sábado, 2 de agosto de 2014

PRIMEIRO SÁBADO DE AGOSTO


Mensagem de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, vidente de Fátima: 
                                                                                                                           (Pontevedra / Espanha)

‘Olha, Minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todo o momento Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que a todos aqueles que durante cinco meses seguidos, no primeiro sábado, se confessarem*, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação.’
* Com base em aparições posteriores, esclareceu-se que a confissão poderia não se realizar no sábado propriamente dito, mas antes, desde que feita com a intenção explícita (interiormente) de se fazê-la para fins de reparação às blasfêmias cometidas contra o Imaculado Coração de Maria no primeiro sábado seguinte.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

01 DE AGOSTO - SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO


'Quem reza se salva, quem não reza se condena!'

Hoje é o dia da celebração da festa de Santo Afonso Maria de Ligório, fundador da Congregação do Santíssimo Redentor e autor de 'Glórias de Maria', obra prima de devoção mariana. Nasceu em Marianella, pequena comunidade próxima a Nápoles, em 27 de setembro de 1696, de família nobre e, aos 16 anos, já era doutor em direito civil e canônico. Abandonando uma promissora carreira de advogado, consagrou-se a Nossa Senhora e ordenou-se sacerdote em 1726. Em 09 de novembro de 1732, fundou a Congregação do Santíssimo Redentor. Em 1762, foi nomeado Bispo de Santa Ágata dos Godos, cidade perto de Nápoles, retornando à devoção exclusiva à sua ordem somente em 1775. Faleceu no dia 1º de agosto de 1787, aos 91 anos, sendo canonizado pelo Papa Gregório XVI em 1839; Pio IX o declarou Doutor da Igreja em 1871 .

A santificação não é um processo único e específico, mas todos os santos têm em comum um extraordinário senso de auto-sacrifício e uma devoção ardente à Vontade Divina. Santo Afonso correspondeu à graça vencendo dolorosas doenças, perseguições e tentações.  A pior de todas as suas doenças foi um ataque terrível de febre reumática durante o seu episcopado, que durou de maio de 1768 a junho de 1769, que o deixou paralisado até o fim de seus dias. Por esta razão, a sua imagem é comumente retratada com seu queixo avançando proeminente em direção ao peito, reflexo da violenta curvatura que dobrou sua coluna vertebral para a frente e que limitava enormemente seus movimentos. As perseguições vieram principalmente do seu zelo fervoroso no combate às heresias do jansenismo e as tentações surgiram principalmente no final de sua vida quando, ao longo de três anos, passou por terríveis provações e diabólicas tentações contra todas as suas virtudes.

Tão notável quanto a intensidade com que Santo Afonso trabalhou é a enorme quantidade de trabalhos que produziu, sendo que esta prodigiosa coleção de obras teve início quando o santo já contava com cerca de 50 anos de idade. O primeiro esboço de sua obra 'Teologia Moral', por exemplo, só apareceu por volta de 1748. Entre o grande número de suas obras dogmáticas e ascéticas, 'Glórias de Maria', 'A Selva' e 'Meditações para Todos os Dias e Festas do Ano' são as mais conhecidas. Foi também poeta, músico e até pintor (o crucifixo abaixo foi pintado pelo santo). Amparava-se no princípio de não ser admissível perder um um único momento do seu tempo em render graças a Deus, como ilustrado exemplarmente neste seu sermão sobre o valor do tempo.


VALOR DO TEMPO

Fili, conserva tempus et devita a malo: 'Filho, guarda o tempo e evita o mal' (Ecl. 4, 23)

Sumário. Um só momento de tempo vale tanto como Deus, porque o homem pode a cada instante, por um ato de contrição ou de amor, adquirir a graça de Deus e aumentar a glória eterna. E tu, meu irmão, em que empregas o tempo tão precioso? Porque adias sempre para amanhã o que podes fazer hoje?... Reflete que o tempo passado já não te pertence; que o futuro não está em tua mão. Só tens o tempo presente para fazeres o bem, e este é brevíssimo! Mister é, pois, que o aproveites depressa, se não o quiseres chorar depois como perdido irremediavelmente.

I. Meu filho, diz o Espírito Santo, sê cuidadoso em conservar o tempo, porque é a coisa mais preciosa e o maior dom que Deus pode dar ao homem na terra. Até os próprios pagãos sabiam o que vale o tempo. Dizia Sêneca que não há valor igual ao do tempo: Nullum temporis pretium. Os Santos, porém, avaliaram muito melhor ainda o valor do tempo. Diz São Bernardino de Sena que um só momento vale tanto como Deus; porque o homem pode a cada instante, por um ato de contrição ou de amor, adquirir a graça de Deus e aumentar a glória eterna: Tempus tantum valet, quantum Deus.

O tempo é um tesouro que só se acha nesta vida; não se encontra na outra, nem no inferno, nem no céu. No inferno o grito contínuo dos réprobos é este: Oh, si daretur hora! 'Oxalá se nos desse uma hora!' Comprariam por todo o preço uma hora de tempo, que lhes bastaria para reparar a sua ruína; mas essa hora não a terão mais. No céu não há tristeza; mas se os bem-aventurados pudessem estar tristes, a sua única tristeza seria de terem perdido tempo nesta vida, tempo em que podiam adquirir maior glória e que não existe mais para eles.

Uma religiosa beneditina apareceu, depois da morte, com a auréola da glória, a uma pessoa e disse-lhe que estava plenamente contente; mas, se pudesse desejar alguma coisa, seria voltar à terra e sofrer para merecer mais glória. Acrescentou que de boa mente consentiria em sofrer até o dia do juízo a doença dolorosa que tinha sofrido antes de morrer, para adquirir a glória que corresponde ao merecimento de uma só Ave-Maria. - 'E tu, meu irmão, em que empregas o tempo? Porque adias sempre para amanhã o que podes fazer hoje?'

II. Reflete que já não te pertence o tempo passado; que o futuro não está em teu poder: só tens o tempo presente para praticares o bem. Pelo que te avisa São Bernardo: 'Desgraçado! como ousas contar com o futuro, como se Deus tivesse posto o tempo à tua disposição?' E Santo Agostinho acrescenta: 'Diem tenes, qui horam non tenes?' ('Como te podes prometer o dia de amanhã, se nem sequer sabes se te é dada mais uma hora de vida?') Em suma, conclui Santa Teresa: 'Se não estás pronto hoje para a morte, teme morrer mal'.

Ó meu Deus, agradeço-Vos o tempo que me dais para reparar as desordens da minha vida passada. Se chegasse a morte neste momento, uma das minhas maiores penas seria pensar no tempo que perdi. Ah! meu Senhor, destes-me o tempo para Vos amar, e empreguei-o em Vos ofender! Merecia ser enviado ao inferno desde o instante em que Vos voltei as costas; Vós, porém, me chamastes à penitência e me perdoastes. Prometi nunca mais ofender-Vos, mas quantas vezes tornei a injuriar-Vos, e Vós ainda me perdoastes! Bendita seja para sempre a vossa misericórdia! Se não fosse infinita, como poderíeis suportar-me tanto tempo? Quem poderia ter para comigo a paciência que Vós tivestes? Quanto sinto ter ofendido um Deus tão bom!

Meu amado Salvador, a vossa paciência para comigo deveria ser suficiente para me inflamar de amor para convosco. Por quem sois, não permitais que viva por mais tempo ingrato ao amor que me haveis dedicado. Desligai-me de tudo, e atraí-me todo ao vosso amor. Não, meu Deus, não quero perder outra vez o tempo que me dais para reparar o mal que fiz; quero empregá-lo todo em vosso serviço e em vosso amor. Fortalecei-me, dai-me a santa perseverança. Amo-Vos, ó bondade infinita, e espero amar-Vos sempre. Graças vos dou, ó Maria! Tendes sido a minha advogada para impetrar-me o tempo que estou gozando. Assisti-me agora, e fazei que o empregue sem reserva a amar o vosso divino Filho, meu Redentor, e a vós, minha Rainha e minha Mãe (II 50).

Santo Afonso Maria de Ligório: 'Valor do tempo' em Meditações para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II. Herder & Cia, 1921, p. 252-254, disponível em www.obrascatolicas.com

Santo Afonso de Ligório, rogai por nós!

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS


A Grande Revelação do Sagrado Coração de Jesus foi feita a Santa Margarida Maria Alacoque  durante a oitava da festa de Corpus Christi  de 1675...

         “Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e se consumir para lhes testemunhar seu amor. Como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelas suas irreverências, sacrilégios, e pela tibieza e desprezo que têm para comigo na Eucaristia. Entretanto, o que Me é mais sensível é que há corações consagrados que agem assim. Por isto te peço que a primeira sexta-feira após a oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa particular para  honrar Meu Coração, comungando neste dia, e O reparando pelos insultos que recebeu durante o tempo em que foi exposto sobre os altares ... Prometo-te que Meu Coração se dilatará para derramar os influxos de Seu amor divino sobre aqueles que Lhe prestarem esta honra”.


... e as doze Promessas:
  1. A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de meu Sagrado Coração.
  2. Eu darei aos devotos do meu Coração todas as graças necessárias a seu estado.
  3. Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias.
  4. Eu os consolarei em todas as suas aflições.
  5. Serei seu refúgio seguro na vida, e principalmente na hora da morte.
  6. Lançarei bênçãos abundantes sobre todos os seus trabalhos e empreendimentos.
  7. Os pecadores encontrarão em meu Coração fonte inesgotável de misericórdias.
  8. As almas tíbias se tornarão fervorosas pela prática dessa devoção.
  9. As almas fervorosas subirão em pouco tempo a uma alta perfeição.
  10. Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais empedernidos.
  11. As pessoas que propagarem esta devoção terão os seus nomes inscritos para sempre no meu Coração.
  12. A todos os que comungarem nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna.

    ATO DE DESAGRAVO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS 
    (rezai-o sempre, particularmente nas primeiras sextas-feiras de cada mês)

Dulcíssimo Jesus, cuja infinita caridade para com os homens é deles tão ingratamente correspondida com esquecimentos, friezas e desprezos, eis-nos aqui prostrados, diante do vosso altar, para vos desagravarmos, com especiais homenagens, da insensibilidade tão insensata e das nefandas injúrias com que é de toda parte alvejado o vosso dulcíssimo Coração.

Reconhecendo, porém, com a mais profunda dor, que também nós, mais de uma vez, cometemos as mesmas indignidades, para nós, em primeiro lugar, imploramos a vossa misericórdia, prontos a expiar não só as nossas próprias culpas, senão também as daqueles que, errando longe do caminho da salvação, ou se obstinam na sua infidelidade, não vos querendo como pastor e guia, ou, conspurcando as promessas do batismo, renegam o jugo suave da vossa santa Lei.

De todos estes tão deploráveis crimes, Senhor, queremos nós hoje desagravar-vos, mas particularmente das licenças dos costumes e imodéstias do vestido, de tantos laços de corrupção armados à inocência, da violação dos dias santificados, das execrandas blasfêmias contra vós e vossos santos, dos insultos ao vosso vigário e a todo o vosso clero, do desprezo e das horrendas e sacrílegas profanações do Sacramento do divino Amor, e enfim, dos atentados e rebeldias oficiais das nações contra os direitos e o magistério da vossa Igreja.

Oh, se pudéssemos lavar com o próprio sangue tantas iniquidades! Entretanto, para reparar a honra divina ultrajada, vos oferecemos, juntamente com os merecimentos da Virgem Mãe, de todos os santos e almas piedosas, aquela infinita satisfação que vós oferecestes ao Eterno Pai sobre a cruz, e que não cessais de renovar todos os dias sobre os nossos altares.

Ajudai-nos, Senhor, com o auxílio da vossa graça, para que possamos, como é nosso firme propósito, com a viveza da fé, com a pureza dos costumes, com a fiel observância da lei e caridade evangélicas, reparar todos os pecados cometidos por nós e por nossos próximos, impedir, por todos os meios, novas injúrias à vossa divina Majestade e atrair ao vosso serviço o maior número possível de almas.

Recebei, ó Jesus de Infinito Amor, pelas mãos de Maria Santíssima Reparadora, a espontânea homenagem deste nosso desagravo, e concedei-nos a grande graça de perseverarmos constantes até a morte no fiel cumprimento dos nossos deveres e no vosso santo serviço, para que possamos chegar todos à Pátria bem-aventurada, onde vós, com o Pai e o Espírito Santo, viveis e reinais, Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS: PRINCÍPIO/EXAME DE CONSCIÊNCIA

[A. PRINCÍPIO E FUNDAMENTO DE TODOS OS EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS]

23 – Princípio e Fundamento. O homem é criado para louvar, prestar reverência e servir a Deus nosso Senhor e, mediante isto, salvar a sua alma; e as outras coisas sobre a face da terra são criadas para o homem, para que o ajudem a conseguir o fim para que é criado. Donde se segue que o homem tanto há-de usar delas quanto o ajudam para o seu fim, e tanto deve deixar-se delas, quanto disso o impedem.

Pelo que, é necessário fazer-nos indiferentes a todas as coisas criadas, em tudo o que é concedido à liberdade do nosso livre arbítrio, e não lhe está proibido; de tal maneira que, da nossa parte, não queiramos mais saúde que doença, riqueza que pobreza, honra que desonra, vida longa que vida curta, e consequentemente em tudo o mais; mas somente desejemos e escolhamos o que mais nos conduz para o fim para que somos criados.

[...]

32 - Exame Geral de Consciência para se purificar e para melhor se confessar

[a) Elementos de discernimento]

Pressuponho haver em mim três pensamentos, a saber: um que é propriamente meu, que sai da minha pura liberdade e querer; e outros dois que vêm de fora: um que vem do bom espírito e o outro do mau.

33 – Pensamentos. Há duas maneiras de merecimento no mau pensamento que vem de fora. A primeira, vem, por exemplo, num pensamento de cometer um pecado mortal. Resisto-lhe prontamente, e fica vencido.

34 – A Segunda maneira de merecer é quando me vem aquele mesmo mau pensamento e eu lhe resisto, e torna-me a vir, uma e outra vez, e eu resisto sempre, até que o pensamento seja vencido. Esta segunda maneira é de mais merecimento que a primeira. 

35 – Peca-se venialmente, quando vem o mesmo pensamento de pecar mortalmente, e a pessoa lhe dá atenção, demorando-se um pouco nele, ou recebendo alguma deleitação sensual, ou havendo alguma negligência em rejeitar o tal pensamento.

36 – Há duas maneiras de pecar mortalmente:  a primeira é quando se dá consentimento ao mau pensamento, para o pôr logo em prática conforme consentiu, ou para o executar se pudesse.

37 – A segunda maneira de pecar mortalmente é quando se põe em ato aquele pecado; e é maior por três razões: a primeira, pelo maior espaço de tempo; a segunda, pela maior intensidade; a terceira, pelo maior dano das duas pessoas.

38 – Palavras. Não jurar, nem pelo Criador nem pela criatura, a não ser com verdade, necessidade e reverência. Necessidade entendo, não quando se afirma com juramento qualquer verdade, mas quando é de alguma importância para o proveito da alma ou do corpo ou de bens temporais. Reverência entendo, quando ao pronunciar o nome do seu Criador e Senhor, com consideração, se lhe tributa a honra e reverência devidas. 

39 – É de advertir que, ainda que no juramento em vão, pecamos mais jurando pelo Criador que pela criatura, é mais difícil jurar devidamente, com verdade, necessidade e reverência, pela criatura que pelo Criador, pelas razões seguintes: 

Primeira. Quando queremos jurar por alguma criatura, o fato de querer nomear a criatura não nos faz estar tão atentos nem advertidos para dizer a verdade ou para afirmá-la com necessidade, como ao querermos nomear o Senhor e Criador de todas as coisas. 

Segunda. É que, ao jurar pela criatura, não é tão fácil prestar reverência e acatamento ao Criador, como quando se jura pelo mesmo Criador e Senhor e se profere o seu nome; porque o fato de querer nomear a Deus nosso Senhor, traz consigo mais acatamento e reverência que o querer nomear uma coisa criada. Portanto, concede-se mais aos perfeitos que aos imperfeitos jurar pela criatura; porque os perfeitos, pela assídua contemplação e iluminação do entendimento, consideram, meditam e contemplam mais estar Deus nosso Senhor em cada criatura, segundo a sua própria essência, presença e potência; e, assim, ao jurarem pela criatura, estão mais aptos e dispostos para prestar acatamento e reverência a seu Criador e Senhor do que os imperfeitos.

Terceira. É que na frequência do jurar pela criatura, se há-de temer mais a idolatria nos imperfeitos que nos perfeitos.

40 – Não dizer palavra ociosa. Por palavra ociosa entendo a que não me aproveita a mim nem a outrem, nem se ordena a tal intenção. De sorte que falar de tudo o que é proveitoso ou com intenção de aproveitar à alma própria ou alheia, ao corpo ou a bens temporais, nunca é ocioso; nem o falar alguém de coisas que estão fora do seu estado, como se um religioso falasse de guerras e comércio. Mas, em tudo o que se disse, há mérito quando as palavras se ordenam a bom fim, e pecado, quando se dirigem a mau fim ou se fala inutilmente.

41 – Não dizer palavras para difamar ou murmurar, porque se descubro um pecado mortal que não seja público, peco mortalmente; e, se um pecado venial, venialmente; e, se um defeito, mostro o meu próprio defeito. Mas sendo reta a intenção, de duas maneiras se pode falar do pecado ou falta de outrem. 

Primeira, quando o pecado é público, como, por exemplo, de uma meretriz pública, de uma sentença dada em juízo, ou de um erro público que infecciona as almas com quem conversa. 

Segunda. Quando o pecado oculto se descobre a alguma pessoa para que ajude a levantar a que está em pecado; tendo, contudo, algumas conjecturas ou razões prováveis de que a poderá ajudar.

42 – Obras. Tomando por objeto [de exame] os dez mandamentos e os preceitos da Igreja e as disposições dos Superiores, tudo o que se põe em prática contra alguma destas três partes, conforme a sua maior ou menor importância, será maior ou menor pecado. Entendo por disposições dos Superiores, por exemplo, bulas de cruzadas e outras indulgências, como as que se concedem em ordem a obter a paz, confessando-se e tomando o Santíssimo Sacramento; porque não pouco se peca então, ao ser causa de outros agirem, ou ao agir nós contra tão piedosas exortações e disposições de nossos superiores.

[b) Método]

43 – Modo de Fazer o Exame Geral. Consta de cinco pontos: o Primeiro ponto é dar graças a Deus nosso Senhor pelos benefícios recebidos; Segundo, pedir graça para conhecer os pecados, e libertar-se deles; Terceiro, pedir conta à alma, desde a hora em que se levantou até ao exame presente, hora por hora ou período por período, primeiro, dos pensamentos, depois das palavras, e depois das obras, pela mesma ordem que se disse no exame particular; Quarto, pedir perdão, a Deus nosso Senhor, das faltas; Quinto, propor emenda, com sua graça. Pai Nosso

44 – Confissão Geral com a Comunhão. Na confissão geral, para quem voluntariamente a quiser fazer, entre outros muitos proveitos, se acharão três, fazendo-a aqui. 

Primeiro. Embora quem se confessa cada ano não esteja obrigado a fazer confissão geral, fazendo-a, terá maior proveito e mérito, pela maior dor atual de todos os pecados e faltas deliberadas de toda a sua vida. 

Segundo. Como nos exercícios espirituais se conhecem mais interiormente os pecados e a malícia deles que no tempo em que se não dava assim às coisas interiores; alcançando agora mais conhecimento e dor deles, terá maior proveito e mérito do que antes teria. 

Terceiro. É que, consequentemente, estando mais bem confessado e disposto, se acha mais apto e mais preparado para receber o Santíssimo Sacramento; cuja recepção ajuda não somente a não cair em pecado, mas ainda a conservar-se em aumento de graça [Esta confissão geral se fará melhor imediatamente depois dos exercícios da primeira semana].

(Excertos da obra 'Exercícios Espirituais', de Santo Inácio de Loyola)

31 DE JULHO - SANTO INÁCIO DE LOYOLA


Ad Maiorem Dei Gloriam 

Para a Maior Glória de Deus

O fundador da Companhia de Jesus e autor dos 'Exercícios Espirituais' buscou a via da santidade pelo completo despojamento de si, pelo abandono completo de sua vontade aos desígnios da Divina Providência, abstraindo-se de todo comodismo humano na sua caminhada espiritual para Deus. Eis aí a santidade das atitudes extremas, das decisões moldadas por uma fé intrépida, pela ação de um 'sim' sem rodeios ou incertezas. Uma vida de conversão e de entrega generosa a Deus, testemunho eloquente da fé cristã coerente e tenaz, levada às últimas consequências. 

Inácio Lopez nasceu na localidade de Loyola, atual município de Azpeitia, no País Basco/Espanha, em 31 de maio de 1491. De família rica, levou vida mundana até ser ferido gravemente numa perna na batalha de Pamplona. Na longa convalescença e pela leitura da vida de grandes santos, decidiu abandonar os bens terrenos e viver para a glória de Deus, quando tinha então 26 anos. Entre 1522 a 1523, escreveu os chamados 'Exercícios Espirituais', uma síntese de sua própria conversão e método de evangelização para uma vida espiritual em plenitude. Em 1528, ingressou na Universidade de Paris e a 15 de agosto de 1534, com mais seis companheiros, entre eles São Francisco Xavier, fundou a Companhia de Jesus, tornando-se sacerdote e assumindo o cargo de superior-geral da ordem jesuítica em 1540, com a aprovação do Papa Paulo III. Santo Inácio morreu em Roma, em 31 de julho de 1556, aos 65 anos de idade. Foi canonizado em 12 de março de 1622 pelo Papa Gregório XV. Em 1922, o Papa Pio XI declarou Santo Inácio padroeiro dos Retiros Espirituais.

ORAÇÃO DE SANTO INÁCIO DE LOYOLA

Tomai Senhor, e recebei
Toda minha liberdade,
A minha memória também.
O meu entendimento
E toda minha vontade.
Tudo que tenho e possuo,
Vós me destes com amor.
Todos os dons que me destes,
Com gratidão vos devolvo:
Disponde deles, Senhor,
Segundo vossa vontade.
Dai-me somente 
O vosso amor, vossa graça.
Isto me basta,
Nada mais quero pedir.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

VERSUS DA RESSURREIÇÃO: LÁZARO X JESUS

Cristo veio ressuscitar Lázaro, mas o impacto desse milagre tornou-se a causa imediata da Sua prisão e crucifixão (Jo 11,46-). [...] Ele bem sabia que Lázaro voltava à vida pelo preço do Seu próprio sacrifício; Ele devia descer ao túmulo de onde tinha de tirar o amigo; sentia que Lázaro tinha de viver e que Ele próprio tinha de morrer. As aparências inverter-se-iam: haveria uma festa em casa de Marta (Jo 12,1-), mas a Ele caberia uma última Páscoa de tristeza. 


E Jesus aceitava totalmente essa inversão: Ele tinha vindo do seio de Seu Pai para resgatar com o Seu sangue todo o pecado dos homens e assim fazer sair do túmulo todos os crentes, como fez com Seu amigo Lázaro ─ fazê-los voltar à vida, não durante algum tempo, mas para sempre. [...] Face à amplitude do que pretendia fazer nesse ato de misericórdia único, Jesus disse a Marta: 'Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em Mim, mesmo que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em Mim não morrerá para sempre'.


Façamos nossas estas palavras de consolo, quer em relação à nossa própria morte, quer em relação à morte dos nossos amigos: onde houver fé em Cristo, aí estará Ele em pessoa. 'Crês nisto?', perguntou Ele a Marta. Quando um coração pode responder como Marta: 'Sim, creio', nele Cristo torna-se misericordiosamente presente. Ainda que invisível, Ele está lá, mesmo junto de um leito de morte ou de um túmulo, sejamos nós que agonizamos ou sejam os nossos entes queridos. 


Que o Seu nome seja bendito! Nada nos pode tirar essa consolação. Pela Sua graça, temos tanta certeza de que Ele está lá com todo o Seu amor como se O estivéssemos vendo. Depois da nossa experiência do que aconteceu a Lázaro, não duvidaremos um instante sequer de que Ele está cheio de atenções para conosco e de que está sempre ao nosso lado.

(Excertos da homilia 'The Tears of Christ at the Grave of Lazarus', do Cardeal John Newman)

INSTRUÇÃO DOS APÓSTOLOS (III)


O termo Didaquê ou Didaqué  (∆ιδαχń em grego clássico) significa 'instrução' ou 'doutrina'. A chamada Didaquê dos Apóstolos seria, portanto, um documento que contém os ensinamentos dos primeiros seguidores de Cristo, estando, portanto, associado às próprias origens do Cristianismo. Compõe-se de apenas dezesseis pequenos capítulos, que expressam a síntese da vida social e religiosa das primeiras comunidades cristãs. 

Escrito nos anos finais do Século I (para alguns autores, entre os anos 60 e 70; para outros, em período posterior, entre os anos 70 e 90) e com origem provável na Palestina ou na Síria, o documento é uma fonte de referência como um manual de religião ou de Catecismo para os primeiros cristãos. Quanto à autoria, é pouco provável ter sido escrito por um único autor e que os potenciais autores tenham sido realmente alguns dos Doze Apóstolos. Mais razoável é considerar a Instrução dos Apóstolos como uma síntese dos seus ensinamentos, reunidos a partir de diferentes fontes escritas e/ou orais por diversos autores, de modo a serem transmitidos às primeiras comunidades cristãs.

(final)

Capítulo XI

1 Se, portanto, alguém chegar a vós com instruções conforme tudo aquilo que acima é dito, recebei-o. 

2 Mas, se aquele que ensina é perverso e expõe outras doutrinas para demolir, não lhe deis atenção; se, porém, ensina para aumentar a justiça e o conhecimento do Senhor, recebei-o como o Senhor.

3 A respeito dos Apóstolos e profetas, fazei conforme os dogmas do Evangelho.

4 Todo o Apóstolo que vem a vós seja recebido como o Senhor.

5 Mas ele não deverá ficar mais que um dia ou, se necessário, mais outro. Se ele, porém, permanecer três dias, é um falso profeta.

6 Na sua partida, o Apóstolo não leve nada, a não ser o pão necessário até a seguinte estação; se, porém, pedir dinheiro, é falso profeta.

7 E não coloqueis à prova nem julgueis um profeta em tudo que fala sob inspiração, pois todo pecado será perdoado, mas este pecado não será perdoado [Cf Mt 12,31].

8 Nem todo aquele que fala no espírito é profeta, a não ser aquele que vive como o Senhor. Na conduta de vida conhecereis, pois, o falso e o verdadeiro profeta.

9 E todo profeta que manda, sob inspiração, preparar a mesa não deve comer dela; ao contrário, é um falso profeta.

10 Todo profeta que ensina a verdade sem praticá-la é falso profeta.

11 Mas todo profeta provado (e reconhecido) como verdadeiro, representando o Mistério cósmico da Igreja, não ensinando, porém, a fazer como ele faz, não seja julgado por vós, pois ele será julgado por Deus. Assim também fizeram os antigos profetas.

12 O que disser [supostamente] sob inspiração: 'Dá-me dinheiro', ou qualquer outra coisa, não o escuteis; se, porém, pedir para outros necessitados, então ninguém o julgue.

Capítulo XII

1 Todo aquele que vem a vós, em nome do Senhor, seja acolhido. Depois de o haverdes sondado, sabereis discernir a esquerda da direita (pois tendes juízo).

2 Se o hóspede for transeunte, ajudai-o quanto possível. Não permaneça convosco senão dois ou, se for necessário, três dias.

3 Se quiser estabelecer-se convosco, tendo uma profissão, então trabalhe para o seu sustento.

4 Mas, se ele não tiver profissão, procedei conforme vosso juízo, de modo a não deixar nenhum cristão ocioso entre vós.

5 Se não quiser conformar-se com isto, é alguém que quer fazer negócios com o cristianismo. Acautelai-vos contra tal gente.

Capítulo XIII

1 Todo verdadeiro profeta que quer estabelecer-se entre vós é digno de seu alimento.

2 Do mesmo modo, também o verdadeiro mestre, como o operário, é digno de seu alimento.

3 Por isso, tomarás as primícias de todos os produtos da vindima e da eira, dos bois e das ovelhas e darás aos profetas, pois estes são os vossos grandes sacerdotes.

4 Se vós, porém, não tiverdes profeta, dai-o aos pobres. 

5 Se tu fizeres pão, toma as primícias e dá-as conforme manda a lei.

6 Do mesmo modo, abrindo uma bilha de vinho ou de óleo, toma as primícias e dá-as aos profetas.

7 E toma as primícias do dinheiro, das vestes e de todas as posses e, segundo o teu juízo, dá-as conforme a lei.

Capítulo XIV

1 Reuni-vos no dia do Senhor [Domingo] para a Fração do Pão e agradecei (celebrai a Eucaristia), depois de haverdes confessado vossos pecados, para que vosso sacrifício seja puro.

2 Mas todo aquele que vive em discórdia com o outro, não se junte a vós antes de se ter se reconciliado, a fim de que vosso Sacrifício não seja profanado [Cf Mt 5,23-25].

3 Com efeito, deste Sacrifício disse o Senhor: 'Em todo o lugar e em todo o tempo se me oferece um Sacrifício puro, porque sou o Grande Rei – diz o Senhor – e o meu Nome é admirável entre todos os povos' [Cf Mal 1,11-14].

Capítulo XV

1 Escolhei-vos, pois, bispos e diáconos dignos do Senhor, homens dóceis, desprendidos (altruístas), verazes e firmes, pois eles também exercerão entre vós a Liturgia dos profetas e doutores (mestres).

2 Não os desprezeis, porque eles são da mesma dignidade entre vós como os profetas e doutores.

3 Repreendei-vos mutuamente uns aos outros, não com ódio, mas na paz, como tendes no Evangelho. E ninguém fale com aquele que ofendeu o outro (próximo), nem o escute até que ele se tenha arrependido.

4 Fazei vossas preces, esmolas e todas as vossas ações como vós tendes no Evangelho de Nosso Senhor.

Capítulo XVI

1 Vigiai sobre vossa vida. Não deixeis apagar vossas lâmpadas nem solteis o cinto de vossos rins, mas estai preparados, pois não sabeis a hora na qual Nosso Senhor vem [Cf Mt 24,41-44; 25,13; Lc 13,35].

2 Reuni-vos frequentemente para procurar a salvação de vossas almas, pois todo o tempo de vossa fé não vos servirá de nada se, no último momento, não vos tiverdes tornado perfeitos.

3 Com efeito, nos últimos dias, se multiplicarão os falsos profetas e os corruptores; as ovelhas se transformarão em lobos e o amor em ódio [Cf Mt 24,10-13; 7,15].

4 Com o aumento da iniquidade, os homens se odiarão, se perseguirão e se trairão mutuamente, e então aparecerá o sedutor do mundo como se fosse o filho de Deus. Ele fará milagres e prodígios e a Terra será entregue em suas mãos e ele cometerá crimes tais como jamais se viu desde o começo do mundo [Cf Mt 24,24; 2Tes 2,4-9].

5 Então toda criatura humana passará pela prova de fogo e muitos se escandalizarão e perecerão. Mas aqueles que permanecerem firmes na sua fé serão salvos por Aquele que os outros amaldiçoam [Cf Mt 24,10-13].

6 Aparecerão os sinais da verdade: primeiro o sinal da abertura no céu, depois o sinal do som da trombeta e, em terceiro lugar, a ressurreição dos mortos [Cf Mt 24,31; 1Cor 15-52; 1Tes 4,16].

7 Mas não de todos, segundo a Palavra da Escritura: O Senhor virá e todos os santos com Ele.

8 Então verá o mundo a vinda do Senhor sobre as nuvens do céu [Cf Mt 24,30; 26,64].