quinta-feira, 28 de março de 2024

SEMANA SANTA MAIOR: QUINTA-FEIRA SANTA

   CELEBRAÇÃO DA INSTITUIÇÃO DA EUCARISTIA E DO SACERDÓCIO

Nesta Quinta-Feira Santa, a Igreja recorda a Última Ceia de Jesus e a instituição da Eucaristia, sacramento do Seu Corpo e do Seu Sangue: 'Fazei isto em memória de Mim'; a instauração do novo Mandamento: 'Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei' e a suprema lição de humildade de Jesus, quando o Senhor lava os pés dos seus discípulos.


Transportemo-nos em espírito à última Ceia, na qual, Jesus Cristo, às vésperas de sua morte, reúne os seus Apóstolos como o pai de família, próximo ao seu fim, reúne os seus filhos em torno do leito de morte para dar-lhes as suas últimas vontades e legar-lhes a herança do seu amor em comum. Sobretudo, então, lhes atesta o quanto os ama. Assistamos, com recolhimento e amor, a este espetáculo amoroso e meditemos nos grandes mistérios deste dia: a instituição da Eucaristia e a instituição do sacerdócio.

I - A INSTITUIÇÃO DA EUCARISTIA 

Admiremos de princípio Jesus ajoelhado diante dos seus Apóstolos, lavando-lhes os pés para ensinar a todos os dons da humildade profunda; da caridade perfeita, da pureza sem mancha, que pede o Sacramento que Ele vai instituir e que eles vão receber. Sentando-se em seguida à mesa, toma o pão, o abençoa, o parte e o distribui aos seus discípulos, dizendo: 'Tomai e bebei; ESTE É O MEU SANGUE, O SANGUE DA NOVA ALIANÇA QUE QUE SERÁ DERRAMADA POR VÓS EM REMISSÃO AOS VOSSOS PECADOS'

Ó como se conhece bem o amor de Jesus! O Divino Salvador, próximo a deixar-nos, não pode se separar de nós. 'Não os deixarei órfãos', Ele havia dito,' meu Pai me chama; porém, ao ir ao Pai não me separarei de vós; minha morte está determinada por decretos eternos; mas, morrendo, permanecerei vivo para ficar convosco. Minha sabedoria idealizou como obter isso e o meu amor como fazê-lo'.

Na sequência, transforma o pão em seu Corpo e o vinho em seu Sangue, em face da união indissolúvel entre a Pessoa Divina e a natureza humana, e o que pouco antes era apenas pão e apenas vinho é agora a Pessoa Adorável de Jesus Cristo por inteiro, sua Pessoa Divina, tão grande, tão poderosa, como está diante do Pai, governando todos os mundos e adorado por todos os anjos que se estremecem na Sua Presença.

A este milagre sucede outro: 'O que acabo de vos dizer', disse Jesus, 'vós, meus Apóstolos, o fareis; dou-vos este poder não somente a vós, mas a todos os seus sucessores até o fim dos tempos, uma vez que a Eucaristia será a alma de toda a Religião e a essência do seu culto, e deve perdurar tanto quanto ela mesma'. Esta é a rica herança que o amor de Jesus transmitiu aos seus filhos pelo longo dos séculos; este é o testamento que este bom Pai de Família fez, no momento de sua partida, em favor de seus filhos; suas mãos moribundas o escreveram e, em seguida, o selou com o seu Sangue; esta é a bênção que o bom Jacó deu a seus filhos reunidos em torno de Si antes de deixá-los. Ó preciosa herança, ó bendito e amado testamento, ó tão rica bênção! Como podemos agradecer tanto amor?

II PONTO - A INSTITUIÇÃO DO SACERDÓCIO 

Parece, Senhor, que havia se esgotado para nós todas as riquezas do vosso amor e eis, então, que surgem novas maravilhas: NÃO É SOMENTE A EUCARISTIA QUE NOS LEGAIS NESTE SANTO DIA, MAS TAMBÉM O SACERDÓCIO, COM TODOS OS SEUS SACRAMENTOS, COM A SANTA IGREJA, COM A SUA AUTORIDADE INFALÍVEL PARA ENSINAR, O PODER DE GOVERNAR, A GRAÇA DE ABENÇOAR E A SABEDORIA PARA DIRIGIR. Porque tudo isso está ligado essencialmente com a Eucaristia, como preparação da alma para recebê-la, como consequência para conservá-la e para multiplicar os seus frutos. Assim, Jesus Cristo, como Pontífice soberano, quis estabelecer e estabeleceu realmente todos estes poderes de uma só vez e numa só ordem: 'Fazei isso!' 

Ó sacerdócio que esclareceis, purificais e engrandeceis as almas, que dispensais sobre a terra os mistérios de Deus e, em socorro das almas caídas e das almas dos justos, as riquezas da graça; sacerdócio que, em socorro das almas caídas e das almas dos justos, fazeis nascer o arrependimento e abris as portas do Céu, acolhendo os pecadores e fazendo-os volver à inocência; sacerdócio pelo qual sustentais a alma vacilante e a fazeis avançar na virtude, que protegeis o mundo contra si mesmo e à corrupção, contra a ira santa de Deus; sacerdócio, bem inefável, eu o bendigo e bendigo a Deus por tê-lo herdado à terra! 

Que seria do mundo sem vós? Sem vós, o que seria o sol, sua luz, seu calor, seu consolo, sua força e seu apoio! Ó Quinta - Feira Santa, mil vezes bendita, porque trouxestes tanta felicidade para os filhos de Adão! Jamais poderemos celebrar por completo esta graça com a devida piedade, recolhimento e amor.

(Excertos da obra 'Meditações para todos os dias do ano para uso do clero e dos fieis', de Pe. Andrés Hamon, Tomo II).

quarta-feira, 27 de março de 2024

INDULGÊNCIAS PLENÁRIAS DA SEMANA SANTA

  

No riquíssimo acervo das indulgências concedidas pela Santa Igreja, concessões diversas são dadas aos fieis por ocasião do Tríduo Pascal (Quinta-feira Santa, Sexta-feira Santa e Vigília Pascal) para a obtenção de indulgências plenárias, desde que atendidas as demais condições habituais*:

Quinta-Feira Santa

· Recitação ou canto do hino eucarístico 'Tantum Ergo' durante a solene adoração ao Santíssimo Sacramento que se segue à Missa da Ceia do Senhor;

· Visita e adoração ao Santíssimo Sacramento pelo prazo de meia hora.

Sexta-Feira Santa

· Participação piedosa da Veneração da Cruz na solene celebração da Paixão do Senhor.

Sábado Santo  

· Recitação do Santo Rosário.

· Participação piedosa da celebração da Vigília Pascal, com renovação sincera das promessas do Batismo.

Domingo de Páscoa

· Participação devota e piedosa à benção dada pelo Sumo Pontífice a Roma e ao mundo (bênção Urbi et Orbi), ainda que por rádio ou televisão.

* É sempre importante lembrar que a indulgência não é o perdão dos pecados, mas a reparação das penas e danos devidos aos pecados. Para se obter a indulgência plenária é preciso:

1. ter uma disposição interior de afastamento total de todo o pecado, mesmo do pecado venial;
2. ter feito confissão recente;
3. receber a Sagrada Comunhão;
4. rezar em intenção do Santo Padre e da Santa Igreja (orações livres, mas que se recomenda fazer na forma de 'Pai Nosso', 'Ave Maria' e 'Glória').

OFÍCIO DE TREVAS

'Desde a hora sexta até a nona, cobriu-se toda a terra de trevas' (Mt 27,45)

O Ofício de Trevas é um rito litúrgico cristão com origem no século XIII e relacionado à Paixão de Cristo, integralmente celebrado em latim, comumente no período da tarde/noite da Quarta-Feira Santa. No início do rito, um candelabro com formato triangular contendo quinze velas - chamado tenebrário - é instalado junto do altar-mor com todas as suas velas acesas. A partir de então, são entoados séries de quinze salmos (sendo nove constantes das Matinas e cinco das Laudes) sendo que, ao final de cada um deles, as velas vão sendo progressivamente apagadas, começando pelo ângulo inferior direito do candelabro e depois pela sequência do lado esquerdo, conservando-se sempre acesa a vela central e mais elevada do conjunto, símbolo perene da luz de Cristo.


Na medida em que se apagam as velas, também se apagam, em estágios sucessivos, as luzes do templo, dos fundos e em direção ao altar, fazendo avançar progressivamente sobre todos e o templo completa escuridão. As velas que se apagam são as luzes inconstantes da nossa fé de discípulos e seguidores de Jesus, que pouco a pouco se afastam do Senhor durante a sua Paixão e Morte de Cruz. A crescente escuridão simboliza o triunfo crescente da iniquidade no drama do Calvário.


Com a conclusão do último salmo, o sacerdote recolhe a vela branca no ponto mais alto do candelabro e a conduz para trás do altar, mantendo-a assim longe de todos durante a recitação do Miserere e da oração de conclusão do ofício, evento que simboliza os três dias que Jesus permaneceu sepultado, ficando a igreja às escuras e em silêncio por alguns instantes.

Na sequência, os presentes começam a bater os pés no chão do templo, símbolo da perturbação que irrompeu sobre os inimigos de Jesus e do terremoto que abalou o Calvário por ocasião da morte de Cristo. A vela branca que permaneceu acesa durante todo o rito é então novamente trazida às vistas de todos e recolocada no ponto mais alto do tenebrário anunciando, assim, o encerramento do Ofício das Trevas, com a luz de Cristo permanecendo viva e cintilante entre nós.

terça-feira, 26 de março de 2024

PROCISSÃO DA SOLEDADE DA VIRGEM DOLOROSA

'Vós todos que passais pelo caminho, olhai e vede há dor como a minha dor?' (Lm 1,12)

Há um outro momento litúrgico especial, durante os eventos preliminares da Semana Santa, após as  'Procissões do Depósito', em que as imagens do Nosso Senhor dos Passos e de Nossa Senhora das Dores são conduzidas independentemente e recolhidas em igrejas próximas e da 'Procissão do Encontro', na qual ambas as imagens convergem para um lugar comum e depois seguem juntas até o mesmo destino final, onde a Mãe de todas as dores haverá de depor o corpo inanimado de Jesus. 

Este momento é aquele em que se impõe para a Virgem o caminho de volta para casa. Sozinha, e submersa em aflições e angústias sem medidas, Nossa Senhora precisa refazer agora o trajeto inverso do que havia sido o do último encontro. Essa é a Procissão da Soledade da Virgem Dolorosa, comumente realizada durante a Segunda-Feira ou Terça-Feira Santa. 


Ali, neste breve percurso, a espada de dor da profecia de Simeão assume para a Virgem Dolorosa as dimensões de uma angústia indescritível. O Filho de Deus Vivo está morto. O mundo todo se desfaz como um deserto de todas as graças e virtudes; o Caminho e a Verdade foram esmagados contra o lenho de uma cruz. 'Vós todos que passais pelo caminho, olhai e vede há dor como a minha dor?' (Lm 1,12). Não, não há dor maior que a vossa, Senhora das Dores. Que eu possa ao menos vos acompanhar nesta via dolorosa, ó Mãe da Soledade, suplicando ao Vosso Filho, na contemplação das vossas dores sem medida, o perdão da miserável dimensão que me conforma todos os meus pecados!

segunda-feira, 25 de março de 2024

ORAÇÃO: POPULE MEUS

POPULE MEUS, também chamado de Canto dos Impropérios ou Canto da Repreensões, compreende uma série de antífonas e respostas que expressam o questionamento e as censuras de Jesus Cristo endereçadas ao seu povo escolhido, contrastando os inúmeros favores que Deus lhes havia concedido com a ingratidão e as perseguições que recebeu deles em troca. Este belíssimo hino é comumente entoado durante o rito litúrgico da Paixão do Senhor na Semana Santa, especialmente na tarde da Sexta-feira Santa. 


Popule meus, quid feci tibi?
Povo meu, o que Eu fiz para vós?
Aut in quo contristavi te?
E em que vos contristei?
Responde mihi.
Respondei-me.

Quia eduxi te de terra Aegypti:
Eu vos libertei do Egito:
parasti Crucem Salvatori tuo.
e vós preparastes a cruz para o vosso Salvador.
Quia eduxi te per desertum
Guiei-vos pelo deserto
quadraginta annis, et manna cibavi te,
por quarenta anos e com o maná vos alimentei
et introduxi in terram satis optimam:
e vos introduzi em uma terra fértil
parasti Crucem Salvatori tuo.
e vós preparastes a cruz para o vosso Salvador.

Quid ultra debui facere tibi, et non feci?
O que mais Eu deveria fazer por vós que não fiz?
Ego quidem plantavi te
Eu plantei para vós
vineam meam speciosissimam:
minha belíssima vinha frutífera
et tu facta es mihi nimis amara:
e vós agistes comigo com tanta amargura:
aceto namque sitim meam potasti:
me destes vinagre para saciar minha sede
et lancea perforasti latus Salvatori tuo.
E com uma lança perfurastes o lado do vosso Salvador.

Ego propter te flagellavi Aegyptum
Por vós, Eu golpeei o Egito
cum primogenitis suis:
com os seus primogênitos:
et tu me flagellatum tradidisti.
E vós me retribuistes flagelando-me.

Ego te eduxi de Aegypto,
Eu vos libertei do Egito
demerso Pharaone in Mare Rubrum:
submergi o faraó no Mar Vermelho
et tu me tradidisti principibus sacerdotum.
e vós me retribuistes com as sentenças dos sacerdotes.

Ego ante te aperui mare:
Eu diante de vós abri o mar:
et tu aperuisti lancea latus meum.
E vós com uma lança, abristes o meu lado 
Ego ante te praeivi in columna nubis:
Eu diante de vós mandei uma coluna de nuvem
et tu me duxisti ad praetorium Pilati.
E vós me mandastes ao pretório de Pilatos.

Ego te pavi manna per desertum:
Ofereci-vos maná no deserto
et tu me cecidisti alapis et flagellis.
e vós me machucastes com tapas e açoites.
Ego te potavi aqua salutis de petra:
Eu saciei vossa sede com a água límpida da pedra
et tu me potasti felle et aceto.
e vós saciastes minha sede com fel e vinagre.

Ego propter te Chananaeorum reges percussi:
Eu golpeei os reis Cananeus por vós
et tu percussisti arundine caput meum.
e vós batestes na minha cabeça com uma vara.
Ego dedi tibi sceptrum regale:
Eu dei a vós o cetro real:
et tu dedisti capiti meo spineam coronam.
e vós envolvestes minha cabeça com uma coroa de espinhos.

Ego te exaltavi magna virtute:
Eu vos exaltei em magna virtude:
et tu me suspendisti in patibulo Crucis.
e vós me pendurastes sob o jugo da Cruz.

domingo, 24 de março de 2024

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?' (Sl 21)

Primeira Leitura (Is 50,4-7) - Segunda Leitura (Fl 2,6-11) -  Evangelho (Mc 15,1-39)

 24/03/2024 - Domingo de Ramos

17. 'HOSANA AO FILHO DE DAVI!' 


No Domingo de Ramos, tem início a Semana Santa da paixão, morte e ressurreição de Nosso senhor Jesus Cristo. Jesus entra na cidade de Jerusalém para celebrar a Páscoa judaica com os seus discípulos e é recebido como um rei, como o libertador do povo judeu da escravidão e da opressão do império romano. Mantos e ramos de oliveira dispostos no chão conformavam o tapete de honra por meio do qual o povo aclamava o Messias Prometido: 'Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito seja o reino que vem, o reino de nosso pai Davi! Hosana no mais alto dos céus!' (Mc 11, 9 - 10).

Jesus, montado em um jumento, passa e abençoa a multidão em polvorosa excitação. Ele conhece o coração humano e pode captar o frenesi e a euforia fácil destas pessoas como assomos de uma mobilização emotiva e superficial; por mais sinceras que sejam as manifestações espontâneas e favoráveis, falta-lhes a densidade dos propósitos e a plena compreensão do ministério salvífico de Cristo. Sim, eles querem e preconizam nEle o rei, o Ungido de Deus, movidos pelas fáceis tentações humanas de revanche, libertação, glória e poder. Mas Jesus, rei dos reis, veio para servir e não para reinar sobre impérios forjados pelos homens: '... meu reino não é deste mundo' (Jo 18, 36). Jesus vai passar no meio da multidão sob ovações e hosanas de aclamação festiva; Jesus vai ser levado sob o silêncio e o desprezo de tantos deles, uns poucos dias depois, para o cimo de uma cruz no Gólgota.

Neste Domingo de Ramos, o Evangelho evoca todas as cenas e acontecimentos que culminam no calvário de Nosso Senhor Jesus Cristo: os julgamentos de Pilatos e Herodes, a condenação de Jesus, a subida do calvário, a crucificação entre dois ladrões e a morte na cruz...'Eli, Eli, lamá sabactâni?' (Mc 15,34). Na paixão e morte de cruz, Jesus revela seu amor desmedido pela criação do Pai e desnuda a perfídia, a ingratidão, a falsidade e a traição dos que se propõem a amar com um amor eivado pelos privilégios e concessões aos seus próprios interesses e vantagens.

A fé é forjada no cadinho da perseverança e do despojamento; sem isso, toda crença é superficial e inócua e, ao sabor dos ventos, tende a se tornar em desvario. Dos hosanas de agora ao 'Crucifica-o!' (Mc 15,13) de mais além, o desvario humano fez Deus morrer na cruz. O mesmo desvario, o mesmo ultraje, a mesma loucura que se repete à exaustão, agora e mais além no mundo de hoje, quando, em hosanas ao pecado, uma imensa multidão, em frenesi descontrolado, crucifica Jesus de novo em seus corações!

COMEÇA A SEMANA SANTA MAIOR!


CHRISTVS VINCIT - CHRISTVS REGNAT - CHRISTVS IMPERAT –

CHRISTVS AB OMNI MALO PLEBEM SVAM DEFENDAT

CRISTO VENCE - CRISTO REINA - CRISTO IMPERA - CRISTO DEFENDE SEU POVO DE TODO MAL

(Inscrição na base do obelisco da Praça de São Pedro em Roma)