sábado, 13 de agosto de 2016

AS OITO BEM AVENTURANÇAS DAS INDULGÊNCIAS

Em primeiro lugar, por terem relação com o pecado, com a Justiça de Deus e com a pena temporal devida ao pecado, as indulgências conservam em nós certos pensamentos que pertencem à fase da purificação, o que para nós é salutar, embora desejemos com impaciência ir adiante e livrar-nos deles.

Em segundo lugar, produzirão em nós a feliz disposição de nos afastar deste mundo: conduzem-nos a um mundo invisível; cercam-nos de imagens sobrenaturais; infundem em nosso espírito uma ordem de idéias que nos desapega das coisas mundanas e exprobra os prazeres terrestres. 

Em terceiro lugar, guardam continuamente diante de nós a doutrina do Purgatório, e assim nos obrigam ao constante exercício da fé e ao mesmo tempo nos sugerem motivos de um santo temor. 

Em quarto lugar, fazem-nos praticar para com os fiéis falecidos o exercício da caridade, que facilmente chegará ao heroísmo, estando assim ao alcance dos que não podem fazer outras esmolas, e produz deste modo em nossa alma os efeitos que acompanham as obras de misericórdia.

Em quinto lugar, a glória de Deus tem muito interesse nas indulgências, por uma dupla razão: porque libertam as almas do Purgatório, apressando a sua entrada na corte celestial, e porque patenteiam especialmente algumas das perfeições divinas, tais como a sua infinita pureza, seu ódio ao pecado ainda mesmo ínfimo, e o rigor da sua justiça, aliada à mais engenhosa misericórdia. 

Em sexto lugar, elas prestam homenagem às satisfações que Jesus ofereceu por nós. São para estas satisfações o que para os seus méritos é a doutrina de que todo pecado não é perdoado senão devido a Ele. Portanto podemos dizer que, aproveitando d’Ele e dos seus méritos o mais possível, as indulgências realçam a copiosidade da Redenção. Honram também as satisfações da Virgem Maria e dos santos, de modo a honrar mais ainda a Jesus.

Em sétimo lugar, elas nos dão uma ideia mais séria do pecado e aumentam o horror que lhe temos. Com efeito, as indulgências lembram-nos constantemente a verdade de que o castigo é devido mesmo ao pecado perdoado, que este castigo é terrível ainda mesmo que seja apenas por algum tempo, e que só é possível livrar-nos dele pelas satisfações de Jesus.

Em oitavo lugar, elas nos mantêm em harmonia com o espírito da Igreja, o que é de suma importância para os que se esforçam por levar uma vida devota e caminham entre as dificuldades do ascetismo e da santidade interior. 

Depreciar as indulgências é um sinal de heresia, e o ódio que esta lhes vota é um indício de que o demônio as detesta, e isto mostra o valor do poder delas diante de Deus e da sua aceitação por parte d’Ele. Elas estão envolvidas em tantas particularidades da Igreja, desde a jurisdição da Santa Sé até à crença no Purgatório, nas boas obras, nos santos e na satisfação [das penas devidas ao pecado], que são, de certo modo, o sinal inconfundível da nossa ortodoxia [isto é, da nossa catolicidade]. A infeliz história dos erros que a Igreja sofreu a respeito da vida espiritual nos mostra que, para sermos verdadeiramente santos, devemos ser verdadeiramente católicos e católicos romanos, pois fora de Roma não pode haver nem catolicismo, nem santidade alguma.

Além do que, as devoções indulgenciadas oferecem em si a seguinte vantagem: temos certeza de que são mais que aprovadas pela Igreja. Sabemos que no mundo numerosas almas piedosas as empregam todos os dias, e unindo-nos a elas participamos mais inteiramente da Comunhão dos Santos e da vida da Igreja, que constitui sua unidade. Por todas as razões que enunciei, o emprego das indulgências espiritualiza cada vez mais a nossa alma a aviva a nossa fé. 

Elas nos levam a rezar como quer a Igreja e sobre assuntos por ela indicados, e assim podemos alcançar muitos fins ao mesmo tempo. Pois pelo mesmo ato não somente rezamos, como fazemos ato de veneração às chaves da Igreja, honramos a Jesus, Sua Mãe e os Santos, evitamos o castigo temporal que nos é devido, ou, o que é ainda melhor, libertamos os mortos [do Purgatório] e assim glorificamos a Deus. Podemos ainda verificar que, ao percorrermos as devoções indulgenciadas, transferimos para o nosso espírito muita doutrina tocante, que serve de alimento à oração mental e a um amor cheio de reverência.

(Excertos da obra 'O Progresso na Vida Espiritual', do Pe. Frederick Faber)

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

AS CINCO VIAS DA PENITÊNCIA


Indicamos cinco vias de penitência: primeira, reprovação dos pecados; a segunda, o perdão das faltas do próximo; terceira, a oração; quarta, a esmo­la; quinta, a humildade.

É a seguinte a primeira via da penitência: a reprovação dos pecados: 'Sê tu o primeiro a dizer teus pecados para seres justificado' (Is 43, 25-26). O Profeta tam­bém dizia: 'Disse, confessarei contra mim mesmo minha injustiça ao Senhor, e tu perdoaste a impie­dade de meu coração' (Sl 31, 5). Reprova também tu aquilo em que pecaste; basta isto ao Senhor para desculpar­-te. Quem reprova aquilo em que pecou, custará mais a recair. Excita o acusador interno, tua cons­ciência, não venhas a ter acusador lá diante do tri­bunal do Senhor.

Esta primeira é ótima via de penitência. A seguinte não lhe é nada inferior: não guardemos lembrança das injúrias recebidas dos inimigos, dominemos a cólera, perdoemos as faltas dos companheiros. Com isso, aquilo que se cometeu contra o Senhor será perdoado. Eis outra expiação dos pecados. 'Se perdoardes aos vossos devedores, também vos perdoará vosso Pai celeste' (Mt 16, 6).

Queres saber a terceira via de penitência? Oração ardente e bem feita, que brote do fundo do coração. Se ainda uma quarta desejas conhecer, chamá-la-ei de esmola; possui muita e poderosa força. E ser modesto no agir e humilde, isto, não menos que tudo o mais, destrói os pecados. Testemunha é o publicano que não podia citar nada de feito com retidão, mas em lugar disto ofereceu a humildade e depôs pesada carga de pecados.

(Das Homilias de São João Crisóstomo)

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

BREVIÁRIO DIGITAL - ANNE DE BRETAGNE (II)

LIVRO DE ORAÇÕES DE ANNE DE BRETAGNE* (1477 - 1514) - PARTE II

* esposa de dois reis sucessivos da França, Charles VII e Luís XII


AUTORIA DAS ILUMINURAS: JEAN POYER 



I.6 - O Apóstolo João e o Profeta Zacarias: o apóstolo é representado em trajes coloridos, com um cálice de ouro na mão, símbolo que faz referência ao fato de ter permanecido ileso depois de ter sido forçado a beber um cálice de veneno mortal. O profeta Zacarias, a exemplo de todos os demais profetas expostos nas iluminuras, segura  na mão direita um rolo de pergaminho.



I.7 - O Apóstolo Tomé e o Profeta Oséias: o apóstolo, representado empunhando uma lança, símbolo do seu martírio, conversa amistosamente com o profeta, que tem a seguinte inscrição no seu rolo de pergaminho: O mors ero mors tua morsus  — Ó morte, eu serei a tua morte.


I.8 - O Apóstolo Filipe e o Profeta Amós: o apóstolo, segurando firmemente uma cruz em forma de Tau (símbolo do seu martírio por apedrejamento após ser preso a uma cruz desta forma), conversa com o profeta, que segura um rolo de pergaminho e que é representado com a cabeça envolta por um turbante.


I.9 - O Apóstolo Bartolomeu e o Profeta Malaquias: o apóstolo parece estar lendo as palavras que estão inscritas no rolo de pergaminho que foi desenrolado pelo profeta, enquanto segura nas mãos um Livro do Novo Testamento e um alfange (adaga curva), símbolo do seu martírio por esfolamento.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

CARTA DO ASSASSINO DE SANTA MARIA GORETTI


Tenho agora quase 80 anos. Estou perto do fim dos meus dias. Olhando para o meu passado, reconheço que na minha juventude eu segui um mau caminho, um caminho que levou à minha ruína.

Através das revistas, dos espetáculos imorais e dos maus exemplos na imprensa, eu vi a maioria dos jovens da minha idade seguir o caminho do mal sem pensar duas vezes. Despreocupado, eu fiz a mesma coisa. Havia fiéis e cristãos verdadeiramente praticantes à minha volta, mas eu não lhes dava importância. Eu estava cego por um impulso bruto que me empurrava para uma forma errada de vida.

Com a idade de 20 anos, eu cometi um crime passional, cuja memória ainda hoje me horroriza. Maria Goretti, hoje uma santa, foi o bom anjo que Deus colocou no meu caminho para me salvar. As palavras dela, tanto de repreensão como de perdão, ainda hoje estão impressas no meu coração. Ela rezou por mim, intercedeu pelo seu assassino. Quase 30 anos de prisão se seguiram. Se eu não fosse menor de idade, pela lei italiana, eu teria sido condenado à prisão perpétua. No entanto, eu aceitei a pena como algo que eu merecia.

Resignado, eu expiei pelo meu pecado. A pequena Maria foi verdadeiramente a minha luz, a minha proteção. Com a ajuda dela, eu cumpri bem esses 27 anos na prisão. Quando a sociedade me aceitou de volta entre os seus membros, eu procurei viver de forma honesta. Com caridade angélica, os filhos de São Francisco, os frades capuchinhos menores, receberam-me entre eles, não como servo, mas como irmão. Tenho vivido com eles há 24 anos. Agora eu olho serenamente para o dia em que serei admitido à visão de Deus, para abraçar os meus entes queridos mais uma vez, e para ficar próximo do meu anjo da guarda, Maria Goretti, e a sua querida mãe, Assunta.

Que todos os que vierem a ler esta carta desejem seguir o santo ensinamento de fazer o bem e evitar o mal. Que todos possam acreditar, com a fé dos pequeninos, que a religião e os seus preceitos, não são algo que se possa prescindir. Pelo contrário, é o verdadeiro conforto e a única via segura em todas as circunstâncias da vida, mesmo nas mais dolorosas.

Paz e bem.


Alessandro Serenelli
Macerata, Itália - 5 de Maio de 1961

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

DA VIDA ESPIRITUAL (91)

Com os rins cingidos! Eis a expressão algo incomum que os textos bíblicos, na sua essência grandiosa, nos revela o imperativo de estarmos sempre prontos! Com os rins cingidos pelo cinto afivelado, etapa que complementa o ato da vestimenta. Sim, estamos vestidos, estamos liberados, estamos prontos! A que horas chegará o Senhor da vinha? Pela manhã, à meia noite ou de madrugada? Não importa; estamos prontos, com os rins cingidos. Como órfãos da Luz, mas incensados pela fé, estaremos sempre prontos para receber o Senhor Que Vem. 

domingo, 7 de agosto de 2016

AS PARÁBOLAS DA VIGILÂNCIA

Páginas do Evangelho - Décimo Nono Domingo do Tempo Comum


' Feliz o povo que o Senhor escolheu por sua herança!'

Três parábolas de Jesus são contempladas no Evangelho deste Décimo Nono Domingo do Tempo Comum, todas centradas na prática da vigilância. A vida cristã não pode prescindir da contínua vigilância sobre nossas palavras, pensamentos e ações, embalada pelo zelo às coisas do Pai e às virtudes de uma serena e santa prudência. Jesus vai falar da necessidade imperiosa da vigilância ao seu 'pequenino rebanho' (Lc 12, 32) a quem está destinado o Reino de Deus, que, como dito em outra passagem, 'não é deste mundo'. Sim, pequenino rebanho inserido na imensa multidão dos que se acercam apenas dos bens e futilidades desse mundo, pequenino rebanho que tem por Jesus o Bom Pastor, pequenino rebanho que vende o que tem, dá esmolas, que ajunta tesouros que o ladrão não rouba e nem a traça corrói, pequenino rebanho que guarda tesouros num coração que persevera em ser bondoso e compassivo.

A primeira voz da vigilância ressoa na alegoria dos empregados que esperam o senhor da casa voltar de uma festa de casamento. Na impossibilidade de saber com certeza a hora da chegada do Senhor Que Vem, a palavra de Jesus é uma exortação à vigilância constante, a qualquer hora, à meia noite ou de madrugada: 'Felizes os empregados que o Senhor encontrar acordados quando chegar' (Lc 12, 37). E estes bem-aventurados poderão sentar-se, então, à mesa com o Senhor.

Na segunda mensagem, reaviva-se o mesmo espírito de vigilância de todas as horas, na única certeza de que Jesus há de vir, uma vez mais, em busca do seu pequenino rebanho: 'Vós também, ficai preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que menos o esperardes' (Lc 12, 40). Os que se fartam da imprudência e da indiferença dos tempos, descuidam da suas casas (almas) e as tornam vulneráveis à ação de ladrões. Mas o que se cerca de diligências e cuidados, estará sempre pronto quando o Senhor chegar.

Na parábola final do administrador prudente e fiel, Jesus leva a virtude da vigilância à medida do nosso amor à Santa Vontade de Deus. Neste amor sem medidas, há de se fazer a medida do amor de cada um: 'A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido!' (Lc 12, 48). A perseverança e a vigilância de sempre devem ser reflexos cristalinos da nossa certeza nas verdades imutáveis dos Santos Evangelhos e das palavras de Cristo. Como um pequenino rebanho, confiantes e perseverantes na fé, guardemos no coração os tesouros dos que vivem vigilantes à doce espera do Senhor Que Vem.

sábado, 6 de agosto de 2016

PRIMEIRO SÁBADO DE AGOSTO


Mensagem de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, vidente de Fátima: 
                                                                                                                           (Pontevedra / Espanha)

‘Olha, Minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todo o momento Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que a todos aqueles que durante cinco meses seguidos, no primeiro sábado, se confessarem*, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação.’
* Com base em aparições posteriores, esclareceu-se que a confissão poderia não se realizar no sábado propriamente dito, mas antes, desde que feita com a intenção explícita (interiormente) de se fazê-la para fins de reparação às blasfêmias cometidas contra o Imaculado Coração de Maria no primeiro sábado seguinte.