quinta-feira, 23 de abril de 2015

CARTAS A MEU PAI (V)

Pai:

Tive hoje um dia bem incomum neste mês de abril que passa voando. Logo, pela manhã, eu tive a visão das legiões de almas que acompanhavam Cristo Crucificado no caminho do Gólgota. Eu vi claramente os rostos das pessoas que me são tão familiares, tão conhecidas, e de milhares de milhões que me são absolutamente desconhecidas, mas que compõem a estupenda multidão dos vossos filhos. Todos eles só tinham olhares para o Cristo, todos eles olhavam tão somente para a cruz e os rostos brilhavam como feitos de luz. E eu estava ali, no meio deles, como parte do olhar humano transfigurado na busca e na posse eterna da Plena Visão!

Pode ter sido apenas um resquício ainda de sonho, ou algo além (é um bom motivo para incomodar mais uma vez meu diretor espiritual). Na legião de tantas almas, quantas milhares estavam crucificadas como Jesus! Eu passava correndo entre elas, e o sangue delas fluía como um rio abaixo de mim! E o sofrimento delas tornara-se um cântico único de glória, tão extraordinário que miríades de anjos tinham vindo escutar. D. era uma dessas almas crucificadas e, quando o seu olhar encontrou o meu, eu pressenti, num mísero segundo, o que seria a glória de se possuir a felicidade plena de se estar em Deus.

Outras legiões de almas carregavam as cruzes às costas, vergadas pelo lenho sagrado, semelhantes em desprezo e sofrimento, quase que semelhantes em tudo ao Senhor. T. estava bem na frente da minha visão e como me pareceu pesada e enorme a sua cruz, que esforço tremendo fazia vibrar os músculos das suas costas e o impacto dos pés descalços na pedra dura do chão... L. e M. caminhavam juntos, as cruzes quase que entrelaçadas... quantas almas, vergadas e oprimidas, por cruzes imensas... e um oceano delas marchava em êxtases de amor.

E a procissão sem fim de almas agora trazia legiões de legiões. Mas estas almas não estavam pregadas na cruz, não carregavam suas cruzes mas, ao contrário, as agarravam sem jeito, as puxavam insatisfeitas e as arrastavam entre lamúrias e lamentações, levantando nuvens de poeira, por entre as quais os vultos se amontoavam e se confundiam em massas disformes. Eram as almas tíbias e inseguras que se acostumaram ao hálito da fé, mas não se conformaram pela fé em novos Cristos. À medida que avançavam nos passos, maior claridade as ofuscava e a infinita misericórdia de Deus as abraçava e as cumulava de graças sobre graças. Não podia ver estas almas claramente, não me foi possível identificar e nem mesmo guardar memória de nenhuma, mas pressenti que muitas delas ou me eram conhecidas ou, pelo menos, não me eram totalmente estranhas. 

Ó meu Pai, e quantos não estarão lá no último dia? Quantos ficarão retidos nos contrafortes dos pecados, nas muralhas dos vícios, na masmorra das paixões mundanas? Quantos, quantos destes que hoje convivem comigo no barulho da vida, nas conversas profanas, no riso de todas as manhãs, no afã de mais um dia de trabalho, na ânsia de fazer mais planos, na incessante busca de ter mais, de ser mais, de viver em rios de prazer e alegria a vida que passa como um espasmo de vento, não levarão suas cruzes consigo, não estarão nas legiões dos herdeiros do Céu e se perderão para sempre nos caminhos do nada? Quantos? 

Rezei por I., ainda tão distante da verdade de Deus. Rezei por J., pelas suas muitas inquietações, juízos e questionamentos que submergem a beleza da sua fé em monturos de orgulho inútil de uma inteligência privilegiada. E rezei por N.M., rezei muito por ela, para que Vós, meu Pai, não desistais dela, nem quando ela parecer desistir de Vós. E, como sei quão belos são os vossos desígnios, rezei para que todos os vossos filhos se ergam do mundo e dele se libertem para se pregarem na cruz como Jesus Crucificado.

Das outras coisas que tive neste dia, busquei torná-las orações para Vós, na intenção principalmente daqueles que ainda não Vos conhecem. E isso é tudo por hoje, na vida de um filho vosso no meio do mundo. Boa noite, Pai. Com a vossa bênção, R.

('Cartas a Meu Pai' são textos de minha autoria e pretendem ser uma coletânea de crônicas que retratam a realidade cotidiana da vida humana entranhada com valores espirituais que, desapercebidos pelas pessoas comuns, são de inteira percepção pelo personagem R. As pessoas e os lugares, livremente designados apenas pelas suas iniciais, são absolutamente fictícios).

terça-feira, 21 de abril de 2015

ROSÁRIO DA ALMA SACERDOTAL (V)


DÉCIMO PRIMEIRO MISTÉRIO: O NOVO HOMEM

Nosso Senhor, ao morrer, não tinha figura nem beleza. Desde a planta dos pés até a cabeça não tinha um lugar são. Seus ossos estavam todos des­locados, seu sangue derramado, seu coração desfalecido. Então morreu; mas na morte levantou-se o novo filho do homem. A humilhação trouxe a vitória. Da noite e da escuridão, Ele ressurgiu: A Luz para a luz.

Eis o Primeiro Mistério Glorioso: a ressurreição de Nosso Se­nhor. Os sacerdotes imitam a Nosso Senhor. No compatimur de suas vidas e de seus ministérios, está encerrado o conglorificemur, assim como a frutificação está contida na semente. Começa então uma festa pascal para a alma. Para compreendermos esta páscoa do novo homem, meditemos o 1.° mistério glorioso: a ressurreição de Nosso Senhor! Ele ressurgiu dos mortos: no 3.° dia; pelo próprio poder e pela própria força; com as chagas resplandecentes e luminosas; para prova de sua divina missão.

No 3.° dia

'Destruí este templo', disse Cristo, Nosso Senhor. Assim aconteceu, as ruínas jaziam no mo­numento de pedras, no sepulcro. Os fariseus alegravam-se, os discípulos choravam, mas esperavam também. Veio o terceiro dia. Os raios matutinos do sol tocaram os mon­tes; e o edifício levantou-se, mais belo do que antes. Cresceu e cresceu tanto que até exce­deu o sepulcro. Cristo ressurgiu. O templo de Deus sobressai, como o templo dos judeus sobressaiu outrora bem alto sobre os telhados de Sião. Ele é visto per­feitamente, mas não se confiando quase a seus próprios olhos. 

Porque então tememos morrer para o mun­do? Subjuguemos e destruamos o velho homem. Deus formará em breve espaço de tempo o novo Adão, repetir-se-á o milagre da ressurreição. Por acaso não verificamos isto mesmo em muitas vidas de santos? Diversos, tendo começado muito tardiamen­te, galgaram rapidamente, contra todas as expectativas, as luminosas culminâncias da santi­dade; o motivo desta rapidez estava no rápido morrer a si próprios. Quanto mais profunda a nossa Passio, quanto mais resoluto o desfazermo-nos de nós mesmos, tanto mais cedo madrugará a aurora da nossa Páscoa.

Pelo próprio poder e pela própria força

Data est mihi omnis potestas in celo et in terra. Foi-me dado todo o poder no céu e na terra (Mt 28, 18), até mesmo no sepulcro. Sim, para Cristo havia uma noite na qual podia operar: a noite do sepulcro. E ele operou: a sua alma voltou para o sacrossanto corpo e chamou-o à vida. Ele acordou a si mesmo, ressurgiu dos mortos: o maior milagre da oni­potência. 

Que pequeninos, que diminutos estamos nós sacerdotes na presença de um tal mestre e taumaturgo! Certo que Cristo depositou grandes poderes nas nossas mãos: podemos chamar, à vida da graça, os mortos espiritualmente. Mas tratando-se da própria alma, isto é, de se con­duzir a si próprio de um estado de sonolência a um íntimo comércio com Nosso Senhor, então não se percebe a onipotência, mas a fraqueza. Sim, confessemo-lo humildemente: só com o au­xílio da graça chegaremos à perfeita abnegação de nós mesmos.

Com as chagas resplandecentes e luminosas

Como um herói, Jesus saiu do sepulcro. Era mais belo do que todos os filhos des­ta terra. Não se via em seus olhos a morte pálida e nem a putrefação em seu corpo. Circundado de uma celestial candura, pairava luminoso por cima do sepulcro. Os sinais de seus sofrimentos eram transformados em cicatrizes gloriosas; uma luz brilhantíssima e radiosa perpassava o fino e cristalino corpo.

Alia claritas solis, alia claritas lunae, et alia claritas stellarum — Uma é a claridade do sol, outra a claridade da lua, outra a claridade das estrelas (I Cor 15, 41). Nunca porém um astro resplandeceu tanto e tão claro como a estrela de Jacó. Apagou-se pálida, apenas enrubescida de sangue, por detrás do Gólgota; levantou-se, depois, em nunca vista exuberância e beleza infinita, na manhã da Páscoa. 

Como estrelas, luzem os sacerdotes por en­tre a tristeza cotidiana da vida terrena e o afã. Mostram aos homens os caminhos. Depois, porém, desfalecem pálidos e desfei­tos debaixo do sepulcro; mas só por anos. Levantam-se novamente. A imagem do sacerdote transforma-se em uma imagem do céu, mais brilhante do que antes. O seu sinal característico da ordem resplandece por toda parte, para longe. Os trabalhos, fatigantes e cheios de sofrimentos, da vinha do Senhor deixaram sinais inextinguíveis e reluzentes. Como troféus, Ele os leva em seu corpo glorioso. Ó bela e encantadora recompensa sacerdotal! Sic honor abitur.

Para prova de sua divina missão

As palavras ensinam, os fatos convencem. Muitas das palavras de Nosso Senhor caíram sobre pedras. Não se cria em sua divindade, ainda que a sua doutrina transpirava o sopro de Deus. Quan­do, porém, o Redentor, o Verbo feito carne, caíra no rochedo do Gólgota, quando ao de­pois saiu da semente, cresceu e se levantou para uma nova vida, aí então caiu dos olhos de muitos judeus o véu que lhes tapava os olhos. 'Verdadeiramente este homem era o filho de Deus' (Mc 15, 13); assim se disse de­pois da ressurreição mais ainda do que depois da morte. Conversões inúmeras, de multidões incalculáveis, eram a consequência.

Nada prova mais que o Espírito Divino está operando pelo sacerdote do que a ressurreição, do sepulcro, do velho homem. Isso abre os olhos do mundo. Quando o mundo vê o desprezo de si mesmo, e o espírito de sacrifício, e o amor, e a humildade, e a vida interior, então ele se encontra com um elemento divino. O mun­do respeita e venera tais sacerdotes. Ele vê neles algo de novo e extraordinário, isto é, o cunho da santidade e da nobreza do sobrenatural. É uma prova para o mundo da grandeza interior, da sublimidade e santidade que secretamente habitam nestas almas sacerdotais. O mundo crê em tais homens e lhes dá inteira e completa confiança.


DÉCIMO SEGUNDO MISTÉRIO: QUERO SEGUIR O AMADO ATÉ ÀS ALTURAS!


O pensamento do céu entrelaça-se intima­mente com a vida mortal do Redentor pois, como Deus, jamais Jesus abandonou a habita­ção do seu eterno Pai. Como seria possível a Jesus esquecer aquele paraíso, sendo hipostaticamente unido à divindade com a sua humana natureza?! Não viu Ele por acaso o céu sempre aberto? os an­jos a descerem e subirem (I Jo, 51). À Sua vida pois era um contínuo pensamento e uma prolongada saudade do céu. 

Até a cruel e cruenta passio era perpassada por fios de ouro de ininterrupta contemplação, até que a própria ascensão levantou o seu corpo e a sua alma àquelas sacrossantas alturas, onde sempre já tinha permanecido o seu espírito. Direção para o céu tomará também a vida sacerdotal, se ela represen­tar uma verdadeira e total imitação de Cristo Nosso Senhor. Qual a forma que tomará esta direção da alma e da nossa vida, isso nos indica o 2°. mistério glorioso, pois a ascensão de Nosso Se­nhor efetuou-se: quarenta dias depois da sua ressurreição; do Gólgota e diante dos Apóstolos.

Quarenta dias depois da sua ressurreição

Pouco espaço de tempo! Jesus já não era, como antes, deste mundo; logo também não mais para este mundo. Após a noite sepulcral, passou o seu ainda terreno corpo por uma grande transformação. Estático, espiritualizado, mais lu­minoso que o sol, voltou Ele para a luz. A pobre figura de servo desapareceu. Assim o Redentor sobreexcedeu a humanidade. Cresceu por cima da humanidade e entrou para aquele mundo que chamamos a pátria dos bem aventurados. Por isso Jesus não pertencia mais ao mundo. Somente quarenta dias permaneceu no mundo, ora aparecendo aos discípulos, ora às santas mulheres, dando ordens, organizando, constituindo a sua igreja. Então dei­xou o mundo e voltou para o Pai.

Tão depressa talvez não, mas mais rapidamente porém do que muitos julgam, tomamos o caminho para as alturas, quando o espírito e a gra­ça dominam e iluminam o homem, quando se inicia em nós a ressurreição espiritual. Sim, logo que começa a vida interior, pura, sem mácula, começam também os pensamentos a voar para o céu. Ó quão depressa podería­mos nós levar uma vida celeste! Quase sem se perceber, a alma em pouco e bem curto espaço de tempo separa-se desta terra vivendo então só em paragens mais elevadas. Aí então a alma acha-se como em sua pátria.

Do Gólgota!

O In monte Oliveti ressoa em tom triste e lúgubre nos ofícios de trevas na Semana San­ta. Ouvimos com estas três palavras o grito de angústia de Nosso Senhor retumbar pela noite silenciosa; vemos o Homem-Deus na sombra das vetustas oliveiras do Getsêmani ajoelhado, e brilhar, em todo o seu corpo, o precioso sangue que brota entre as mais acerbas dores e agruras da vida. É o começo da Paixão. Neste mesmo sitio a paixão deu lugar à ascensão.

São Lucas conta dos Apóstolos: Reversi sunt a monte qui vocatur Olive­ti (At 1, 12). A ascensão, pois, deu-se no Gólgota. Esse venerável monte, de uns oitocentos metros de altura, viu o Redentor descer às profundezas do mais completo abandono, mas viu-O também desaparecer nas nuvens. Como vencedor dos sofrimentos e da morte, olha Jesus das alturas para o Jardim das Oliveiras. Quem poderá compreender as alegrias inefáveis de nosso Salvador?!

Quem jamais poderá medir a felicidade que sente um sacerdote, quando, após trabalhosa edu­cação de si mesmo, se elevou além do terreno para o eterno que encanta e espiritualiza? Provou os sacrifícios do múnus sacerdotal, teve o seu bem duro 'Getsêmani', estava sempre pronto a sacrificar toda sua vida para o serviço de Deus Nosso Senhor, verter até, por seu amor, se fosse preciso, o sangue todo. 

A 'via dolorosa' de sua regra de vida era para ele o mais agradável pas­seio. Este sacerdote estava crucificado para o mundo e o mundo nele; por isso elevou-se do 'monte Olivete', do lugar de sua operosidade tão fecunda em sofrimentos, com alma e coração para o céu. Lá, onde estava a sua igreja e seu presbitério, lá, onde tantas vezes se entregou completa e inteiramente à vontade de Deus, foi também o monte de onde partia para o céu. O mesmo lugar viu também a sua vida íntima, sua vida de alma, sua vida de graça, tão bela, tão rica, tão separada do mundo, tão interior!

Diante dos Apóstolos

Os Apóstolos tinham já o costume de ver mi­lagres. Observaram grandes sinais e extraordinários milagres na vida de seu Divino Mestre: os que Ele fez no mar, junto dos sepulcros, no meio dos doentes, durante a sua paixão. Apesar de tudo isso, ficaram como absortos e petrificados quando o Senhor se elevou e se afastou de seus olhos. Esta cena tão única em seu gênero, produzindo nos Apóstolos estupefação e dor e saudade ao mesmo tempo, os sub­jugava. Seus olhares estavam fixos no amigo querido e amado. Já desaparecera de suas vis­tas, mas contudo ainda olhavam fixamente para o alto. 'Homens de Galileia, porque estais aqui olhando para o céu?' (At 1, 11). Era o mestre querido desaparecido por entre as nu­vens, podiam acaso esquecê-lo?

Como é natural, os homens elevam o olhar desta terra imunda para as alturas tão lim­pas e puras, contemplando sacerdotes que repre­sentam uma ascensão da alma. Sacerdotes, cujo viver está no céu, operam para os seus paroquianos como operou o Redentor na sua gloriosa ascensão para os discípulos. Estes sacerdotes são um vivo Sursum cor­da para os fieis. Afastam o espírito de seus paroquianos dos prazeres deste mundo efêmero, da sensualidade e de todo pecado, de todo vão amor, terreno e temporal. Homens desta qualidade são uma verdadeira bênção para as paróquias. Quan­do morrem e trilham então o caminho para a eternidade, para onde seu espírito e seu olhar durante a vida sempre convergiram, então mui­tos e muitos lhe seguem com os olhos, tendo nos corações saudade da celeste pátria, saudade do céu.

(Excertos da obra 'A Pérola Preciosa', do Pe. Wendelin Meyer, trad. de Alberto Kolb) 

segunda-feira, 20 de abril de 2015

SÍNTESE DA DOUTRINA CATÓLICA

OS MANDAMENTOS DA CARIDADE 

1. Amarás o Senhor teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente. 
2. Amarás o próximo como a ti mesmo. 

A REGRA DE OURO 

Tudo aquilo que quereis que os homens façam a vós, fazei-o vós mesmos a eles (Mt 7, 12).

AS BEM-AVENTURANÇAS 

Bem-aventurados os pobres de coração, porque deles é o reino dos céus. 
Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. 
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. 
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. 
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. 
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. 
Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus. 
Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois vós quando vos insultam, vos perseguem e, mentindo, dizem toda espécie de mal contra vós por minha causa. Alegrai-vos e exultai, porque grande é a vossa recompensa nos céus (Mt 5, 3 - 12). 

AS VIRTUDES TEOLOGAIS
1. Fé 
2. Esperança 
3. Caridade 

AS VIRTUDES CARDEAIS 

1. Prudência 
2. Justiça 
3. Fortaleza 
4. Temperança 

OS DONS DO ESPÍRITO SANTO 

1. Sabedoria 
2. Inteligência 
3. Conselho 
4. Fortaleza 
5. Ciência 
6. Piedade 
7. Temor de Deus 

OS FRUTOS DO ESPÍRITO SANTO 

1. Amor 
2. Alegria 
3. Paz 
4. Paciência 
5. Benignidade 
6. Longanimidade 
7. Benevolência 
8. Humildade 
9. Fidelidade 
10. Modéstia 
11. Continência 
12. Castidade 

OS MANDAMENTOS DA IGREJA 

1. Participar da Missa aos domingos e festas de guarda e permanecer livres de trabalhos e de atividades que poderiam impedir a santificação desses dias. 
2. Confessar os próprios pecados pelo menos uma vez ao ano. 
3. Receber o sacramento da Eucaristia pelo menos na Páscoa. 
4. Abster-se de comer carne e observar os jejum nos dias estabelecidos pela Igreja. 
5. Suprir as necessidades materiais da própria Igreja, segundo as próprias possibilidades. 

AS OBRAS DE MISERICÓRDIA CORPORAL 

1. Dar de comer aos famintos. 
2. Dar de beber aos sedentos. 
3. Vestir os nus. 
4. Acolher os peregrinos. 
5. Visitar os enfermos. 
6. Visitar os encarcerados. 
7. Sepultar os mortos. 

AS OBRAS DE MISERICÓRDIA ESPIRITUAL 

1. Aconselhar os duvidosos. 
2. Ensinar os ignorantes. 
3. Admoestar os pecadores. 
4. Consolar os aflitos. 
5. Perdoar as ofensas. 
6. Suportar pacientemente as pessoas incômodas. 
7. Rezar a Deus pelos vivos e pelos mortos. 

OS VÍCIOS CAPITAIS 
1. Soberba 
2. Avareza 
3. Luxúria 
4. Ira 
5. Gula 
6. Inveja 
7. Preguiça 

OS NOVÍSSIMOS 

1. Morte 
2 . Juízo 
3. Inferno 
4. Paraíso

domingo, 19 de abril de 2015

TESTEMUNHAS DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR

Páginas do Evangelho - Terceiro Domingo da Páscoa


Neste Terceiro Domingo da Páscoa, os Evangelhos evocam mais uma das muitas manifestações de Jesus Ressuscitado aos discípulos reunidos no Cenáculo. Mesmo depois dos relatos das aparições de Jesus às santas mulheres, à Maria Madalena, ao próprio Pedro, e aos dois discípulos de Emaús, muitos ainda permaneciam incrédulos e continuavam a negar a ressurreição de Jesus. E o dogma da ressurreição, essência da fé cristã, não poderia conviver com tais dúvidas e não poderia prescindir da solidez confiante do testemunho de muitos e de todos.

Por isso, mais uma vez, Jesus se apresenta aos seus discípulos e os saúda com a paz de Cristo. Homens incrédulos responderam à saudação de Jesus como homens incrédulos: 'Eles ficaram assustados e cheios de medo, pensando que estavam vendo um fantasma' (Lc 24, 37). Turbados pela presença de Jesus, julgaram ver um espírito, um fantasma que atravessava paredes e portas fechadas. O temor e a desconfiança deles era tão grande que foram capazes, mais uma vez, de confundirem o mistério da graça com uma reação baseada na lógica simples da natureza humana. Jesus surgira do nada, e as portas estavam fechadas; tratava-se, pois, da aparição de um fantasma...

Jesus os conclama a compreender o mistério da graça: 'Por que estais preocupados, e por que tendes dúvidas no coração? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai em mim e vede! Um fantasma não tem carne, nem ossos, como estais vendo que eu tenho. E, dizendo isso, Jesus mostrou-lhes as mãos e os pés' (Lc 24, 38 - 40). E, agora, movidos por uma incredulidade mais afeta à alegria pela confirmação da ressurreição de Cristo do que a descrença pelo sobrenatural, os discípulos oferecem a Jesus, a pedido dele, um pedaço de peixe assado: 'Ele o tomou e comeu diante deles' (Jo 24, 43). Não podia existir prova mais definitiva da real presença de Jesus Ressuscitado; em seu corpo glorioso, embora não precisasse de alimento algum, Aquele que antes comia e bebia com eles, estava de novo comendo com eles. Era o mesmo Jesus, Jesus Ressuscitado, não um espírito, não um fantasma.

Em seguida, após confirmar a sua missão salvífica, Jesus exorta os seus discípulos a serem, mais que as testemunhas singulares da Ressurreição, os continuadores de sua missão, constituindo-os sacerdotes da Igreja e herdeiros do seu sumo e eterno sacerdócio. Missão destinada a ser cumprida pelo ministério sacerdotal até o fim dos tempos, na busca da confirmação da obra universal da redenção e para a salvação e a santificação das almas: 'e no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sereis testemunhas de tudo isso' (Lc 24, 47 - 48).

sábado, 18 de abril de 2015

PALAVRAS DE SALVAÇÃO






'Nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios'. 

São Paulo (I Cor 1, 23).

GALERIA DE ARTE SACRA (XIX)

AS SETE IMAGENS MAIS ANTIGAS DE JESUS

1. Imagem de Jesus no Véu de Verônica (a primeira e certamente, a mais verdadeira face de Jesus): em posse do Vaticano.
(reprodução em estudos científicos com infravermelho)

(reprodução do véu venerado em Manopello /Itália: o chamado 'Rosto Santo de Manopello')

2. Imagem de Jesus no Sudário de Turim (a segunda e certamente, também verdadeira face de Jesus): em posse do Vaticano.


                              (imagem do sudário)                  (imagem do véu de Verônica)

3. Nossa Senhora do Perpétuo Socorro com o Menino Jesus (século I): ícone que, segundo a tradição, teria sido pintado pelo evangelista São Lucas, quando Nossa Senhora ainda vivia em Jerusalém.


4. Jesus - o Bom Pastor (século III): pintura encontrada nas catacumbas de São Calisto, em Roma.


5. Jesus curando um paralítico (século III): imagem encontrada na parede do batistério de uma antiga igreja na Síria.


6. Cristo entre os apóstolos Pedro e Paulo (século IV): pintura encontrada em cemitério de uma vila imperial que pertenceu ao imperador Constantino.

7. Pantokrator (século VI): ícone muito antigo conhecido de Cristo, que se encontra no Monastério de Santa Catarina, no Monte Sinai.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

ROSÁRIO DA ALMA SACERDOTAL (IV)


OITAVO MISTÉRIO: DESPREZADOS, ABENÇOAM...

Apenas o Redentor tinha começado o difícil combate com o mundo e com o demônio, e logo recebera uma coroa. Naturalmente, não era a coroa que inspirava inveja. A solenidade da coroação era uma cena de escárnio. Algo de semelhante reproduz-se na vida sacerdotal. A coroa ensanguentada de Jesus Cristo corresponde à coroa dolorosa do sacerdote. 

Para compreendemos a significação mística desse passo da paixão, entremos no in­terior do Pretório. Esquecendo e olvidando o mundo, procuremos sondar esse profundo mistério pormenorizadamente. Eis, pois, revestiram o Salvador com um manto de púrpura; encimaram sua cabeça com uma coroa; puseram-lhe nas mãos uma cana e prestaram-lhe homenagens.

Revestiram o Salvador com um manto de púrpura

A flagelação era passada, essa ação desumana estava feita. Os algozes cobriram a sua vítima com vestidos e nesses panos infiltrou-se o sangue das feridas abertas. A túnica inconsútil de Jesus, totalmente ensanguentada, es­tava apegada na carne viva em todo o corpo: pa­recia o sacerdote revestido da casula vermelha. 

Jesus estava pronto para o sacrifício, pronto para caminhar ao altar no cimo do Gólgota. Os algozes porém, desnaturadas criaturas, ainda não estavam contentes; ajuntaram à dor física a dor moral, o escárnio. Jesus era rei, procura­ram então revesti-lo das insígnias de sua alta dignidade. Arrancaram-lhe cruelmente a vesti­menta da dor, tinta de sangue, e substituíram-na por um manto de púrpura, usado pelos generais dos exércitos daquele tempo.

Era o primeiro sinal da sua elevada po­sição. Um riso satânico então passou pelo pátio. Tinham dado começo à mofa feroz. Cristo ca­lou-se durante toda essa ação; seu silêncio, po­rém, é uma linguagem viva, pois também aqui o discípulo não é maior do que o mestre. Também para o Alter Christus, o mundo tem pre­parado seu manto de escárnio. O ódio à Igreja e a incredulidade, diariamente, hora por hora até, estão trabalhando para descarregar sobre o sacerdócio as suas ironias, para ridicularizá-lo ante os olhos da humanidade.

A imprensa e a língua são as lançadeiras que tecem o manto de escárnio com os fios da mentira e do ódio. Até a vestimenta do sa­cerdote é alvo de ferozes agressões e de palavras injuriosas. A batina preta e o burel do religioso figu­ram em imundas revistas como quadros sensacionais. Eis a sorte do Padre. Mostremos, porém, força e ânimo de heróicos confessores da fé. Alegremo-nos em sofrer opróbrios pelo nome de Jesus e jamais dei­xemos tão facilmente a nossa santa fé.

Encimaram a sua cabeça com uma coroa

A soldadesca com facilidade adquiriu pa­ra Jesus um diadema, pois bem próximo cresciam os arbustos de lotos e os espinhos; os seus galhos flexíveis e seus penetrantes acúleos pa­reciam mais belos que o ouro e o diamante aos malévolos soldados que deles logo se utilizaram fabricando uma coroa, impondo-a sobre a sagrada cabeça de nosso Salvador e, por fim, fazendo-a entrar bem profundamente. Então apareceram os rubis que faltavam, que eram as purpúreas gotas do precioso sangue de Jesus; deslizavam pelos ramos e pendiam nas pontas agu­das dos espinhos como pérolas brilhantes. Uma dor indefinível invadira então o nosso Divino Redentor.

Ó sagrada cabeça de meu Salvador, ul­trajada e escarnecida, cheia de sangue, de feridas, de dor... eu vos venero e reverencio. E vós, meu Jesus, não Vos queixais? E Vosso olhar, embaçado de sangue, meiga­mente dirige-se para a terra ou busca horizontes a nós desconhecidos? A Vossa mão não se levantará para rebater os monstros que Vos ultrajam? Ó santa e heróica paciência!

A tudo que vos rodeava éreis indiferente; a vida interior, porém, a vida celeste, a vida eterna, era para Vós tudo. Assim eu devo levar a minha coroa. Posuisti in capite meo coronam. Vós me destes a tonsura; ela é o símbolo de vossa coroa de dor. Devo, pois, praticar o desprezo de mim mesmo e do mundo, esta é a vossa vontade; satisfazendo-a, é mister sofrer. Esta cruz interior, escondida, que me faz mor­rer a tudo o que é do mundo, apronta-me para um altar, como Vos aprontou para a Cruz. Exsurge gloria mea (Sl 5, 6-9).

Puseram-lhe nas mãos uma cana

O bastão dos soberanos é o símbolo do poder; por isso permanece desde tempo imemoriais o cetro nas mãos dos reis. Que coisa mais natural do que entregar à vítima coroada o sinal de seu poder? Os algozes executaram esse seu intento. Cor­taram uma cana frágil e entregaram-na a Jesus, que lhes parecia tão fraco e débil como a própria cana. A força e onipotência divinas, porém, que residiam nos membros trêmulos do Salvador, escondiam-se aos olhos dos presentes.

E novamente resoaram sobre o pátio do Pretório as risadas e mofas atrozes. Jesus autem tacebat! Se formos prudentes, imitaremos a Jesus. Possuímos e temos um cetro; somos, por assim dizer, reis na paróquia. Nosso braço é for­te: podemos transubstanciar pão e vinho em Jesus Cristo, perdoar pecados, abençoar, man­dar e punir.

Esta nossa posição tem, porém, seus contraditores. Quantos se revoltam e procuram diminuir o nosso prestigio! Cortam então para nós a cana; entretanto nada temamos. Mas pro­curemos sabiamente evitar todo o abuso impru­dente de protestos sacerdotais. A nossa, divisa seja: 'calar, orar, amar'. Se Deus é por nós, quem será contra nós?

Deram-lhe homenagens

Os anjos do céu homenagearam o Divino Redentor. Cobertos de acatamento e respeito estão desde tempos muito remotos, estupefatos e extasiados diante do trono, exclamando: Salas Deo nostro, qui sedet super thronum, et Agno (Ap 7, 10). Caem sobre suas faces e ado­ram a Deus.

Na coroação de espinhos, porém, não se viam anjos: homens satânicos ao contrário, talvez inebriados, apresentaram-se, uns após outros, diante de Jesus. Gemi flectiram, cuspindo-lhe na sagrada face e gritando: Ave, rex Judaeorum! (Mt 27, 29). Seu respeito era uma horrível hipocrisia, seu acatamento, desprezo e sua homenagem, escárnio.

Jesus autem tacebat! Conservemos em nós segundo o seu exemplo, a calma, se semelhantes coisas nos sucedem. Em muitas paróquias tais acontecimentos não lançam raízes, nem semelhantes sofrimentos aparecem; em outras, contudo, se repetem sempre aquelas cenas da co­roação: insultos chistosos, grosseiros ludíbrios, baixas ridicularias, enfim vexação, de toda espécie.

Sim, cospe-se diante dos ministros do altar, cospe-se na passagem do sacerdote. Tais fatos leem-se nas crônicas de corajosos bispos e párocos de grandes metrópoles, de religiosos e missionários. Em suas vidas resplandece a 3.ª dezena dos mistérios dolorosos. Fortaleçamo-nos com o lema dos antigos místicos: sperno sperni. Roguemos a Deus que nos conceda grande paciência e muita caridade. Maledicimur et benedicimus (I Cor 4, 12).


NONO MISTÉRIO: UM OUTRO CONDUZIR-TE-Á!


Jesus Cristo tinha muitos discípulos. Uma verdadeira multidão de homens, ávidos da ver­dade, rodearam a sua pessoa fascinadora: dou­tores versados nas Escrituras, homens de mãos calejadas, jovens de alma em chamas e olhar fascinante.

Presos pela força e pelo calor de suas pa­lavras, muitos perseveraram por longo tempo junto do Redentor. Outros abandonaram-no, quando Ele exigia de sua fé e do seu espírito de sacrifício grandes esforços e atos heroicos. A doutrina da cruz, porém, até para os seus mais íntimos discípulos era uma pedra de escândalo. Enfim, quando a cruz era visível e pesava já nos ombros de Jesus, dispersara-se todo o resto de seus discípulos. Os Apóstolos tre­miam e foi mister bastante tempo para que eles empreendessem levar a cruz e pusessem em prática esta tão sublime doutrina.

A mesma coisa soa acontecer a nós, sacerdotes. Somos certamente os amigos íntimos e privilegiados de Jesus; seguimo-lo voluntariamente até o partir do pão, como diz o grande asceta. Mas, o alius te cinget, et ducet quo tu non vis (Jo 21, 18), encontra também em nós resistência da parte do velho homem. Devemos aprender do nosso Redentor, que por nós levou o pesado lenho da cruz; que o levou apesar dos sofrimentos anteriores, por meio da tumultuosa Jerusalém, por tanto tempo até que caiu debaixo de seu peso.

Apesar dos sofrimentos anteriores, não se ressentiam já os ombros de Jesus debaixo de tantos e tão atrozes sofrimentos? Não pingava o sangue de cada poro? Não era o seu corpo todo coberto de contusões, chagas e feridas profundas e dolorosas? Ó imagem de dor e comiseração! Sim, ó sim, desta sorte foi tratado o mais belo filho do homem. Detém-te, ó mão cruel, detém-te algoz desumano.

Mas a sede de sangue inflamou-se e era impossível retê-la. Trazem a grande e enorme cruz de madeira e Jesus não se queixa. A fraqueza o assalta, quase já não pode mais; não dá ouvido à natureza. Esquece os sofrimentos passados e abraça os novos. Magis pati — dizem e mur­muram os seus olhos a desfalecer.

Isto é heroísmo e este deve habitar, em nossa alma. Não devemos olhar para traz e di­zer: Eis, Senhor, a minha vida sacerdotal foi só trabalho e sofrimento em extremo. E já nova­mente estendeis-me o cálice da amargura? Dez... vinte anos... Vos servi, e não che­gou ainda o fim dos sofrimentos? Não pensemos assim, não. Acostumemos os nossos ombros às car­gas cada vez mais pesadas. Ainda que já tenhamos sustentado e suportado muita coisa, isto nunca será demasiado. Deus bem nos reconhece e sua graça é forte e pode muito, pode tudo. Sufficit tibi gratia mea (II Cor 12, 9).

Por meio da tumultuosa Jerusalém

O nosso Divino Redentor foi considerado réu. Seduz o povo: hunc inveniemus subvertentem gentem nostram (Lc 23, 2), di­ziam os judeus. Por que razão, então, devia-se lhe dar melhor tratamento do que a um escravo condenado à morte? O escravo, para sua con­fusão e vergonha, deve passar, antes de mor­rer, pelo mercado público, até o lugar de sua execução; o mesmo tratamento foi dado ao Homem-Deus. Todos deviam ver e presenciar a sua vergonha e confusão.

Levaram-no pelo meio da velha cidade-baixa, muito frequentada. Da altura do castelo ou palácio Antonia, ia a sua via dolorosa ao Vale de Jerusalém, até à porta Efraim. Conduzia a estrada para baixo e também para baixo espiritualmente, sim para as profundezas da humilhação. Assim iam sempre conduzidas em Jerusalém as pobres vítimas, acompanhadas por soldados, até, ao lugar do sacrifício.

Sigamos silenciosos o Salvador. As blasfêmias e gritos, os vitupérios e zombarias da mul­tidão repercutem nos nossos ouvidos. Os judeus só têm olhares de desprezo para quem leva a cruz. Poucos pensavam de maneira diferente, e estes poucos cresceram depois com o tempo aos milhares. Sempre volta o olhar do crente para as tristes cenas da Sexta-feira Santa.

Ó doce consolação para sacerdotes alquebrados pelos anos, ou doentes, que dolorosamente seguem seu caminho neste vale de lágrimas. O pensamento que eleva e robustece todos aqueles sacerdotes que sofrem e padecem. Estes dão nas paróquias exemplos como Cristo os deu na tumultuosa Jerusalém aos olhos dos poucos que lhe ficaram fieis. Estes exemplos ficarão mais tempo na memória do que as próprias pregações; produzirão o bem até além do túmulo.

Por tanto tempo até que caiu debaixo do peso da cruz

Muitas forças Jesus já tinha perdido, restavam-lhe agora muito poucas. O sangue na maior parte já foi derramado, os seus membros já esta­vam a desfalecer, mas, mesmo assim, prosseguiu com o seu peso. Não pediu nenhum alívio nem jogou longe de si a cruz tão pesada. Silencioso, curvado, mas resignado, Jesus segurou, abra­çando o precioso fardo; contudo os seus ombros pouco a pouco perderam a força. Cederam afi­nal essas forças. Verdadeira é a tradição que nos transmite que o Divino Salvador desfaleceu e caiu por terra debaixo da cruz. Os judeus presenciaram isto e obrigaram então um certo Simão, o Cirineu, a substituir a Jesus, levando-lhe o pesado lenho.

Ó sublime grandeza de nosso Divino Mestre Cum dilexisset suos qui erant in mundo in finem dilexit eos (Jo 13,1); sim, amou-os até o fim de suas forças. Como anões, esta­mos ao lado do gigante com a sua enorme ener­gia e fácil prontidão para tudo sofrer e tudo suportar. Como são mesquinhos os nossos sofrimentos e sem razão as nossas queixas.

É natural que tenhamos cuidado com a nossa saúde, para não interrompermos antes do tempo o exercício das nossas forças físicas. Mas não exageremos esses cuidados. Volunta­riamente queiramos sacrificar toda força da al­ma e do corpo, imolar a última gotinha de sangue pelo nosso bom Deus. Trabalhemos com o suor de nosso rosto, até que Deus seja servido e nos chamar para as eternas glórias, para os eternos gozos, para as eternas alegrias!


DÉCIMO MISTÉRIO: PREGAMOS CRISTO RESSUSCITADO!

A cruz rodeia-nos em toda parte: acena das torres das igrejas, admoesta nos sepulcros dos cemitérios, tem seu trono nas casas de famílias, nos altares, e no paramento do sacerdote quando diz a Santa Missa. E nós... temos na língua a cruz. As pa­lavras não pronunciadas, escritas por gotas do sangue precioso de Jesus, estão gravadas silenciosas no duro lenho da cruz, nós as pronunciamos: 'nós pregamos Cristo crucifi­cado' (I Cor 1, 23) nos autem praedicamus Christum crucifixum

Como nós po­demos isto, se a cruz não se confunde totalmente com o nosso modo de pensar e de existir! Pene­tremos por isso gostosamente nesse sublime mistério que para os pagãos é uma loucura, para os judeus um escândalo, para os cristãos, ao con­trário, a mais alta sabedoria. Cristo porém foi por nós crucificado: por fraqueza; para benefício do universo e para exemplo e doutrina do mundo.

Por fraqueza

Mas como? A cruz ensanguentada do Gólgota será um monumento de fraqueza? Sim, pois o Apóstolo diz: Crucifixus in infirmitate (II Cor 13, 4). Toda a majestade, toda a suprema dignidade do muito louvado e venerado profeta naufragou aos olhos dos romanos e judeus na cruz. Aparentemente fraco e sem auxílio estava Jesus, pen­dente do patíbulo da cruz, exposto às zom­barias. Todos viram aí a realeza perdida e irrevogavelmente condenada à morte. 

Entretanto, o que parecia fraqueza era na realidade força e força infinita, onipotência. No Redentor vivia, apesar de quase todo o sangue se destilar do corpo, uma força divina e que tudo superava. Subjugou a morte e o demônio, sim, todo o poder do infer­no, quando a sua língua se pregou no véu palatino e seus olhos murcharam.

Jesus edificou, por assim dizer, na hora da morte, no momento de expirar, a igreja mundial. Nam etsi crucifixus est ex infirmitater sed vivit ex virtude Dei (II Cor 13, 4). Procuremos realizar na nossa vida, pela prá­tica, esta sublime doutrina de Jesus. Nam et nos infirmi sumus in illo: sed vivemus cum eo ex virtute ei in vobis (II Cor 13, 4). Isto mesmo provou São Paulo por toda a sua vida. Sofrimentos cruciaram e enfraqueceram-no; quem porém sabe medir a sua vontade de ação, quem descreve seus triunfos? Tão grande era a energia que cintilava em seus olhos, que até se gloriou de sua fraqueza. 

Não observamos a mesma coisa, muitas vezes, na vida de alguns sacerdotes, que, apesar de doentes e al­quebrados, dão provas de grande força de alma e de heroísmo sem igual? Sim, há sacerdotes que trabalham com muito fruto, apesar de sua fraqueza e de sua débil constituição, pois o seu espírito parece ser totalmente constituído de energia. A graça apossou-se inteiramente des­ses obreiros da vinha do Senhor e verifica-se então o que diz o Apóstolo: nam virtus in infirmitate perficitur (II Cor 12, 9).

 Para benefício do Universo

Da morte brota a vida; isto nos ensina a na­tureza. O sobrenatural diz a mesma coisa. Não era sempre o sangue dos mártires a semente frutuosa de novos cristãos? O rei de todos os mártires porém é Jesus Cristo. Nada de extraordinário, pois, quando na primeira Sexta-feira Santa, pelas três horas, pas­sou pelo universo um hálito renovador que cha­mava à vida o que estava morto no homem: a vida da alma, a vida da graça. Veio então a pri­mavera; vagarosamente, mas veio. A fonte purpúrea, do sangue de Jesus, que brotara no cimo do Gólgota, percorreu os povos e as nações como um rio de bênçãos.

O Redentor tudo e todos prendeu a si: pa­gãos e judeus. Viu na hora da sua morte cruel o nascimento glorioso da Igreja Universal. Reminiscentur et convertentur ad Dominum universi fines terrae: et adorabunt in conspectu ejus uni­versa familiae gentium (Sl 21, 28). O que foi a cruz na primeira Sexta-Feira da Paixão, o é hoje, pois o crucificado vive e morre no santo sacrifício da Missa. Este tão sublime mistério está depositado na minha mão e na mão de todo sacerdote. Oh, tremendum mysterium!

Eu posso tudo e a todos prender a mim como o Salvador na cruz. Que benção! Instruirei e entusiasmarei o povo para o incruento sacrifício do altar e celebrarei eu mesmo como o Sacerdote-Magno no espírito e na intenção de Jesus Cristo. De­vo estar tão acima da terra, quando fico junto do altar, devo estar alheio a ocupações humanas e longe de negócios terrenos. Então correrá a fonte de bênçãos e de graças, que muda e trans­forma os corações humanos em corações segundo Jesus Cristo; então seguirá à transubstanciação do pão no altar a transformação da alma e de toda a paróquia.

Para exemplo e doutrina do mundo

O Crucifixo substitui uma completa biblioteca sacerdotal; é um Livro, tão universalmente escrito, que qualquer espírito o pode ler e compreender. E, contudo, são os seus pensamentos de uma profundidade tal, que a vida longa e inteira de um sacerdote não basta para esgotar o seu conteúdo. São Paulo reúne num só pensa­mento e numa só frase toda a doutrina da cruz, quando ele escreve aos gálatas: Qui autem sunt Christi, carnem suam crucifixerunt cum vitiis et concupiscentiis (Gl 5, 24).

Com isto o Apóstolo quer dizer: pelo batismo fomos incorporados a Cristo, porém a esta incorporação deve seguir a crucifixão: o velho homem deve morrer. Treze séculos mais tarde, leu-se no crucifixo a mesma doutrina: Ecce in cruce totum constat, et in moriendo totum jacet: et non est alia via ad vitam et ad veram internam pacem, nisi via sanctae crucis, et quotidianae mortificationis (Imit. Christi 2, 12).

Assim, pois, tudo está na cruz, e todo o ponto está em morrer; outro caminho não há para a vida e paz interior verdadeira fora do ca­minho da santa cruz e contínua mortificação. Em que ponto estou eu com o morrer a mim mesmo? Dobram os sinos na torre da minha igreja, representando o toque fúnebre da morte de minha natureza, que morreu totalmente para o mundo.

Ó profunda mística contida na cruz! Tu, ó santo lenho, prendeste espírito e alma de inúmeros santos sacerdotes; horas inteiras retiveste junto de ti os seus corações. Ó profunda mística contida na cruz! Tu fizeste chorar um Paulo, um Thomas, um Boaventura; dirigiste a pena de um Francisco de Sales, um Henrique Suso, um Tauler, um Thomas de Kempis!

Ó profunda mística contida na cruz! Pe­netra bem no meu espírito, ó cruz bendita! Faze-me voltar para o meu interior e tira de mim todo pensar frio e frívolo. Não, assim não posso continuar. Sou muito leviano e volvido para as coisas exteriores; devo ao contrário entrar em mim mesmo, bem no fundo do meu interior, mas isso só é possível, se eu morro em mim mesmo. Deve vir a noite para poder aparecer um belíssimo e quase infinito céu coberto e semeado de estrelas. Imensas e muitas extensas regiões abrem-se aos olhos interiores. Vai-se, então, de clareza em clareza, de claridade em claridade!

(Excertos da obra 'A Pérola Preciosa', do Pe. Wendelin Meyer, trad. de Alberto Kolb)