domingo, 17 de novembro de 2013

A IGREJA DO FIM DOS TEMPOS

Páginas do Evangelho - Trigésimo Terceiro Domingo do Tempo Comum 


Eis um dia singular daqueles tempos ditosos em que Cristo andou pela terra dos homens: Jesus, os apóstolos e outras tantas pessoas caminhavam juntos, sob a vista esplêndida do Templo de Jerusalém que, erigido por Salomão como obra prima das grandes realizações humanas, era então o centro de peregrinação religiosa de todo o povo judeu. Mesmo abundantes na graça, alguns daqueles eram ainda homens de pouca fé: admiravam o templo físico portentoso da criatura, mas não percebiam o Templo de Deus vivo diante deles no caminho poeirento ao Monte das Oliveiras.

Jesus, ciente desse naturalismo extremo, vai confundi-los: 'Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído' (Lc 21,6). Menos de quarenta anos depois, a terrível profecia de Jesus seria concretizada por completo. Mas aquelas pessoas, mesmo sob evidências tão claras, pensaram em termos dos fins dos tempos e Jesus, então, vai respondê-los, associando o acontecimento da destruição do Templo tão próxima com a consumação dos séculos, em tempos bem mais remotos: 'Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu!’ e ainda: ‘O tempo está próximo’. Não sigais essa gente! Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não fiqueis apavorados. É preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim' (Lc 8-9).

E Jesus val lhes falar não apenas dos sinais das guerras e das revoluções, mas também dos terremotos, das pestes, da fome, dos escândalos, de eventos extraordinários no céu. Mas todos estes serão apenas sinais precursores. Antes da grande tribulação, a Igreja e os filhos da Igreja serão caluniados, perseguidos e mortos: estes são os grandes sinais dos tempos do fim. A era das perseguições também deve ser a era dos mártires, a era das testemunhas fieis, dos herdeiros da graça, dos soldados de Cristo revestidos da armadura espiritual de São Paulo: 'Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé' (2 Tm 4,7).

Mas a Divina Providência vai interceder em favor do 'pequeno resto' porque, os perseverantes na fé e fieis a Cristo, que foram odiados por causa do Seu nome, não perderão 'um só fio de cabelo da cabeça' (Lc 21, 18) pois Jesus assim o prometeu: 'É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!' (Lc 21, 19). A Igreja caluniada e perseguida, traída pelos seus próprios filhos, porque, muitas vezes, 'Sereis entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos' (Lc 21, 16), renascerá triunfante no embate final, pois nasceu de Cristo e, em Cristo, nasceu para a eternidade.

sábado, 16 de novembro de 2013

VISÕES DO INFERNO (IV)


DE SANTO ANTÔNIO MARIA CLARET

A sensação dos tormentos do inferno é essencialmente terrível. Ele se parece, ó alma minha, como uma noite escura sobre o cume de uma montanha alta. Lá embaixo há um vale profundo, e a terra se abre de maneira que, com o teu olhar, podes ver o inferno e sua profundidade. Ele se parece como uma prisão situada no centro da terra, muitos quilômetros abaixo, todo cheio de fogo, preso num recinto de forma tão impenetrável que, por toda a eternidade, nem se quer a fumaça pode escapar. Nesta prisão os condenados estão próximos um do outro como tijolos num forno... Imagine o calor do fogo em que são queimados! 

Primeiramente, o fogo se alastra por todas as partes e tortura inteiramente o corpo e a alma. Uma pessoa condenada permanece no inferno para sempre no mesmo lugar que foi destinado pela justiça divina, sem ser capaz de mover-se, como um prisioneiro num tronco. O fogo que o envolve totalmente, como um peixe na água, o queima em volta, à sua esquerda, à sua direita, encima e embaixo. Sua cabeça, seu peito, seus ombros, seus braços, suas mãos e seus pés estão totalmente invadidos pelo fogo, de maneira que ele, por inteiro, se assemelha a um peça de ferro incandescente e cintilante, que acaba de ser retirado do forno. O teto do recinto em que moram as pessoas condenadas é de fogo; a comida que se come é fogo; a bebida que se toma é fogo, o ar que se respira é fogo, tudo quanto se vê e se toca é fogo... 

Mas este fogo não está simplesmente fora dele; além do mais ele transpassa pela pessoa condenada. Invade o seu cérebro, seus dentes, sua língua, sua garganta, seu fígado, seus pulmões, seus intestinos, seu ventre, seu coração, suas veias, seus nervos, seus ossos, inclusive a medula, bem como o sangue. 'No inferno' – segundo São Gregório Magno – 'haverá um fogo que não pode se apagar, um verme que não morre, um cheiro insuportável, uma escuridão que pode se sentir, castigo por açoite de mãos selvagens, com todos os presentes desesperados por qualquer coisa boa'. 

Um dos fatos mais terríveis é que, pelo poder divino, este fogo vai tão longe como para atuar sobre as faculdades da alma, queimando-as e atormentando-as. Suponhamos que eu me achasse colocado no forno de um ferreiro, de modo que todo o meu corpo estivesse em pleno ar, exceto um braço que está posto no fogo, e que Deus fosse preservar a minha vida por mil anos nesta posição. Não seria isto uma tortura insuportável? Como seria então estar completamente invadido e rodeado de fogo, o qual não atinge apenas um braço, mas inclusive todas as faculdades da alma? 

Para quem já teve a graça de ver, e de sentir, em sonhos o que seja este tormento infinito, este fogo que queima o espírito sem consumir, esta consciência que acusa sem cessar, que atormenta mais que mil fogos, que faz compreender a eternidade do suplício, que entende a impossibilidade de fugir dali, contra a qual não adianta lutar, esbravejar, sequer odiar, é possível afirmar que o fogo exterior, que queima o corpo é apenas uma pálida centelha daquele que inflama o espírito. De fato, a alma daria tudo para poder esquecer, fugir dos pensamentos, escapar deste tormento mental, esmagar seu cérebro, pois para ela isso significaria um alívio assombroso em seu tormento. É mais espantoso do que o homem pode imaginar. 

Em segundo lugar, este fogo é muito mais espantoso do que o homem pode imaginar. O fogo natural que vemos durante esta vida tem um grande poder para queimar e atormentar. Não obstante, este não é nem sequer uma sombra do fogo do inferno. Há duas razões pelas quais o fogo do inferno é muito mais atroz, que vai além de toda comparação, do que o fogo deste mundo. 

A primeira razão é a justiça de Deus, da qual o fogo do inferno é um instrumento dirigido para castigar o mal infinito causado contra a sua suprema majestade, que fora menosprezada por uma criatura. Para tanto a justiça supre este elemento com um poder tão grande que quase alcança o infinito. A segunda razão é a malícia do pecado. Como Deus sabe que o fogo deste mundo não é suficiente para castigar o pecado como este merece, Ele tem dado ao fogo do inferno um poder tão grande que nunca poderá ser compreendido pela inteligência humana. Entendem agora, o quão eficazmente queima este fogo? 

O fogo queima tão eficazmente, - ó minha alma! – que, de acordo com os grandes mestres da escola ascética, se uma simples faísca caísse numa pedra de moinho, esta se reduziria num instante em pó. Se caísse numa bola de bronze, esta se derreteria instantaneamente como se fosse de cera. Se caísse sobre um lago congelado, este haveria de ferver no mesmo instante. 

Façamos uma breve pausa, ó alma minha, para que tu respondas a algumas perguntas que te farei. Primeiro, te pergunto: Se um forno especial fosse acesso, como usualmente se faz para atormentar os mártires, e, então, alguns homens colocassem diante de ti todo tipo de bens que o coração humano possa desejar, e garantissem a oferta de um reino próspero – se tudo isso te fosse prometido em troca de que entrasses, só por meia hora, no forno ardente, o que escolherias fazer? Nem por cem reinos! 

'Ah!' – dirias – 'se me oferecesses cem reinos, eu nunca seria tão idiota em aceitar tais extremos tão brutais, não importa quantas coisas importantes me oferecessem, mesmo que estivesse segura de que Deus iria preservar a minha vida durante esses momentos de sofrimento'. Em segundo lugar, eu te pergunto: 'Se tu já estivesses na posse de um grande reino, e estivesses nadando num mar de riqueza, de maneira que não precisarias de nada, e fosses atacada por um inimigo, feita prisioneira e acorrentada, se fosses obrigada a escolher entre perder o teu reino ou passar meia hora dentro de um forno incandescente, o que escolherias?' 'Ah!' – dirias – 'prefiro passar toda a minha vida na pobreza extrema e submeter-me a qualquer injúria e infelicidade do que sofrer tão grande tormento!' 

Neste instante, dirige os teus pensamentos daquilo que é temporal para o que é eterno. Para fugir do tormento de um forno ardente, que duraria somente meia hora, tu sacrificarias qualquer propriedade, principalmente as coisas que mais te satisfazem, e  estarias disposto a sofrer qualquer outro dano temporal, não importando quão trabalhoso pudesse ser. Então, por que não pensas da mesma maneira quando discutes sobre os tormentos eternos? 

Deus não te ameaça com meia hora de suplício dentro do forno ardente, mas, pelo contrário, com uma prisão de fogo eterno. Para escapar dela, não deverias renunciar a tudo o que está proibido por Ele, não importando quão prazeroso possa ser, e abraçar alegremente tudo quanto Ele ordena, mesmo que fosse extremamente desagradável? O mais espantoso do inferno é a sua duração. A pessoa condenada perde a Deus e o perde por toda a eternidade. Aliás, o que é a eternidade? Ó alma minha, até agora nenhum anjo pode compreender o que é a eternidade! Como então poderás tu compreendê-la? Ainda assim, para formarmos alguma ideia sobre ela, consideremos as seguintes verdades: 

A eternidade nunca termina. Esta é a verdade que tem feito tremer até os maiores santos. O juízo final virá o mundo será destruído, a terra engolirá todos os condenados, e estes serão lançados no inferno. Então, com sua mão todo-poderosa, Deus os encerrará para sempre em tão amaldiçoada prisão. Desde então, tantos milênios se passaram como há folhas nas árvores e nas plantas de toda a terra, tantos milhares de anos, como existem gotas de água em todos os mares e rios da terra, tantos anos com existem átomos no ar, como existem grãos de areia em todas as praias de todos os mares. Logo, depois de passarem todos estes incontáveis anos, o que será a eternidade? 

No entanto ela não será sequer uma centésima parte dela, ou uma milésima – nada. Então começará novamente e durará tanto como antes, novamente, assim por diante, até que haja se repetido mil vezes, e um bilhão de vezes, novamente. E logo depois de um período de tempo tão longo, nem sequer terá passado a metade, nem sequer uma centésima parte ou uma milésima parte, nem sequer uma parte da eternidade. Em todo este tempo não haverá interrupção na queima dos condenados, começando tudo novamente. Oh! que mistério profundo! Um terror sobre todos os terrores! Oh! eternidade! Quem pode compreender-te? 

Suponhamos que, no caso de maldito Caim, chorando no inferno somente derramasse a cada mil anos uma única lágrima. Agora, alma minha, guarde os teus pensamentos e leve em consideração este fato: por seis mil anos, no mínimo, Caim tem estado no inferno e tem derramado apenas seis lágrimas, que Deus milagrosamente lhe preservara. Quantos anos levariam para que as suas lágrimas cobrissem todos os vales da terra e inundassem todas as cidades, povos e vilas e todas as montanhas até que inundasse toda a terra? Sabemos que a distância entre a terra e o sol é de trinta e quatro milhões de léguas. Quantos anos faltariam para que as lágrimas de Caim enchessem este imenso espaço? Da terra ao céu estimamos que haja uma distância de cento e sessenta milhões de léguas. 

Oh! Deus! Que quantidade de anos teríamos que imaginar que seria necessário para encher de lágrimas este imenso espaço? E ainda assim – Oh! Verdade incompreensível! – estejam seguros disto, porque Deus não pode mentir – chegaria o tempo em que as lágrimas de Caim seriam suficientes para inundar o mundo, para alcançar inclusive o sol, para tocar o céu, e encher todo o espaço entre a terra e o mais alto do céu. Isso, porém, não é tudo. 

Se Deus secasse todas estas lágrimas desde a última gota, e Caim começasse a chorar outra vez, ele voltaria outra vez a encher o espaço inteiro e o inundaria mil vezes e um milhão de vezes em sucessão, ao longo de todos esses incontáveis anos, nem sequer haveria passado a metade de eternidade, nem sequer uma fração. Depois de todo esse tempo, ardendo no inferno, os sofrimentos de Caim estariam tão somente começando. A eternidade, neste caso, não tem alívio. Seria de fato uma pequena consolação, de muito pouco benefício, para as pessoas condenadas, se fossem capazes de receber um breve alento a cada mil anos. 

Imaginemos um lugar do inferno onde haja três condenados. O primeiro está submergido num lago de fogo sulfúrico; o segundo está preso por uma grande pedra e está sendo atormentado por dois demônios, um dos quais constantemente lhe lança chumbo derretido na garganta, enquanto o outro lhe derrama sobre todo o seu corpo, cobrindo-lhe desde a cabeça até os pés. O terceiro réprobo está sendo torturado por duas cobras, uma das quais o envolve com seu corpo e o morde cruelmente, enquanto que a outra entra no seu corpo e ataca o seu coração. Suponhamos que Deus se apiede deles e lhes conceda um curto respiro.

O primeiro homem, depois de haver passado mil anos, é removido do lago e recebe o conforto de beber água fria, e, depois de uma hora, é novamente jogado no lago. O segundo, depois de mil anos de tormento, é removido de seu lugar e lhe é permitido descansar mas, depois de uma hora, é jogado novamente no mesmo tormento. O terceiro, depois de mil anos, se vê livre das cobras; porém, após uma hora de alívio, novamente é abusado e atormentado por elas. Ah! quão limitada seria esta consolação – sofrer por mil anos para ter alívio somente por uma hora!

Aliás, o inferno nem sequer tem esta consolação. Todos se queimam sempre nessas chamas assustadoras e nunca recebem nenhum alívio por toda a eternidade. O condenado é corroído e ferido pelo remorso, e nunca terá um descanso sequer em toda a eternidade. Sempre sofrerá uma sede abrasadora e nunca receberá o frescor de um pouco de água por toda a eternidade. Sempre se contemplará detestado por Deus e nunca poderá receber a alegria de um simples olhar de ternura de Deus por toda a eternidade. O condenado se sentirá sempre maldito pelo céu e pelo inferno, e nunca receberá um simples gesto de amizade. É uma das desgraças essenciais do inferno que todo o tormento será sempre sem consolo, sem remédio, sem interrupção, sem final, eterno.

Agora eu compreendo em parte, ó meu Deus, o que é o inferno. É um lugar de tormentos excessivos, de desesperança extrema. É o lugar onde mereço estar por causa dos meus pecados, onde eu estaria desterrado por alguns anos, se a tua imensa misericórdia não me tivesse libertado. Repetirei mil vezes: O Coração de Jesus me tem amado, ou, do contrário, estaria eu agora no inferno! O Sangue de Jesus me tem reconciliado com o Pai Celestial, ou minha morada seria o inferno. Este é o cântico que eu quisera cantar a Ti, meu Deus, por toda a eternidade. Sim, de agora em diante, minha intenção é repetir estas palavras tantas vezes como os momentos se sucedem desde aquela maldita hora em que te ofendi pela primeira vez.

Qual tem sido a minha gratidão para com Deus pela bondosa misericórdia que Ele me tem mostrado? Ele me livrou do inferno. Oh! Imenso amor! Oh! Infinita bondade! Depois de um benefício tão grande, não deveria eu lhe dar todo o meu coração e amá-lo com o amor do mais inflamante serafim? Não deveria eu dirigir todas as minhas ações até Ele e, em cada coisa, buscar somente contentar a vontade divina, aceitando todas as contradições com alegria, de maneira que possa lhe devolver o meu amor?

Poderia fazer alguma coisa menor do que isso depois de uma bondade tão grande? Oh! Ingratidão, merecedora de outro inferno! Eu o deixei de lado, Deus meu! Resisti à vossa misericórdia, cometendo novos pecados e ofensas. Sei que tenho feito o mal, ó meu Deus, e me arrependo de todo o meu coração. Ah! se pudesse derramar um mar de lágrimas por tão ofensiva ingratidão! Ó Jesus, tende misericórdia de mim, pois agora decidi que é melhor sofrer mil mortes do que Vos ofender novamente.

('Os tormentos do inferno', dos escritos de Santo Antônio Maria Claret)

ASSIM FALOU O PADRE PIO

Um frei chamado Francesco Antonelli estava sentado com Padre Pio próximo a uma janela, ao anoitecer. Após alguns minutos de silêncio, em que Padre Pio observava admirável a Lua, este disse a frei Antonelli: 'Veja Francesco, posso não estar fisicamente perto do Papa, porém, me conforta saber que Ele existe, e que Nosso Senhor não nos abandonou. Ontem, o Papa admirava a Lua das janelas de Roma; hoje, eu admiro esta mesma criação de Deus da pobre janela deste convento. Vede, pois, quão bondoso é o Criador, que faz a Terra e os astros girarem para que eu me sinta mais perto do Papa'.

Certa vez, um coroinha perguntou a Padre Pio: 'Padre, quem é o Papa?'. Padre Pio lhe explicou caridosamente: 'Meu pequeno filho, saiba que Jesus criou um lindo jardim, com belíssimas flores, e chamou doze jardineiros para ajudá-lo. Este jardim era tão querido por Jesus, que Ele escolheu, entre seus doze jardineiros ajudantes, um para que ficasse em seu lugar de Jardineiro chefe após sua volta ao Céu. E quando Jesus já estava lá em cima com Deus, mandou outro Jardineiro ainda mais potente para ajudar a cuidar de seu jardim. Agora veja meu filho: este belo jardim tão querido por Jesus é a Igreja, e o Jardineiro Chefe é o Papa. Quem Jesus enviou para ajudar o Jardineiro chefe a cuidar do jardim é o Espírito Santo. Este é o Papa: aquele que está no lugar de Jesus cuidando de seu lindo jardim'.

Uma senhora idosa confessa a Padre Pio: 'Padre, por mais esforço que eu faça, não consigo enxergar o Papa como o substituto de Jesus no mundo'. Padre Pio então lhe diz: 'Minha filha, quem não aceita o Papa como o Vigário de Cristo, também não pode aceitar Maria como Mãe de Deus. Olhe para Nossa Senhora: ela era uma frágil menina que foi escolhida por Deus para trazer Deus aos homens. Agora, olhe para o Papa: ele é um pobre homem que foi escolhido por Deus para levar os homens a Deus'. Após um breve momento de silêncio, Padre Pio continua: 'Agora vá, e quando se arrepender, venha reconciliar-se com Deus'.

(Padre Pio e o Papa, Frei Carlo Maria, trad. Carlos Wolkartt, original do blog christifidei)

PALAVRAS DE SALVAÇÃO





'Se soubéssemos como é grande o poder das boas almas do Purgatório sobre o Coração de Jesus [em nosso favor], e se soubéssemos também quantas graças poderíamos obter por intercessão delas, é certo, elas não seriam tão esquecidas'.

     (Cura d'Ars)

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

OS PRIMEIROS CRISTÃOS: SÃO PEDRO E A IGREJA DE ROMA

Quando São Pedro chegou a Roma, já ali existia uma florescente comunidade cristã. Ele mesmo escrevera em 58, quando da sua estada em Corinto: 'Graças dou ao meu Deus... porque a vossa fé é celebrada em todo o mundo' (Rom 1,8). Não sabemos quem tenha sido o primeiro pregador do Evangelho na capital. Provavelmente foram aqueles judeus que de Roma tinham ido à Festa de Pentecostes e tinham assistido o primeiro sermão de São Pedro (At 2,10). Pode ser também que tenham sido soldados da coorte itálica, que tinha a sua sede em Cesaréia. O centurião Cornélio, batizado por São Pedro, era desta coorte. A primeira notícia certa do cristianismo de Roma data dos últimos anos do imperador Cláudio (Suet. Claud. 25, 4). Havendo sérias perturbações da ordem política por causa do nome de Cristo, Cláudio mandou expulsar toda a colônia dos hebreus. Esta notícia de Suetônio é confirmada pelos Atos dos Apóstolos (At 18,2). 

Mas, se é incerto que foi o primeiro pregador do Evangelho em Roma, é certo que o próprio príncipe dos apóstolos ali pregou, estabeleceu a sua sede episcopal e sofreu o martírio. Infelizmente, as notícias que temos de São Pedro são muito escassas. Os Atos dos Apóstolos, nos primeiros onze capítulos, só se referem à sua pregação em Jerusalém e outras partes da Palestina, até o batismo de Cornélio. A sua atividade durante os anos seguintes nos é quase completamente desconhecida. 

Pilatos havia sido deposto por Vitélio, governador da Síria, que o havia enviado a Roma (Jos Ant 18 4,2). Marcelo, seu substituto, não chegara ainda quando Anás e Caifás, arrogando-se direitos que não lhes pertenciam, condenaram Estêvão e perseguiram os cristãos. O novo governador depôs do seu cargo o sumo sacerdote. A Tibério sucedeu Calígula que, para si mesmo, exigia um culto divino (Suet. Cal. 22). Os judeus, como súditos que eram deste monstro coroado, viam-se constrangidos também a adorá-lo. A resistência que opunham valeu-lhes as mais funestas consequências. Perseguidos eles mesmos, não puderam ser perseguidores. Por conseguinte, a Igreja gozava então de paz em toda a Palestina.

São Pedro aproveitou-se da ocasião para visitar as igrejas já fundadas. Em Lida, deu saúde a Enéias; em Jope, ressuscitou Tabita (At 9, 33-). Achava-se ainda em Jope quando teve a visão dos animais imundos, que o levou ao batismo de Cornélio e de toda a sua família (At 10, 1-). Entrementes, Calígula caiu morto pelo punhal dos conjuradores. Claúdio subiu ao trono (41 - 54). Os reis tributários felicitaram-no pela elevação e, entre estes, quem mais se distinguiu foi Herodes Agripa. Lembrando-se da sua antiga amizade, Cláudio, após a morte de Marcelo, confirmou-o rei de toda a Palestina (Jos., Ant. 19, 4, 1-2, 5,1), o que encheu de alegria os judeus; mas para os cristãos significava o início de novas perseguições. 

A primeira vítima foi São Tiago, a quem Herodes mandou matar à espada (At 12, 1-2). Vendo que esta ordem agradava aos judeus, ordenou também a prisão de São Pedro, para que fosse morto depois da Páscoa. Mas um anjo veio restituir-lhe a liberdade, e Pedro partiu para outro lugar (At 12, 17). Para onde? Antioquia? Roma? Não o sabemos. Orígenes e outros escritores eclesiásticos atribuem-no a fundação da sede episcopal de Antioquia. Segundo antiga tradição, o apóstolo dirigiu esta igreja pelo espaço de sete anos. Mas não temos uma prova a favor da tradição. E nada impede admitir que de Jerusalém se tenha dirigido à Roma. é isto que nos diz outra antiga tradição transmitida por Eusébio (Eu 2,14) e outros escritores. Pelo decreto de Cláudio provavelmente teve de deixar de novo a capital. Certo é que, depois da morte de Agripa, voltou à igreja-mãe, presidiu o concílio dos apóstolos e encontrou-se com São Paulo em Antioquia. Depois de diversas viagens pelo Oriente e pela Grécia, estabeleceu-se definitivamente em Roma e dirigiu os destinos desta comunidade até a sua morte.

O primeiro a levantar uma dúvida contra esta tese católica [São Pedro ter estado em Roma] foi Marsílio de Pádua, sectário de Luís IV da Baviera, na luta contra o Papa João XXII (1316 - 1334). Negaram-na, em seguida, também Calvino e, no século XIX, ainda Baur, Lipsius e outros protestantes. Sobremaneira fortes tornaram-se as negações protestantes por ocasião do Concílio Vaticano. E ainda que a maioria dos protestantes, como Harnack, reconheçam o fato hoje em dia, há ainda quem ouse negá-lo, cego pelos preconceitos de uma historiografia tendenciosa.

Não Jerusalém, a cidade deicida, mas Roma tinha sido escolhida pela Providência Divina para ser a capital do reino de Deus na terra. Para Roma é que ela dirigiu os passos do primeiro papa. Realmente, há tantas provas da estada de São Pedro em Roma, e provas tão convincentes, que só um homem de má fé pode ainda duvidar dela. Já as palavras dos Atos dos Apóstolos (At 12, 17) designam, com muita probabilidade, a cidade de Roma. Se, em seguida, o mesmo apóstolo, em sua primeira epístola, chama 'Babilônia' o lugar de sua residência (I Pe 5,13), esta Babilônia não pode ser senão Roma. Aquela das margens do Eufrates, ainda que existisse, estava deserta, como nos diz Estrabão e Plínio, o Velho; e, conforme a narração de Josefo (Ant. 18, 9), judeus quase não havia mais nela. A Babilônia do Egito era apenas um pequeno castelo romano. Depois de ter São João Evangelista chamado Roma 'a grande Babilônia' (Apoc 16, 19; 17, 5; 18, 2-), toda a antiguidade cristã a conhecia por este nome, como Pápias atesta e, mais claramente, Clemente de Alexandria (Eus,. HE 2,15).

Pelo ano de 96, três decênios depois da morte de São Pedro, Clemento Romano escreveu aos coríntios: 'A esses santos varões (Pedro e Paulo), que ensinavam a santidade, se associou grande multidão de eleitos que, suplicados e atormentados pelo ódio, foram entre nós, de ótimo exemplo' (Cor 6,1). Do mesmo modo, Santo Inácio de Antioquia, nos primeiros anos do século II, supõe a existência dos príncipes dos apóstolos em Roma quando escreve: 'Eu não vos ordeno como Pedro e Paulo' (Rom 4,3). Eusébio conservou-nos o testemunho de Clemente de Alexandria (c. 150-215) e de Pápias, bispo de Hierapólis e discípulo de São João, segundo os quais São Pedro pregou em Roma e ali pregou o evangelho de São Marcos, escrito a instâncias da comunidade romana. Pápias acrescenta que São Pedro escreveu em Roma a sua primeira epístola (Eus. HE 2; 15; 6, 14). Dionísio de Corinto escreveu ao papa Sotero (165-74): 'Pedro e Paulo, assim como vieram à cidade de Corinto, plantando a nossa Igreja, com os seus ensinamentos, assim igualmente se foram à Itália, onde vos doutrinaram e sofreram o martírio ao mesmo tempo' (Eus. HE 2,25).

Dez anos depois, Santo Irineu fala da fundação da igreja romana pelos apóstolos Pedro e Paulo (Adv. Haer. 3,3,2) e o seu testemunho é de tão alto valor que, por si só, bastaria para confundir todos os adversários. Discípulo de São Policarpo e clérigo e bispo de Lião, conhecia a tradição do Oriente e do Ocidente; e não contente ainda, foi a Roma, a fim de estudar as origens e a doutrina da igreja da capital.

Contemporâneo de Santo Irineu foi Tertuliano que, pelo fim do século II, passou longos anos em Roma. Ele atesta a pregação e  a morte de São Pedro em Roma (De Praesc., 32, 36). Pelo mesmo tempo, o presbítero romano Caio podia objetar, numa disputa com Proclo, chefe da seita catafrígia: 'Eu posso mostrar os troféus (sepulcros) dos apóstolos. Quer vás ao Vaticano, quer vás à Via Ostiense, encontrarás os troféus daqueles que fundaram esta Igreja' (Eus. HE, 2,25).

Com isso já nos achamos no campo da arqueologia. Tanto em cima da terra, como nas galerias subterrâneas, encontramos inúmeras vezes os nomes de Pedro e Paulo. Em medalhões, copos e paredes os achamos, às vezes acompanhados de suas imagens. A cadeira de São Pedro no cemitério de Priscila, as inscrições nas catacumbas de São Sebastião e os baixos relevos de muitos sarcófagos atestam bem altamente a estada de São Pedro em Roma. Aliás, nenhuma outra cidade jamais reclamou para si a honra de possuir os sepulcros dos príncipes dos apóstolos. Foi, pois, em Roma que São Pedro doutrinou e batizou. Foi em Roma também que governou a igreja, primeiro bispo da cidade eterna.

Efetivamente, para essa afirmação podemos aduzir número interminável de testemunhos históricos. Basta dizer que os autores de toda a antiguidade cristã estão de acordo em atestar o episcopado romano de Pedro, e que, com o nome de Pedro, todos os catálogos dos pontífices romanos abrem a lista de sucessão episcopal de Roma. Assim, o catálogo de Santo Irineu, o mais antigo e de irrefutável autenticidade (Adv. Haer. 3, 3, 3); assim, Eusébio na sua Crônica e na sua História da Igreja; assim o catálogo liberiano de 354; assim também o Index, i. é, um grupo de catálogos dos séculos V-VII; assim finalmente o Liber Pontificalis.

Segundo antiga tradição que remonta ao século IV ou talvez o século III, São Pedro foi bispo de Roma pelo espaço de vinte e cinco anos. São Jerônimo escreve que, no segundo ano do imperador Cláudio, 'Simon Petrus... Roman pergit ibiqui viginti quinque annis cathedram sacerdotale tenuit' (De Vir. ill. 1, cfr. Chron. 2). Colocando-se a morte do apóstolo no ano 67, este teria chegado à Roma no ano 42, precisamente depois de sua prisão em Jerusalém.

(Excertos da obra 'Compêndio de História da Igreja' de Frei Dagoberto Romão, Petrópolis, 1949)

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

SACERDÓCIO ETERNO

Lê-se no Concílio de Trento: Devemos reconhecer que entre todas as obras, ao alcance dos fiéis, nenhuma há mais santa que este mistério terrível [a celebração da Santa Missa]. Nem o próprio Deus pode fazer que haja no mundo uma ação maior e mais santa que a celebração duma missa. Ó, quanto mais excelente que todos os sacrifícios antigos o sacrifício dos nossos altares, em que a vítima oferecida não é já um touro ou um cordeiro, mas o próprio Filho de Deus!

Para a vítima, o judeu tinha um boi, escreve São Pedro de Cluny; o cristão tem Jesus Cristo; tanto este último sacrifício excede o primeiro, como Jesus Cristo excede a um boi. Depois ajunta que uma vítima servil era a única que convinha a servos, ao passo que aos amigos e aos filhos estava reservado o próprio Jesus Cristo, como vítima que nos libertou do pecado e da morte eterna. Tem pois razão São Lourenço Justiniano em dizer que não há oferenda nem maior em si mesma, nem mais útil aos homens, nem mais agradável a Deus, que a que se faz no sacrifício da missa.

Assim, São João Crisóstomo assegura que, durante a celebração da missa, está o altar cercado de anjos, reunidos para honrarem a Jesus Cristo, que é a Vítima oferecida neste augusto sacrifício. Que fiel poderá duvidar, pergunta por sua vez São Gregório, que no momento do sacrifício o Céu se não abra à voz do padre e numerosos coros de anjos não estejam presentes a este mistério em que Jesus Cristo se imola? E Santo Agostinho acrescenta que os anjos se aconchegam a rodear o sacerdote como servos, para o ajudarem nas suas funções.

Falando deste grande sacrifício do Corpo e Sangue de Jesus Cristo, o Concílio de Trento nos ensina que é o próprio Salvador que aí se oferece a seu Pai, mas pelas mãos do sacerdote, que escolheu para seu ministro, encarregado de o representar ao altar. E São Cipriano tinha dito antes: 'O padre ao altar ocupa o lugar de Jesus Cristo'. É por isso que, ao consagrar, o padre se exprime assim: 'Isto é o meu corpo; este é o cálice do meu sangue'. E o próprio Jesus Cristo disse a seus discípulos: 'Quem vos ouve, a mim ouve; quem vos despreza, a mim despreza'.

Ora, mesmo aos antigos levitas exigia o Senhor que fossem puros, só porque tinham por dever transportar os vasos sagrados: 'Purificai-vos, vós que levais os vasos do Senhor'. Sobre o que Pedro de Blois faz esta reflexão: 'Quanto mais puros devem ser os que trazem Jesus Cristo nas suas mãos e nos seus corações? E com quanta mais razão exigirá o Senhor a pureza dos padres da Nova Lei, encarregados de representar ao altar a pessoa de Jesus Cristo, para oferecerem ao Padre eterno o seu próprio Filho!' Tem pois justo motivo o Concílio de Trento, para querer que os padres celebrem este augusto sacrifício com a máxima pureza de consciência possível.

E é o que significa, nota o abade Rupert, a brancura da alba, de que a Igreja quer que o sacerdote se revista e cubra da cabeça aos pés, quando celebrar os divinos mistérios. É muito justo que o sacerdote honre a Deus com a inocência da sua vida, visto que Deus tanto o há honrado, elevando-o acima de todos os outros homens, e fazendo-o ministro seu, neste mistério sublime, como dizia São Francisco de Assis. Mas como deve o padre honrar a Deus? Será porventura trajando ricos vestidos, anafando a cabeleira com arte, ostentando punhos elegantes? Não, responde São Bernardo, é por uma vida irrepreensível, pelo estudo das ciências sagradas, e pelos trabalhos que empreender para glória de Deus.

(Excertos da obra 'A Selva' de Santo Afonso Maria de Ligório)