sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

VERSUS: VIDA ESPIRITUAL


Consolação Espiritual 

Chamo consolação, quando na alma se produz alguma moção interior, com a qual vem a alma a inflamar-se no amor de seu Criador e Senhor; e quando, consequentemente, nenhuma coisa criada sobre a face da terra pode amar em si mesma, a não ser no Criador de todas elas. E também, quando derrama lágrimas que a movem ao amor do seu Senhor, quer seja pela dor se seus pecados ou da Paixão de Cristo nosso Senhor, quer por outras coisas diretamente ordenadas ao seu serviço e louvor. Finalmente, chamo consolação todo o aumento de esperança, fé e caridade e toda a alegria interior que chama e atrai às coisas celestiais e à salvação de sua própria alma, aquietando-a e pacificando-a em seu Criador e Senhor.


Desolação Espiritual 

Chamo desolação a tudo que é contrário à terceira regra, como obscuridade da alma, perturbação, inclinação a coisas baixas e terrenas, inquietação proveniente de várias agitações e tentações que levam a falta de fé, de esperança e de amor; achando-se a alma toda preguiçosa, tíbia, triste, e como que separada de seu Criador e Senhor. Porque assim como a consolação é contrária à desolação, da mesma maneira os pensamentos que provêm da consolação são contrários aos pensamentos que provêm da desolação.

(Santo Inácio de Loyola)

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

TESOURO DE EXEMPLOS (291/295)


291. EU O SEREI, MAMÃE!

Uma boa mãe tinha quatro filhos, aos quais formava na piedade. Uma noite, depois de rezar com eles e lhes falar de Deus, disse-lhes com grande ternura: 'Quão feliz seria eu se um de vocês chegasse a ser santo!'
O menorzinho lançou-se nos braços da mãe, dizendo: 'Eu o serei, mamãe!' E cumpriu a palavra, tornando-se o papa São Pedro Celestino.

292. ACONTECIMENTO FUNESTO

Um jovem foi condenado a quinze anos de prisão. Ouvida a sentença, pediu lhe permitissem falar, e disse: 'Perdoo aos juízes pela sentença, que é justa; perdoo a quem me conduz ao cárcere, porque cumpre o seu dever; mas não posso perdoar ao meu pai, que ali está, porque se me tivesse dado bom exemplo, corrigido e castigado a tempo, eu não estaria aqui'. Ouvida esta acusação, o pai caiu morto ali mesmo.

293. QUEM É ESSE MORTAL?

A irmã do rei São Luís estava um dia a confeccionar uma bela vestimenta, quando o santo lhe disse:
➖ Minha irmã, logo me dareis como presente esse vestido, não é?
➖Meu irmão, eu o destino a um príncipe maior ainda que Vossa Majestade.
➖ E quem seria esse afortunado mortal?
➖ É um pobre de Jesus Cristo e, portanto, é o próprio Jesus Cristo a quem eu o prometi.

294. SERVIA-OS ELE MESMO

A caridade de São Luís, rei da França, era prodigiosa. Todas as quartas, sextas e sábados da Quaresma e do Advento dava de comer em seu palácio a treze pobres que ele mesmo servia.

Servia-lhes uma sopa e duas espécies de alimentos. Cortava e distribuía o pão. Colocava, além disso, dois pães a mais para cada um, para que levassem para casa. Se entre os pobres havia algum cego, colocava-os nas mãos deles e os guiava. Dava, também, a cada um deles, uma esmola em dinheiro, conforme as necessidades. Ainda mais, aos sábados fazia separar os três mais pobres deles e lhes lavava os pés.

295. OBEDIÊNCIA AO MARIDO

Santa Francisca Romana estava recitando o Ofício da Santísssima Virgem, quando seu marido a chamou. Deixou a oração e foi atendê-lo; depois continuou. Mas, enquanto rezava uma antífona, quatro vêzes o marido a chamou e, por quatro vezes, interrompeu a oração e foi atendê-lo, continuando depois de terminada a ocupação. Na quarta vez, viu com surpresa que a antífona estava escrita com letras de ouro e lhe foi revelado que Deus concedera aquela graça a ela para que soubesse quanto a Nossa Senhora agradava a sua obediência ao marido.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

PALAVRAS ETERNAS (XVIII)


'Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se reconhecemos os nossos pecados, (Deus aí está) fiel e justo para nos perdoar os pecados e para nos purificar de toda iniquidade' (I Jo 1,8)

DOUTORES DA IGREJA (XXXVII/Atual)

   37Santo Irineu de Lyon, Bispo e Mártir (†202)

Doutor da Unidade

(130 - 202)

Concessão do título: 2022 - Papa Francisco

Celebração: 28 de junho (Memória Obrigatória)
 
Obras e Escritos
  • Adversus haereses - Contra heresias
  • Exposição ou Prova do Ensinamento Apostólico
  • Homilias
  • Cartas

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

A SABEDORIA FALSA DO MUNDO

1. A sabedoria do mundo é terrestre - os bens da terra. E desta sabedoria fazem secreta profissão os sábios mundanos, quando apegam o coração ao que possuem e se empenham para tornar-se ricos. Quando intentam processos e demandas inúteis para obter dinheiro ou para conservá-los. Quando não pensam, não falam e não agem, senão para alcançar ou conservar qualquer ganho terreno; a confissão ou a oração o fazem superficialmente, como quem se desempenha de um ônus, em raros intervalos e somente para salvar as aparências.

2. A sabedoria do mundo é carnal - o amor ao prazer. E desta sabedoria fazem profissão os sábios mundanos, quando buscam apenas os prazeres dos sentidos. Quando gostam de boa mesa. Quando de si afastam tudo o que poderia mortificar ou incomodar o corpo, como os jejuns e as austeridades. Quando, ordinariamente, não pensam mais do que em comer, beber, divertir-se, rir, passar agradavelmente o tempo. Quando andam em busca de leitos confortáveis, jogos que divirtam, festas agradáveis, companhias mundanas. E depois que sem escrúpulos se deram a todos esses prazeres, vão atrás de um confessor 'o menos escrupuloso que encontrarem', a fim de obter assim, por pouco preço, a paz em sua vida sensual e útil, e a indulgência plenária de todos os pecados.

3. A sabedoria do mundo é diabólica - o amor da estima e das honras. E desta sabedoria fazem profissão os sábios mundanos, quando aspiram, muito embora secretamente, grandezas, honras, dignidades e cargos elevados. Quando se esforçam para serem vistos, estimados, louvados e aplaudidos pelos homens. Quando não colimam em seus estudos, trabalhos, lutas, senão a estima e louvor dos homens, a fim de que sejam tidos por honestos, sábios, grandes líderes, sábios jurisconsultos, pessoas de infinito mérito e grande consideração. Quando não podem suportar o desprezo e a repressão. Quando escondem o que têm de defeituoso e mostram o que possuem de belo.

É preciso, com Jesus Cristo, detestar e condenar estas falsas sabedorias, a fim de obter a verdadeira, que não busca seu interesse, que não é desta terra, nem se encontra no coração dos que vivem em seus domínios e que abomina tudo o que é grande e prestigioso aos olhos dos homens.

(São Luís Maria Grignion de Montfort)

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

O DOGMA DO PURGATÓRIO (LXXIII)

Capítulo LXXIII

Alívio às Santas Almas - Orações por Todos os Fieis Defuntos - Santo Andre Avellino e sua Percepção pelo Destino Eterno das Almas - Exortação de São Francisco de Sales

Vimos os recursos e os numerosos meios que a Misericórdia Divina colocou nas nossas mãos para aliviar as almas do Purgatório; mas que almas estão nessas chamas expiatórias e a que almas devemos dar a nossa ajuda? Por quais almas devemos rezar e oferecer os nossos sufrágios a Deus? A estas perguntas devemos responder que devemos rezar pelas almas de todos os fiéis defuntos - omnium fidelium defunctorum -  de acordo com a expressão própria da Igreja. Embora a piedade filial nos imponha deveres especiais em relação aos nossos pais e parentes, a caridade cristã nos manda rezar pelos fiéis defuntos em geral, porque todos eles são nossos irmãos em Jesus Cristo, todos são nossos próximos, a quem devemos amar como a nós mesmos.

Por estas palavras, fiéis defuntos, a Igreja entende todos os que estão efetivamente no Purgatório, isto é, aqueles que não estão no inferno, mas que ainda não são dignos de serem admitidos na glória do Paraíso. Mas quem são essas almas? Podemos conhecê-las? Deus reservou esse conhecimento para si mesmo e, a não ser que Ele queira nos mostrar, devemos permanecer em total ignorância sobre o estado das almas na outra vida. Desta forma, Deus raramente dá a conhecer que uma dada alma está no Purgatório ou na glória do Céu e, mais raramente ainda, revela a condenação de uma alma. Nesta incerteza, devemos rezar em geral como faz a Igreja, por todos os defuntos, sem prejuízo das almas que queremos ajudar em particular.

Podemos evidentemente limitar a nossa intenção àqueles que, de entre os mortos, ainda precisam da nossa ajuda, se Deus nos conceder o privilégio que concedeu, por exemplo, a Santo André Avellino, de conhecer a condição das almas na outra vida. Quando este santo religioso da Ordem dos Teatinos, segundo o seu piedoso costume, rezava com angélico fervor pelos defuntos, acontecia-lhe por vezes sentir dentro de si uma espécie de resistência, um sentimento de invencível repulsa; outras vezes, pelo contrário, era uma sensação de grande consolação e particular atração. Logo compreendeu o significado dessas diferentes impressões: a primeira significava que sua oração era inútil, pois a alma que desejava socorrer era indigna de misericórdia e estava condenada ao fogo eterno; a outra, no entanto, indicava que sua oração era eficaz para o alívio da alma no Purgatório. O mesmo acontecia quando desejava oferecer o Santo Sacrifício por um defunto. Sentia-se, ao sair da sacristia, como que retido por uma mão invisível e compreendia que aquela alma estava no inferno; mas, quando se encontrava inebriado de alegria, de luz e de devoção, tinha a certeza de estar contribuindo para a libertação de uma alma. Este santo caridoso rezava, pois, com o maior fervor pelos defuntos que sabia estarem a sofrer, e não cessava de aplicar os seus sufrágios enquanto as almas não lhe viessem agradecer, dando-lhe a certeza da sua libertação. 

Quanto a nós, que não temos estas luzes sobrenaturais, devemos rezar por todos os defuntos, mesmo pelos maiores pecadores e pelo cristão mais virtuoso. Santo Agostinho conhecia a grande virtude de sua mãe, Santa Mônica; no entanto, não contente em oferecer a Deus os seus próprios sufrágios por ela, pedia aos seus leitores que não deixassem de recomendar a sua alma à Misericórdia Divina. Quanto aos grandes pecadores, que morrem sem se reconciliarem exteriormente com Deus, não podemos excluí-los dos nossos sufrágios, porque não temos a certeza da sua impenitência interior. A fé nos ensina que todos os homens que morrem em estado de pecado mortal incorrem na condenação eterna; mas quem são aqueles que na realidade morrem nesse estado? Só Deus, que reserva para si o julgamento dos vivos e dos mortos, sabe disso. Quanto a nós, só podemos tirar uma conclusão conjectural das circunstâncias exteriores, e mesmo disso devemos abster-nos. Mas é preciso confessar que há tudo a temer para aqueles que morrem despreparados para a morte, e toda a esperança parece desaparecer para aqueles que se recusam a receber os sacramentos. 

Estes últimos deixam esta vida com sinais exteriores de condenação. No entanto, devemos deixar o julgamento para Deus, de acordo com as palavras, Dei judicium est - A Deus pertence o julgamento (Dt, 1,17). Há mais a esperar para aqueles que não são positivamente hostis à religião, que são benevolentes para com os pobres, que conservam alguma prática de piedade cristã ou que pelo menos aprovam e favorecem a piedade; há mais, digo ainda, a esperar para tais pessoas quando acontece que elas morrem subitamente, sem terem tido tempo de receber os últimos sacramentos da Igreja.

São Francisco de Sales não quer que desesperemos da conversão dos pecadores até ao seu último suspiro e, mesmo depois da sua morte, proíbe-nos de julgar mal aqueles que levaram uma vida má. Com exceção dos pecadores, cuja reprovação é claramente manifestada pelas Sagradas Escrituras, não podemos, diz ele, concluir que uma pessoa está condenada, mas devemos respeitar os desígnios de Deus. A sua principal razão é que, como a primeira graça é gratuita, assim também é a última, que é a perseverança final ou uma boa morte. É por isso que devemos ter esperança na salvação dos fieis defuntos, por mais triste que tenha sido a sua morte, porque as nossas conjecturas baseiam-se apenas em constatações exteriores que podem ser, portanto, completamente equivocadas.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog.

domingo, 21 de janeiro de 2024

EVANGELHO DO DOMINGO

   

'Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos, vossa verdade me oriente e me conduza!' (Sl 24)

Primeira Leitura (Jn 3,1-5.10) - Segunda Leitura (1Cor 7,29-31)  -  Evangelho (Mc 1,14-20)

 21/01/2024 - Terceiro Domingo do Tempo Comum 

8. PESCADORES DE HOMENS


Com a prisão e morte de João Batista, tem fim a Era dos Profetas e começa a pregação pública de Jesus sobre o Reino de Deus. O reino de Deus é o reino dos Céus, e não um império firmado sobre as coisas deste mundo. Cristo, rei do universo, começa a sua grande jornada pelos reinos do mundo para ensinar que a pátria definitiva do homem é um reino espiritual, que se projeta para a eternidade a partir do coração humano.

E esta proclamação vai começar por Cafarnaum e nos territórios de Zabulon e Neftali, localizada na zona limítrofe da Síria e da Fenícia, e povoada, em sua larga maioria, por povos pagãos. Em face disso, esta região era a chamada 'Galileia dos Gentios', e seus habitantes, de diferentes raças e credos, eram, então, objeto de desprezo por parte dos judeus da Judeia. E é ali, entre os pagãos e os desprezados, que o Senhor vai dar início à sua pregação pública da Boa Nova do Evangelho do Reino de Deus: 'O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!' (Mc 1,15).

Nas margens do Mar da Galileia, Jesus vai escolher os seus primeiros discípulos, Simão e André e, logo depois, Tiago e João, filhos de Zebedeu, num chamamento imperativo e glorioso: 'Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens' (Mc 1, 17). Aqueles pescadores, acostumados à vida dura de lançar redes ao mar para buscar o seu sustento, seriam agora os primeiros a entrarem na barca da Santa Igreja de Cristo para se tornarem pescadores de homens, na gloriosa tarefa de conduzir as almas ao Reino dos Céus.

Eis a resposta pronta e definitiva dos primeiros apóstolos ao chamado de Jesus: 'E eles, deixando imediatamente as redes, seguiram a Jesus' (Mc 1, 18) e 'Eles deixaram seu pai Zebedeu na barca com os empregados, e partiram, seguindo Jesus' (Mc 1, 20). Seguir a Jesus implica a conversão, pressupõe o afastamento do mundo, pois Jesus nos fala do Reino dos Céus. No 'sim' ao chamado de Jesus, nós passamos a ser testemunhas e herdeiros deste reino 'que não é desse mundo', e nos abandonamos por completo na renúncia a tudo que é humano para amar, servir e viver, prontamente e cotidianamente, o Evangelho de Cristo.