terça-feira, 2 de janeiro de 2018

VERSUS: ANO NOVO X ANO LITÚRGICO

03/12/2017


Neste dia, teve início um novo ano litúrgico da Santa Igreja com o Tempo do Advento, período que os cristãos são conclamados a viver em plenitude as graças da expectativa, da conversão e da esperança, à espera do Senhor Que Vem. A liturgia da Igreja Católica divide os anos em A, B e C, em função da referência da proclamação dos textos bíblicos sinóticos nas missas a cada um dos evangelistas: Mateus no ano A, Marcos no ano B e Lucas no ano C. O Ano Litúrgico 2017-2018 é o Ano B, no qual os exemplos e ensinamentos de Jesus Cristo são proclamados a cada domingo pelas leituras do Evangelho de São Marcos. A concepção católica do tempo tem dimensão passado-presente-futuro, tendo a eternidade como meta final e referência absoluta no advento e na ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Sagrada. 

‘Eu estarei convosco todos os dias até a consumação do mundo’ 
(Mt 28,20)

01/01/2018


Neste dia, teve início o ano civil de 2018. O Ano-Novo civil é a comemoração de um novo ano que se inicia, e que é celebrado na passagem de 31 de dezembro para o dia 1º de janeiro, passagem comumente denominada pelo termo francês 'reveillon', que significa 'despertar'. As comemorações invocam roupas brancas, comidas especiais, shows de fogos de artifícios. Muito barulho para ocupar quase sempre um enorme vazio espiritual. O conceito do tempo civil é cíclico, repetitivo, amparado na esperança de que um novo período anual será melhor que o precedente, perspectiva esta sempre imbuída das melhores promessas de renovação dos votos de paz, alegria, amor e fraternidade universal. Ainda assim, promessa de uma nova vida, quase automática, social, polida. Profana.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

GLÓRIAS DE MARIA: MÃE DE DEUS E RAINHA DA PAZ

La Pietà (1498-1499) - Michelangelo Buonarroti

No primeiro dia do Ano Novo, a Igreja exalta Maria como Mãe de Deus; o calendário dos santos é aberto com a solenidade da maternidade daquela que Deus escolheu para mãe do Verbo Encarnado. Trata-se da primeira festa mariana proposta pela Igreja Ocidental, moldada sob as palavras eternas de Isabel: 'Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre' (Lc 1,42). Todos os títulos e todas as grandezas de Maria dependem do dogma essencial de sua maternidade divina. Desde a Antiguidade, Maria é chamada 'Mãe de Deus', do grego 'Theotokos', título ratificado pelo Concílio de Éfeso, de 22 de junho de 431. Em 1968, o Papa Paulo VI dedicou o 1° dia do ano como Dia Mundial da Paz. Assim, Maria é louvada também neste dia como Rainha da Paz. 

São Cirilo de Alexandria (370-442), na homilia pronunciada no Concílio de Éfeso contra Nestório, que negava ser Maria Mãe de Deus:

'Contemplo esta assembléia de homens santos, alegres e exultantes que, convidados pela santa e sempre Virgem Maria e Mãe de Deus, prontamente acorreram para cá. Embora oprimido por uma grande tristeza, a vista dos santos padres aqui reunidos encheu-me de júbilo. Neste momento vão realizar-se entre nós aquelas doces palavras do salmista Davi: ‘Vede como é bom, como é suave os irmãos viverem juntos bem unidos!’ (Sl 132,1). Salve, ó mística e santa Trindade, que nos reunistes a todos nós nesta igreja de Santa Maria Mãe de Deus. Salve, ó Maria, Mãe de Deus, venerável tesouro do mundo inteiro, lâmpada inextinguível, coroa da virgindade, cetro da verdadeira doutrina, templo indestrutível, morada daquele que lugar algum pode conter, virgem e mãe, por meio de quem é proclamado bendito nos santos evangelhos ‘o que vem em nome do Senhor’ (Mt 21,9).

Salve, ó Maria, tu que trouxeste em teu sagrado seio virginal o Imenso e Incompreensível; por ti; é glorificada e adorada a Santíssima Trindade; por ti, se festeja e é adorada no universo a cruz preciosa; por ti, exultam os céus; por ti, se alegram os anjos e os arcanjos; por ti, são postos em fuga os demônios; por ti, cai do céu o diabo tentador; por ti, é elevada ao céu a criatura decaída; por ti, todo o gênero humano, sujeito à insensatez dos ídolos, chega ao conhecimento da verdade; por ti, o santo batismo purifica os que creem; por ti, recebemos o óleo da alegria; por ti, são fundadas igrejas em toda a terra; por ti, as nações são conduzidas à conversão. 

E que mais direi? Por Maria, o Filho Unigênito de Deus veio ‘iluminar os que jazem nas trevas e nas sombras da morte’ (Lc 1,77); por ela, os profetas anunciaram as coisas futuras; por ela, os apóstolos proclamaram aos povos a salvação; por ela os mortos ressuscitam; por ela, reinam os reis em nome da Santíssima Trindade. Quem dentre os homens é capaz de celebrar dignamente a Maria, merecedora de todo louvor? Ela é mãe e virgem. Que coisa admirável! Este milagre me deixa extasiado. Quem jamais ouviu dizer que o construtor fosse impedido de habitar no templo que ele próprio construiu? Quem se humilhou tanto a ponto de escolher uma escrava para ser a sua própria mãe? Eis que tudo exulta de alegria! Reverenciemos e adoremos a divina Unidade, com santo temor veneremos a indivisível Trindade, ao celebrar com louvores a sempre Virgem Maria! Ela é o templo santo de Deus, que é seu Filho e esposo imaculado. A ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém.'

domingo, 31 de dezembro de 2017

SAGRADA FAMÍLIA

Páginas do Evangelho - Festa da Sagrada Família



Neste último domingo do ano, o Evangelho evoca o culto à Sagrada Família, síntese da vida cristã autêntica e primeira igreja na terra. Na humilde casa de Nazaré, três pessoas: pai, mãe e filho, viviam em natureza sobrenatural exatamente inversa à ordem natural: São José, patriarca e pai de família devotado, com direitos naturais legítimos sobre a esposa e o filho, era o menor em perfeição; Nossa Senhora, esposa e mãe, era Mãe de Deus e de todos os homens; Jesus, a criança indefesa e submissa aos pais, é o Deus feito homem para a salvação do mundo. Portentoso mistério que revela a singular santidade da família humana, moldada sobre clara hierarquia divina, moldada por Deus para ser escola de santificação, amor, renúncia e salvação. 

Neste modelo de submissão perfeita ao amor de Deus e em obediência estrita à Lei de Moisés, 'quando se completaram os dias para a purificação da mãe e do filho' (Lc 2, 22), José e Maria se dirigem ao Templo de Jerusalém para a consagração do seu primogênito e oferenda do sacrifício penitencial. E será ali, apenas 40 dias após o nascimento de Jesus, que Nossa Senhora vai experimentar, pela profecia do velho Simeão, a primeira grande ferida de sua alma imaculada nesta terra, que a tornaria Nossa Senhora de todas as dores: 'Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma' (Lc 2, 35).

O velho Simeão, sacerdote piedoso e justo, dirigiu-se ao Templo por um impulso sobrenatural e, para se cumprir plenamente a grande promessa que recebera de que não morreria sem ter contemplado o Messias, agora O tinha entre os braços: 'Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; porque meu olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel' (Lc 2, 29 - 31). Eis que se conclui naquele momento o tempo dos profetas, nas palavras do velho Simeão e da profetisa Ana: Deus se fez homem e a redenção e a salvação da humanidade estava entre nós!  Nesta sagrada família, Jesus 'crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele' (Lc 2 , 40).

Eis o legado da Sagrada Família às famílias cristãs: a oração cotidiana santifica os pais e os filhos numa obra incomensurável do amor de Deus e a fortalece contra todos as tribulações. Sim, que os maridos amem profundamente suas esposas, que as esposas sejam solícitas a seus maridos, que os pais não intimidem os seus filhos, que os filhos sejam obedientes em tudo a seus pais. Mas que rezem juntos, que louvem a Deus juntos, que se santifiquem juntos, como família de Deus. Em Nazaré, Deus tornou a família modelo e instrumento de santificação; que em nossas casas e em nossas famílias, a Sagrada Família seja o modelo e instrumento para a nossa vida e para nossa santificação de todos os dias!

ORAÇÃO PARA O ÚLTIMO DIA DO ANO

Obrigado, Senhor,
pelo ano que termina,
porque estou aqui, junto Convosco e com minha família (com meus amigos),
vivendo a alegria de ter vivido um ano mais
em Vossa Santa Presença.

Obrigado, Senhor,
por mais um ano de vida,
por ter tido ainda este tempo para viver 
as santas alegrias do Natal e deste Ano Novo.
Por estar com pessoas que amo
e que compartilham comigo
a mesma fé e o sincero propósito
de viver o Evangelho a cada dia.

Obrigado, Senhor,
por tantas graças recebidas neste ano que passa;
eu Vos ofereço hoje o meu nada
e, dentro do meu nada, todo o meu amor humano possível,
como herança de Vossa Ressurreição.
No meio das luzes do mundo nesse dia de festa,
eu me recolho à sombra da Vossa Misericórdia;
e Vos honro e Vos dou glória nesse tempo
pelos tempos que estarei Convosco para sempre.

Obrigado, Senhor,
por estar aqui na Vossa Presença,
no tempo que conta mais um ano que se vai,
na gratidão da alma confiante
que aprendeu o caminho do Pai.
Das coisas boas que fiz, dou-Vos tudo,
porque as recebi de Vosso Santo Espírito.
E Vos suplico curar com Vosso Corpo e Sangue
as cicatrizes dos meus pecados.

Obrigado, Senhor,
pela caminhada diária com Maria, 
que nos ensina no cotidiano de nossa vidas
a ir ao Vosso encontro todos os dias.
Pelo meu Santo Anjo da Guarda,
pelos meus santos de devoção, 
pelo papa, e pela Vossa Igreja,
eu Vos agradeço, Senhor, e Vos louvo, 
neste último dia do ano.

Obrigado, Senhor,
pelo ano que termina.
Que eu não me lembre nesse tempo
das dores e sofrimentos que passei,
das tristezas e angústias que vivi:
que todo mal seja olvidado agora
na alegria de eu estar aqui Convosco,
e pela resignação à Santa Vontade de Deus.

E que nesta última hora do tempo que se vai,
do ano que chega ao fim:
mais uma vez, não seja eu que viva,
mas o Cristo que vive em mim.
Amém.

(Arcos de Pilares)

sábado, 30 de dezembro de 2017

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

Dois incrédulos, visitando certo dia um mosteiro, entraram na cela de um anacoreta. Diante do ambiente singelo e dos instrumentos de oração e penitência, indagaram a ele a razão para uma vida de tanta austeridade. 
- 'Para merecer o Paraíso', respondeu o anacoreta, sem levantar os olhos do seu livro de orações.
- 'Perdão senhor', disse um dos homens sorrindo, 'mas tereis logrado uma vida sem sentido se não existir nada além da morte'.
O santo homem, movido pela compaixão, virou-se para ambos e disse:
- 'Qual terá sido o sentido de vossas vidas se após a morte existir alguma coisa?'

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

BREVIÁRIO DA CONFIANÇA (III)


29 DE DEZEMBRO

FECUNDIDADE DO SOFRIMENTO

O sofrimento é fecundo. 'O sofrimento - escreve a admirável Elisabeth Leseur - atua de um modo impetuoso em nós; primeiro, por uma espécie de renovação interior, e depois, em outros também, muitas vezes longe de nós e sem que saibamos neste mundo o que fazemos por eles. O sofrimento é um ato. Cristo fez mais na Cruz pela humanidade do que falando e trabalhando na Galileia ou em Jerusalém. O sofrimento faz a vida: ele transforma tudo o que toca e tudo o que alcança'. O sofrimento é um ato: que fórmula impressionante! Convém guardá-la. Trabalha quem sofre bem. Assim, pode salvar almas como o apóstolo da palavra, como o sacerdote missionário mais ativo e fervoroso. A grande missionária dos últimos tempos, o Anjo do Carmelo de Lisieux, experimentou o sofrimento pela salvação das almas e pôde dizer: 'Pelo sofrimento e pela perseguição, muito mais do que por brilhantes pregações, Deus quer firmar o seu reino nas almas. Nossos sacrifícios, nossos esforços e os mais obscuros dos nossos atos não estão perdidos, é minha opinião absoluta: todos têm repercussão longínqua e profunda. Este pensamento não dá lugar ao desânimo e nem à covardia. Somos pobres jornaleiros da vida'. Semeemos e Deus fará surgir a colheita. Semeemos o bem na dor e na alegria, no Tabor e no Calvário, no fiat do Getsêmani e nas Aleluias da Ressurreição. Porém, é mais fecundo o bem semeado na dor, no Calvário, no sofrimento; porque, enfim, o sofrimento é um ato. 

30 DE DEZEMBRO

REPARAÇÃO

Conheceis a palavra de Pascal, impressionante e profundamente verdadeira - 'Jesus Cristo estará agonizante até o fim do mundo; não se pode dormir durante esse tempo'? 'Dormir' - comenta o Pe. Plus - 'como pensar assim quando o Mestre está suspenso na Cruz a padecer, para muitos em vão, infelizmente?' 'Como assim?' - dizia Urias a Davi - 'O meu general Joab dorme numa tenda de campanha e eu haveria de ir descansar em um palácio? Não, não aceito este triste privilégio!' À vista do Crucificado, perde-se a vontade de viver sem a cruz. Os santos, como o Apostolo dos Gentios, sofrem todos a sublime loucura da cruz. Sofrem porque não podem sofrer ainda mais. E' a sede de Amor e essa sede só se pode satisfazer aqui no exílio de cruzes, de sofrimentos e de martírios. São Felipe Néri estava à morte, esgotado e já sem forças. O médico mandou-lhe que tomasse um caldo. Começou a tomá-lo quando de repente parou e exclamou: 'Ó meu Jesus, que diferença entre nós! Fostes cravado no duro madeiro da cruz e eu descanso num leito tão cômodo... deram-vos a beber fel e vinagre e a mim enchem-me de cuidados ... em torno de Vós quantos inimigos que Vos insultavam e, junto de mim, tantos amigos que se esforçam por me consolar...' E o santo se pôs a chorar, como Nosso Senhor Crucificado faz apaixonar os santos! Saibamos sofrer em espírito de reparação pelos nossos pecados e olhemos com mais fé, com mais amor, o nosso crucifixo!

31 DE DEZEMBRO

TE DEUM LAUDAMUS

Mais um ano que se passa. Mais um passo de gigante deu a minha vida para a eternidade. Fui feliz? Fui desgraçado? Só Vós, ó meu Deus, sabeis se tantas horas amargas, se tantos golpes que me dilaceraram o coração nestes 365 dias, foram para minha desgraça ou para minha felicidade! Te Deum laudamus! Deo gratias Alleluia! Quantos benefícios me concedeu a Vossa Misericórdia Senhor! Eu Vos agradeço. E minhas dores e lágrimas, todas as chagas que os dias sombrios deste ano me abriram no coração, aceitai-os unidos ao mérito das Vossas Chagas na Cruz, em expiação dos meus inumeráveis pecados. Senhor, Deus dos humildes, dos pobres, dos infelizes, dos que choram, tende misericórdia do meu pobre coração, tão louco e tão seduzido pelas belezas criadas, do meu coração que aspira a uma felicidade, a uma paz verdadeira que nunca pôde encontrá-la fora de Vós, vivendo, entretanto, como louca mariposa, a debater-se e queimar suas asas na falsa luz das belezas criadas. Senhor, dai-me um coração todo Vosso. Deus, ó meu Deus, solução de todos os meus problemas e meu ideal! O' Deus, povoai as solidões mais devastadas, consolai as dores mais pungentes, enchei os vazios mais profundos, aquecei os corações mais frios. Ó Vós, Senhor, que compreendeis todas as aspirações, protegeis todas as liberdades e respeitais todos os sentimentos, restaurais todas as ruínas e amparais todos os nossos esforços. Senhor, acalmai as paixões, fortalecei as vontades, sustentai os fracos, dilatai os corações. Dai-nos a paz, Deus de Misericórdia e da Verdade, meu Deus e meu Tudo! - Deus meus et omnia!

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

28 DE DEZEMBRO - SANTOS INOCENTES


Santos Inocentes de Deus,
almas cristalinas,
pousai vossos ternos anelos
nas sombras das colinas;
não inquieteis com vosso pranto
as feras sibilinas,
fitai o esgar dos carrascos
com doces retinas;
que a vida que foge breve,
em  adagas repentinas,
renasça em eternos louvores
nas glórias divinas.
(Arcos de Pilares)

Santos Inocentes de Deus, rogai por nós