quarta-feira, 12 de outubro de 2016

GLÓRIAS DE MARIA: NOSSA SENHORA APARECIDA

A história é bem conhecida: em 1717, Dom Pedro de Almeida Portugal e Vasconcelos (Conde de Assumar), efetivado como governador das Capitanias de São Paulo e Minas Gerais, viajou de navio de Portugal a Santos, com grande comitiva. Tomando posse do governo em São Paulo, seguiu rumo às minas de ouro em Minas Gerais, fazendo uma longa parada em Guaratinguetá, no período de 17 a 30 de outubro. Para a recepção do ilustre viajante, foram-lhe servidos os melhores pratos da culinária local, incluindo os saborosos pescados do Rio Paraíba do Sul.

Para a nobre tarefa de pescar uma grande quantidade de peixes, foram convocados os pescadores Domingos Alves Garcia, seu filho João Alves e Felipe Pedroso, cunhado de Domingos, entre outros. Entretanto, mesmo com o conhecimento enorme que tinham dos melhores pontos de pesca, não conseguiam nada. Mas algo extraordinário estava para ocorrer. Na rede lançada, surgiu primeiro uma pequena imagem em terracota de Nossa Senhora da Conceição, sem a cabeça, que foi recolhida e guardada com zelo pelos pescadores no fundo do barco. E eis que, numa nova investida, mais abaixo no rio, sem nada de peixe, veio a cabeça da imagem. Um objeto de dimensões tão reduzidas coletado do leito largo e vigoroso do Paraíba do Sul! E, surpresa ainda maior, novas investidas da rede trouxeram agora cardumes de peixes, em tão grande quantidade, repetindo-se, no largo do Porto de Itaguaçu, o milagre de Cristo no Mar da Galileia.


Cientes dos fatos extraordinários ocorridos, os pescadores locais recuperaram a imagem e passaram a venerá-la em suas casas, como imagem peregrina, até que a mesma foi colocada em pequeno oratório na casa de Atanásio Pedroso, filho de Felipe, e depois, com o culto já generalizado na ‘Nossa Senhora Aparecida’, erigiu-se uma pequena capela de sua devoção em Itaguaçu, com o apoio do Padre José Alves Vilela, pároco da Igreja de Santo Antônio de Guaratinguetá. Sob a sua coordenação, a devoção recebeu a aprovação episcopal e foi construída, então, a Igreja de Nossa Senhora Aparecida, no chamado Morro dos Coqueiros, inaugurada em 1745, apenas 28 anos após o achado da imagem. Em torno da igreja, implantou-se rapidamente uma comunidade que constitui hoje a cidade de Aparecida. A igreja tornou-se de imediato centro de romarias e de devoções marianas de toda a natureza.


Com a intensa participação popular e, pela ausência de sacerdotes no Brasil, optou-se pela solicitação de auxílio junto a comunidades religiosas europeias. Em 1894, com a chegada dos padres redendoristas alemães, as atividades religiosas, os cultos e as romarias tornaram-se muito mais organizados, favorecendo muito a rápida difusão da evangelização e a consolidação da igreja como santuário de frequente peregrinação. Tais eventos culminaram com a solene coroação da imagem de Nossa Senhora Aparecida em 8 de setembro de 1904 (com manto azul e coroa de ouro cravejada de diamantes e rubis, ofertados pela Princesa Isabel em visita ao santuário em 6 de novembro de 1888) e com a elevação do santuário à condição de Basílica Menor em 29 de abril de 1908. Em 16 de julho de 1930, o Papa Pio XI outorgou o título de Nossa Senhora Aparecida como Padroeira do BrasilEm 1967, ano da comemoração do jubileu dos 250 anos da aparição da imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, o Papa Paulo VI ofertou ao Santuário Nacional da Padroeira do Brasil uma Rosa de Ouro, ato repetido pelo Papa Bento XVI em 2007. O dia da Padroeira do Brasil é celebrado em 12 de outubro, feriado nacional. 

As enormes e crescentes manifestações populares exigiram a construção de uma nova basílica, com dimensões e infraestrutura compatíveis com o maior centro de peregrinação espiritual do Brasil que se tornou Aparecida. Desta forma, entre 1955 e 1980, foi construída a atual Basílica, inaugurada a 04 de julho de 1980 pelo Papa João Paulo II e elevada a Santuário Nacional em 1984. Que continua a receber milhares de peregrinos, infindáveis romarias, em agradecimento, louvor e veneração à Virgem Padroeira do Brasil. Na Sala das Promessas, em meio a milhares de ex-votos, tem-se uma ideia da admirável senda de prodígios e milagres alcançados por tantos romeiros e fieis, pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida.


Em Aparecida, ao contrário de tantos outros centros de peregrinação mariana, a Virgem fez-se aparecer apenas sob a forma de uma pobre e pequena imagem de terracota de 38cm de altura, sem quaisquer visões, mensagens ou prodígios sobrenaturais, para falar aos simples, aos humildes, aos fracos, aos desvalidos, que as almas simples, despojadas de valores intrinsecamente humanos e entregues somente à confiança e à misericórdia de Deus por Maria, são as glórias dos Céus.


ORAÇÃO A NOSSA SENHORA APARECIDA

Ó Senhora da Conceição Aparecida, que fizestes tantos milagres que comprovam vossa poderosa intercessão junto ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, obtende para nossas famílias as graças de que tanto necessitam. Defendei-nos da violência, das doenças, do desemprego e, sobretudo, do pecado, que nos afasta de Vós. Protegei nossos filhos de tantos fatores de deformação da juventude. E concedei a todos os membros de nossas famílias a graça de poderem trilhar o caminho de perfeição e de paz ensinado por Vosso Divino Filho, que afirmou: "Disse-vos estas coisas para que tenhais paz em Mim. Haveis de ter aflições no mundo; mas tende confiança, Eu venci o mundo!" Amém.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

GRAUS DA PERFEIÇÃO

1. Por nada deste mundo cometer algum pecado, nem mesmo venial com plena advertência, nem imperfeição conhecida.

2. Procurar andar sempre na presença de Deus, real, imaginária ou unitiva, segundo se coadune com as obras que está fazendo.

3. Nada fazer nem dizer coisa de importância, que Cristo não pudesse fazer ou dizer se estivesse no estado em que me encontro e tivesse a idade e a saúde que eu tenho.

4. Procure em todas as coisas a maior honra e glória de Deus.

5. Por nenhuma ocupação deixar a oração mental que é o sustento da alma.

6. Não omitir o exame de consciência, sob pretexto de ocupações, e, por cada falta cometida, fazer alguma penitência.

7. Ter grande arrependimento por qualquer tempo não aproveitado ou que se lhe escapa sem amar a Deus.

8. Em todas as coisas, altas e baixas, tenha a Deus por fim, pois de outro modo não crescerá em perfeição e mérito.

9. Nunca falte à oração e quando experimentar aridez e dificuldade, por isso mesmo persevere nela, porque Deus quer muitas vezes ver o que há na sua alma e isso não se prova na facilidade e no gosto.

10. Do céu e da terra busque sempre o mais baixo lugar e o ofício mais ínfimo.

11. Nunca se intrometa naquilo de que não te encarregaram, nem discuta sobre alguma coisa, ainda que esteja com a razão. E, no que lhe for ordenado, se lhe derem a unha (como se costuma dizer) não queira tomar também a mão, pois alguns, nisto se enganam, imaginando que têm obrigação de fazer aquilo que, bem examinado, nada os obriga.

12. Das coisas alheias não se ocupe, sejam elas boas ou más, porque além do perigo que há de pecar, essa ocupação é causa de distrações e amesquinha o espírito.

13. Procure sempre confessar-se com profundo conhecimento de sua miséria e com sinceridade cristalina.

14. Ainda que as coisas de sua obrigação e ofício se lhe tornem dificultosas e enfadonhas, nem por isso desanime, porque não há de ser sempre assim, e Deus, que experimenta a alma simulando trabalho no preceito (Sl 93,20), daí a pouco lhe fará sentir o bem e o lucro.

15. Lembre-se sempre de que tudo quanto passar por si, seja próspero ou adverso, vem de Deus, para que assim nem num se ensoberbeça nem no outro desanime.

16. Recorde-se sempre de que não veio senão para ser santo e assim não consinta que reine em sua alma algo que não o leve à santidade.

17. Seja sempre mais amigo de dar prazer aos outros do que a si mesmo e, assim, com relação ao próximo, não terá inveja nem predomínio. Entenda-se, porém, que isso se refere ao que for segundo a perfeição, porque Deus muito se aborrece com os que não antepõem o que lhe agrada ao beneplácito dos homens.

(São João da Cruz)

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

QUANDO É PRECISO SER HOMEM... DE FÉ!

Há um indiferentismo religioso tão disseminado, tão generalizado, que quase mais nada produz qualquer reação, qualquer espanto. Pelo contrário, cada vez mais toda malícia, todo mal, toda iniquidade, tendem a se tornar banais. Nada é blasfêmia, nada mais é aberração litúrgica, nada mais é ofensivo à fé cristã. Quando todos se tornam fábulas de si mesmos, o horror do inexplicável pode ser moldado como um conto de fadas. Sem medos ou remorsos. Sem comentários.


(Terceiro Dia de Novena - Entrada de Nossa Senhora Aparecida - 05/10/2016)


FOTO DA SEMANA

'Quanto a nós, só vivemos durante esta vida, e depois da morte, nem mesmo nosso nome nos sobreviverá' (Eclesiástico 48, 12)


domingo, 9 de outubro de 2016

OS DEZ LEPROSOS

Páginas do Evangelho - Vigésimo Oitavo Domingo do Tempo Comum 


Num dado lugar, entre a Samaria e a Galileia, dez leprosos vieram ao encontro de Jesus e, seguindo as normas de conduta daqueles tempos, depararam-se a uma distância segura e gritaram: 'Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!' (Lc 17, 11). Os leprosos eram tomados como homens ímpios e imundos; a terrível doença era a simples manifestação externa de pecados gravíssimos ocultos. A exclusão social os exilava em grupos fora das cidades; o temor e o desprezo dos homens acompanhavam as suas chagas visíveis e outras muito piores que não se revelavam fisicamente. As vestes imundas tentavam esconder a lepra do corpo, mas atestavam de forma cristalina a impureza da alma.

Dez leprosos. Dez homens, excluídos e condenados pelos próprios homens, aproximaram-se de Jesus para implorar compaixão. Confiança e resignação no mesmo propósito; demonstração de fé e de retidão no gesto de todos de se aproximar do Mestre e, ao mesmo tempo, dEle ficar afastado de segura distância, em estrita observância aos preceitos da lei. Jesus, movido de compaixão, determinou-lhes: 'Ide apresentar-vos aos sacerdotes' (Lc 17, 14), impondo-lhes também o que era prescrito pela lei para que se comprovasse formalmente a condição de um homem suspeito ser leproso ou não. E os dez cumpriram fielmente as palavras do Mestre. E os dez foram curados pela mesma fé e a mesma confiança na misericórdia de Deus.

Dez homens foram movidos pela mesmo fervor na súplica pela cura da doença maligna. Livres do mal, certamente ansiaram por buscar os sacerdotes para receberem a confirmação oficial de suas restituições ao meio social, ao mundo dos homens a que estavam tão brutalmente excluídos. Mas um deles, um samaritano, afastou-se da direção do mundo que o receberia de volta e caminhou ao encontro de Cristo, assim que se viu curado, atirando-se aos pés de Jesus e glorificando a Deus em alta voz.

E, mais que os outros nove, será o personagem do portentoso milagre do perdão dos seus pecados e da salvação de sua alma: 'Levanta-te e vai! Tua fé te salvou' (Lc 13, 19). O mal físico que devora o corpo pode ser mortalmente perigoso. Mas é o pecado que inocula uma lepra na alma que nos priva da graça santificante, das virtudes e bens espirituais, que nos exclui não por um tempo da sociedade dos homens, mas que pode nos exilar eternamente das bem aventuranças da vida em Deus. Na súplica diária para não nos afligir a doença do pecado, esforcemos por nos colocar sempre, como o leproso samaritano, na santa presença de Deus com a eterna gratidão dos que estão curados e santificados pela infinita misericórdia do Pai.

sábado, 8 de outubro de 2016

POEMAS PARA REZAR (XXI)

QUISERA...


Quisera
fazer da minha súplica neste momento de oração 
o instante em que Deus vai tomar como medida
a medida do meu eterno coração.

Quisera, Jesus, quisera
que o meu eu se esvaísse como pó e fumaça
no incêndio de amor irradiado do peito chagado
da Vossa misericordiosa graça.

Quisera, ouso pedir, quisera
que no silêncio profundo do meu recolhimento
minha alma fosse moldada para todo o sempre
como a fotografia gerada neste momento.

E ainda quisera
que a luz de Deus velasse agora nos vales e abismos
mais profundos e íntimos do meu coração humano 
e lá pausasse e se tornasse eterna.

Quisera, meu Deus, quisera
que o meu nome fosse proclamado na memória
da multidão que Vos louva em cânticos de glória
e que eu fosse senhor no céu de uma morada.

Quisera, ó como quisera,
que esta oração fosse contada como chumbo e ouro
como lastro singular e moeda de excepcional tesouro
no juízo particular dos meus talentos.

E, por fim, quisera 
pedir à minha mãe, Nossa Senhora, velar comigo
no derradeiro instante do homem que inda terei sido
e, após, no infinito minuto com o meu Deus.

(Arcos de Pilares)




sexta-feira, 7 de outubro de 2016

GLÓRIAS DE MARIA: NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO

A palavra Rosário vem do latim Rosarium, que significa 'Coroa de Rosas'. Nossa Senhora é a Rosa das rosas, Rainha das rainhas, sendo chamada, então, Rosa Mística (como é invocada na Ladainha Lauretana), Rainha das Rosas de todas as devoções, Nossa Senhora do Rosário. Se, a cada Ave Maria, adorna-se a Mãe de Deus com uma rosa espiritual, o Rosário adorna Maria com uma Coroa de todas as Rosas.

O Santo Rosário é a oração mais perfeita e o instrumento mais poderoso que nos é concedido pela Divina Providência para vencer o pecado e as tentações diabólicas. Com o rosário, recordamos o memorial da Paixão de Jesus Cristo e meditamos os mistérios de gozo, dor e glória de Jesus e Maria. Pelo Rosário, a terra se une aos céus, e nós a Nossa Senhora, no louvor ao Senhor nosso Deus. Com o Rosário, alcançamos a paz de coração e a salvação eterna da alma. Pelo Rosário, obtemos a remissão pela culpa e pela pena dos nossos pecados, tornamo-nos herdeiros dos méritos infinitos da Paixão de Jesus e invocamos sobre nós e nossas famílias as graças extraordinárias da Misericórdia Divina. 

A origem do Rosário é antiga, mas se formalizou por meio de uma famosa aparição de Nossa Senhora a São Domingos de Gusmão. No seu ferrenho combate e conversão dos seguidores da seita herética dos albigenses, São Domingos defrontou-se com terríveis dificuldades e perseguições, devido à dureza espiritual daquelas almas. Retirou-se, então, em oração, para um lugar ermo situado nos arredores de Toulouse e suplicou a intercessão da Virgem Maria para os bons propósitos de tão dura missão. 

As suas preces extremadas foram atendidas e o santo recebeu uma aparição de Nossa Senhora que lhe entregou o Rosário (também chamado Saltério de Maria, em referência aos 150 salmos de Davi), ensinando-o como rezá-lo e assegurando ser esta a arma mais poderosa para se ganhar as almas para o Céu. Este evento, respaldado por numerosos documentos pontifícios, é narrado na obra 'Da Dignidade do Saltério', do Bem-Aventurado Alain de la Roche (1428 – 1475), célebre pregador da Ordem Dominicana. Com o Rosário em punho, São Domingos pregou incansavelmente na França, Itália e Espanha a devoção que a própria Senhora do Rosário lhe havia ensinado, convertendo os hereges e os tíbios, e erradicando por completo naqueles países a heresia albigense.


Graças, louvores e indulgências sem conta estão associadas à oração devota do Santo Rosário. Rezai-o sempre, rezai-o todos os dias! O maior milagre que o Rosário pode nos proporcionar é nos fazer plenamente dignos das promessas de Cristo e nos elevar de criaturas humanas na terra a herdeiros diretos do Céu ainda nesta vida.