domingo, 18 de fevereiro de 2018

18 DE FEVEREIRO - SANTA BERNADETTE SOUBIROUS


Bernadette Soubirous nasceu em Lourdes, região montanhosa dos Pirineus, a 7 de janeiro de 1844. Após as aparições de Nossa Senhora em Lourdes, Bernadette foi admitida na Comunidade de Filhas da Caridade de Nevers: em julho de 1866 começou seu noviciado e, em 22 de setembro de 1878, pronunciou seus votos. Faleceu no dia 16 de Abril de 1879, com a idade de 35 anos, após uma longa e dolorosa enfermidade. Trinta anos após sua morte, em 22 de setembro de 1909, seu corpo foi exumado e encontrado em perfeito estado de conservação. Alguns anos depois, em 13 de abril de 1925, pouco antes de sua beatificação, efetuada em 12 de junho de 1925, foi feito um segundo reconhecimento do corpo, que continuava intacto. 

Bernadette foi canonizada pelo Papa Pio XI em 8 de dezembro de 1933. Seu corpo incorrupto é mantido em uma urna de cristal desde 3 de agosto de 1925 e pode ser visitado ainda hoje na Igreja de Saint Gildard em Nevers. A festividade da santa se celebra no dia 16 de abril, data de sua morte. Na França (e no Brasil), é celebrada no dia 18 de fevereiro. A festa de Nossa Senhora de Lourdes é celebrada no dia de sua primeira aparição, 11 de fevereiro.

Santa Bernadette, rogai por nós!



sábado, 17 de fevereiro de 2018

AS CINCO PRÁTICAS DA QUARESMA


'Voltai para mim de todo o coração, fazendo jejuns, chorando e batendo no peito! Rasgai vossos corações, não as roupas!' (Jl 2, 12 -13)

Assim diz o Senhor, pela boca do profeta Joel: 'Voltai para mim de todo o coração'... com apelos de conversão e penitência! A Quaresma é para ser vivida no coração, mas não no nosso coração cotidiano, emotivo, superficial e vazio, submerso nas preocupações da vida e nas tribulações diárias de nossa rotina. Não, o nosso coração para Deus neste tempo de graças extremadas deve ser um coração quebrado, partido, rasgado, desfigurado... 'Rasgai os vossos corações'... somente assim, em corações rasgados para o mundo, flagelados pela contrição sincera, machucados pela dor do arrependimento, o Senhor pode entrar e habitar com alegria, porque são estes corações que se mais se assemelham ao Sagrado Coração de Jesus no Calvário.

'Voltai para mim de todo o coração'... neste tempo  de Quaresma, é esse o apaixonado apelo do Senhor: afastai-vos do mundo e dai-Me os vossos corações partidos, sofridos, amargurados e Eu farei habitar neles a minha Santa Alegria. Entregar nossos corações feridos e quebrados significa experimentarmos plenamente os frutos da mortificação, da contrição e da conversão sincera. E para isso, temos cinco práticas ou preceitos tradicionalmente vividos no tempo quaresmal: jejum e abstinência, esmola, silêncio, vigília e aumento do tempo dedicado à leitura orante da Bíblia (lectio divina). Estes são os meios que a Tradição da Igreja nos revela como experimentados e verdadeiramente eficazes para se entregar o coração - de todo o coração - à graça de Deus.

1. Jejum e Abstinência 

O jejum (a privação da alimentação) e a abstinência (não fazer uso de certos alimentos) constituem a primeira pancada para quebrar a crosta endurecida do nosso coração. Não implicam golpes de aríete (jejuns extraordinários, proezas desmedidas), mas tão somente uma série de pequenos impactos, contínuos e duradouros (condizente com o estado de saúde de cada um), que estimulem a nossa vulnerabilidade e fraqueza diante da fome, da sede ou da insaciedade, limitações e vazios que somente Deus nos pode prover. Ambos têm uma conotação essencialmente eucarística: 'Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome, e quem crê em mim nunca mais terá sede' (Jo 6, 35).

2. Esmola 

A esmola é a dádiva ao outro sem a imposição de recursos de favor ou gratidão. O fruto da esmola é a alegria espiritual, que rasga o nosso coração por dentro para abrir o coração do outro. E, assim, abrimos o coração a Cristo. A esmola rompe o escândalo do instinto do acúmulo, que nos leva a guardar para ninguém o que aos outros pertence. O supérfluo que entulha nossos armários e casas rouba que outro possa ter o necessário e é uma afronta à Providência Divina, pois o Senhor enche de bens os famintos e manda embora os ricos de mãos vazias (Lc 1, 53).

3. Silêncio 

O silêncio é a arma predileta de Deus para romper os corações mais endurecidos. Fique em silêncio, viva o silêncio no tempo quaresmal. O silêncio evita o pecado. Mais ainda, diante do teu silêncio, a Palavra de Deus vai romper as muralhas e chegar às masmorras mais escondidas do teu pobre coração porque 'a palavra de Deus é viva, eficaz e mais penetrante que qualquer espada de dois gumes. Penetra até dividir alma e espírito, articulações e medulas. Julga os pensamentos e as intenções do coração' (Hb 4, 12).

4. Vigília

A vigília é o seu tempo sozinho com Deus. O sacrifício do nosso tempo para Deus é uma oferta de todo o coração, que nos libera da escravidão de tanto tempo perdido em coisas sem sentido e fúteis. A vigília implode o nosso coração eivado de preocupações cotidianas e submerso na posse de um tempo que está sempre aquém do que precisamos. Somos possessivos do nosso tempo e, ainda assim, perdemos tempo o tempo todo. Uma vez livres da sofreguidão do nosso tempo e na presença de Deus, experimentamos na vigília ao Senhor, mais do que apenas um pouco de tempo, a doação da nossa própria vida.

5. Leitura Orante da Bíblia

É a prática que complementa todas as outras e, sem a qual, as outras não podem dar frutos. Sem a leitura orante da Bíblia, o jejum perde o sentido, a esmola fica sempre para depois, o silêncio nos inquieta e a vigília tende a ser pesada e desconfortável. A lectio divina é o fundamento de todas as outras formas de oração. Com ela, podemos percorrer com maior proveito o caminho da Cruz, adorar com santa alegria o Senhor no Santíssimo Sacramento e invocar Nossa Senhora como advogada e medianeira na nossa entrega a Deus de todo o coração. 

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

ORAÇÃO PELOS SACERDOTES

Ó meu Jesus amado, 
Eu vos ofereço a pobreza dos Vossos sacerdotes, para que se enriqueçam; 
os corações vazios dos Vossos sacerdotes, para que Vós os encheis do Vosso amor, 
a frieza dos Vossos sacerdotes, para que se tornem fornalhas ardentes.

Eu Vos ofereço a solidão dos Vossos sacerdotes, para que sejam abraçados; 
Eu Vos ofereço as dores dos Vossos sacerdotes, para que sejam consolados; 
Eu Vos ofereço as doenças dos Vossos sacerdotes, para que sejam curados.

Eu Vos ofereço as impurezas dos Vossos sacerdotes, para que fiquem limpos; 
Eu Vos ofereço a nudez dos Vossos sacerdotes, para que sejam revestidos por Vós; 
Eu Vos ofereço a surdez dos Vossos sacerdotes, para que possam ouvir a Vossa Voz.

Eu Vos ofereço as quedas dos Vossos sacerdotes, para que sejam levantados; 
Eu Vos ofereço as vaidades dos Vossos sacerdotes, para que sejam crucificados Convosco;
Eu Vos ofereço a pequenez dos Vossos sacerdotes, para que se tornem santos.

Eu Vos ofereço a escuridão dos Vossos sacerdotes, para que recebam a Vossa luz;
Eu Vos ofereço a amargura dos Vossos sacerdotes, para que aprendam a Vossa Doçura; 
Eu Vos ofereço as lutas dos Vossos sacerdotes, para que eles experimentem a Vossa Glória.

Eu Vos ofereço a cegueira dos Vossos sacerdotes, para que tenham a Plena Visão; 
Eu Vos ofereço o cansaço dos Vossos sacerdotes para que descansem no Vosso Coração; 
Eu Vos ofereço a sede dos Vossos sacerdotes, para que se saciem na Fonte da Água Viva.

Eu Vos ofereço os medos dos Vossos sacerdotes, para que armem de toda a confiança; 
Eu Vos ofereço as dúvidas dos Vossos sacerdotes, para que sejam fortalecidos na fé; 
Eu Vos ofereço o desânimo dos Vossos sacerdotes, para que sejam infundidos de esperança.

Eu Vos ofereço a tristeza dos Vossos sacerdotes, que que sejais para eles a Santa Alegria; 
Eu Vos ofereço todos os Vossos sacerdotes, especialmente aqueles que estão em sua última agonia, aqueles que estão trancados em combate espiritual e aqueles que estão tentados a pecar contra a fé e contra a esperança, para que sejam perseverantes até o fim; 
Eu Vos ofereço a morte dos Vossos sacerdotes, para que sejam Vossos Filhos muito amados por toda a eternidade; 
Eu Vos ofereço todos os sacerdotes, particularmente aqueles para quem a Vossa Presença no Santíssimo Sacramento tornou-se apenas uma questão de rotina, tibieza e indiferença, para que sejam cobertos pela Vossa Infinita Misericórdia.

Jesus, Jesus Amado, tende misericórdia dos Vossos sacerdotes obscurecidos na tibieza, na frialdade dos corações vazios, reféns das seduções do mundo, da letargia da carne e das tentações do demônio, tomai-os para Vós como propriedade Vossa e não permitis que se percam estes Vossos Filhos que para Vós criastes com tanto amor.

(Tradução livre pelo autor do blog da oração 'Praying for Priests', publicada originalmente no blog Vultus Christi)

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

QUARTA DE CINZAS


Memento, homo, quia pulvis es, et in pulverem reverteris

'Lembra-te, homem, que és pó e ao pó retornarás!' (Gn 3,19). A Quarta-Feira de Cinzas é o primeiro dia do tempo da Quaresma, quarenta dias antes da Páscoa. Neste dia por excelência refletimos sobre a nossa condição mortal nesta vida e a eternidade de nossas almas na vida futura. Num tempo em que se valoriza tanto a dimensão física, a beleza do corpo, a imposição das cinzas nos desvela a dura realidade do nosso corpo mortal: apenas pó que há de se consumir em cinzas.

Esse dia dá início, portanto,  a um tempo de profunda meditação sobre a nossa condição humana diante da grandeza e misericórdia de Deus. Tempo para fazer da nossa absurda fragilidade, sustentáculos da verdade e da fé; tempo para fazer de nossa pequenez e miséria, um templo de oração e um arcabouço de graças; tempo para transformar a argila pálida de nossos feitos e conquistas, em patamares seguros para a glória de Deus. Um tempo de oração, jejum e caridade. Um tempo de oração, desagravo, conversão, reparação. E um tempo de penitência, penitência, penitência...

A penitência é traduzida por atos de mortificação, seja na caridade silenciosa de um pequeno gesto, seja na determinação silenciosa de um pequeno 'não!' Pequenos gestos: uma visita a um amigo doente, uma palavra de conforto a quem padece ausências, um bom dia ainda nunca ofertado; ou um pequeno 'não': à abstinência de carne ou refrigerante ou ao fumo; abrir mão de ter sempre a última resposta ou para aquela hora a mais de sono; simplesmente dizer não a um livro, a uma música, a uma revista, a um programa de televisão. 

Propague o silêncio, sirva-se da modéstia; invista no anonimato, não se ensoberbeça, pratique a tolerância, estanque a frivolidade, consuma-se na obediência. Lembra-te que és pó e todas as tuas ações, aspirações e pensamentos vão reverberar em ti as glórias de Deus.

Abre-se hoje o Tempo da Quaresma: 'convertei-vos e crede no Evangelho'. Pois é no Evangelho (Mt 6, 1-6.16-18) que Jesus nos dá os instrumentos para a realização de uma autêntica renovação interior: oração, jejum e caridade. Com estas três práticas fundamentais, o tempo de penitência da quaresma é convertido em caminho de santificação ao encontro de Jesus Ressuscitado que vem, na Festa da Páscoa.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

'É A VOSSA FACE, Ó SENHOR, QUE EU BUSCO'


'É a Vossa face, ó Senhor, que eu busco' (Sl 26,8)

Não seria este um belo propósito de viver a Quaresma deste ano de 2018: buscar, contemplar e adorar a Sagrada Face de Cristo? A Sagrada Face escondida e revelada nas Sagradas Escrituras, a Sagrada Face escondida e revelada na Santíssima Eucaristia, a Sagrada Face escondida e revelada na pessoa do nosso próximo; a Sagrada Face escondida e reveladora da agonia, paixão e morte do Senhor; a Sagrada Face escondida e reveladora da infinita glória de Deus? Que seja este o nosso firme propósito nesta Quaresma: buscar no outro e em todos a Sagrada Face de Cristo para sermos transformados verdadeiramente em Cristo: na face, no coração, e na nossa alma...

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

O PECADO DO ESCÂNDALO

(Cornelius a Lapide, 1597 - 1637)

O escândalo

O escândalo, diz Santo Tomás, é uma palavra ou uma ação que carece de retidão e que causa a ruína do próximo. O escandaloso é um homem pernicioso, diz a Escritura, que se insinua com palavras pérfidas, fomenta o mal em seu coração depravado e semeia a discórdia o tempo todo (Pv 3, 13-15). O escandaloso, diz São Efrém, perde a fé, cai nos vícios, despreza os sacramentos, zomba do inferno e nunca se ocupa das coisas de Deus (Sermão IV).

A gravidade do pecado do escândalo

Ai do mundo por causa de seus escândalos! Ai do homem que causa o escândalo!, diz Jesus Cristo (Mt 18,7). A Sagrada Escritura normalmente não fala nestes termos, exceto quando se trata de um pecado muito grave. Nosso Senhor Jesus Cristo referiu-se ao escândalo como um grande pecado, quando disse: 'se alguém fizer cair em pecado um destes pequenos que creem em mim, melhor fora que lhe atassem ao pescoço a mó de um moinho e o lançassem no fundo do mar' (Mt 18, 6).

Os homens maus, diz São Paulo, e os homens ímpios irão de mal a pior, errando e fazendo outros errar (II Tm 3,13). 'O escandaloso se prostituiu para fazer o mal', diz a Escritura (III Rs 21,20). 'Ele se vendeu para ser escravo do pecado', diz São Paulo (Rm 7,14). 'O escandaloso é, para os outros, um princípio de ruína; come e bebe a iniquidade e a devora... e alcança os últimos limites do mal', diz o profeta Malaquias (Ml 1, 4).

O escândalo é um pecado monstruoso contra Deus, contra o próximo e contra aquele que o comete; subtrai a glória de Deus, rouba a alma do próximo e fecha as portas do céu ao escandaloso. Crime tremendo; que crime pode ser maior do que matar uma alma? Crime diabólico portanto, porque o demônio foi homicida desde o princípio, diz Jesus Cristo (Jo 8,44). Crime contra o Espírito Santo porque ataca diretamente a caridade e o Espírito Santo é a própria caridade... crime essencialmente oposto à obra da Redenção. Jesus Cristo morreu para salvar as almas e as vidas escandalosas vivem para matá-las... 

O crime de escândalo é um pecado direto contra o próprio Jesus Cristo, como confirmado pelo apóstolo: 'pecando vós contra os irmãos e ferindo sua débil consciência, pecais contra Cristo' (I Cor 8,13). As palavras de São Paulo dirigidas ao mágico Elimas podem ser aplicadas aos escandalosos: 'Filho do demônio, cheio de todo engano e de toda astúcia, inimigo de toda justiça, não cessas de perverter os caminhos retos do Senhor!' (At 13, 10).

A perversão do escândalo

A respeito dos homens que induzem o escândalo, as Sagradas Escrituras fazem muitas referências, descrevendo-os como sendo a antiga serpente que seduz com promessas enganosas, como a serpente escondida na relva, como o leão que espreita a sua presa. 'Os escandalosos desvelam-se na capacidade para fazer o mal, para fazer a todos cair no mal', diz o profeta Isaías (Is 29,21). 'Eles se regozijam quando praticam o mal', dizem os provérbios, 'e tremem de alegria na iniquidade' (Pv 2,14). 'Sua única ocupação é levar o próximo à perdição' (Jr 4,4).

'O escandaloso', diz São Agostinho, 'tem vergonha da modéstia e se vangloria de que não a conhece'. 'Os escandalosos se perverteram', diz o salmista, 'e se entregam a pensamentos abomináveis' ​​(Sl 13, 1). 'O seu coração é um abismo de corrupção, cheio de vermes e de tudo o mais que haja de tão asqueroso' (Sl 53,26). São João Crisóstomo chama aos escandalosos de bestas ferozes e carnívoras. 

Os escandalosos são lobos - diz São Gregório - que não deixam de devorar diariamente, nem os corpos, mas as almas (Homil). 'Considere' - diz em outra ocasião São João Crisóstomo -  este [o escandaloso] como um novo Herodes, dedicado a promover horrores sobre horrores, homicídios sobre homicídios, precipitando-se furiosamente sobre todos os excessos e possuído por demônios, cheio de raiva, fúria e inveja, quebrando todas as regras e destilando toda a sua raiva contra inocentes' (Homil. in Math.).

'Aquilo que os hereges fazem com seu ensino adúltero' - diz São Bernardo - 'o escandaloso faz com os seus maus exemplos e o mal que eles fazem é maior que os estragos dos hereges, assim como as ações são superiores às palavras' (Lib.consid.). Que crime maior pode haver do que vir a perder uma alma feita à imagem de Deus, criada para uma ditosa imortalidade, e resgatada com o sangue de Jesus Cristo? ... é um sacrilégio horrível, que parece muito mais iníquo que o crime daqueles que puseram suas iníquas mãos sobre o Senhor de Majestade (Serm. de Convers. S. Pauli).

Os maus exemplos dos grandes, daqueles que são constituídos em autoridade, excitam e inflamam para o mal: fazem com que os demais se sintam no direito de praticar o mal também. Desgraçados aqueles que, elevados ao governo dos outros, dão escândalo! Os magistrados, os juízes, os pastores, os pais e as mães, os patrões e os superiores, os preceptores e as preceptoras, devem dar especialmente o bom exemplo, sob pena de responder pelas almas que lhes foram submetidas.

Os vários tipos do escândalo

1. Escândalo pelas palavras: assim como um vaso impuro expande um odor infecto, a alma corrompida manifesta com seus discursos a corrupção que contém, macula aqueles que ouvem os seus propósitos e os torna culpados e maus. 'Sua garganta', diz o salmista, 'é um sepulcro aberto' (Sl 5, 11) e 'sua língua é como uma flecha penetrante' (Sl 9,8).

2. Escândalo pelos olhos. Todas as paixões estão pintadas em seus olhos e eles se comunicam por este meio. Milhões de almas estão no inferno por causa de olhares pecaminosos, que foram para os outros motivo de queda.

3. Escândalo pelos escritos. Os livros imorais, tanto contra a religião como os bons costumes, as músicas profanas, os artigos irreligiosos, mentirosos e blasfemos, as peças e filmes obscenos, as pinturas vulgares, as estátuas indecentes, etc., são exemplos de deploráveis escândalos.

4. Escândalo de ações: expresso pelo mau exemplo dado com atos de impureza, embriaguez, raiva, vingança, etc.

5. Escândalo de omissão: orações descuidadas, sacramentos e ritos litúrgicos aplicados de forma negligenciada; escândalos de omissão, indiferença e de preguiça...

Evitar o escândalo e os homens do escândalo

'Não dê a ninguém qualquer motivo de escândalo', diz o grande apóstolo (II Cr 6,3). 'Que nenhum discurso maligno saia da sua boca, mas senão aquilo que seja bom para aumentar a fé e dar graça ou inspirar misericórdia aos ouvintes', diz o apóstolo (Ef 4,29). Devemos agir sem cessar para que todo o nosso comportamento seja para os outros um exemplo contínuo.

Um pouco de levedura faz fermentar toda a massa, diz São Paulo (I Cr 5,6). O ar empesteado ataca toda a multidão, uma enfermidade contagiosa propaga-se a todos; o escândalo é um odor mortífero, cujas emanações acercam-se de todos e muito longe. Como disse Jesus: 'Ai do mundo por causa dos escândalos! Eles são inevitáveis, mas ai do homem que os causa! Por isso, se tua mão ou teu pé te fazem cair em pecado, corta-os e lança-os longe de ti: é melhor para ti entrares na vida coxo ou manco que, tendo dois pés e duas mãos, seres lançado no fogo eterno. Se teu olho te leva ao pecado, arranca-o e lança-o longe de ti: é melhor para ti entrares na vida cego de um olho que seres jogado com teus dois olhos no fogo da geena' (Mt 18, 7-9). 

Por isso, afastai-vos de um amigo, vizinho ou de qualquer um que vos escandalize e ainda que estas pessoas vos fossem tão necessárias como as mãos, os pés ou os olhos, cortai, separai e arrancai-as de vós, rompendo toda afeição e qualquer laço de interação com elas. 'Feliz o homem', diz o salmista, 'que não se deixa levar pelos conselhos dos perversos, nem se detém no caminho dos pecadores' (Sl 1,1).

(Cornelius a Lapide, 'Comentário sobre a Sagrada Escritura', adaptação e tradução do autor do blog)

domingo, 11 de fevereiro de 2018

'EU QUERO, FICA CURADO!'

Páginas do Evangelho - Sexto Domingo do Tempo Comum


No tempo de Jesus, os leprosos eram tomados como homens ímpios e imundos; a terrível doença era a simples manifestação externa de pecados gravíssimos ocultos. A exclusão social os exilava em grupos fora das cidades; o temor e o desprezo dos homens acompanhavam as suas chagas visíveis e outras muito piores que não se revelavam fisicamente. As vestes imundas tentavam esconder a lepra do corpo, que devia ser proclamada, em altos brados, a todos os passantes: 'Impuro, impuro!' Um leproso, porém, ousou sobrepor a sua fé a todos os ditames e regulações extremas da lei vigente e vai ao encontro de Jesus e O interpela em súplica confiante: 'Se queres, tens o poder de curar-me' (Mc 1, 40).

Reconhecido de suas misérias e limitações, a fé daquele homem expressa-se em fluxos de humildade e resignação. Mas vai muito além disso; libertando-se das amarras de sua triste e perversa condição humana, manifesta publicamente a sua crença confiante na autoridade e na misericórdia de Jesus, não apenas para afastar os males, mas para fazer milagres para suprimi-los. Aquele homem crê profundamente que Jesus tem o poder divino de fazer a cura impensável e, nessa crença, modela uma das mais belas profissões de fé descritas nos Evangelhos: 'Se queres, tens o poder de curar-me' (Mc 1, 40).

Jesus, movido de compaixão, determinou prontamente: 'Eu quero: fica curado!' (Mc 1, 41). Jesus demonstra, assim, o poder extremado da graça em reação a uma oração fervorosa e confiante. Mas, a ação de Jesus vai além das primeiras aparências pois, ao tocar aquele homem, a lepra já havia desaparecido. Jesus não toca apenas um corpo livre das chagas e sequelas de uma doença repulsiva, mas a alma purificada de um homem livre da doença do pecado. As multidões que cercam Jesus buscam, em maior grau, os fatos que lhes sensibilizam os instintos. Mas a glória de Deus é manifestada ali muito além das coisas sensíveis. 

É o pecado que inocula uma lepra na alma e a priva da graça santificante, das virtudes e dos bens espirituais e, assim, a exclui, não por um tempo da sociedade dos homens, mas da herança eterna das bem aventuranças de Deus. É a cura da alma que nos deve forjar a ousadia da fé ao irmos ao encontro de Jesus pelos caminhos da vida. Que, a exemplo do leproso, a nossa fé possa superar, então, a barreira dos instintos e suplicar a Deus, mais do que tudo, a cura espiritual, para que sejamos homens limpos e santos na peregrinação dos eleitos à pátria celeste.