o homem seja culpado, se vem a mim com verdadeiro arrependimento, apresso-me sempre a recebê-lo. Não examino se está carregado de pecados, mas somente se com boa vontade se apresenta, então não desdenho tratar-lhe e curar-lhe as chagas: porque me proclamam, e realmente sou a Mãe de Misericórdia. Eu sou a porta aberta dos pecadores para irem a Deus. Eu sou a Mãe de todos os pecadores que se querem corrigir. Não há em todo o mundo um só homem assaz maldito por causa de seus pecados, que não tenha parte na minha misericórdia.

Enquanto não se está definitivamente condenado, nenhum homem está de tal sorte rejeitado por Deus, que não se possa realmente volver para Deus e obter dEle graça e misericórdia, desde que me chame em seu socorro. Infeliz aquele que, podendo neste mundo recorrer a mim, tão boa para com todos, tão desejosa de socorrer os pecadores, descurar de me implorar… Quando os meus servos estão por um triz da morte, então, eu que lhes sou a Rainha dileta e a eterna Mãe, acorro aos pés deles, a fim de que da minha mão recebam força e consolo'.

(Excertos da obra 'Coração de Mãe Cheio de Bondade', Servus Mariae, 1976)

INDULGÊNCIA PLENÁRIA DAS SEXTAS-FEIRAS DA QUARESMA


Indulgência Plenária: rezar com piedosa devoção a oração En ego, o bone et dulcissime Iesu (Eis-me aqui, ó bom e dulcíssimo Jesus!) nas sextas-feiras da Quaresma, diante de uma imagem de Jesus Crucificado e depois da comunhão.

Eis-me aqui, ó bom e dulcíssimo Jesus! De joelhos me prostro em vossa presença e vos suplico com todo o fervor de minha alma que vos digneis gravar no meu coração os mais vivos sentimentos de fé, esperança e caridade, verdadeiro arrependimento de meus pecados e firme propósito de emenda, enquanto vou considerando com vivo afeto e dor as vossas cinco chagas, tendo diante dos olhos aquilo que o profeta Davi já nos fazia dizer, Ó bom Jesus: ‘Transpassaram minhas mãos e meus pés e contaram todos os meus ossos’.

(SI 21,17; cf. Missal Romano, ação de graças depois da missa)

É sempre importante lembrar que a indulgência não é o perdão dos pecados, mas a reparação das penas e danos devidos aos pecados. Para se obter a indulgência plenária é preciso:

1. ter uma disposição interior de afastamento total de todo o pecado, mesmo do pecado venial;
2. ter feito confissão recente;
3. receber a Sagrada Comunhão;
4. rezar pelas orações do Santo Padre e da Santa Igreja (orações livres, mas que a Santa Sé recomenda fazer na forma de um 'Pai Nosso' e de uma 'Ave Maria').