sexta-feira, 2 de junho de 2017

10 GRAUS DA PERFEIÇÃO CRISTÃ

1. Dirige a Deus cada um dos teus atos; oferece-os a Ele e peças que sejam para a Sua honra e glória.

2. Oferece-te a Deus uma, duas ... cinquenta vezes por dia, e que seja com grande fervor e desejo de Deus.

3. Em todas as coisas, observa a Providência de Deus e a Sua Sabedoria; em tudo, envia a Ele o teu louvor.

4. Em tempos de tristeza e de inquietação, não abandone nem as obras de oração, nem a penitência a que estás habituado, mas intensifica-as, e verás com que prontidão o Senhor te sustentará.

5. Nunca fale mal de quem quer que seja, nem jamais escute, a não ser que se trate de ti mesmo. E terá progredido muito, no dia em que te alegrares por isso.

6. Não diga nunca, de ti mesmo, algo que mereça admiração, quer se trate do conhecimento, da virtude, do nascimento, a não ser para prestar serviço. Mas então, que isso seja feito com humildade, e considerando que esses dons vêm pelas mãos de Deus.

7. Não vejas em ti senão o servo de todos, e em todos contempla Cristo Nosso Senhor; assim O respeitará e O venerará.

8. A respeito de coisas que não te diz respeito, não te mostres curioso, nem de perto, nem de longe, nem com comentários, nem com perguntas.

9. Mostre a tua devoção interior somente em caso de necessidade urgente; lembra do que diziam São Francisco e São Bernardo: 'meu segredo pertence a mim'.

10. Cumpra todas as coisas como se Deus estivesse realmente visível; agindo assim, muito terá a ganhar a tua alma.

(Santa Teresa de Ávila)

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS


A Grande Revelação do Sagrado Coração de Jesus foi feita a Santa Margarida Maria Alacoque durante a oitava da festa de Corpus Christi de 1675...

         'Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e se consumir para lhes testemunhar seu amor. Como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelas suas irreverências, sacrilégios, e pela tibieza e desprezo que têm para comigo na Eucaristia. Entretanto, o que Me é mais sensível é que há corações consagrados que agem assim. Por isto te peço que a primeira sexta-feira após a oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa particular para  honrar Meu Coração, comungando neste dia, e O reparando pelos insultos que recebeu durante o tempo em que foi exposto sobre os altares ... Prometo-te que Meu Coração se dilatará para derramar os influxos de Seu amor divino sobre aqueles que Lhe prestarem esta honra'.


... e as doze Promessas:
  1. A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de meu Sagrado Coração.
  2. Eu darei aos devotos do meu Coração todas as graças necessárias a seu estado.
  3. Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias.
  4. Eu os consolarei em todas as suas aflições.
  5. Serei seu refúgio seguro na vida, e principalmente na hora da morte.
  6. Lançarei bênçãos abundantes sobre todos os seus trabalhos e empreendimentos.
  7. Os pecadores encontrarão em meu Coração fonte inesgotável de misericórdias.
  8. As almas tíbias se tornarão fervorosas pela prática dessa devoção.
  9. As almas fervorosas subirão em pouco tempo a uma alta perfeição.
  10. Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais empedernidos.
  11. As pessoas que propagarem esta devoção terão os seus nomes inscritos para sempre no meu Coração.
  12. A todos os que comungarem nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna.

    ATO DE DESAGRAVO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS 
    (rezai-o sempre, particularmente nas primeiras sextas-feiras de cada mês)

Dulcíssimo Jesus, cuja infinita caridade para com os homens é deles tão ingratamente correspondida com esquecimentos, friezas e desprezos, eis-nos aqui prostrados, diante do vosso altar, para vos desagravarmos, com especiais homenagens, da insensibilidade tão insensata e das nefandas injúrias com que é de toda parte alvejado o vosso dulcíssimo Coração.

Reconhecendo, porém, com a mais profunda dor, que também nós, mais de uma vez, cometemos as mesmas indignidades, para nós, em primeiro lugar, imploramos a vossa misericórdia, prontos a expiar não só as nossas próprias culpas, senão também as daqueles que, errando longe do caminho da salvação, ou se obstinam na sua infidelidade, não vos querendo como pastor e guia, ou, conspurcando as promessas do batismo, renegam o jugo suave da vossa santa Lei.

De todos estes tão deploráveis crimes, Senhor, queremos nós hoje desagravar-vos, mas particularmente das licenças dos costumes e imodéstias do vestido, de tantos laços de corrupção armados à inocência, da violação dos dias santificados, das execrandas blasfêmias contra vós e vossos santos, dos insultos ao vosso vigário e a todo o vosso clero, do desprezo e das horrendas e sacrílegas profanações do Sacramento do divino Amor, e enfim, dos atentados e rebeldias oficiais das nações contra os direitos e o magistério da vossa Igreja.

Oh, se pudéssemos lavar com o próprio sangue tantas iniquidades! Entretanto, para reparar a honra divina ultrajada, vos oferecemos, juntamente com os merecimentos da Virgem Mãe, de todos os santos e almas piedosas, aquela infinita satisfação que vós oferecestes ao Eterno Pai sobre a cruz, e que não cessais de renovar todos os dias sobre os nossos altares.

Ajudai-nos, Senhor, com o auxílio da vossa graça, para que possamos, como é nosso firme propósito, com a viveza da fé, com a pureza dos costumes, com a fiel observância da lei e caridade evangélicas, reparar todos os pecados cometidos por nós e por nossos próximos, impedir, por todos os meios, novas injúrias à vossa divina Majestade e atrair ao vosso serviço o maior número possível de almas.

Recebei, ó Jesus de Infinito Amor, pelas mãos de Maria Santíssima Reparadora, a espontânea homenagem deste nosso desagravo, e concedei-nos a grande graça de perseverarmos constantes até a morte no fiel cumprimento dos nossos deveres e no vosso santo serviço, para que possamos chegar todos à Pátria bem-aventurada, onde vós, com o Pai e o Espírito Santo, viveis e reinais, Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

Na verdade, também ouviste de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Mestre dos apóstolos: 'Brilhem vossas obras diante dos homens, para que vejam o bem que fazeis e glorifiquem vosso Pai que está nos céus '(Mt 5,16). Ele vos fez assim: nós, gente de suas pastagens e ovelhas de suas mãos (Mt 10,1-5). Louvor a Ele que te fez bom, se és bom, e não a ti que, por ti mesmo só poderias ser mau. Por que queres torcer a verdade, de modo que quando fazes algum bem, queres ser elogiado e, quando fazes o mal, queres que o Senhor seja criticado? 

Esforcemo-nos, pois, irmãos, não apenas para sermos bons, mas ainda para convivermos bem com os homens. Não procuremos apenas ter uma boa consciência, mas, na medida em que permitirem nossas limitações, vigilantes sobre a fragilidade humana, empenhemo-nos em nada fazer que levante dúvidas para o irmão mais fraco. Não aconteça que, comendo ervas boas e bebendo águas límpidas espezinhemos as pastagens de Deus e as ovelhas fracas comam a erva pisada e bebam a água turva.

quarta-feira, 31 de maio de 2017

POR QUE AS ALMAS SÃO DESIGUAIS...

Durante muito tempo eu me perguntava por que Deus tinha preferências, por que todas as almas não recebiam a mesma medida de graças. Estranhava ao vê-lo prodigalizar favores extraordinários aos santos que o haviam ofendido, como São Paulo ou Santo Agostinho, a quem forçava, por assim dizer, a receber suas graças; e quando lia a vida daqueles santos a quem o Senhor acariciou desde o berço até a sepultura, retirando de seu caminho todos os obstáculos que os impedisse de se elevar até Ele e provendo essas almas com tais benefícios para que nada lhes ofuscasse o brilho imaculado de suas vestes batismais, eu me perguntava por que tantos pobres selvagens, por exemplo, morriam antes mesmo de ouvir ou sequer pronunciar o nome de Deus.

Jesus quis instruir-me a respeito deste mistério. Pôs diante dos meus olhos o livro da natureza e compreendi que todas as flores por ele criadas são belas, e que o esplendor da rosa e a brancura do lírio não tiram o perfume da humilde violeta nem a simplicidade encantadora da margarida. Compreendi que se todas as flores quisessem ser rosas, a natureza perderia sua pompa primaveril e os campos já não seriam salpicados de florzinhas.

O mesmo ocorre no mundo das almas, o jardim de Jesus. Ele quis criar grandes santos, que podem ser comparados aos lírios e às rosas; mas criou também outros menores, e estes devem se conformar em ser margaridas ou violetas destinadas a alegrar os olhos de Deus quando contempla seus pés. A perfeição consiste em fazer sua vontade, em ser aquilo que Ele quer que sejamos.

Compreendi também que o amor de Nosso Senhor se manifesta tanto na alma mais simples, que não coloca nenhuma resistência à sua graça, quanto na alma mais sublime. É próprio do amor abaixar-se. Se todas as almas se parecessem às dos santos doutores que iluminaram a Igreja com a luz de sua doutrina, parece que Deus não teria que se abaixar bastante para vir a seus corações. Mas criou a criança, que nada sabe e só balbucia fracos gemidos, criou o pobre selvagem, que só tem a lei natural para guiá-lo. E também aos seus corações Ele se abaixa! São estas as suas flores campestres, cuja simplicidade o encanta...

Assim fazendo, Deus mostra sua grandeza infinita. Assim como o sol ilumina os cedros e cada florzinha, como se somente ela existisse sobre a terra, da mesma forma Deus cuida pessoalmente de cada alma, como se não existisse outra além dela. E assim como na natureza todas as estações estão de tal modo organizadas que no momento certo se abre até a mais humilde margarida, da mesma forma tudo concorre para o bem de cada alma.

(Excertos da obra 'História de uma Alma', de Santa Teresa de Lisieux)

terça-feira, 30 de maio de 2017

FOTO DA SEMANA

Quando até as nuvens louvam Maria...

30 DE MAIO - SANTA JOANA D'ARC


Jeanne D'Arc nasceu em 6 de janeiro de 1412, na aldeia de Domrémy-la-Pucelle (na região da Lorena francesa). Descendente de camponeses analfabetos, apresentou-se, ainda adolescente e em trajes masculinos diante do rei da França Carlos VII, como a enviada por Deus para comandar as tropas francesas para a libertação da cidade de Orleans, então dominada pelos ingleses (os monarcas ingleses dominavam desde o século XI vários territórios franceses e a chamada Guerra dos Cem Anos, que durou na verdade 116 anos (1337 - 1453), foi o conflito sangrento travado entre os dois países, movidos pelo desejo francês de recuperar os territórios perdidos para a Inglaterra). Em face de vários eventos sobrenaturais, tal missão foi concedida e Orleans foi libertada em 9 de maio de 1429. Esta vitória recendeu a esperança das tropas francesas que conseguiram, em seguida, a retomada de vários outros territórios e que culminou com a coroação do rei francês em Reims, em 17 de julho de 1429. 

(coroação do rei Carlos VII e Joana D'Arc à frente das tropas francesas)

No dia 23 de maio de 1430, em Compiègne, Joana D' Arc foi aprisionada e vendida aos ingleses, a preço de ouro. Presa em Rouen, foi julgada numa farsa de processo e condenada à morte na fogueira por heresia. Foi queimada viva em 30 de maio de 1431, com apenas 19 anos de idade, após ter recebido os sacramentos da confissão e da comunhão. Suas cinzas (além do coração que, ao contrário do resto do corpo, permaneceu intacto e cheio de sangue) foram lançadas no Rio Sena, por ordem dos ingleses, para evitar quaisquer cultos futuros de suas relíquias. A revisão da condenação e a invalidação do processo que a julgou ocorreram já na época do Papa Calisto III (1455-1458), mas somente quase quinhentos anos depois, em 1920, é que Joana d'Arc foi canonizada pelo Papa Bento XV e hoje é venerada como a santa padroeira da França.

segunda-feira, 29 de maio de 2017

AS SETE COLUNAS DA IGREJA DOMÉSTICA (III)

'A Sabedoria edificou sua casa, talhou sete colunas' (Pv 9, 1)

TERCEIRA COLUNA: A CRUZ NA PAREDE

A bênção de Deus só nos vém quando nos esforçamos por alcançá-la. Ela poreja da cruz, das chagas do Salvador sobre nós. 'Só na cruz está a salvação'. Seja, pois, a cruz de novo o centro da casa, o centro de gravidade visível, em torno do qual os espíritos circulam e não qualquer peça profana! Naturalmente não quero dizer com isso que só deva haver quadros religiosos nas paredes dos aposentos.

Para tudo quanto é belo resta ainda espaço em nosso lar cristão. E justamente os belos quadros da casa revelam o bom gosto dos moradores. Nisso se lhes patenteia abundantemente o sentimento estético e moral. É extremamente importante despertar já na criança este sentimento e o fino gosto para o que é realmente belo; pois, o cultivo do belo eleva a alma acima do comum e conduz a Deus, que é o Sumo Bem.

Não se pode por isso ser indiferente ao que se vê suspenso às paredes do salão e dos quartos: a casa cristã é uma cópia da casa de Deus. Lá o principal é a cruz. Faz pena ver católicos que se tornaram 'importantes', ocultarem temerosamente o velho e raro símbolo. O salão cheio de estátuas e quadros, a cruz quando muito no quarto de dormir, para que ninguém se escandalize. Não é assim que se gera o sentimento de fé profunda, o espírito verdadeiramente cristão, que salva a família do naufrágio e renova um povo.

'Não são os falsos ídolos, nem também a espada e a mão armada que dão prosperidade a um povo, mas a cruz que se venera na família'. Ouvimos uma vez um orador clamá-lo, numa reunião popular. Tinha razão. Primeiramente carece que o Crucifixo seja de novo Rei na casa e na família. Daí lhe vem a bênção, como de um manancial profundo, espalhando-se pelo país e pelo povo. Honremos, pois, a sua imagem! Será nosso pregador, que nos chamará aos velhos costumes patriarcais, à fé, à justiça e à felicidade; pois veio de novo o tempo, do qual Wolfram von Eschenbaeh (falecido em 1215) dizia:

Quase em completo abandono,
A fé, a fidelidade,
A justiça e a caridade,
Foram dormir um sono.

Quando acordarem deveras
Desse letargo profundo,
Veremos então no mundo
O bem estar de outras eras.

Como ressoa eloquente e penetra a palavra da cruz, em meio da decadência dos tempos modernos! Fala-nos da fé antiga, do velho cristianismo, ao qual nossos antepassados há quase 2.000 anos aderiram, que outrora tornou nosso povo grande e nossa vida de família feliz. Dos lábios do Crucificado, suspenso à porta, mana continuamente sobre a família cristã a fonte sagrada das mais remotas verdades, enquanto lá fora no mundo se torna - ai! - cada vez menor o número dos que se conservam fiéis ao Salvador! 

E como a cruz exorta e adverte suavemente! Perdão, paciência e caridade, que nos são tão necessárias, como o pão de cada dia, dela aprendemos. E se alguém fora de casa quer andar por maus caminhos, se há ameaça de desavença e discórdia, não se desprende então baixinho dos lábios cerrados do Filho de Deus uma tocante exortação à paz, à paciência? Que bem fará às crianças aprenderem de pais piedosos a olhar diariamente neste maravilhoso espelho! Não é como se das chagas do Salvador se desprendesse uma clara luz, iluminando-lhes a vereda, para que não tropecem e não caiam no pecado? Como fazem bem os pais e mães que veneram o crucifixo como o fiel amigo do lar, e testemunha de tudo o que sucede na família, desde o alvorecer do dia, até o crepúsculo da tarde!

As luas mudam no meio deles: vê os filhos crescerem, levarem os mortos para a sepultura; ora contempla alegres semblantes; ora vê olhos banhados de lágrimas erguerem-se-lhe súplicas! Nas horas da dor se revela o único verdadeiro consolador! Pode a casa ser pobre, não ter senão nuas paredes, despidas de adorno e crianças famintas; mas se lá dentro se encontra uma simples cruz, não lhe falta consolo. Pois quem é mais pobre que o Salvador no lenho da cruz? Comparada com a sua penúria, nossa cruz torna-se tão pequenina, nossa pobreza menos penosa! E que chagas existem ainda para as quais ele não tenha algum bálsamo e não traga algum socorro?

Já é sempre um consolo, para quem sofre, saber de outros que também sofrem e afinal ainda muito mais. Na cruz temos alguém que não só sofre conosco, mas que por nós sofreu todos os tormentos, que quis morrer por nós, para dar-nos a vida. Para quantos Ele tornou a cruz mais leve a dor mais suave! Quantos, erguendo os olhos para a cruz, suspensa à cabeceira do leito, suportaram de bom grado a enfermidade mais dolorosa e o mais penoso fardo! 'Aceito tudo por amor a Ele' - dizia-me recentemente um jovem aluno mortalmente enfermo, quando lhe perguntei se temia a morte. Assim se torna a cruz o grande baluarte da casa, um refúgio de salvação, uma fonte de cura, cujas forças nunca se gastam, cujas bênçãos são inesgotáveis. 

Um dia, em Düsseldorf, subi ao telhado de uma das altas casas modernas. Lá de cima se divisa uma vista magnífica da cidade, com seu meio milhão de habitantes e o rio coalhado de navios e botes. E quando eu estava, com a bela cidade a meus pés, veio-me sem querer à mente a esperança do que se passa em todos aqueles milhares de criaturas, que, vistas do alto, parecem formigas, o que se encontra de alegria e sofrimento nas ruas e nas casas. Quanta angústia e miséria muitas vezes passa apressada, sob uma capa brilhante! Quantos suspiros e maldições se confundem, com o tumulto das ruas, que me sobe aos ouvidos, amortecido como um surdo bramido, quase como uma voz de sepulcro! Quantas vezes, sob estas negras telas, uns olhos chorarão, um coração humano sofrerá e não poderão achar consolo algum, porque não querem consolo; porque não o procuram onde única e exclusivamente poderiam achá-lo?

É na cruz, nas chagas dAquele que deixou traspassar seu Coração na cruz, a fim de ali preparar um refúgio seguro para todos enfermos e moribundos. Ah! prouvesse a Deus que todas as famílias de novo se reunissem junto à cruz ao Coração de Jesus! Que se manifesta também hoje ainda e sempre de novo, como o asilo de todos os oprimidos, o grande manancial de bênçãos para a casa e a família, assim como se exprime na forma de consagração, com que a Igreja costuma benzer as casas novas.

O antigo e belo costume cristão conservou-o. Logo que os operários acabavam de construir o prédio, o sacerdote fazia o sinal da cruz sobre a porta e aspergia a casa com água benta, assim a consagrava quase como um templo e invocava sobre ela a bênção de Deus. Como são lindas essas orações da consagração! Poderíamos tolerar nesta casa abençoada alguma coisa que não estivesse de acordo com a lei divina? Afastemos, pois, tudo o que desagrada aos puríssimos olhos de Deus, seja quadro, ou livro, jornal ou moda! Do contrário o seu nome seria apenas um escárnio, seu domínio somente um reino das sombras - e nossa oração apenas uma função dos lábios.

Deus e Belial são polos opostos, coisas incompatíveis. Que se dirá das famílias que talvez se consagrassem solenemente ao Divino Coração de Jesus, e afinal lhe conservam acesa, em frente à imagem, uma lamparina de azeite, na primeira sexta-feira do mês; mas em cuja casa, ao lado da cruz, se encontra toda a espécie de nudez, sob a cruz diários e jornais ímpios, revistas ilustradas imorais e imundas? Quem ama o Senhor Deus, não pode tolerar em casa os seus algozes, que são os livros e jornais maus e ímpios. E não é só isso. Eles são também a morte da vida religiosa.

'Sabeis o que eu faria, se fosse o demônio, para afastar todos de Nosso Senhor?' Faria todos assinarem um mau jornal ou pelo menos uma folha que nunca fale de Deus e da Igreja!' - escreveu há anos Albano Stolz. Tinha razão. De fato é grande o mal que faz esse alimento diário ímpio ou inimigo de Deus. Faz uma obra satânica. Lento, como a malaria, o ar maligno dos pântanos da Itália, esse veneno penetra paralisante, não nos membros, mas em nosso modo de pensar e sentir, como católicos. De onde vem a letargia a inapetência, a fraqueza, a indiferença e frieza de tantos católicos? De onde procede o mal estar, o pânico que os acomete, quando têm de manifestar-se a forma da causa católica? De certo provêm muitas vezes do jornal que lêem, cujo espírito sopra contra nós, penetra-nos pouco a pouco, como o alimento que ingerimos, entra em nós.

A vida sã e realmente católica só floresce e prospera à sombra da cruz, onde toda vida doméstica e pública da família se baseia sobre os princípios da religião do Crucificado. Por amor de Deus, nada de meias tintas, do catolicismo 'secularizado', que desterra o padre para a sacristia e oculta a religião, como uma insígnia que se usa apenas nas paradas e depois se guarda o estojo. Os livres pensadores dão a senha: monismo e não dualismo! Para eles é tudo uma só coisa: espírito e matéria são iguais, não há distinção alguma entre alma e matéria, homem e animal, Deus e o mundo! Nós não somos monistas: pois temos olhos para ver o infinito abismo que se abre entre Deus e mundo, entre o espírito e o corpo. 

Compreendemos a sua diferença e condenamos o sistema monístico. Uma coisa, porém podem os monistas ensinar-nos: uma intuição mais unitária do mundo, uma concepção mais central de nossa vida! Um único ponto deve tornar-se de novo o ideal e o fim de toda a nossa atividade, de toda a nossa vida: Deus! Monismo - não dualismo, no sentido de que temos – uma só alma e não duas ou três! Não temos uma alma de domingo e outra para os demais dias da semana, não temos uma alma para a vida particular e outra para a vida pública, uma alma para uso doméstico e outra para os negócios.

Precisamos de homens de uma só têmpera: que, como o grande patriota irlandês Daniel O’Connell, se dediquem em casa e na vida – a Deus, Cristo e Pedro, isto é, a sua Igreja; só estes são católicos. Da oração tira-lhes a força nutritiva a fé. É ao mesmo tempo: o termômetro da vida religiosa em geral. Se o termômetro baixa a zero, é sinal que o gelo invadiu o país. Quando numa família o espírito de oração baixa a zero, é sinal que nesta casa já chegou o inverno, em que tudo o que dantes florescia em virtude, cai gelado e entorpecido. Com a oração familiar cresce o sentimento religioso e uma fonte abundante de bênçãos abre-se para todos que residem na casa.

Uma colunazinha

Onde se ora, respeitam-se também os demais hábitos religiosos. Lá se venera, por exemplo, a água benta. Na antiga vida cristã representava a água benta em geral um grande papel. Em casa alguma podia faltar. Guardava-se a idéia cristã, que o celebre artista Miguel Ângelo exprimiu, na pia de água benta de uma Igreja de Florença: um demônio está sentado sob a pia. Um anjinho borrifa-lhe inesperadamente a cabeça com água benta da pia de mármore. O demônio abaixa-se e foge. 

Assim o quer a benção da Igreja sobre a água: o demônio e as influências satânicas devem ser afastados da casa e de seus moradores. Por isso havia outrora, pendurada à porta, a pia de água benta e a palma benta do último domingo de Ramos. À entrada e à saída se tomava da água benta para benzer-se e, à noite, a mãe aspergia com a palma água benta sobre a caminha dos seus pequenos... Agora a pia de água benta frequentemente é banida do lar e a água benta 'secou'. Com ela, porém, secaram também as almas e muitas coisas de valor inestimável se perderam.

(Excertos da obra 'As colunas de tua Casa - um Plano para a Felicidade da Família', do Vigário José Sommer, 1938, com revisão do texto pelo autor do blog)