segunda-feira, 17 de outubro de 2022

TESOURO DE EXEMPLOS (176/178)

176. A RECOMPENSA DA ESMOLA

Um dia apresentou-se um pobre a Santa Catarina de Sena e pediu-lhe uma esmola por amor a Deus. Encontrava-se a santa na Igreja dos Frades Pregadores e não tinha nada para dar ao mendigo. 'Vem à minha casa e te darei bastante'. Mas o pobre insistiu: 'Se tens alguma coisa, dá-me agora porque não posso esperar'.

Catarina procurou ansiosamente por alguma coisa e encontrou uma cruzinha de prata que, com gosto, passou às mãos do pobre. Na noite seguinte, Nosso Senhor apareceu à santa, tendo na mão a pequenina cruz adornada de pedras preciosas.
➖ Conheces esta cruzinha?
➖ Conheço  - respondeu Catarina - mas não era tão linda.
➖Ontem tu a deste: a virtude da caridade tornou-a tão bela. Prometo-te que, no dia do Juízo, em presença dos anjos e dos homens, mostrarei esta cruzinha para que a tua glória seja infinita.

177. SANTA TERESA E A SECURA ESPIRITUAL

Durante dois anos Santa Teresa não soube abrir a boca para rezar. Quando se punha de joelhos, apenas juntava as mãos e ficava recolhida, sentia um fastio tal que se levantava e ia fazer outra coisa. Até na comunhão sentia a sua alma vazia e não conseguia pronunciar nenhuma palavra. E, por dois anos, já que o confessor lhe ordenava que comungasse, em lugar de fazer a ação de graças, punha-se a limpar os bancos da igreja.

➖ Ó Jesus - disse uma vez com grande aflição - não é verdade que me abandonastes?
➖ Em toda a tua vida nunca fizeste tanto bem como nestes dois anos - respondeu-lhe Jesus.

Também a muitos cristãos vem a provação da secura e perdem o gosto da oração, das boas obras. Ai daqueles que se deixam vencer e não rezam, não praticam o bem, não obedecem ao confessor!

178. O SINAL DA CRUZ E AS CRUZES

Quando São Gregório Magno era secretário na corte de Constantinopla, reinava no trono do Oriente o jovem imperador Tibério II. Este, passando um dia por um corredor estreito e escuro do seu palácio, viu no mármore do piso gravada uma cruz e exclamou: 'Meu Deus! Fazemos o sinal da cruz na testa, na boca e no peito e depois a pisamos'. 

Imediatamente mandou arrancar aquela do piso; debaixo, porém, havia outra gravada com o mesmo sinal. Depois a terceira, a quarta e mais outras sempre com o sinal da cruz. Quando estavam retirando a sétima pedra, ouviu-se um murmúrio de admiração. Havia debaixo daquela pedra anéis de ouro, prata, rubis, pérolas, esmeraldas, colares, um tesouro de grandíssimo valor. 

O imperador contemplava aquelas joias a tremer de alegria e sem dizer uma palavra. O imperador do Oriente pode ser um símbolo de todo homem que passa peio corredor escuro e estreito desta vida. Apresentam-se diante de nós muitos anos dolorosos, gravados com a cruz do sofrimento. Passam-se os anos, termina a nossa carreira e, na outra vida, encontramos as cruzes transformadas em um imenso tesouro.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

domingo, 16 de outubro de 2022

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'Do Senhor é que me vem o meu socorro, 
do Senhor, que fez o céu e fez a terra' (Sl 120-)

 16/10/2022 - Vigésimo Nono Domingo do Tempo Comum
 
47. O JUIZ INÍQUO E A VIÚVA IMPERTINENTE


No evangelho deste domingo, Jesus nos exorta, uma vez mais, à oração frequente, confiante, perseverante e colocada no coração de infinito amor do Deus de Misericórdia. À oração despojada de contrapartidas favoráveis aos apelos intrinsecamente humanos, mas entregue aos desígnios do Pai para o bem maior de nossa alma e do nosso semelhante. E vai enfatizar, de forma cristalina, que a obscuridade e as trevas da perda de fé são engendradas na forja da falta de oração. Santo Afonso de Ligório, doutor da Igreja, já nos alertava: 'Quem reza, se salva; quem não reza, se condena'.

Na parábola do mau juiz e da viúva impertinente, deparam-se duas realidades humanas antagônicas: de um lado, o homem privilegiado pelas leis humanas e detentor do poder de decisão sobre as ações e contendas dos outros homens; de outro lado, a mulher exposta e fragilizada pela perda do marido, sob o peso de novas e doloridas realidades e indefesa pelas dramáticas circunstâncias do momento. Cabe a ela, portanto, pedir, pedir uma vez mais e muitas vezes enfim e mesmo implorar a intervenção do juiz em sua causa e defesa. Ao juiz, homem iníquo, ao qual a soberba do cargo tinha imposto sempre decisões rápidas e inquestionáveis, a insistência da viúva é ocasião de incômodo, transtorno, desvario. Eis o cenário que Jesus montou para falar do valor incomensurável da oração.

Diante de apelos tão inoportunos e persistentes, até o juiz iníquo se rendeu: 'Eu não temo a Deus, e não respeito homem algum. Mas esta viúva já me está aborrecendo. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não venha a agredir-me!' (Lc 18, 4-5). Se até um homem iníquo e injusto é complacente com os rogos repetidos da viúva inconsolável a qual desdenha, o que Deus de infinita misericórdia não iria fazer por nós em oração confiante e perseverante nas Suas graças? E Jesus é taxativo ao dizer: 'Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa' (Lc 18,8).

E, no mesmo versículo, Jesus encerra a parábola com uma frase extremamente preocupante: 'Mas o Filho do homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?' (Lc 18, 8). Jesus não precisaria se expressar assim se não profetizasse uma terrível apostasia dos homens dos tempos da Segunda Vinda do Senhor, fomentada pela perda dos valores espirituais, submissão aos valores mundanos e, principalmente pela perda da oração confiante e perseverante aos desígnios de Deus. E, de repente, ao se ter em conta as realidades de agora, não parece que Jesus está falando para nós?

sábado, 15 de outubro de 2022

A SANTIDADE NOSSA DE CADA DIA

Contentar-se com o dever presente e colocar nele, para cumpri-lo perfeitamente, toda a sua atenção e toda a sua energia, animá-lo pela intenção do amor divino, tal é a tarefa da alma que quer chegar à santidade. Cada instante assim utilizado lhe faz alcançar, no momento preciso, toda perfeição de que ela é capaz. De então em diante, não lhe resta outro dever a cumprir senão o de continuar sem descanso, até ao fim, o seu trabalho. É aqui precisamente, porém, que as almas não advertidas encontram um grande perigo. Quase todas querem ser santas no fim de alguns anos de esforços. Se o resultado não corresponde às suas esperanças, desolam-se e correm risco de tudo abandonar.

Estas almas negligenciam na sua santificação um elemento pouco apreciado, porém indispensável, isto é, o tempo. Deus sabe o número de anos que temos a passar sobre a terra; conhece também o grau de santidade que devemos adquirir. Deixemos a Ele o cuidado de nos santificar antes de nossa morte. Contentemo-nos em servi-lo no momento presente, em amá-lo ardentemente, apaixonadamente. Coloquemos todo o nosso ardor em nossos atos. Deliciemo-nos em nos enraizar cada vez mais nEle e depois... abandonemos a Ele tudo o mais. Ele é nosso Pai e quer verdadeiramente se encarregar dos interesses dos seus filhos. A menos que Deus intervenha de modo particular, o trabalho de nossa santificação não se fará na medida de nossos impacientes desejos.

A santidade é a orientação de toda uma vida para Deus; são todas as faculdades dispersas sobre as criaturas a reconduzir para Ele; é a inclinação de todo o homem para o sensível a transformar e a mudar em uma tendência constante para Deus, que é um puro Espírito; são inumeráveis apegos secretos às criaturas e a si mesmo a romper um a um; é um domínio pacífico da vontade a estabelecer sobre paixões impacientes do jugo; é, enfim, uma infinidade de ações cotidianas a impregnar da intenção do puro amor de Deus. Semelhante metamorfose não se opera geralmente em alguns anos.

Nos momentos de fervor e de estreita união com Deus, a alma pode bem sentir-se toda dEle e crer terminada a feliz transformação de todo o seu ser, mas a triste experiência faz com que ela volte bem cedo à realidade. Depois de suas ardentes orações, ela se encontra novamente natural, apegada às suas comodidades, frouxa e pusilânime. A alma admira-se de que, sendo tão imperfeita, Deus tenha podido favorecê-la com as suas carícias; concebe indignação contra si mesma; desanima. Contudo, nada é mais natural do que a conduta de Deus.

A alma está em marcha para a santidade; no momento presente, ela põe ao serviço de Deus toda soma de boa vontade de que dispõe e, por seu lado, Deus mostra-se satisfeito com os seus esforços e a favorece com as suas comunicações. Mestre hábil na direção das almas, Ele sabe que, por momentos, elas têm necessidade de repouso durante a rude ascensão para o ideal e dá-lhes oportunidades de experimentarem, de tempos a tempos, a sua doce presença. Mais tarde, tratá-las-á como almas perfeitas, fá-las-á assentarem-se à sua mesa e introduzi-las-á definitivamente na sua intimidade.

...

Ajuntai a isto a ação incessante da graça, que trabalha esta alma, que a desapega da criatura e dela própria, que a transforma, sem ela o saber, que a orna de virtudes, que lhe instila gota a gota a divina caridade, que a enraíza sem cessar cada vez mais no Cristo, que a habilita a viver com Deus, e concordareis que a alma se acha na feliz impossibilidade de não atingir a santidade. Estes progressos contínuos escapam habitualmente ao olhar da alma. A ação que a transforma é demasiado sutil para ser perceptível.

Todavia, em certos momentos, ela nota que tal defeito, há tanto tempo combatido, desapareceu subitamente; que tal virtude, tão ardentemente desejada e pedida, veio tomar o seu lugar; que suas relações com o divino Mestre tomaram um caráter de mais franca intimidade; que as preocupações passadas não exercem mais sobre ela sua tirânica influência. São indícios verdadeiros de uma lenta, mas segura transformação. Todavia, mesmo na falta de provas palpáveis, saberíamos que a santificação deve operar-se assim. Os atos repetidos continuamente produzem em nossas faculdades hábitos sempre mais poderosos, enraízam sempre mais profundamente em nós as virtudes infusas com a divina caridade.

Possam estas poucas considerações moderar o ardor das almas inquietas, impacientes de chegar ao termo, e ensinar-lhes que nada de considerável se faz aqui na terra, mesmo na vida espiritual, sem o precioso concurso do tempo! Uma virtude demasiadamente precoce é sempre suspeita aos olhos dos diretores espirituais. Talvez bela em aparência, mas raramente sólida! Ao primeiro contato com as dificuldades reais da vida, se quebra. É um fruto antecipadamente amadurecido e muitas vezes um verme oculto o corrói.

Acompanhemos o passo de Deus e tenhamos paciência. Saibamos esperar o seu momento; chegaremos seguramente à santidade. Não nos inquietemos a respeito da parte que Deus reservou para si na obra de nossa perfeição. A nossa resume-se na fidelidade ao dever presente e no abandono ao nosso Pai celeste: Jacta super Dominum curam iuam et ipse te enutriet - 'entregue ao Senhor os teus cuidados e Ele te sustentará' (Sl 54, 23).

(Excertos da obra 'A Boa Vontade' pelo Padre José Schrijvers, 1937)

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

O DOGMA DO PURGATÓRIO (XLI)

 

Capítulo XLI

Razões da Expiação no Purgatório - Pecados Contra o Abuso da Graça - Santa Madalena de Pazzi e a Religiosa em Expiação por Abuso da Graça - Santa Margarida Maria e as Três Almas do Purgatório 

Há uma outra desordem na alma que Deus pune severamente no Purgatório, a saber, o abuso da graça. Por isso se entende a negligência em corresponder às ajudas que Deus nos dá e aos convites que Ele nos impõe à prática da virtude para a santificação de nossas almas. Esta graça que Ele nos oferece é um dom precioso, que não podemos jogar fora; é a semente da salvação e do mérito, que não se pode deixar improdutiva. Ora, esta falta é cometida quando não respondemos com generosidade ao convite divino. Recebo de Deus o meio de dar esmolas; uma voz interior me convida a fazê-lo. Mas fecho o meu coração ou a dou com mão avarenta; isso é um abuso da graça. Posso assistir a missa, ouvir o sermão ou frequentar os sacramentos; uma voz interior me incita a ir, mas não vou por frouxidão, isso é um abuso da graça. Uma pessoa religiosa deve ser obediente, humilde, mortificada e devotada aos seus deveres. Deus exige isso e lhe dá esta graça em virtude de sua vocação. Mas quando ela não se aplica a isso e não se esforça para superar a si mesma, a fim de cooperar com a assistência que Deus lhe dá; isso é um abuso da graça.

Este pecado, como dissemos, é severamente punido no Purgatório. Santa Madalena de Pazzi relata que uma das suas irmãs religiosas teve muito que sofrer depois da morte por não ter correspondido à graça por três vezes. Num certo dia de festa, sentiu-se inclinada a fazer um pouco de trabalho de pouca monta; tratava-se de uma simples peça de bordado, mas que não era absolutamente necessária e que poderia ter sido adiada convenientemente para outro momento. A inspiração da graça a alertara para se abster disso, por respeito à santidade do dia, mas ela preferiu satisfazer o desejo natural que tinha de fazer o trabalho, sob o pretexto de que era algo leve. Numa segunda ocasião, tendo notado que um ponto relevante de discussão havia passado desapercebido - e cuja menção às suas superioras teria resultado em um grande bem à comunidade - omitiu-se por mencioná-lo. A inspiração da graça a motivou para realizar esse ato de caridade, mas o respeito humano o impediu de fazê-lo. Uma terceira falta foi um apego desregulado aos seus que estavam no mundo. Como esposa de Jesus Cristo, devia todos os seus afetos a este divino Esposo; mas ela compartilhava seu coração por se importar muito com os membros de sua família. Embora pressentisse que a sua conduta a esse respeito era equivocada, ela não obedeceu ao movimento da graça e não trabalhou fervorosamente para se corrigir nesse sentido.

Quando esta irmã, aliás muito edificante, veio a falecer, Santa Madalena de Pazzi rezou em sua intenção com o seu habitual fervor. Dezesseis dias depois, ela se apresentou diante à santa, anunciando a sua libertação. Como Madalena estava espantada por ela ter estado tanto tempo em tormento, a alma revelou a ela que teve que expiar pelo abuso de graça nos três casos mencionados e acrescentou que essas faltas a teriam mantido por muito mais tempo em expiação se Deus não tivesse considerado aspectos mais positivos da sua conduta; assim, Ele abreviara suas sentenças por causa de fidelidade da alma ao cumprimento da regra, das suas boas intenções e dos frutos da sua caridade para com suas outras irmãs.

Aqueles que tiveram mais graças neste mundo e mais meios para quitar as suas dívidas espirituais serão tratados no Purgatório com menos indulgência do que outros que tiveram menos facilidade para as satisfazer durante a vida. Santa Margarida Maria, ao ser informada da morte de três pessoas recentemente falecidas, sendo duas freiras e um secular, começou imediatamente a rezar pelo descanso eterno de suas almas. Era o primeiro dia do ano. Nosso Senhor, tocado por sua caridade e usando uma inefável familiaridade, condescendeu em aparecer a ela; e, mostrando-lhes as almas dos três falecidos nas prisões de fogo onde sofriam, lhe disse: 'Minha filha, como um presente de Ano Novo, concedo-lhe a graça da libertação de uma dessas três almas, e deixo que você faça a escolha; qual delas você quer que seja libertada?' A santa respondeu então: 'Quem sou eu, Senhor, para designar aquela que merece a Vossa consolação? Façais Vós mesmo essa escolha!' Então Nosso Senhor libertou o secular, dizendo que tinha menos dificuldade em ver as religiosas sofrerem, porque elas teriam tido mais meios de expiar os seus pecados em vida.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)

(Fim da Primeira Parte)

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

GLÓRIAS DE MARIA: NOSSA SENHORA APARECIDA

A história é bem conhecida: em 1717, Dom Pedro de Almeida Portugal e Vasconcelos (Conde de Assumar), efetivado como governador das Capitanias de São Paulo e Minas Gerais, viajou de navio de Portugal a Santos, com grande comitiva. Tomando posse do governo em São Paulo, seguiu rumo às minas de ouro em Minas Gerais, fazendo uma longa parada em Guaratinguetá, no período de 17 a 30 de outubro. Para a recepção do ilustre viajante, foram-lhe servidos os melhores pratos da culinária local, incluindo os saborosos pescados do Rio Paraíba do Sul.

Para a nobre tarefa de pescar uma grande quantidade de peixes, foram convocados os pescadores Domingos Alves Garcia, seu filho João Alves e Felipe Pedroso, cunhado de Domingos, entre outros. Entretanto, mesmo com o conhecimento enorme que tinham dos melhores pontos de pesca, não conseguiam nada. Mas algo extraordinário estava para ocorrer. Na rede lançada, surgiu primeiro uma pequena imagem em terracota de Nossa Senhora da Conceição, sem a cabeça, que foi recolhida e guardada com zelo pelos pescadores no fundo do barco. E eis que, numa nova investida, mais abaixo no rio, sem nada de peixe, veio a cabeça da imagem. Um objeto de dimensões tão reduzidas coletado do leito largo e vigoroso do Paraíba do Sul! E, surpresa ainda maior, novas investidas da rede trouxeram agora cardumes de peixes, em tão grande quantidade, repetindo-se, no largo do Porto de Itaguaçu, o milagre de Cristo no Mar da Galileia.


Cientes dos fatos extraordinários ocorridos, os pescadores locais recuperaram a imagem e passaram a venerá-la em suas casas, como imagem peregrina, até que a mesma foi colocada em pequeno oratório na casa de Atanásio Pedroso, filho de Felipe, e depois, com o culto já generalizado na ‘Nossa Senhora Aparecida’, erigiu-se uma pequena capela de sua devoção em Itaguaçu, com o apoio do Padre José Alves Vilela, pároco da Igreja de Santo Antônio de Guaratinguetá. Sob a sua coordenação, a devoção recebeu a aprovação episcopal e foi construída, então, a Igreja de Nossa Senhora Aparecida, no chamado Morro dos Coqueiros, inaugurada em 1745, apenas 28 anos após o achado da imagem. Em torno da igreja, implantou-se rapidamente uma comunidade que constitui hoje a cidade de Aparecida. A igreja tornou-se de imediato centro de romarias e de devoções marianas de toda a natureza.


Com a intensa participação popular e, pela ausência de sacerdotes no Brasil, optou-se pela solicitação de auxílio junto a comunidades religiosas europeias. Em 1894, com a chegada dos padres redendoristas alemães, as atividades religiosas, os cultos e as romarias tornaram-se muito mais organizados, favorecendo muito a rápida difusão da evangelização e a consolidação da igreja como santuário de frequente peregrinação. Tais eventos culminaram com a solene coroação da imagem de Nossa Senhora Aparecida em 8 de setembro de 1904 (com manto azul e coroa de ouro cravejada de diamantes e rubis, ofertados pela Princesa Isabel em visita ao santuário em 6 de novembro de 1888) e com a elevação do santuário à condição de Basílica Menor em 29 de abril de 1908. Em 16 de julho de 1930, o Papa Pio XI outorgou o título de Nossa Senhora Aparecida como Padroeira do BrasilEm 1967, ano da comemoração do jubileu dos 250 anos da aparição da imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, o Papa Paulo VI ofertou ao Santuário Nacional da Padroeira do Brasil uma Rosa de Ouro, ato repetido pelo Papa Bento XVI em 2007. O dia da Padroeira do Brasil é celebrado em 12 de outubro, feriado nacional. 

As enormes e crescentes manifestações populares exigiram a construção de uma nova basílica, com dimensões e infraestrutura compatíveis com o maior centro de peregrinação espiritual do Brasil que se tornou Aparecida. Desta forma, entre 1955 e 1980, foi construída a atual Basílica, inaugurada a 04 de julho de 1980 pelo Papa João Paulo II e elevada a Santuário Nacional em 1984. Que continua a receber milhares de peregrinos, infindáveis romarias, em agradecimento, louvor e veneração à Virgem Padroeira do Brasil. Na Sala das Promessas, em meio a milhares de ex-votos, tem-se uma ideia da admirável senda de prodígios e milagres alcançados por tantos romeiros e fieis, pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida.


Em Aparecida, ao contrário de tantos outros centros de peregrinação mariana, a Virgem fez-se aparecer apenas sob a forma de uma pobre e pequena imagem de terracota de 38cm de altura, sem quaisquer visões, mensagens ou prodígios sobrenaturais, para falar aos simples, aos humildes, aos fracos, aos desvalidos, que as almas simples, despojadas de valores intrinsecamente humanos e entregues somente à confiança e à misericórdia de Deus por Maria, são as glórias dos Céus.


ORAÇÃO A NOSSA SENHORA APARECIDA

Ó Senhora da Conceição Aparecida, que fizestes tantos milagres que comprovam vossa poderosa intercessão junto ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, obtende para nossas famílias as graças de que tanto necessitam. Defendei-nos da violência, das doenças, do desemprego e, sobretudo, do pecado, que nos afasta de Vós. Protegei nossos filhos de tantos fatores de deformação da juventude. E concedei a todos os membros de nossas famílias a graça de poderem trilhar o caminho de perfeição e de paz ensinado por Vosso Divino Filho, que afirmou: 'Disse-vos estas coisas para que tenhais paz em Mim. Haveis de ter aflições no mundo; mas tende confiança, Eu venci o mundo!' Amém.

terça-feira, 11 de outubro de 2022

QUANDO TUDO PRECISA SER 'NÃO'


Vivemos os tempos em que tudo deve ser normalizado, aceito, liberado, prescrito e aclamado. Tudo pode ser qualquer coisa. Impõe-se sedimentar as diferenças, propor a unidade, confrontar os pensamentos antagônicos, aniquilar os posicionamentos críticos. Não existe bem ou mal, maioria ou minorias, não existe algo melhor ou pior: tudo é bom sob pontos de vista distintos; tudo é possível quando se pratica a boa subserviência dos princípios, da moral e da alma. É preciso acatar a miséria dos instintos em nome do bom mocismo das crenças. Somos forjados à degradação de todos os costumes em favor do oráculo da unidade. E - sob a mais diabólica das mentiras - tudo isso para nos garantir a paz. A paz do mundo tomado pela iniquidade; a paz vendida pelos vendilhões do tempo; a paz forjada pelo escarcéu do próprio inferno.

Vivemos os tempos memoráveis quando, mais do que tudo, tudo precisa ser NÃO. Os tempos de NÃO a tudo. Contra o relativismo, contra a unidade de sepulcros caiados, contra a farsa dos reconciliados pela mentira e pela covardia. Um NÃO a um mundo devorado pela insensatez e pela loucura, a uma catolicidade insípida e morna, a uma vivência cristã de tibiezas e frouxidão. Um NÃO aos que clamam por paz tangidos pela covardia, aos que temem as batalhas por medo da luta, aos que ensinam uma paz travestida de fugas e escondimentos. Tempos do NÃO que pedem soldados e cruzados, espadas e estandartes, coragem e martírio. Um NÃO ao mundo.

É preciso dizer NÃO. Um NÃO. Sem meios termos, sem concessões, sem lantejoulas. Um NÃO.

Precisamos de Homens de NÃO. Homens sem meias palavras, homens sem trejeitos e momices, homens sem relativismos e eufemismos. Homens de NÃO.

Precisamos de Católicos de NÃO. Católicos de uma só doutrina, de um só Evangelho, de uma única missão: levar o mundo a Deus, fazer o mundo glorificar o Criador. Católicos que não temam palavras, não temam ameaças, não temam o martírio. Católicos que sejam capazes de enfrentar o mundo inteiro em nome de Deus. Católicos que não desfaleçam ou se corrompam diante o mundo. Católicos de NÃO.

Precisamos de Sacerdotes de NÃO. Homens além dos homens. Católicos além dos católicos. Que amem a Igreja como único primado; que vivam a fé como único sustento; que tenham na salvação das almas o seu único propósito. Sacerdotes que não cuidem do resto. Sacerdotes que não se percam em obras comezinhas. Sacerdotes feitos de graça, recolhimento e amor a Cristo. Sacerdotes que sigam Jesus nos passos de Nossa Senhora. Sacerdotes que não sejam homens comuns. Sacerdotes que não sejam escravos de tarefas cotidianas. Sacerdotes que não vendam o seu tempo ao mundo. Sacerdotes que vivam, pulsem e respirem o sacerdócio de Cristo. Sacerdotes de NÃO.

Precisamos de uma Igreja de NÃO. Uma igreja que não se amedronte diante a avalanche dos males. Que não se ensoberbeça de ser apenas instrumento da graça divina. Uma Igreja que não se quebre diante as insanidades do mundo e que não se perturbe frente às marés da iniquidade. Uma Igreja que não se dobre vacilante; que não se submeta ao desvario ecumênico; que não se fragmente em pautar dogmas apenas como modelos; que não se contamine com o modernismo ou o relativismo das crenças vadias. Uma Igreja que não compartilhe sementes de confusão, ramos de servilismo e nem os frutos amargos da indiferença. Uma Igreja plantada na terra mas não eivada de terra; uma Igreja Militante que não tenha atributos de atalhos e descaminhos; uma Igreja forjada pela santidade e pela santificação das almas. Uma Igreja no mundo, mas fora do mundo, como reflexo, fundamento, caminho e ponte para os Céus. Uma Igreja de NÃO.

Até quando Deus vai esperar o nosso NÃO ao mundo?