segunda-feira, 10 de outubro de 2022

A VIDA OCULTA EM DEUS: A ALMA INTERIOR É MAIS OU MENOS INCOMPREENDIDA

 

Muitas almas, mesmo as mais piedosas, não compreendem os impulsos da alma interior, o seu verdadeiro estado, o que legitima as suas ações. Devemos nos surpreender com isso? Não mesmo! Para julgá-la com justiça, seria preciso ter um conhecimento muito profundo dos efeitos misteriosos do Amor divino ou padecer os males que a alma padece e isso é muito raro. E o que seria ideal, a união plena da ciência especulativa e experimental, o conhecimento pessoal, é ainda mais raro. Um São João da Cruz, por exemplo, não é dado ao mundo a cada geração de homens. Ainda que fosse, nem todas as almas feridas pelas provações do Amor divino poderiam se submeter a ele como confessor. Elas teriam que conviver com o fato de serem mais ou menos incompreendidas. 

Seria como fazer a seguinte pergunta à alma interior: 'o que o Bem-Amado tem a mais por você do que tem para os outros?' E a alma poderia então responder: 'Não sei como você vê meu Bem-Amado, mas eu o vejo em beleza infinita. Ele possui todas as riquezas, sabedoria, poder, bondade e mansidão. É manso, firme e poderoso. E, no entanto, é suave, mais suave que uma mãe e nada, nada mesmo, lhe nada. Quanto mais o conheço, mais sou cativado pelo abismo infinito de suas perfeições. E tudo isso ele possui em paz, em harmonia, em perfeita ordem. Ele é muito simples, não apenas em suas palavras e ações, mas em si mesmo. Não me canso de o contemplar e amar. Ele é a alegria dos meus olhos e do meu coração'.

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte III - A União com Deus; tradução do autor do blog)

domingo, 9 de outubro de 2022

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'O Senhor fez conhecer a salvação e às nações revelou sua justiça'
(Sl 97-)

 09/10/2022 - Vigésimo Oitavo Domingo do Tempo Comum
 
46. OS DEZ LEPROSOS


Num dado lugar, entre a Samaria e a Galileia, dez leprosos vieram ao encontro de Jesus e, seguindo as normas de conduta daqueles tempos, depararam-se a uma distância segura e gritaram: 'Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!' (Lc 17, 11). Os leprosos eram tomados como homens ímpios e imundos; a terrível doença era a simples manifestação externa de pecados gravíssimos ocultos. A exclusão social os exilava em grupos fora das cidades; o temor e o desprezo dos homens acompanhavam as suas chagas visíveis e outras muito piores que não se revelavam fisicamente. As vestes imundas tentavam esconder a lepra do corpo, mas atestavam de forma cristalina a impureza da alma.

Dez leprosos. Dez homens, excluídos e condenados pelos próprios homens, aproximaram-se de Jesus para implorar compaixão. Confiança e resignação no mesmo propósito; demonstração de fé e de retidão no gesto de todos de se aproximar do Mestre e, ao mesmo tempo, dEle ficar afastado de segura distância, em estrita observância aos preceitos da lei. Jesus, movido de compaixão, determinou-lhes: 'Ide apresentar-vos aos sacerdotes' (Lc 17, 14), impondo-lhes também o que era prescrito pela lei para que se comprovasse formalmente a condição de um homem suspeito ser leproso ou não. E os dez cumpriram fielmente as palavras do Mestre. E os dez foram curados pela mesma fé e a mesma confiança na misericórdia de Deus.

Dez homens foram movidos pela mesmo fervor na súplica pela cura da doença maligna. Livres do mal, certamente ansiaram por buscar os sacerdotes para receberem a confirmação oficial de suas restituições ao meio social, ao mundo dos homens a que estavam tão brutalmente excluídos. Mas um deles, um samaritano, afastou-se da direção do mundo que o receberia de volta e caminhou ao encontro de Cristo, assim que se viu curado, atirando-se aos pés de Jesus e glorificando a Deus em alta voz.

E, mais que os outros nove, será o personagem do portentoso milagre do perdão dos seus pecados e da salvação de sua alma: 'Levanta-te e vai! Tua fé te salvou' (Lc 13, 19). O mal físico que devora o corpo pode ser mortalmente perigoso. Mas é o pecado que inocula uma lepra na alma que nos priva da graça santificante, das virtudes e bens espirituais, que nos exclui não por um tempo da sociedade dos homens, mas que pode nos exilar eternamente das bem aventuranças da vida em Deus. Na súplica diária para não nos afligir a doença do pecado, esforcemos por nos colocar sempre, como o leproso samaritano, na santa presença de Deus com a eterna gratidão dos que estão curados e santificados pela infinita misericórdia do Pai.

sábado, 8 de outubro de 2022

VERSUS: OS SETE GRAUS DA HUMILDADE (VI)

   VI. A aversão à própria opinião 

(São Bernardo*)

* (Obras Completas de San Bernardo, BAC Editorial, 1993)


'Em virtude da graça que me foi dada, recomendo a todos e a cada um: não façam de si próprios uma opinião maior do que convém, mas um conceito razoavelmente modesto, de acordo com o grau de fé que Deus lhes distribuiu' (Rm 12, 3)

De Humilitate

Sobre a Humildade

Capítulo 102 - Humildade de São Francisco no comportamento, no porte e nos costumes, e contra a própria opinião (excertos da biografia de São Francisco de Assis, por Tomás de Celano)

1. A humildade é garantia e honra de todas as virtudes.

2. O edifício espiritual que não a tem por base caminha para a ruína mesmo quando parece estar crescendo.

3. Como não podia faltar a um homem ornado de tantos dons, a humildade tinha-o cumulado com a maior fecundidade.

4. A seu entender, não passava de um pecador, embora fosse um deslumbrante exemplar de toda espécie de santidade.

5. Tratou sempre de edificar a si mesmo sobre a humildade, colocando o fundamento que tinha aprendido de Cristo.

6. Esquecido do que já lucrara, só punha diante dos olhos os próprios defeitos, olhando mais o que faltava do que o que possuía.

7. Seu único desejo era ser melhor e conquistar novas virtudes sem se contentar com as que já tinha.

8. Era humilde de presença, mais humilde de sentimento e muito mais humilde no conceito que fazia de si mesmo.

9. Príncipe de Deus, não levava em conta que era um prelado, mas apenas essa preciosa joia: conseguira ser o mínimo entre os menores.

10. Essa era a virtude, esse era o título, esse era o único sinal que indicava ser ele o ministro geral.

11. Tinha afastado de sua boca toda grandiosidade, e também toda pompa de seus gestos e todo fausto de suas ações.

12. Por revelação aprendera o sentido de muitas coisas, mas, diante dos outros, deixava que prevalecesse a opinião deles.

13. Achava que as ideias de seus companheiros eram mais seguras e que a opinião dos outros era melhor que a dele.

14. Dizia que não tinha deixado tudo por amor de Deus aquele que ainda segurava a bolsa de seu próprio modo de pensar.

15. Preferia ouvir um vitupério a um elogio, porque a crítica o levaria a emendar-se, e o elogio, a tropeçar.

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

GLÓRIAS DE MARIA: NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO

  

A palavra Rosário vem do latim Rosarium, que significa 'Coroa de Rosas'. Nossa Senhora é a Rosa das rosas, Rainha das rainhas, sendo chamada, então, Rosa Mística (como é invocada na Ladainha Lauretana), Rainha das Rosas de todas as devoções, Nossa Senhora do Rosário. Se, a cada Ave Maria, adorna-se a Mãe de Deus com uma rosa espiritual, o Rosário adorna Maria com uma Coroa de todas as Rosas.

O Santo Rosário é a oração mais perfeita e o instrumento mais poderoso que nos é concedido pela Divina Providência para vencer o pecado e as tentações diabólicas. Com o rosário, recordamos o memorial da Paixão de Jesus Cristo e meditamos os mistérios de gozo, dor e glória de Jesus e Maria. Pelo Rosário, a terra se une aos céus, e nós a Nossa Senhora, no louvor ao Senhor nosso Deus. Com o Rosário, alcançamos a paz de coração e a salvação eterna da alma. Pelo Rosário, obtemos a remissão pela culpa e pela pena dos nossos pecados, tornamo-nos herdeiros dos méritos infinitos da Paixão de Jesus e invocamos sobre nós e nossas famílias as graças extraordinárias da Misericórdia Divina. 

A origem do Rosário é antiga, mas se formalizou por meio de uma famosa aparição de Nossa Senhora a São Domingos de Gusmão. No seu ferrenho combate e conversão dos seguidores da seita herética dos albigenses, São Domingos defrontou-se com terríveis dificuldades e perseguições, devido à dureza espiritual daquelas almas. Retirou-se, então, em oração, para um lugar ermo situado nos arredores de Toulouse e suplicou a intercessão da Virgem Maria para os bons propósitos de tão dura missão. 

As suas preces extremadas foram atendidas e o santo recebeu uma aparição de Nossa Senhora que lhe entregou o Rosário (também chamado Saltério de Maria, em referência aos 150 salmos de Davi), ensinando-o como rezá-lo e assegurando ser esta a arma mais poderosa para se ganhar as almas para o Céu. Este evento, respaldado por numerosos documentos pontifícios, é narrado na obra 'Da Dignidade do Saltério', do Bem-Aventurado Alain de la Roche (1428 – 1475), célebre pregador da Ordem Dominicana. Com o Rosário em punho, São Domingos pregou incansavelmente na França, Itália e Espanha a devoção que a própria Senhora do Rosário lhe havia ensinado, convertendo os hereges e os tíbios, e erradicando por completo naqueles países a heresia albigense.


Graças, louvores e indulgências sem conta estão associadas à oração devota do Santo Rosário. Rezai-o sempre, rezai-o todos os dias! O maior milagre que o Rosário pode nos proporcionar é nos fazer plenamente dignos das promessas de Cristo e nos elevar de criaturas humanas na terra a herdeiros diretos do Céu ainda nesta vida.

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS

 

DEVOÇÃO DAS NOVE PRIMEIRAS SEXTAS - FEIRAS  

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

AS CINCO ORDENS DA CARIDADE


Há na caridade uma ordem de necessidade espiritual e corporal: amar de preferência o que vale mais.

1. A salvação vale mais do que a vida – e somos obrigados a dar a vida pela salvação eterna.

2. A alma vale mais do que o corpo –  'se o teu olho te escandaliza, arranca-o e lança-o fora' (Mt 5, 29).

3. A virtude vale mais do que o saber – e devemos afastar-nos dos conhecimentos nocivos à virtude.

4. A honra vale mais do que a saúde – e importa guardar aquela, mesmo com detrimento desta.

5. O dever vale mais do que o prazer – e devemos abandonar as diversões que impedem o cumprimento dos deveres.

(Excertos da obra 'O Caminho da Vida', do Pe. Álvaro Negromonte)

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (LVII)

 

CORDEIRO DE DEUS, QUE TIRAIS OS PECADOS DO MUNDO, 
tende piedade de nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

Obs.: fim das 57 ilustrações originais da obra, que não contemplam todas as invocações que compõem atualmente a Ladainha de Nossa Senhora.