domingo, 30 de novembro de 2014

'O QUE VOS DIGO, DIGO A TODOS: VIGIAI!'

Páginas do Evangelho - Primeiro Domingo do Advento


Hoje começa um novo ano litúrgico da Santa Igreja com o Tempo do Advento, período que os cristãos são conclamados a viver em plenitude as graças da expectativa, da conversão e da esperança, à espera do Senhor Que Vem. O Ano Litúrgico 2014-2015 é o Ano B, no qual os exemplos e ensinamentos de Jesus Cristo são proclamados a cada domingo pelas leituras do Evangelho de São Marcos.

E o novo ano litúrgico começa com Jesus exortando a vigilância aos filhos de Deus: 'O que vos digo, digo a todos: Vigiai!' (Mc 13, 37). Do alto do Monte das Oliveiras e à vista de Jerusalém, Jesus vai alertar os seus discípulos sobre a necessidade de se permanecer vigilantes, na oração e na confiança de uma vida de plenitude cristã, diante das coisas do mundo, que passam e repassam no cotidiano de nossas vidas. Vigilância que se impõe naqueles tempos, na vida futura da Igreja, nos remotos tempos da história: 'Vigiai, portanto, porque não sabeis quando o dono da casa vem: à tarde, à meia-noite, de madrugada ou ao amanhecer. Para que não suceda que, vindo de repente, ele vos encontre dormindo' (Mc 13, 35 - 36).

São palavras de salvação, porque a única coisa realmente importante para o homem é a salvação eterna de sua alma. Tudo o mais é efêmero e sem sentido. No fim dos tempos ou no fim de nossa vida, o Juízo Final ou o Juízo Particular vai nos pedir contas essencialmente da nossa vigilância filial à Santa Vontade de Deus, no cumprimento de nossas ações cristãs, no acervo das graças recebidas, na inquietude do coração humano ao encontro do Pai.

Vigiar significa essencialmente não pecar, não ofender a Santidade de Deus com as misérias e as fragilidades humanas, não conspurcar a Infinita Pureza da alma que nos foi legada um dia com a lama dos prazeres, frivolidades e maldades de uma vida profanada pelos valores do mundo. Porque haverá o dia do juízo, no qual os homens serão levados ou deixados para trás: 'Cuidado! Ficai atentos, porque não sabeis quando chegará o momento' (Mc 13, 33). Vigiar é estar preparado para que sejam santos todos os dias de nossa vida e para que Deus escolha, dentre eles, o mais belo, para receber de volta as almas vigilantes que Ele próprio desenhou para a eternidade. 

sábado, 29 de novembro de 2014

TIPOS DE CRUZES (III)

31. CRUZ MARIANA




Cruz latina, com braço esquerdo alongado e contendo abaixo do mesmo uma letra M maiúscula, referência à Virgem Maria.




32. CRUZ DA LUTA CONTRA O MAL




Cruz latina apoiada sobre uma base em forma de flecha; o conjunto assume o formato de uma espada, simbolizando a eterna luta do bem contra o mal.


33. CRUZ FORJADA



Cruz latina apoiada em base curva, de uso comum nas catacumbas, como elemento de dissimulação junto aos inimigos da fé cristã.




34. CRUZ EM ÂNCORA


Variante da cruz forjada: o arranjo envolve uma cruz latina apoiada sobre um arco com pontas, com o conjunto assumindo a forma de uma âncora, símbolo da esperança cristã.


35. CRUZ EM ÂNCORA (VARIANTE)


Variante da cruz em âncora dotada de um círculo superior, que é associado à figura do papa São Clemente, que, amarrado a uma âncora, foi arremessado ao mar por ordem do imperador Trajano. Por isso, esta cruz é chamada também de cruz de São Clemente.



36. CRUZ SATÂNICA





Cruz com forma de um ponto de interrogação, como que simulando uma dúvida sobre a natureza divina de Nosso Senhor Jesus Cristo.






37. CRUZ DE SANTIAGO


Cruz que é a insígnia da Ordem de São Tiago, fundada em 1160, para proteger os peregrinos em romaria ao Santo Sepulcro. A cruz constitui uma reprodução da indumentária dos cavaleiros da Ordem: uma capa branca com uma cruz vermelha em forma de espada, trazendo flores-de-lis na empunhadura e também nos braços. 



38. CRUZ DE SANTIAGO (VARIANTES)         



39. CRUZ CELTA OU IRLANDESA





Antigo símbolo pagão, a cruz celta tornou-se um emblema da Igreja Cristã, após a conversão dos celtas ao Cristianismo.






40. CRUZ IÔNICA


Variante da cruz celta, introduzida na Irlanda por São Columbano, um monge missionário do século VI que, mais tarde, fundou um mosteiro na Ilha de Iona (Escócia), pelo que passou a ser conhecida como cruz iônica.


41. CRUZ PRESBITERIANA




Variante da cruz celta, utilizada como símbolo da Igreja Presbiteriana.



42. CRUZ COPTA OU GNÓSTICA


Com a introdução do Cristianismo ao longo do Vale do Nilo, os novos cristãos (chamados coptas) incorporaram um típico elemento pagão dos antigos egípcios (círculo vazio ou com quadrantes, símbolo do deus-sol) como uma nova versão da cruz cristã.


43. CRUZ DA VITÓRIA OU DAS ASTÚRIAS


Estandarte da vitória das forças cristãs contra os muçulmanos na batalha de Covadonga, esta cruz constitui o símbolo do Reino das Astúrias (visigodos cristãos), primeira região da Península Ibérica a se libertar da invasão dos mouros e que se tornou o centro do processo da Reconquista Cristã de toda a região. Trata-se de uma cruz de madeira totalmente encrustada de ouro e pedras preciosas e de bordas torneadas (com arranjos diversos, comportando inúmeras variantes). As letras gregas, alfa e ômega, como pendentes da cruz, fazem referência a Deus, princípio e fim de todas as coisas. 


44. CRUZ VISIGODA OU DOS ANJOS


Variante da cruz da vitória utilizada pelo Reino de Oviedo. Os braços da cruz assumem forma trapezoidal, sendo também encrustados de ouro e pedras preciosas. Estas cruzes e suas variantes, quando usadas em procissões e festas religiosas, eram chamadas de votivas.


45. CRUZ HERÁLDICA OU DE SÃO JORGE


Cruz vermelha quadrada cujos braços são circunscritos por um escudo, de formato retangular na parte superior e circular na parte inferior, de uso generalizado na heráldica (símbolos de brasões ou escudos).

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

GLÓRIAS DE MARIA - NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS


'Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós'


'Este globo que vês representa o mundo inteiro e, em especial, a França e cada pessoa em particular. Eis o símbolo das graças que derramo sobre as pessoas que as pedem'


'Estes raios são o símbolo das graças que a Santíssima Virgem alcança para as pessoas que lhe pedem...'.

ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS

Ó Imaculada Virgem Mãe de Deus e nossa Mãe, ao contemplar-vos de braços abertos derramando graças sobre os que vo-las pedem, cheios de confiança na vossa poderosa intercessão, inúmeras vezes manifestada pela Medalha Milagrosa, embora reconhecendo a nossa indignidade por causa de nossas inúmeras culpas, acercamo-nos de vossos pés para vos expor, durante esta oração, as nossas mais prementes necessidades (em silêncio e devoção, pedir a graça desejada).

Concedei, pois, ó Virgem da Medalha Milagrosa, este favor que confiantes vos solicitamos, para maior glória de Deus, engrandecimento do vosso nome, e o bem de nossas almas. E para melhor servirmos ao vosso Divino Filho, inspirai-nos profundo ódio ao pecado e dai-nos coragem de nos afirmar sempre verdadeiros cristãos. Amém.

Rezar 3 Ave-Marias e, após cada ave-maria, a jaculatória: 'Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós'.

Oração Final - Santíssima Virgem, eu creio e confesso vossa Santa e Imaculada Conceição, pura e sem mancha. Ó puríssima Virgem Maria, por vossa Conceição Imaculada e gloriosa prerrogativa de Mãe de Deus, alcançai-me de vosso amado Filho a humildade, a caridade, a obediência, a castidade, a santa pureza de coração, de corpo e espírito, a perseverança na prática do bem, uma santa vida e uma boa morte. Amém.


'Faça cunhar uma medalha por este modelo; todas as pessoas que a trouxerem receberão grandes graças, sobretudo se a trouxerem ao pescoço; as graças serão abundantes, especialmente para aqueles que a usarem com confiança'


SÍMBOLOS DAS FACES DA MEDALHA MILAGROSA


Uma mulher Vestida de Luz:
Nossa Senhora resplandecente, envolvida por luz e graças, significando a glória total. 

A inscrição: 
Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós. 


Mãos abertas: 
Gesto de distribuição de inúmeras Graças para o mundo, Maria, medianeira e co-redentora. 

Raios:
'Os raios que vês são símbolos das Graças que derramo sobre quem as pede'.

Globo branco sobre os pés que pisam a serpente:
Maria é a antítese e o refúgio aos pecados do mundo.


Letra M:
A letra M, que sustém uma Cruz sobre uma barra horizontal entrelaçada nos braços do M , provém de Maria, Mãe de Deus, altar da encarnação divina e participante das dores de Jesus na cruz; Mãe de todos nós. 


A Cruz sobre a barra:
Altar da redenção, sinal da Salvação.


Dois corações:
O coração de Jesus, coroado de espinhos; O coração de Maria atravessado por uma espada, pela sua participação ativa e eminente na obra da Redenção. 

Doze estrelas: 
Recordam o texto do Apocalipse: ... e na sua cabeça uma coroa de doze estrelas que simbolizam as doze tribos de Israel, os doze apóstolos, os doze pilares da Fé.

GALERIA DE ARTE SACRA (XVI)

ARTE SACRA: SANTA CECÍLIA










quarta-feira, 26 de novembro de 2014

26 DE NOVEMBRO - SÃO LEONARDO DE PORTO MAURÍCIO

(São Leonardo de Porto Maurício: 1676 - 1751)

São Leonardo, o grande missionário do século XVIII proclamado pelo Papa Pio XI patrono dos sacerdotes consagrados às missões católicas, nasceu em Porto Maurício, perto de Gênova na Itália, a 20 de dezembro de 1676. Entrou para a Ordem Franciscana, no Convento de São Boaventura, ordenando-se padre aos 26 anos, dedicando, então, toda a sua vida, à salvação das almas por meio de pureza singular, penitências, orações e extremada caridade. Foi um grande apóstolo da ação missionária e do santo exercício da Via-Sacra, destacando-se ainda por ser um exímio pregador e autor de uma grande coleção de escritos católicos. São Leonardo de Porto Maurício faleceu no mesmo Convento de São Boaventura, em Roma, em 26 de novembro de 1751. Foi canonizado pelo Papa Pio IX em 29 de junho de 1867.



EXCERTO DA OBRA 'AS EXCELÊNCIAS DA SANTA MISSA' DE SÃO LEONARDO DE PORTO MAURÍCIO
                                          (conforme a edição romana de 1737, dedicada ao Papa Clemente XII)

Sabeis o que é, na realidade, a Santa Missa? É o sol da cristandade, a alma da Fé, o centro da religião Católica apostólica com a sede em Roma, a que tendem todos os seus ritos, todas as suas cerimônias, todos os seus sacramentos. É, em uma palavra, a essência de tudo o que há de bom e de belo na Igreja de Deus. 

Só o Sacrifício que temos em nossa santa religião, que é a Santa Missa, é um sacrifício santo, perfeito, e, em todo sentido, completo: por ele, cada fiel honra dignamente a Deus, reconhecendo, ao mesmo tempo, o próprio nada e o supremo domínio de Deus. Davi o chama: Sacrifício de Justiça ('sacrificium justitiae'); tanto porque contém o Justo dos justos e o Santo dos santos, ou, melhor a própria Justiça e Santidade, como porque santifica as almas pela infusão das graças e abundância dos dons que lhes confere. 

A principal excelência do santo Sacrifício da Missa consiste em que se deve considerá-lo como essencialmente o mesmo oferecido no Calvário sobre a Cruz, com esta única diferença: que o sacrifício da Cruz foi sangrento e só se realizou uma vez e que, nessa única oblação, Jesus Cristo satisfez plenamente por todos os pecados do Mundo; enquanto que o sacrifício do altar é um sacrifício incruento, que se pode renovar uma infinidade de vezes, e que foi instituído para nos aplicar especialmente esta expiação universal que Jesus por nós cumpriu no Calvário. 

Assim o sacrifício cruento foi o meio de nossa redenção e o sacrifício incruento nos proporciona as graças da nossa redenção. Um abre-nos os tesouros dos méritos de Cristo Nosso Senhor, o outro no-los dá para os utilizarmos. Notai, portanto, que na Missa não se faz apenas uma representação, uma simples memória da Paixão e Morte do nosso Salvador; mas, num sentido realíssimo, o mesmo que se realizou outrora no Calvário aqui se realiza novamente: tanto que se pode dizer, a rigor, que em cada Santa Missa nosso Redentor morre por nós misticamente, sem morrer na realidade, estando ao mesmo tempo vivo e como imolado.

No santo dia de Natal, a Igreja nos lembra o nascimento do Salvador, mas não é verdade que Ele nasça, ainda, nesse dia. Nos dias da Ascensão e Pentecostes, comemoramos a subida do Senhor Jesus ao Céu e a vinda do Espírito Santo, sem que, de modo algum, nesses dias, o Senhor suba ainda ao Céu ou o Espírito Santo desça visivelmente à Terra. A mesma coisa, porém, não se pode dizer do mistério da Santa Missa, pois aí não é uma simples representação que se faz, mas, sim, o mesmo sacrifício oferecido sobre a Cruz, com efusão de sangue, e que se renova de modo incruento: é o mesmo corpo, o mesmo sangue, o mesmo Jesus, que se imola hoje na Santa Missa. 

Ora, dizei-me sinceramente se, quando ides à Igreja para assistir a Santa Missa, pensásseis bem que ides ao Calvário assistir à morte do Redentor, que diria alguém que vos visse ai chegar numa atitude tão pouco modesta? Se Maria Madalena fosse ao Calvário e se prostrasse aos pés da Cruz vestida, perfumada e ataviada como em seus tempos de desordem, quanto não seria censurada! E que se dirá de vós que ides à Santa Missa como se fôsseis a uma festa mundana? Que aconteceria, sobretudo se profanásseis este ato tão santo, com gestos, risadas, cochichos, encontros sacrílegos? Digo que, em qualquer tempo e lugar, a iniquidade não tem cabimento; mas os pecados que se cometem na hora da Santa Missa e na proximidade do altar, são pecados que atraem a maldição de Deus

Se não houvesse o Sol, que seria da Terra? Oh! Tudo seria trevas, horror, esterilidade e desolação. E se o Mundo não tivesse a Santa Missa, que seria de nós? Infelizes! Ficaríamos privados de todos os bens sobrecarregados de todos os males. Estaríamos expostos a todos os raios da cólera de Deus. Alguns há que se admiram, e acham que, de certo modo Deus mudou a sua maneira de governar. Antigamente Ele se nomeava de Deus dos exércitos, e falava ao povo do meio das nuvens, manejando o trovão; e de fato, era com todo o rigor da justiça que castigava os pecados. Por um único adultério, mandou passar a fio de espada vinte e cinco mil homens da tribo de Benjamim (Juiz 20,46). Por um leve pecado de orgulho de Davi em computar o povo, enviou Ele uma peste tão terrível que, em poucas horas pereceram setenta mil pessoas (II Sam. 24,15). Por um só olhar curioso e desrespeitoso dos betsamitas, fez com que cinqüenta mil deles perecessem (I Sam. 6, 19). 

E agora suporta, com paciência, não só vaidades e irreverências, mas adultérios, os mais vergonhosos, escândalos gravíssimos, e tantas blasfêmias horríveis que muitos cristãos vomitam contra Seu Nome Santíssimo. Por que assim acontece? Por que tão grande mudança de conduta? Serão as ingratidões dos homens mais escusáveis hoje do que outrora? Bem ao contrário, são muito mais culpáveis, já que os imensos benefícios de Deus se multiplicam a cada dia. 

A verdadeira razão desta clemência espantosa é a Santa Missa, pela qual esta grande Vítima, que se chama Jesus, se oferece ao Eterno Pai. Eis aí o sol da Santa Igreja que dissipa as nuvens e torna sereno o céu. Eis aí o arco-íris que detém os raios da Divina Justiça. Creio para mim que, não fosse a Santa Missa, o Mundo estaria já no abismo, incapaz de suportar o imenso fardo de suas iniquidades. A Santa Missa é o poderoso sustentáculo que lhe permite subsistir. Conclui-se, de tudo isto, quanto este divino Sacrifício é necessário; assim então, sabei aproveitá-lo o máximo que for possível. Para isto, quando participamos da Santa Missa, devemos imitar Afonso de Albuquerque. Achando-se, com sua frota, em perigo de naufragar numa horrível tempestade, teve uma inspiração: tomou nos braços uma criança que viajava em sua nau, e, elevando-a ao alto, exclamou: “Se todos somos pecadores, esta criaturinha é certamente sem mácula, Ah! Senhor por amor deste inocente compadecei-vos dos culpados!” Acreditareis? A vista dessa criança inocente agradou tanto a Deus, que Ele acalmou o mar e devolveu a alegria àqueles infelizes, gelados já pelo terror da morte certa. 

Ainda que a excelência e a necessidade da Santa Missa não fossem para vós bastante ponderáveis, como poderíeis deixar de apreciar a magna utilidade que ela proporciona aos vivos e falecidos, aos justos e aos pecadores, para a vida e para a morte, e mesmo para depois da morte? Imaginai que sois aquele devedor do Evangelho, cuja dívida se elevara à enorme quantia de dez mil talentos. Chamado a prestar contas humilha-se, implora e pede adiamento para satisfazer completamente o débito: 'Tem paciência comigo, que tudo de pagarei' (Mt 18, 26).  Aí está o que deveis fazer, vós que tendes com a Justiça divina não uma, mas mil dívidas. Deveis humilhar-vos e suplicar tempo bastante para assistir à Santa Missa; e ficai certos de que estas Santas Missas saldarão completamente todas as vossas obrigações. 

São Tomás de Aquino, o Doutor angélico, nos ensina quais são as dívidas que temos com Deus. Ele diz que há especialmente quatro. Todas as quatro ilimitadas. A primeira é de adorar, louvar e honrar este Deus de majestade infinita e digno de infinitos louvores e homenagens. A segunda é dar-Lhe satisfação pelos pecados que cometemos. A terceira, render-Lhe graças pelos benefícios recebidos. A quarta, implorar-Lhe, como fonte de todas as graças. Ora, como é possível que pobres criaturas como nós, que nada possuímos, nem mesmo o ar que respiramos, possam jamais satisfazer obrigações tão grandes? Consolemo-nos, pois aqui está um meio facílimo. Façamos o possível para participar de muitas Missas e com a máxima devoção; mandemos celebrá-la também o mais que pudermos: e, se bem que nossas dívidas sejam enormes e inumeráveis, não há dúvida de que, com o tesouro contido na Santa Missa, poderemos solvê-las inteiramente. 

São Leonardo de Porto Maurício, rogai por nós!

MUNDO ANTICATÓLICO

O Real Madrid, um dos dois mais importantes clubes de futebol da Espanha e a equipe esportiva mais valiosa do mundo (avaliada em 3,44 bilhões de dólares ou 7,7 bilhões de reais em 2014, pela revista americana Forbes), assinou recentemente um contrato milionário com os Emirados Árabes, que prevê, entre outras coisas, a reformulação completa do estádio do time na Espanha. O presidente do clube, Florentino Perez, confirmou recentemente que a marca de um banco ou de um fundo de investimento dos Emirados será inserido no nome do novo estádio.

De olho na montanha de dinheiro desse mega-negócio no Oriente Médio e visando agradar aos árabes por eventuais incômodos que poderiam ser causados aos torcedores-consumidores muçulmanos, o Real Madrid concordou em apagar a cruz que encimava a coroa do distintivo do time (algo similar já havia sido feito pelo arquirrival Barcelona, para agradar seus parceiros do Qatar). Uma pequena intervenção, um delito portentoso contra a fé cristã. 


O símbolo cristão havia sido introduzido no emblema do Real Madrid em 1920, quando o rei Alfonso XIII concedeu o seu patrocínio real ao clube. A nova versão do distintivo do Real ilustra atualmente os novos cartões de crédito oficiais do clube, emitidos pelo National Bank of Abu Dhabi - NBAD, novo parceiro comercial da equipe, agora sem a cruz que ficava no topo da coroa do emblema. 

terça-feira, 25 de novembro de 2014

FOTO DA SEMANA


(uma prece entre as ruínas de uma igreja em Livorno/Itália, destruída por bombardeios durante a II Guerra Mundial)

VÍDEOS CATÓLICOS

O que perdemos... um vídeo-síntese da tenebrosa perda de referências da tradição bimilenar da Igreja após o Concílio Vaticano II em termos da arquitetura dos templos, da sagrada liturgia, dos sacramentos e do rito da Missa de Sempre, numa abordagem respeitosa, crítica mas, principalmente, confiante e segura na plena restauração da glória da Igreja depois da Grande Tribulação.

(Vídeo produzido por 'In the Spirit of Chartres Committee, Inc', em inglês, com legendas em português)

domingo, 23 de novembro de 2014

JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO

Páginas do Evangelho - Solenidade de Cristo Rei


Jesus Cristo é o Rei do Universo. Como Filho Unigênito de Deus, Ele é o herdeiro universal de toda a criação, senhor supremo e absoluto de toda criatura e de toda a existência de qualquer criatura, no céu, na terra e abaixo da terra. A realeza de Cristo abrange, portanto, a totalidade do gênero humano, como expresso nas palavras do Papa Leão XIII: 'Seu império não abrange tão só as nações católicas ou os cristãos batizados, que juridicamente pertencem à Igreja, ainda quando dela separados por opiniões errôneas ou pelo cisma: estende-se igualmente e sem exceções aos homens todos, mesmo alheios à fé cristã, de modo que o império de Cristo Jesus abarca, em todo rigor da verdade, o gênero humano inteiro' (Encíclica Annum Sacrum, 1899).

E, neste sentido, o domínio do seu reinado é universal e sua autoridade é suprem e absoluta. Cristo é, pois, a fonte única de salvação tanto para as nações como para todos os indivíduos. 'Não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do Céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual nós devamos ser salvos' (At 4, 12). O livre-arbítrio permite ao ser humano optar pela rebeldia e soberba de elevar a criatura sobre o Criador, mas os frutos de tal loucura é a condenação eterna.

A realeza de Cristo é, entretanto, principalmente interna e de natureza espiritual. Provam-no com toda evidência as palavras da Escritura acima referidas, e, em muitas circunstâncias, o proceder do próprio Salvador. Quando os judeus, e até os Apóstolos, erradamente imaginavam que o Messias libertaria seu povo para restaurar o reino de Israel, Jesus desfez o erro e dissipou a ilusória esperança. Quando, tomada de entusiasmo, a turba, que O cerca O quer proclamar rei, com a fuga furta-se o Senhor a estas honras, e oculta-se. Mais tarde, perante o governador romano, declara que seu reino 'não é deste mundo'. Neste reino, tal como no-lo descreve o Evangelho, é pela penitência que devem os homens entrar. Ninguém, com efeito, pode nele ser admitido sem a fé e o batismo; mas o batismo, conquanto seja um rito exterior, figura e realiza uma regeneração interna. Este reino opõe-se ao reino de Satanás e ao poder das trevas; de seus adeptos exige o desprendimento não só das riquezas e dos bens terrestres, como ainda a mansidão, a fome e sede da justiça, a abnegação de si mesmo, para carregar com a cruz. Foi para adquirir a Igreja que Cristo, enquanto 'Redentor', verteu o seu sangue; para isto é, que, enquanto 'Sacerdote', se ofereceu e de contínuo se oferece como vítima. Quem não vê, em consequência, que sua realeza deve ser de índole toda espiritual? (Encíclica Quas Primas de Pio XI, 1925).

Cristo Rei se manifesta por inteiro pela Sua Santa Igreja e, por meio dela, e por sua paixão, morte e ressurreição, atrai para Si a humanidade inteira, libertada do pecado e da morte, que será o último adversário a ser vencido. E quando voltar, há de separar o joio do trigo, as ovelhas e o cabritos, uns para a glória eterna, outros para a danação eterna: 'Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará em seu trono glorioso. Todos os povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. E colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda... estes irão para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna' (Mt 25, 31 - 33.46).

HOJE É DIA DA INDULGÊNCIA PLENÁRIA DE CRISTO REI

Hoje, dia da solenidade de Cristo Rei, recebe Indulgência Plenária todo fiel* que recitar, publicamente e com piedosa devoção, o ato de consagração do gênero humano a Jesus Cristo Rei:

   Dulcíssimo Jesus, Redentor do gênero humano, lançai sobre nós que humildemente estamos prostrados na vossa presença, os vossos olhares. Nós somos e queremos ser vossos; e, a fim de podermos viver mais intimamente unidos a vós, cada um de nós se consagra, espontaneamente, neste dia, ao vosso sacratíssimo Coração. Muitos há que nunca vos conheceram; muitos, desprezando os vossos mandamentos, vos renegaram.
   Benigníssimo Jesus, tende piedade de uns e de outros e trazei-os todos ao vosso Sagrado Coração. Senhor, sede rei não somente dos fiéis, que nunca de vós se afastaram, mas também dos filhos pródigos, que vos abandonaram; fazei que estes tornem, quanto antes, à casa paterna, para não perecerem de miséria e de fome. Sede rei dos que vivem iludidos no erro, ou separados de vós pela discórdia; trazei-os ao porto da verdade e à unidade da fé, a fim de que, em breve, haja um só rebanho e um só pastor.
    Senhor, conservai incólume a vossa Igreja, e dai-lhe uma liberdade segura e sem peias; concedei ordem e paz a todos os povos; fazei que, de um polo a outro do mundo, ressoe uma só voz: louvado seja o coração divino, que nos trouxe a salvação; honra e glória a ele, por todos os séculos. Amém.

*Para que alguém seja capaz de lucrar indulgências, deve ser batizado, não estar excomungado e encontrar-se em estado de graça, pelo menos no fim das obras prescritas. O fiel deve também ter intenção, ao menos geral, de ganhar a indulgência e cumprir as ações prescritas, no tempo determinado e no modo devido, segundo o teor da concessãoA indulgência plenária só se pode ganhar uma vez ao dia. 

sábado, 22 de novembro de 2014

22 DE NOVEMBRO - SANTA CECÍLIA


Cecília, virgem e mártir romana do século III sob o império de Marco Aurélio, foi a primeira santa da Igreja exumada com corpo incorrupto, muitos séculos após a sua morte, fato que a tornou de imediato uma das santas mais veneradas da Idade Média e que levou o seu nome a figurar no próprio Cânon da Missa.

Os poucos dados disponíveis de sua vida foram relatados na obra 'Paixão de Santa Cecília', do século V. Sabe-se que, desde muito cedo, Cecília perdeu os pais e ofereceu-se a Deus como Esposa de Cristo. Contra as suas pretensões, foi prometida pelos seus parentes em casamento a Valeriano, um jovem nobre romano. Como esposa de Valeriano, conseguiu a conversão do marido e a sua aceitação a uma vida conjugal como irmãos. Mais tarde, Tibúrcio, irmão de Valeriano, também abraçou plenamente a fé cristã.

Em função da perseguição romana aos que professavam a fé cristã e, uma vez denunciados, Valeriano e Tibúrcio foram decapitados. Quanto a Cecília, foi condenada inicialmente à morte por asfixia em uma câmara úmida sob elevadas temperaturas. Ilesa diante dessa condenação, Cecília foi levada a um templo para ser decapitada e, mesmo mortalmente ferida, agonizou ainda por muito tempo. Seu corpo foi sepultado, na mesma posição de sua morte, nas catacumbas romanas.

Em 1599, o túmulo de Santa Cecília foi encontrado e, uma vez aberto, revelou o corpo intacto da santa em uma posição de suave repouso, imagem que foi reproduzida e ratificada em uma célebre escultura de puro mármore feita pelo artista Stefano Maderno (1566-1636). É considerada a padroeira da música sacra e dos músicos, sendo comumente representada com um instrumento musical porque, durante os festejos do seu casamento, durante músicas e canções festivas, teria elevado o pensamento a Deus em piedosa aspiração: 'Senhor, guardai sem mancha meu corpo e minha alma, para que eu não seja confundida'. 

(decapitação de Santa Cecília)

(estátua em mármore de Santa Cecília)


Santa Cecília, rogai por nós!

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

AS CRUZADAS


Em novembro do ano de 1095, o Papa Urbano II convocou um concílio na cidade de Clermont-Ferrand na França que, entre outros assuntos, tinha o propósito de deliberar sobre a situação à época da Terra Santa, há muito em poder dos muçulmanos. Com efeito, após vários séculos de contínuas conquistas, os exércitos muçulmanos dominavam todo o norte da África, o Oriente Médio, a Ásia Menor e grande parte da Espanha, incluindo Egito, Síria e a Palestina, terra de Nosso Senhor Jesus Cristo. Dali, o império muçulmano tenderia a se expandir cada vez mais para o Ocidente, para Constantinopla e até os confins da Europa. 

A situação tornou-se ainda mais crítica com a invasão de povos bárbaros tártaros, particularmente os turcos, que tinham dominado a Pérsia e adotado a religião de Maomé, com poderio avassalador de suas hordas de conquista sob a dinastia dos seljúcidas. Mediante uma atroz perseguição contra os cristãos do oriente e dos peregrinos à Terra Santa, a civilização cristã corria o risco de ser destruída em face de sua supressão no Oriente e de uma consequente ofensiva islâmica sobre o Ocidente.

Naquele concílio - mais precisamente em 17 de novembro de 1095, o Papa Urbano II deu início à gloriosa era das cruzadas (foram 9 no total, num período de cerca de 200 anos), clamando à cristandade e a Santa Igreja a combaterem com armas contra os inimigos da fé cristã: os mouros sarracenos e demais seguidores de Maomé, os hereges albigenses e as hordas de bárbaros pagãos que avançavam sobre o Reno e o Danúbio e pela libertação dos lugares santos da fé cristã, por meio de um brado decisivo: Deus lo vult - Deus o quer! Expressão do heroísmo religioso levado às últimas consequências, as cruzadas representaram, apesar de muitas infortúnios e fatos condenáveis, a salvação da cristandade e sua libertação do jugo islâmico no Ocidente.
Neste ideal de liberdade da fé cristã, foram realizadas nove Cruzadas ao longo dos séculos XI e XIII, das quais a primeira é a mais importante, pois foi, por meio dela, que Godofredo de Bouillon logrou estabelecer no Oriente, ainda que por um breve período, o Reino Latino de Jerusalém, o principado de Antioquia e os condados de Edessa e de Trípoli. Uma vez entronizado como rei de Jerusalém, Godofredo de Bouillon recusou a coroa que lhe foi oferecida, na Terra Santa onde Jesus havia sido coroado com uma coroa de espinhos. Nessas santas lutas em defesa da Fé contra os muçulmanos, pagãos e hereges, participaram uma legião de cristãos que foram chamados 'cruzados', que legaram à cristandade seus feitos e um heroísmo particular, firmados nas premissas de Cristo de que não é digno dEle quem não toma sua cruz e a leva até o fim e de que as verdadeiras riquezas do mundo não são as materiais, mas aquelas forjadas pelos bens espirituais que nem a ferrugem nem a traça são capazes de corroer. 

AS NOVE CRUZADAS

1095 - O Papa Urbano II convoca a Cristandade para partir em direção a Jerusalém, para libertar a cidade e os cristãos do Oriente, que estavam sob jugo muçulmano.

1096-1099 - Primeira Cruzada: período de três anos para as conquistas de Niceia, Antioquia e, por fim, Jerusalém.

1147-1149 - Segunda Cruzada, a pedido do Papa Eugênio III (motivado pela queda de Edessa) e pregada na França por São Bernardo, concluída pela derrota derrota de Luís VII, rei da França e de Conrado III, imperador alemão, diante da cidade de Damasco. 

1189-1192 - Terceira Cruzada, empreendida por causa da queda de Jerusalém em poder de Saladino. O rei da França Felipe Augusto, o imperador alemão Frederico Barbaroxa e o rei da Inglaterra Ricardo Coração de Leão tornam-se cruzados; tomada da ilha de Chipre e de Acre, no litoral da Palestina e acordo firmado com Saladino, que concedeu livre acesso aos lugares santos; criação do reino cristão da Pequena Armênia.

1202-1204 - Quarta Cruzada, convocada pelo Papa Inocêncio III, que tinha o Egito como objetivo inicial. Os cruzados terminaram tomando Constantinopla, onde Balduíno de Flandres instala o império latino, também de curta duração.

1217-1221 - Cruzada das crianças: milhares de crianças e jovens morrem a caminho de Jerusalém. Quinta Cruzada, sob novo apelo de Inocêncio III: os cruzados tomam e depois perdem Damieta, no Egito.

1229 - Sexta Cruzada: o imperador alemão Frederico II consegue negociar com o sultão do Egito o livre acesso dos peregrinos às cidades de Jerusalém, Belém e Nazaré.

1248-1254 - Sétima Cruzada: Jerusalém cai em 1244, pela segunda vez, em mãos dos muçulmanos. São Luís IX empreende a conquista do Egito e conquista Damieta, que depois devolve, ao ser derrotado e tornado cativo.

1270 - Oitava Cruzada: São Luís IX morre diante de Túnis, no norte da África.

1291 - Nona e Última Cruzada: tentativa de suspender o cerco da Fortaleza de Acre, sem sucesso. Com o abandono das duas últimas fortalezas da Ordem dos Templários na Palestina e ao norte de Beirute, os Estados Latinos da Terra Santa foram extintos.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

DA VIDA ESPIRITUAL (77)

Aquele sacerdote nos lembrou, mais uma vez, a corrente de graças que flui das indulgências da Igreja, pelos méritos infinitos da Redenção de Cristo. Bebei dessa fonte inesgotável e tereis as chaves do céu pela remissão de toda a pena temporal devida aos pecados cometidos e cuja culpa já foi perdoada, no sacramento da Confissão ou, em casos menos graves, por um ato de contrição perfeita.

DA VERDADEIRA DEVOÇÃO À MARIA SANTÍSSIMA

Maria é a obra-prima por excelência do Altíssimo, cujo conhecimentoe domínio ele reservou para si. Maria é a Mãe admirável do Filho, a quem aprouve humilhá-la e ocultá-la durante a vida para lhe favorecer a humildade, tratando-a de mulher – mulier (Jo 2, 4; 19, 26), como a uma estrangeira, conquanto em seu Coração a estimasse e amasse mais que todos os anjos e homens. Maria é a fonte selada (Ct 4, 12) e a esposa fiel do Espírito Santo, onde só ele pode penetrar. Maria é o santuário, o repouso da Santíssima Trindade, em que Deus está mais magnífica e divinamente que em qualquer outro lugar do universo, sem excetuar seu trono sobre os querubins e serafins; e criatura alguma, pura que seja, pode aí penetrar sem um grande privilégio.

                2 ...ut soli Deo cognoscenda reservatur (São Bernardino de Sena, Sermão 51, art. 1, cap. 1).

Digo com os santos: Maria Santíssima é o paraíso terrestre3 do novo Adão, no qual este se encarnou por obra do Espírito Santo, para aí operar maravilhas incompreensíveis. É o grande, o divino mundo de Deus4, onde há belezas e tesouros inefáveis. É a magnificência de Deus5, em que ele escondeu, como em seu seio, seu Filho único, e nele tudo que há de mais excelente e mais precioso. Oh! que grandes coisas e escondidas Deus todo-poderoso realizou nesta criatura admirável, di-lo ela mesma, como obrigada, apesar de sua humildade profunda: Fecit mihi magna qui potens est (Lc 1, 49). O mundo desconhece essas coisas porque é inapto e indigno.

3  Racionalis secundi Adam paradisus. São Leão Grande (Sermo de Annunctiatione).
4  Mundus specialissimus altissimi Dei. (São Bernardo).
5 Magnificentia Dei. Ricardo de São Lourenço (De laud. Virg., lib. IV).

Devemos, portanto, exclamar com o apóstolo: Nec oculus vidit, nec auris audivit, nec in cor hominis ascendit (1Cor 2, 9) – os olhos não viram, o ouvido não ouviu, nem o coração do homem compreendeu as belezas, as grandezas e excelências de Maria, o milagre dos milagres da graça6, da natureza e da glória. Se quiserdes compreender a Mãe – diz um santo – compreendei o Filho. Ela é uma digna Mãe de Deus: Hic taceat omnis lingua – Toda língua aqui emudeça.

                 6Miraculum miraculorum (São João Damasceno, Oratio I de Nativitate B.V.)

(Excertos da obra 'Tratado da Verdadeira Devoção à Virgem Santíssima', de São Luis de Montfort)

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

OS MAIS BELOS LIVROS CATÓLICOS DE TODOS OS TEMPOS (3)

5. SANTO TOMÁS DE AQUINO SUMA TEOLÓGICA 

A Suma Teológica (Summa Theologica ou simplesmente Summa) é a obra mais conhecida de Santo Tomás de Aquino (1225-1274) e constitui uma das obras clássicas da história da filosofia e de toda a literatura ocidental. Obra monumental, por conter milhares de páginas e enquadrar vários volumes, foi escrita em latim entre 1265 e 1274 (interrompida, então, com a morte do autor) e constitui um compêndio geral que aborda todas as questões e os principais ensinamentos teológicos da Igreja Católica, tais como a existência de Deus, a criação, o homem, a finalidade do homem, Cristo, os sacramentos e o fim do mundo.

Tomás de Aquino foi um professor e, assim, escreveu a Summa particularmente para os seus alunos, jovens e principiantes, como um guia de instrução filosófica. Mas a Summa está longe de ser apenas um compêndio filosófico, como tem sido objeto de referência frequente em muitos centros de estudos laicos. Tomás de Aquino foi, antes de tudo, um homem de Deus e escreveu a sua obra máxima sob a súplica da proteção divina como o próprio autor assim o revela no prólogo da obra, ao citar nominalmente que o texto foi escrito 'cum confidentia divina auxilli'. Embora com raízes e referências diversas, a Suma Teológica é, desta forma e essencialmente, uma síntese das mais elevadas inspirações da mística e da ascética católica. 

A Suma Teológica é subdividida em três partes: a primeira parte (Prima Pars) trata da existência e natureza de Deus, a criação do mundo, os anjos e a natureza do homem; a segunda parte é subdivididida em outras duas, chamadas Prima Secundae ou Parte I-II, que aborda os  princípios gerais da moral, incluindo a teoria do direito e Secunda Secundae ou Parte II-II, que trata da moralidade em particular, incluindo as virtudes e os vícios individuais; a terceira Parte (Tertia Pars) trata da natureza e da obra de Cristo, de alguns dos sacramentos e do fim do mundo e ficou inacabada (uma quarta parte ou Tertiae Supplementum, escrita pelos alunos do Aquinate, complementam a parte inacabada da obra, incluindo os demais sacramentos e as coisas relativas aos novíssimos do homem - morte, juízo, céu e inferno). 

Todas as partes seguem um padrão específico, em que são propostas diferentes questões*, que são sempre subdivididas em diferentes artigos e analisadas sob diferentes contextos em termos de respostas, argumentações e objeçõesAssim, por exemplo, São Tomás trata do problema da existência de Deus na segunda Questão da Primeira Parte da Summa, dedicando a essa questão não mais do que quatro páginas e três artigos, sendo que tal extrema concisão se explica porque, para os seus contemporâneos, a existência de Deus era algo óbvio que não precisava de demonstração. Estas páginas, entretanto, pela sua notável abordagem teológica, constituem provavelmente e, de longe, as mais lidas e discutidas da obra ao longo da história.

* (a parte I contempla 119 questões; a parte I - II tem 114 questões; a Parte II - II tem 189 questões e a parte III compreende 99 questões).

6. SÃO LUÍS DE MONTFORT TRATADO DA VERDADEIRA DEVOÇÃO À VIRGEM SANTÍSSIMA

Verdadeira Summa de devoção mariana, o Tratado da Verdadeira Devoção à Virgem Maria* foi escrito por São Luís Maria Grignion de Montfort (1673 - 1716) já no final de sua vida e somente recuperado muito tempo depois (os manuscritos originais ficaram perdidos durante 130 anos, entre 1712 a 1842),com um objetivo bastante definido e amplamente explicitado pelo próprio autor: tornar Nossa Senhora conhecida e propagar a sua devoção filial como princípio básico para a preparação e implantação do reino de Cristo na terra, ou seja, a devoção a Jesus Cristo deve vir ao mundo por intermédio de Maria Santíssima. Mais ainda: a devoção a Nossa Senhora deve ser entendida como condição necessária e essencial para a nossa salvação individual e para a salvação de toda a humanidade.

Esta proposição teológica do livro - de que o reino de Cristo deverá ser precedido pelo reino de Maria - é aposta no primeiro tópico da obra: 'Foi por intermédio da Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo e é também por meio d'Ela que Ele deve reinar no mundo'. Entretanto, São Luís de Montfort vai além neste propósito, ao enunciar este princípio não apenas como proposição, mas como uma realização futura definitiva, incorporando, assim, uma dimensão profética extraordinária à sua obra. 

O texto apresenta sistematicamente os princípios gerais da devoção mariana pelo método montforiano: a necessidade de Nossa Senhora como medianeira do único Mediador Jesus Cristo, a necessidade de devoção à Virgem porque Deus quis servir-se de Maria na Encarnação e quer servir-se de Maria na santificação das almas; Maria como Rainha do corações e que Jesus Cristo é o fim último da devoção à Santíssima Virgem; os procedimentos para a escolha da verdadeira devoção à Santíssima Virgem: as devoções falsas e as características da verdadeira devoção; a natureza da 'escravidão por amor' ou 'sagrada escravidão'; vantagens dessa devoção para a vida espiritual; efeitos e práticas exteriores e interiores desta devoção, orações e fórmulas de consagração no contexto da verdadeira devoção à Virgem Santíssima. As versões atuais da obra modificam ligeiramente os manuscritos, apresentando o texto na forma de tópicos numerados (uma estruturação comumente adotada consiste em subdividir o texto em introdução, oito capítulos e suplementos) no sentido de se obter uma melhor abordagem geral dos assuntos e visando melhorar a sequência e a fluência do texto, quase sempre com uma redução exponencial das citações latinas originais. 

* disponível na Biblioteca Digital desse site.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

O PENSAMENTO VIVO DE CHESTERTON (II)

'A revolução é, em grande parte, um sistema; a liberdade é, em grande parte, uma limitação. Não teremos generalizações... Tendemos cada vez mais a discutir detalhes em arte, política e literatura. A opinião de um homem sobre os bondes tem importância; sua opinião sobre Botticelli tem importância; sua opinião sobre todas as coisas não tem importância. Pode se mudar de opinião e explorar milhões de objetos, mas não se deve encontrar aquele objeto estranho, o universo, pois se assim o fizer, terá uma religião, e então estará perdido. Tudo tem importância, exceto tudo'.


'O vício da noção moderna do progresso mental é estar sempre relacionado ao rompimento de laços, à abolição de fronteiras, à rejeição de dogmas. Mas se houver algo parecido com um crescimento mental, isso deve significar crescimento em direção a convicções cada vez mais definidas, que mais e mais vão se tornando dogmas. O cérebro humano é uma máquina de tirar conclusões; se não puder concluir, enferruja... O homem pode ser definido como um animal que fabrica dogmas. À medida que empilha doutrina sobre doutrina e conclusão sobre conclusão, ao formar algum enorme esquema filosófico e religioso, está, no único sentido legítimo de que a expressão é capaz, se tornando mais e mais humano. Ao abandonar doutrina após doutrina, num refinado ceticismo, ao recusar filiar-se a um sistema, ao dizer que superou definições, ao dizer que duvida da finalidade, quando, na própria imaginação, senta-se como Deus, não professando nenhum credo, mas contemplando todos, então está, por intermédio do mesmo processo, imergindo lentamente na indistinção dos animais errantes e da inconsciência da grama. Árvores não têm dogmas. Nabos são particularmente tolerantes'.

(G. K. Chesterton, Hereges)