domingo, 20 de novembro de 2022

EVANGELHO DO DOMINGO

'Quanta alegria e felicidade: vamos à casa do Senhor!(Sl 121)

 20/11/2022 - Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo

52. JESUS CRISTO - REI DO UNIVERSO


Jesus Cristo é o Rei do Universo. Como Filho Unigênito de Deus, Ele é o herdeiro universal de toda a criação, senhor supremo e absoluto de toda criatura e de toda a existência de qualquer criatura, no céu, na terra e abaixo da terra. A realeza de Cristo abrange, portanto, a totalidade do gênero humano, como expresso nas palavras do Papa Leão XIII: 'Seu império não abrange tão só as nações católicas ou os cristãos batizados, que juridicamente pertencem à Igreja, ainda quando dela separados por opiniões errôneas ou pelo cisma: estende-se igualmente e sem exceções aos homens todos, mesmo alheios à fé cristã, de modo que o império de Cristo Jesus abarca, em todo rigor da verdade, o gênero humano inteiro' (Encíclica Annum Sacrum, 1899).

E, neste sentido, o domínio do seu reinado é universal e sua autoridade é suprema e absoluta. Cristo é, pois, a fonte única de salvação tanto para as nações como para todos os indivíduos. 'Não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do Céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual nós devamos ser salvos' (At 4, 12). O livre-arbítrio permite ao ser humano optar pela rebeldia e soberba de elevar a criatura sobre o Criador, mas os frutos de tal loucura é a condenação eterna.

'A realeza de Cristo é, entretanto, principalmente interna e de natureza espiritual. Provam-no com toda evidência as palavras da Escritura, e, em muitas circunstâncias, o proceder do próprio Salvador. Quando os judeus, e até os Apóstolos, erradamente imaginavam que o Messias libertaria seu povo para restaurar o reino de Israel, Jesus desfez o erro e dissipou a ilusória esperança. Quando, tomada de entusiasmo, a turba, que o cerca o quer proclamar rei, com a fuga furta-se o Senhor a estas honras, e oculta-se. Mais tarde, perante o governador romano, declara que seu reino 'não é deste mundo'. Neste reino, tal como no-lo descreve o Evangelho, é pela penitência que devem os homens entrar. Ninguém, com efeito, pode nele ser admitido sem a fé e o batismo; mas o batismo, conquanto seja um rito exterior, figura e realiza uma regeneração interna. Este reino opõe-se ao reino de Satanás e ao poder das trevas; de seus adeptos exige o desprendimento não só das riquezas e dos bens terrestres, como ainda a mansidão, a fome e sede da justiça, a abnegação de si mesmo, para carregar com a cruz. Foi para adquirir a Igreja que Cristo, enquanto 'Redentor', verteu o seu sangue; para isto é, que, enquanto 'Sacerdote', se ofereceu e de contínuo se oferece como vítima. Quem não vê, em consequência, que sua realeza deve ser de índole toda espiritual?' (Encíclica Quas Primas de Pio XI, 1925).

Cristo Rei se manifesta por inteiro pela sua Santa Igreja e, por meio dela, e por sua paixão, morte e ressurreição, atrai para si a humanidade inteira, libertada do pecado e da morte, que será o último adversário a ser vencido. Como herdeiros de Cristo, elevemos ao Pai a súplica de salvação emanada pelas palavras do 'bom ladrão': 'Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado' (Lc 23, 42) e, neste propósito, supliquemos, tal como ele, nos tornarmos dignos também de compartilhar com Cristo Rei a glória da sua realeza eterna.

sábado, 19 de novembro de 2022

O DOGMA DO PURGATÓRIO (XLIV)

 

Capítulo III

Consolação das Almas - Santo Estanislau de Cracóvia e a Ressurreição de Peter Miles

Este contentamento em meio ao sofrimento mais intenso não pode ser explicado senão pelas divinas consolações que o Espírito Santo infunde nas almas do Purgatório. O Espírito Divino, por meio da fé, da esperança e da caridade, dispõe estes dons à disposição dos enfermos que devem submeter-se a um tratamento muito penoso, mas cujo efeito é o de restabelecer-lhes a saúde perfeita. O doente sofre mas ama o seu sofrimento salutar. O Espírito Santo, o Consolador, dá um contentamento semelhante às almas santas. 

Temos disso um exemplo singular na pessoa de Peter Miles, que foi ressuscitado dos mortos por Santo Estanislau de Cracóvia, mas que preferiu retornar ao Purgatório a viver novamente na terra. O célebre milagre desta ressurreição aconteceu em 1070. Vejamos como tal fato é relatado na Acta Sanctorum de 7 de maio. Santo Estanislau era bispo de Cracóvia quando o duque Boleslas II governava a Polônia. Ele não deixou de lembrar a este príncipe dos seus deveres, os quais violou escandalosamente  diante de todo o seu povo.

Boleslas irritou-se com a santa liberdade do prelado e, para se vingar, incitou contra ele os herdeiros de um certo Peter Miles, que morrera três anos antes, depois de ter vendido um pedaço de terra à igreja de Cracóvia. Os herdeiros acusaram o santo de ter usurpado o terreno, sem o ter pago ao proprietário. Estanislau declarou que havia pago pelo terreno, mas como as testemunhas que deveriam tê-lo defendido foram subornadas ou intimidadas, ele foi denunciado como usurpador da propriedade alheia e condenado a fazer restituição. Então, vendo que nada tinha a esperar da justiça humana, elevou o seu coração a Deus e recebeu então uma inspiração repentina. Ele pediu um prazo de três dias, prometendo fazer Peter Miles comparecer pessoalmente, para que ele testemunhasse a compra legal e o pagamento do terreno.

O prazo foi concedido a ele em desprezo. O santo fez jejum e recolheu-se em profunda oração a  Deus para assumir a defesa da sua causa. No terceiro dia, depois de ter celebrado a Santa Missa, saiu acompanhado pelo seu clero e de muitos fiéis, ao local onde o homem havia sido sepultado. Por suas ordens, a sepultura foi aberta; e nada continha além de ossos. Ele os tocou com o seu báculo e, em nome dAquele que é a Ressurreição e a Vida, ordenou que o morto se levantasse. De repente, os ossos se reuniram, cobriram-se de carne e, à vista do povo estupefato, viu-se o morto pegar o bispo pela mão e caminhar em direção ao tribunal. Boleslas, com a sua corte e uma imensa multidão, aguardava o resultado com a mais viva expectativa. 'Eis a testemunha - disse o santo a Boleslas - 'ele vem, príncipe, para dar testemunho diante de ti; interrogue-o pois e ele te responderá'. É impossível descrever a estupefação do duque, dos seus conselheiros e de toda a multidão. Peter Miles afirmou então que havia sido pago pelo terreno; em seguida, voltando-se para os seus herdeiros, repreendeu-os por terem acusado o piedoso prelado contra todos os direitos da justiça; e então ele os exortou a fazer penitência por um pecado tão grave.

Foi assim que a iniquidade, que se acreditava já certa de sucesso, foi confundida. Agora vem a circunstância que diz mais respeito ao nosso assunto e à qual desejamos nos referir. Desejando realizar este grande milagre para a glória de Deus, Estanislau propôs ao defunto que, se desejasse viver mais alguns anos, obteria para ele este favor de Deus. O homem respondeu que não tinha tal desejo. Ele estava no Purgatório, mas preferia voltar para lá imediatamente e suportar as suas dores do que expor-se à condenação nesta vida terrestre. Ele pediu ao santo apenas que implorasse a Deus que o tempo dos seus sofrimentos fosse reduzido, para que pudesse entrar mais cedo na morada dos eleitos. Depois disso, e acompanhado pelo bispo e uma grande multidão, Peter Miles voltou ao seu túmulo, deitou-se, e seu corpo desfez-se em ossos, retomando o estado tal como encontrado previamente. Temos motivos para acreditar que o santo obteve logo a libertação da sua alma.

O que há de mais notável neste exemplo, e que mais deveria chamar a nossa atenção, é que uma alma do Purgatório, depois de ter experimentado os tormentos mais excruciantes, preferiu aquele estado de sofrimento à vida deste mundo; e a razão que se dá para essa preferência é que, nesta vida mortal, estamos expostos ao perigo de nos perdermos e incorrermos em uma condenação eterna.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DO PERPÉTUO SOCORRO


O' Mãe do Perpétuo Socorro, graças a este vosso nome, o meu coração transborda de confiança em vós. Eis-me aos vossos pés, venho expor-vos todas as necessidades da minha vida e morte; venho chamar sobre todas estas misérias o vosso maternal socorro; dignai-vos de escutar-me lá do céu, e dai-me favorável amparo, ó minha Mãe! 

Em todas as minhas dificuldades e penas, vinde em meu socorro, ó caridosa Mãe: 

No momento perigoso da tentação; 
quando tiver a desgraça de cair no pecado, para que me levanteis;
se algum laço funesto me encadeia ao serviço do demônio, para que eu possa rompê-lo;
se vivo na tibieza, para que Jesus Cristo não me afaste de sua presença;
quando for negligente em recorrer a vós para que logo vos invoque;
para receber dignamente os sacramentos;
para praticar todos os exercícios de um cristão fervoroso, sobretudo a oração e a meditação;
para que eu conserve ou recobre a castidade;
para que adquira a humildade;
para que alcance amar a Deus de todo o meu coração;
para que, pelo amor para com Deus, me conforme em tudo com a sua santa vontade;
para que cumpra fielmente os deveres do meu estado;
quando a enfermidade afligir o meu corpo e abater a minha alma;
quando a angústia e a tristeza se apoderarem de mim;
se Deus me sujeitar ao tormento das penas interiores;
se a Providência me provar pela pobreza ou reveses da fortuna;
se encontrar na minha própria família motivos de dor;
quando for humilhado, contrariado e maltratado;
para que obtenha a conservação e o conforto dos que me são caros;
para que alcance a libertação das almas do purgatório;
para que coopere na salvação dos pecadores;
para que obtenha a graça da perseverança final;
quando me vier a última enfermidade;
no meu último suspiro;
quando aparecer ante o vosso Filho que há de ser o meu Juiz;
quando estiver no purgatório;
em todo o tempo e lugar;
para que vos sirva, vos ame e vos invoque sempre;
para que vos faça amar e servir por muitos cristãos;

Louvada, amada, invocada e bendita eternamente sejais, ó Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, minha esperança, meu amor, minha Mãe, minha felicidade e vida minha. Amém.

(Santo Afonso Maria de Ligório)

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

HISTÓRIAS QUE OUVI CONTAR (XXIII)

Hoje - um hoje nos tempos - será o meu último dia sobre a terra. O hoje que não vai ter amanhã para mim. O hoje que será o primeiro dia da eternidade, que vai ter começo neste hoje e não terá fim jamais. Um hoje que me faz órfão do mundo e cidadão da vida eterna. Que Deus, na sua infinita misericórdia, tenha escrito meu nome por inteiro no Livro da Vida e que, mais ou menos tempo depois do meu último hoje, eu possa ter como herança a face de Deus.

Assim rezava e assim refletia um velho lenhador, de mente ainda muito lúcida apesar dos anos avançados. Sentado num banco rústico à porta da sua humilde morada, em lugar ermo e praticamente abandonado pela outrora ativa vizinhança, olhava a paisagem tão conhecida de árvores e campos, de céu e terra, de nuvens e pedras. Sabia de cor cada desvão de caminho, cada trilha daquelas matas, cada lugar de feliz descanso e calmaria, cada vertente de mirante singular. Havia sido passo e contrapasso por tantas labutas, na lida diária e contínua de buscar madeira de qualidade, tornear bancos e mesas, viver pelo pão sagrado de cada dia.

Havia sido uma criança feliz nos tempos do nada; um jovem vigoroso de alma lavada; um homem forjado na robustez de um carvalho. Celina tinha sido - e ainda era - o amor pelas coisas humanas, a alma gêmea que não havia vingado porque o mundo dela tinha assumido dimensões maiores do que os seus. E, como ela, tantos outros partiram ou morreram, fizeram escolhas de vida, fizeram crescer os sonhos além do domínio dos olhos. E ele ficara, como um eremita à beira de um caminho que, com o passar do tempo, tornou-se apenas eremita dos próprios e tão bem conhecidos caminhos de si mesmo.

Sol ou chuva, não importava. Mudava tão somente o trabalho cotidiano de ir até a mata em busca da madeira ou, no pequeno anexo da casa à guisa de oficina, moldar a madeira como peças de móveis. E, uma vez por semana, entregar a mercadoria ao comprador de sempre, pelo preço de sempre, que sempre vinha até ali para levar as peças previamente encomendadas e lhe trazer o sustento necessário. O preparo das refeições, a limpeza da pequena morada, as orações da noite... Tudo fluía como o riacho no talvegue do vale; tudo se passava como uma história de vida sem grandes atrativos ou mudanças. Um tesouro de graças aparentemente escondido: uma vida humana não vale muito mais do que todos os lírios do campo ou a vida de muitos pardais?

Mas agora o hoje que não tem amanhã, que sempre pode ser agora, parecia muito perto de ser a qualquer hora. Os arranjos práticos já estavam bastante preparados: o caixão simples de madeira, a campa final, a doação das ferramentas e acessórios, o abandono da morada... Queria apenas fazer mais do que não fazem quase sempre os homens de sempre: aproveitar o tempo das últimas miragens para pensar nos amanhãs sem fim: 'Que Deus, na sua infinita misericórdia, tenha escrito meu nome por inteiro no Livro da Vida e que, mais ou menos tempo depois do meu último hoje, eu possa ter como herança a face de Deus'. 

('Histórias que Ouvi Contar' são crônicas do autor deste blog)

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

TESOURO DE EXEMPLOS (182/184)

 

182. FICOU A FOLHA EM BRANCO

Certo dia apresentou-se a Santo Antônio de Pádua um pecador para confessar-se. Estava, porém, tão perturbado e confuso, que apenas soluçava sem poder pronunciar nem uma palavra.
➖ Vai, meu filho - disse o santo - escreve os teus pecados e volta aqui de novo.
Uma vez de volta, o pecador foi lendo os seus pecados, como os havia escrito. Quando terminou a leitura, com grande surpresa viu que desaparecera do papel tudo o que escrevera e só restava a folha em branco.

Assim sucederá com a nossa alma quando nos confessarmos com humildade sincera e dor profunda. Toda mancha de pecado desaparecerá do nosso coração e aparecerá o candor, todo o candor da inocência recuperada.

183. A MODÉSTIA DE SÃO LUÍS

No ano de 1581, Maria da Áustria, filha do imperador Carlos V, passava pela ltália. O imperador e todos os príncipes foram convidados a recebê-la e, entre os convidados, estava também Luís Gonzaga, filho do marquês de Castiglione. Que magnífica festa naquele belo dia de outono, em ornamentos em todo balcão e em toda janela! 

Todos queriam ver a soberana. Finalmente ela apareceu. Todos agitaram os seus lenços de seda quando a contemplavam. O jovem Luís naquele instante levantou a mão associando-se à festa, mas conservou os olhos fechados; a filha do imperador passou e ele não a viu. Alguns pensarão que isso era escrúpulo e exagero; também São Luís sabia que não cometia pecado por ver a rainha, mas sabia igualmente que a pérola preciosa da castidade nós a levamos em vasos frágeis e, às vezes, basta um só olhar imprudente para perdê-la.

184. O VESTIDO CELESTIAL

Caía a noite. Em sua celazinha cheia de sombra, Santa Catarina de Sena pensava na festa que estava por terminar. Via os estandartes agitados pelos jovens; via a multidão apinhada no campo sob o sol de verão, os palcos repletos de luxuosas damas. Naquele momento começou o demônio a tentá-la: 'Também. tu, Catarina, poderias estar com eles. Por que cortaste teus cabelos louros, por que trazes o cilício sobre o teu corpo delicado, por que queres fazer-te religiosa? Olha este vestido, não é mais lindo que o místico hábito claustral?' Na dúbia claridade da noite, a santa julgou ver diante de si um jovem que lhe apresentava um rico vestido feito de pétalas de rosas.

Enquanto Catarina estava como que suspensa, apareceu-lhe Maria Santíssima. Como o tentador, também ela trazia nos braços um esplêndido vestido bordado a ouro e pérolas, radiante de pedras preciosas. 'Deves saber, minha filha' - disse a Mãe de Jesus com voz dulcíssima - 'que os vestidos tecidos por mim no coração do meu Filho, morto por ti, são mais preciosos que qualquer outro vestido trabalhado por outras mãos que não as minhas'.

Então Catarina, ardendo em desejo de possuí-lo e tremendo de humildade, inclinou a cabeça e a Virgem a vestiu com a túnica celestial. O demônio apresenta-se às almas com um vestido de rosas e prazeres carnais; Maria, ao contrário, com um vestido de pureza e santidade. Dai preferência a este último; somente com ele podereis entrar no céu.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

terça-feira, 15 de novembro de 2022

A MORTE DE SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ

 

Em 26 de junho de 1975, São Josemaria Escrivá levantou-se muito cedo como de costume, fez a habitual meia hora de oração e celebrou a missa, por volta das oito horas; era missa votiva de Nossa Senhora, na qual o sacerdote pede, na oração da coleta, 'a perfeita saúde da alma e do corpo'. Depois de um rápido café da manhã, encarregou dois dos seus filhos de visitarem uma pessoa, para que este se apresentasse a Paulo VI o seu testemunho de fidelidade e união. Queria fazer chegar ao Papa esta mensagem: 'Há anos que ofereço todos os dias a Santa Missa pela Igreja e pelo Papa ... hoje mesmo renovei este meu oferecimento a Deus pelo papa'.

Às nove e meia partiu para Castelgandolfo, na Villa dele Rose, onde teria uma reunião familiar e formativa com as suas filhas espirituais do Colégio Romano Santa Maria. Era um dia de muito calor. Durante o trajeto rezaram o terço e conversaram animadamente. 'Vós tendes alma sacerdotal' - disse àquelas mulheres jovens, quando chegou - 'Dir-vos-ei como sempre que venho aqui. Os vosso irmãos leigos também têm alma sacerdotal. Podes e deveis ajudar com essa alma sacerdotal e, juntamente com a graça do Senhor e o sacerdócio ministerial em nós, sacerdotes da Obra, faremos um trabalho eficaz... Imagino que de tudo tiras oportunidade para conversar com Deus e com nossa Mãe, e com São José, nosso Pai e Senhor, e com os nossos Anjos da Guarda, para ajudarem esta Igreja Santa, nossa Mãe, que está necessitada, que está passando tão mal no mundo, neste momento! Temos de amar a Igreja e o Papa, seja ele quem for. Pedi ao Senhor que o nosso serviço seja eficaz para a sua Igreja e para o Santo Padre'.

Passados cerca de vinte minutos, sentiu-se mal. Calou-se e sentiu vertigens. Teve de retirar-se a uma salinha para descansar uns minutos. Como não recompunha por completo, despediu-se, pedindo que lhe perdoassem o transtorno causado. Voltaram a Roma. Acompanhavam-no Pe. Álvaro Del PortilloPe. Javier Echevarría e o arquiteto Javier Cotelo. Chegou a Vila Tevere uns minutos antes do meio dia. O padre saiu do carro com desenvoltura e semblante risonho. Ninguém suspeitava de nada além de uma ligeira indisposição.

Passou pelo oratório e fez a sua habitual genuflexão: devota, pausada, com uma saudação a Jesus Sacramentado. Dirigiu-se imediatamente ao quarto de trabalho. Entrou e, depois de dirigir um olhar cheio de carinho à imagem da Virgem – conforme seu costume e de todos na Obra – disse: 'Javi... Não me sinto bem!' E caiu no chão.

Durante a sua estadia no México, em 1970, havia contemplado uma imagem que representava a Virgem de Guadalupe entregando uma rosa ao índio Juan Diego. Tinha dito que gostaria de morrer assim: olhando Maria, enquanto ela lhe oferecia uma flor. E morreu como era o seu desejo: saudando uma imagem da Virgem de Guadalupe e recebendo das mãos da Senhora a rosa que abre o amor às portas da eternidade.

(Excertos, com adaptações, da obra 'São Josemaria Escrivá', de Michele Dolz)

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

POEMAS PARA REZAR (XLII)


Pastor que con tus silbos amorosos...

(Lope de Vega)

Pastor que con tus silbos amorosos
me despertaste del profundo sueño,
Tú, que hiciste cayado de ese leño,
em que tiendes los brazos poderosos,

vuelve los ojos a mi fe piadosos,
pues te confeso por mi amor y dueño,
y la palabra de seguirte empeño
tus dulces silvos y tus pies hermosos.

Oye, pastor, pues por amores mueres,
no te espante el rigor de mis pecados,
pues tan amigo de rendidos eres.

Espera, pues, y escucha mis cuidados;
?pero cómo te digo que me esperes,
si estás para esperar los pies clavados?

***************

Pastor que por teus chamados amorosos...

Pastor que por teus chamados amorosos
me despertaste de profundo enfado,
Tu que fizeste desse lenho um cajado 
do qual pende teus braços poderosos,

volve os olhos sobre mim, piedosos,
pois por amor e meu jugo confessado,
hei de seguir com zelo e tal cuidado 
teus doces anelos e teus pés formosos.

Ouve, pastor, que sofres por amores,
não acalente dor pelos meus pecados,
quem morreu pelos pobres pecadores.

Espera, pois, e escuta os meus chamados:
mas, como o que peço pode ter favores,
se já esperas por mim com pés cravados?

(tradução do autor do blog)