terça-feira, 17 de maio de 2022

TESOURO DE EXEMPLOS (149/151)


149. O RESPEITO DO IMPERADOR

No ano de 325, após três séculos de cruéis perseguições, movidas pelos imperadores pagãos contra os discípulos de Jesus Cristo, puderam afinal reunir-se em Nicéia os bispos de todo mundo, para celebrar o primeiro Concílio ecumênico ou universal. A esse concílio assistiram trezentos e quinze bispos e inúmeros sacerdotes. A ele assistiu também o grande imperador Constantino, que fizera cessar a perseguição contra a Igreja, convertendo-se ele próprio ao catolicismo.

O imperador, cheio de respeito para com os ilustres prelados, quis ocupar o último lugar na augusta assembleia e, além disso, não se assentava antes dos bispos ou sem obter permissão para isso. Terminado o grandioso Concílio, perguntou alguém ao monarca:
➖ Por que mostrava vossa majestade tanto respeito àqueles homens?
➖ Meu amigo - disse o imperador - o sacerdote, embora revertido de uma dignidade divina, é homem e pode pecar; mas nenhum de seus pecados deve diminuir o nosso respeito. Digo-lhe mais: se visse um sacerdote pecar, em vez de publicar ou divulgar o pecado dele, cobriria o sacerdote com meu manto imperial para subtraí-lo às murmurações.

Aquele imperador tinha razão. O caráter sacerdotal é de um valor intenso, impresso embora, algumas vezes, numa alma fraca.

150. VIVA CRISTO REI!

No México, não faz muitos anos, um presidente chamado Calles perseguiu com furor não só os padres, mas também todos os católicos militantes. Em setembro de 1927, os soldados de Calles prenderam três jovens: José Valência, Nicolau Navarro e Salvador Vergas, porque faziam propaganda em favor da religião.

Depois de maltratá-los brutalmente, conduziram-nos, a 3 de janeiro de 1928, para longe da cidade, e ali os espancaram e feriram com cutelos. Repreendeu-os José Valência, dizendo:
➖ Sois uns perversos, martirizando-nos ferozmente: Deus vos perdoe!
E dirigindo-se aos companheiros, recordou-lhes que eram católicos, que a verdadeira pátria era o céu, para onde logo partiriam. E todos os três gritaram: Viva Cristo Rei! Viva a Mãe de Deus! 

Furiosos, os cruéis soldados os espancavam de novo e cortaram-lhes a língua, dizendo:
➖ Vamos ver se agora falais e rezais!
Ao volver-se o mártir para os seus companheiros para mostrar-lhes o céu, fuzilaram-no e em seguida cortaram-lhe a cabeça. Os outros dois companheiros imitaram o heroísmo do primeiro.

Em seguida aquela soldadesca tomou os cadáveres e, levando-os à cidade, deixou-os no meio da praça, como se tivesse realizado uma grande façanha. Acudiu logo uma multidão imensa de curiosos. Chamaram também a mãe do jovem mártir José Valência. A heroica senhora, em vez de chorar, olhos fixos no céu exclamou:
➖ Senhor, bendigo-vos por terdes disposto que eu fosse a mãe de um mártir!
E julgando-se indigna de abraçar o corpo do filho, beijou-lhe os pés devotamente.

151. QUE LHE PARECE?

Apresentou-se, certo dia, num convento, uma jovem que desejava ser religiosa. Parecia ter muito boas disposições, mas a Superiora, querendo experimentar-lhe a vocação, percorreu com ela as dependências da casa, e foi dizendo:
➖Esta é a nossa capela. Aqui mora o dono da casa: é Jesus. O que Ele manda se faz; O que Ele proíbe, se deixa: o que não pede, se adivinha.

Rezaram ali um instante e, continuando a visita, disse a Superiora:
➖ Aqui é a sala de jantar: tudo pobre. Sendo assim, neste refeitório não se prova nenhum manjar delicado, entende?
➖ Sim, senhora - respondeu a jovem.
➖ Esta é a sala de trabalhos; como sabe, todas as religiosas vivem trabalhando e rezando; descanso, só no céu.

Passaram a outro corredor e a Superiora indicou uma cela à jovem, dizendo:
➖ Este será o seu quarto; é limpo, mas pobre, até na mobília. Será a sua morada para toda a vida: aqui você fará penitência por seus pecados e pelos pecados do mundo, ouviu?
➖ Sim, senhora.

Saíram para fora da casa, andaram alguns passos e a Superiora falou então:
➖ Olhe este horto; quando você falecer, será enterrada, sem nenhuma pompa, aos pés daquele grande Cristo.

A jovem, sem dizer uma palavra, contemplava a bela imagem de Jesus Crucificado.
➖ Que lhe parece? Tem medo?
➖ Não, madre - respondeu. Está tudo bem. Não tenho medo não; porque na capela, na sala de trabalhos, no refeitório, na cela, no jardim e em toda parte vi o Crucifixo; ele me dará forças para sofrer. Se tanto padeceu Jesus por mim, por que não hei de padecer um pouco por Ele?
E a jovem foi aceita. E tornou-se santa.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

segunda-feira, 16 de maio de 2022

A IGREJA CATÓLICA É UNA E INTOLERANTE (I)

Nosso século clama: 'Tolerância, Tolerância!'. Tem-se como certo que um sacerdote deve ser tolerante, que a religião deve ser tolerante. Meus irmãos, não há nada que valha mais que a franqueza, e eu aqui estou para vos dizer, sem disfarce, que no mundo inteiro só existe uma sociedade que possui a verdade, e que esta sociedade deve ser necessariamente intolerante.

É da essência de toda verdade não tolerar o princípio que a contradiz. A afirmação de uma coisa exclui a negação dessa mesma coisa, assim como a luz exclui as trevas. Onde nada é certo, onde nada é definido, podem-se partilhar os sentimentos, podem variar as opiniões. Compreendo e peço a liberdade de opinião nas coisas duvidosas: in dubiis, libertas. Mas, logo que a verdade se apresenta com as características certas que a distinguem, por isso mesmo que é verdade, ela é positiva, ela é necessária, e por conseguinte ela é una e intolerante: in necessariis, unitas.

No mundo inteiro só existe uma sociedade que possui a verdade e esta sociedade deve ser necessariamente intolerante. Condenar a verdade à tolerância é condená-la ao suicídio. A afirmação se aniquila se duvida de si mesma, e ela duvida de si mesma se admite com indiferença que se ponha a seu lado a sua própria negação. Para a verdade, a intolerância é o instinto de conservação, é o exercício legítimo do direito de propriedade. Quando se possui alguma coisa, é preciso defendê-la, sob pena de logo se ver despojado dela.

Assim, meus irmãos, pela própria necessidade das coisas, a intolerância está em toda parte, porque em toda parte existe o bem e o mal, o verdadeiro e o falso, a ordem e a desordem. O que há de mais intolerante do que esta proposição: 2 mais 2 são 4? Nada é tão exclusivo, meus irmãos, quanto a unidade. Ouvi a palavra de São Paulo: Unus Dominus, una fides, unum baptisma. Há, no céu, um só Senhor: unus Dominus. Esse Deus, cuja unidade é seu grande atributo, deu à terra um só símbolo, uma só doutrina, uma só fé: una fides. E esta fé, esta doutrina, Ele confiou-as a uma só sociedade visível, uma só Igreja, cujos filhos são, todos, marcados com o mesmo selo e regenerados pela mesma graça: unum baptisma.

Assim, a unidade divina que resplandece por todos os séculos na glória de Deus produziu-se sobre a terra pela unidade do dogma evangélico, cujo depósito foi confiado por Nosso Senhor Jesus Cristo à unidade hierárquica do sacerdócio: um Deus, uma fé, uma Igreja: unus Dominus, una fides, unum baptisma. Para a verdade, a intolerância é o instinto de conservação, é o exercício legítimo do direito de propriedade.

Um pastor inglês teve a coragem de escrever um livro sobre a tolerância de Jesus Cristo, e certo filósofo de Genebra disse, falando do Salvador dos homens: 'Não vejo que meu divino Mestre tenha formulado sutilezas sobre o dogma'. Bem verdadeiro, meus irmãos. Jesus Cristo não formulou sutilezas sobre o dogma, mas trouxe aos homens a verdade e disse: 'Se alguém não for batizado na água e no Espírito Santo, se alguém se recusa a comer a minha carne e a beber o meu sangue, não terá parte em meu reino'. Confesso que nisso não há sutilezas; há intolerância, há exclusão, a mais positiva, a mais franca.

E mais: Jesus Cristo enviou os seus Apóstolos para pregar a todas as nações, isto é, derrubar todas as religiões existentes, para estabelecer em toda a terra a única religião cristã e substituir todas as crenças dos diferentes povos pela unidade do dogma católico. E, prevendo os movimentos e as divisões que esta doutrina iria incitar sobre a terra, Ele não se deteve e declarou que tinha vindo para trazer não a paz, mas a espada, e para acender a guerra não somente entre os povos, mas no seio de uma mesma família e separar, pelo menos quanto às convicções, a esposa fiel do esposo incrédulo, o genro cristão do sogro idólatra. A afirmação é verdadeira e o filósofo tem razão: Jesus Cristo não formulou sutilezas sobre o dogma.

Falam da tolerância dos primeiros séculos, da tolerância dos Apóstolos. Mas isso não é assim, meus irmãos. Ao contrário, o estabelecimento da religião cristã foi, por excelência, uma obra de intolerância religiosa. No momento da pregação dos Apóstolos, quase todo o universo praticava essa tolerância dogmática tão louvada. Como todas as religiões eram igualmente falsas e igualmente desarrazoadas, elas não se guerreavam; como todos os deuses valiam a mesma coisa uns para os outros, eram todos demônios, não eram exclusivos, eles se toleravam uns aos outros: Satã não está dividido contra si mesmo.

O estabelecimento da religião cristã foi, por excelência, uma obra de intolerância religiosa. O Império Romano, multiplicando suas conquistas, multiplicava os seus deuses, e o estudo de sua mitologia se complica na mesma proporção que o de sua geografia. O triunfador que subia ao Capitólio fazia marchar diante dele os deuses conquistados com mais orgulho ainda do que arrastava atrás de si os reis vencidos. O mais das vezes, em virtude de um decreto do senado, os ídolos dos bárbaros se confundiam desde então com o domínio da pátria e o Olimpo nacional crescia como o Império.

Quando apareceu o cristianismo (prestem atenção a isso, meus irmãos, são dados históricos de valor com relação ao assunto presente), quando o cristianismo surgiu pela primeira vez, não foi repelido imediatamente. O paganismo perguntou-se se, em vez de combater a nova religião, não devia dar-lhe acesso ao seu solo. A Judéia tinha se tornado uma província romana. Roma, acostumada a receber e conciliar todas as religiões, recebeu a princípio, sem maiores dificuldades, o culto saído da Judéia. Um imperador colocou Jesus Cristo, como a Abraão, entre as divindades de seu oratório, assim como se viu mais tarde outro César propor prestar-lhe homenagens solenes.

Mas a palavra do profeta não tardou a se verificar: as multidões de ídolos que viam, de ordinário sem ciúmes, deuses novos e estrangeiros ser colocados ao lado deles, com a chegada do Deus dos cristãos, lançam um grito de terror, e, sacudindo sua tranquila poeira, abalam-se sobre seus altares ameaçados: Ecce Dominus ascendit, et commovebuntur simulacra a facie eius - Eis que surge o Senhor, e os ídolos estremecem diante de sua face (Is 19, 1).

Roma estava atenta a esse espetáculo. E logo, quando se percebeu que esse Deus novo era irreconciliável inimigo dos outros deuses; quando se viu que os cristãos, cujo culto se havia admitido, não queriam admitir o culto da nação; em uma palavra, quando se constatou o espírito intolerante da fé cristã, foi então que começou a perseguição.

Ouvi como os historiadores do tempo justificam as torturas dos cristãos. Eles não falam mal de sua religião, de seu Deus, de seu Cristo, de suas práticas; só mais tarde é que inventaram calúnias. Eles os censuram somente por não poderem suportar outra religião senão a deles. 'Eu não tinha dúvidas' - diz Plínio, o Jovem - 'apesar de seu dogma, de que não era preciso punir sua teimosia e sua obstinação inflexível': pervicaciam et inflexibilem obstinationem. 'Não são criminosos' - diz Tácito - 'mas são intolerantes, misantropos, inimigos do gênero humano. Há neles uma fé teimosa em seus princípios, e uma fé exclusiva que condena as crenças de todos os povos': apud ipsos fides obstinata, sed adversus omnes alios hostile odium.

Assim, meus irmãos, o principal agravo contra os cristãos era a rigidez absoluta do seu símbolo de fé, e, como se dizia, o humor insociável de sua teologia. Se só se tratasse de um Deus mais, não teria havido reclamações; mas era um Deus incompatível, que expulsava todos os outros: aí está o porquê da perseguição. Assim, o estabelecimento da Igreja foi obra de intolerância dogmática.

Toda a história da Igreja não é senão a história dessa intolerância. Que são os mártires? Intolerantes em matéria de fé, que preferem os suplícios a professar o erro. Que são os símbolos de fé? São fórmulas de intolerância, que determinam o que é preciso crer e que impõem à razão os mistérios necessários. Que é o papado? Uma instituição de intolerância doutrinal, que pela unidade hierárquica mantém a unidade de fé. Por que os concílios? Para frear os desvios de pensamentos, condenar as falsas interpretações do dogma, anatematizar as proposições contrárias à fé.

Nós somos então intolerantes, exclusivos em matéria de doutrina; disto fazemos profissão; orgulhamo-nos da nossa intolerância. Se não o fôssemos, não estaríamos com a verdade, pois que a verdade é uma, e consequentemente intolerante. Filha do céu, a religião cristã, descendo à terra, apresentou os títulos de sua origem; ofereceu ao exame da razão fatos incontestáveis, e que provam irrefutavelmente sua divindade.

Ora, se ela vem de Deus, se Jesus Cristo, seu autor, pode dizer: 'Eu sou a verdade' - Ego sum veritas, é necessário, por uma consequência inevitável, que a Igreja de Cristo conserve incorruptivelmente esta verdade tal qual a recebeu do céu; é necessário que repila, que exclua tudo o que é contrário a esta verdade, tudo o que possa destruí-la. Recriminar à Igreja Católica sua intolerância dogmática, sua afirmação absoluta em matéria de doutrina, é dirigir-lhe uma recriminação muito honrosa. É recriminar à sentinela ser muito fiel e muito vigilante, é recriminar à esposa ser muito delicada e exclusiva.

As paixões sabem bem o que querem quando procuram abalar os fundamentos da fé. Nós ficamos muitas vezes confusos, meus irmãos, com o que ouvimos dizer sobre todas estas questões até por pessoas sensatas. Falta-lhes a lógica, desde que se trate de religião. É a paixão, é o preconceito que os cega? É um e outro. No fundo, as paixões sabem bem o que querem quando procuram abalar os fundamentos da fé, pondo a religião entre as coisas sem consistência. Elas não ignoram que, demolindo o dogma, preparam para si uma moral fácil.

Diz-se com justeza perfeita: é antes o decálogo que o símbolo de fé o que as faz incrédulas. Se todas as religiões podem ser postas num mesmo nível, é que se equivalem todas; se todas são verdadeiras, é porque todas são falsas; se todos os deuses se toleram, é porque não há Deus. E, se se pode aí chegar, já não sobra nenhuma moral incômoda. Quantas consciências estariam tranquilas no dia em que a Igreja Católica desse o beijo fraternal a todas as seitas suas rivais!

Jean-Jacques Rousseau foi entre nós o apologista e o propagador desse sistema de tolerância religiosa. A invenção não lhe pertence, se bem que ele tenha ido mais longe que o paganismo, que nunca chegou a levar a indiferença a tal ponto. Eis, com um curto comentário, o ponto principal desse catecismo, tornado infelizmente popular: todas as religiões são boas. Isto é, de outra forma, todas as religiões são ruins.

A filosofia do século XIX se espalha por mil canais por toda a superfície da França. Esta filosofia é chamada eclética, sincrética e, com uma pequena modificação, é também chamada progressiva. Esse belo sistema consiste em dizer que não existe nada falso; que todas as opiniões e todas as religiões podem conciliar-se; que o erro não é possível ao homem, a menos que ele se despoje da humanidade; que todo o erro dos homens consiste em julgar-se possuidores exclusivos de toda a verdade, quando cada um deles só tem dela um elo e quando, da reunião de todos esses elos, se deve formar a corrente inteira da verdade. Assim, segundo essa inacreditável teoria, não há religiões falsas, mas são todas incompletas umas sem as outras.

A verdadeira seria a religião do ecletismo sincrético e progressivo, a qual ajuntaria todas as outras, passadas, presentes e futuras: todas as outras, isto é, a religião natural que reconhece um Deus; o ateísmo, que não conhece nenhum; o panteísmo, que o reconhece em tudo e por tudo; o espiritualismo, que crê na alma, e o materialismo, que só crê na carne, no sangue e nos humores; as sociedades evangélicas, que admitem uma revelação e o deísmo racionalista, que a rejeita; o cristianismo, que crê no Messias que veio e o judaísmo, que o espera ainda; o catolicismo, que obedece ao Papa e o protestantismo, que olha o Papa como o Anticristo. Tudo isto é conciliável. São diferentes aspectos da verdade. Da união desses cultos resultará um culto mais largo, mais vasto, o grande culto verdadeiramente católico, isto é, universal, pois que abrigará todas as outras no seu seio.

Esta doutrina, meus irmãos, que qualificais de absurda, não é de minha invenção; ela enche milhares de volumes e de publicações recentes; e, sem que seu fundo jamais varie, toma todos os dias novas formas sob a caneta e sobre os lábios dos homens em cujas mãos repousam os destinos da França. A que ponto de loucura chegamos então? Chegamos ao ponto a que deve logicamente chegar todo aquele que não admite o princípio incontestável que estabelecemos, a saber: que a verdade é uma e, por consequência, intolerante, apartada de toda doutrina que não a sua. E, para resumir em poucas palavras toda a substância deste meu discurso, eu vos direi: Procurais a verdade sobre a terra? Procurai a Igreja intolerante. Todos os erros podem fazer-se concessões mútuas; eles são parentes próximos, pois que têm um pai comum: Vos ex patre diabolo estis - Vós sois de vosso pai, o diabo. A verdade, filha do céu, é a única que não capitula.

A verdade é uma e, por consequência, intolerante, apartada de toda doutrina que não a sua. Vós, pois, que quereis julgar esta grande causa, tomai para isto a sabedoria de Salomão. Entre essas diferentes sociedades para as quais a verdade é objeto de litígio, como era aquela criança entre as duas mães, quereis saber a quem adjudicá-la. Pedi que vos deem uma espada, fingi cortar, e examinai as expressões que farão os pretendentes. Haverá vários que se resignarão, que se contentarão da parte que vão ter. Dizei logo: 'Essas não são as mães!' Há uma, ao contrário, que se recusará a toda composição, que dirá: a verdade me pertence, e devo conservá-la inteira, jamais tolerarei que seja diminuída, partida. Dizei: 'Esta aqui é a verdadeira mãe!' Sim, Santa Igreja Católica, vós tendes a verdade, porque tendes a unidade e, porque sois intolerante, não deixais decompor esta unidade.

(Excertos de um Sermão do Cardeal L.E. Pie - Ouvres Sacerdotales du Cardinal Pie, 1901)

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (IV)

 

Cristo, ouvi-nos.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

domingo, 15 de maio de 2022

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Bendirei o vosso nome, ó meu Deus, meu Senhor e meu Rei para sempre' (Sl 144)

 15/05/2022 - Quinto Domingo da Páscoa

25. O NOVO MANDAMENTO 


Deus, em sua infinita misericórdia, destinou ao homem, não apenas a plenitude de uma felicidade puramente natural mas, muito mais que isso, por desígnios imensuráveis à condição humana, a plenitude da eterna felicidade com Ele. E, para nos tornar co-participantes de sua glória, nos escolheu, um a um, desde toda a eternidade, como criaturas humanas privilegiadas e especiais, moldadas pelo infinito amor do divino intelecto. Glória aos homens bem-aventurados que, nascidos e criados pelo infinito amor, foram e serão redimidos pelo amor de Cristo para toda a eternidade!

Neste Quinto Domingo da Páscoa, somos chamados a vivenciar este amor de Deus em plenitude. Jesus encontra-se no Cenáculo, pouco antes de sua ida ao Horto das Oliveiras e da sua prisão e morte na cruz. E acaba de revelar aos seus discípulos amados, mais uma vez, a identidade do amor divino entre Pai e Filho, regida pelo Espírito Santo: 'Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele' (Jo 13, 31). Do amor intrínseco à Santíssima Trindade, medida infinita do amor sem medidas, Jesus vai nos dar o princípio do amor humano verdadeiro e recíproco ao amor divino: 'Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros' (Jo 13, 34).

Sim, como Cristo nos amou. Na nossa impossibilidade humana de amar como Cristo nos ama, isso significa amar sem rodeios, amar sem vanglória, amar sem zelos de gratidão, amar de forma despojada e sincera aos que nos amam e aos que não nos amam, a quem não conhecemos, a quem apenas tangenciamos por um momento na vida, a todos os homem criados pelos desígnios imensuráveis do intelecto divino, à sombra e imersos na dimensão do infinito amor de Cristo por nós.

Nesta proposição distorcida e acanhada do amor divino, o amor humano se projeta a alturas inimagináveis de santificação, e expressa a sua identificação incisiva no projeto de redenção de Cristo: 'Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros' (Jo 13, 35). Eis aí a essência do novo mandamento: amar, com igual despojamento, toda a dimensão da humanidade pecadora, a exemplo de um Deus que se entregou à morte de cruz para nos redimir da morte e mostrar que o verdadeiro amor não tem limites nem medida alguma.

sábado, 14 de maio de 2022

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (III)

 

Senhor, tende piedade de nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

OS MAIS BELOS LIVROS CATÓLICOS DE TODOS OS TEMPOS (7)

 13. CORNELIUS A LAPIDE TESOUROS

Cornelius a Lapide ou Cornelis Cornelissen Van den Steen (1567 – 1637) foi um jesuíta e exegeta flamengo, natural da cidade de Bocholt, na Bélgica. Ingressou na Companhia de Jesus em 15 de julho de 1592 e foi ordenado sacerdote em 24 de dezembro de 1595. Atuou por mais de 40 anos de sua vida religiosa ensinando as Sagradas Escrituras, inicialmente na Universidade de Louvain, entre 1598 e 1616 e depois no Colégio dos Jesuítas em Roma, entre 1616 e 1636, falecendo nesta cidade em 12 de março de 1637. 

Muitos dos seus comentários (como aqueles relativos às Epístolas de São Paulo, Atos dos Apóstolos, o Apocalipse ou Livro do Eclesiástico) foram compilados, revistos e publicados pelo próprio autor, mas muitos deles somente foram publicados após a sua morte. Os seus textos e comentários traduzem uma dura resposta às heresias da Reforma Protestante (principalmente às introduzidas por Lutero e Zwinglio), com ênfase em uma devoção especial à Santíssima Virgem e na defesa intransigente das doutrinas e ensinamentos da Santa Igreja. É obra de um homem profundamente apaixonado pela Igreja e dominado pela erudição bíblica das eras patrística e medieval, que fala e comenta as Sagradas Escrituras no contexto único dos ensinamentos dos Grandes Padres e da mais pura tradição da Igreja.

A coletânea dos seus volumosos comentários sobre passagens e textos de praticamente todos os livros das Sagradas Escrituras (com exceção do Livro dos Salmos e do Livro de Jó) tem sido sistematizada em uma obra de cunho geral, comumente designada com o nome de Tesouros de Cornelius a Lapide, ainda não integralmente traduzida para o português (existem versões traduzidas para o português apenas de alguns comentários isolados de sua obra monumental).

14. JEAN-BAPTISTE CHAUTARD A ALMA DE TODO APOSTOLADO

A Alma de Todo Apostolado é uma obra clássica da literatura cristã do século XX e tem como tema central a inserção e o aperfeiçoamento da vida interior, como base, sustentação e instrumento para quaisquer obras de apostolado. O seu autor foi um monge trapista francês chamado Jean-Baptiste Chautard, nascido em Briançon em 12 de março de 1858. Ingressou como noviço no mosteiro de Aiguebelle em 1877, situado numa das regiões mais ermas e agrestes da França. Revestido do hábito branco da Ordem Cisterciense, ali iniciou os seus estudos religiosos, sendo ordenado sacerdote em junho de 1884.

A obra é um grito de resistência a uma época histórica de perseguições. No início do século XX, a Igreja da França passou a ser alvo de um singular período de perseguições e a Ordem Cistercience ficou então muito ameaçada de expulsão e fechamento no país, sob a tibieza e indiferentismo do povo cristão. À época, Dom Jean-Baptiste Chautard era o prior da Abadia de Sept-Fons, função que iria exercer até a sua morte em 29 de setembro de 1935.

Escrita originalmente com o objetivo definido de manter e sustentar o ânimo dos seus confrades e demais religiosos da Ordem Cisterciense diante das perseguições do Estado, a obra tornou-se um clássico da espiritualidade católica. Nestas páginas, o autor apresenta a síntese dos princípios que devem nortear aqueles que lutam pela Igreja por meio de uma vida de piedade, mortificação e sacrifícios, na estrita compreensão de que os meios de ação naturais devem ser canais da graça de Deus, e que o apóstolo – clérigo ou leigo – precisa ser ele próprio um reservatório das graças que devem vivificar em todas as suas obras. Para prover um fecundo apostolado e ser instrumento da salvação para muitos dos seus irmãos, cada homem deve buscar na vida interior uma íntima união com Deus, impregnando-se com o verdadeiro espírito de Jesus Cristo para agir, desta forma, em tudo, com todos, todo o tempo. A tradução da obra em português encontra-se disponível por diferentes editoras.

sexta-feira, 13 de maio de 2022

FÁTIMA - 105 ANOS

 

'Santíssima Trindade, Pai, Filho, Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o Preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da Terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos de seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores'.

Ver Postagem Especial na Biblioteca Digital do Blog
(a história completa de Fátima resumida em 100 questões):


FÁTIMA EM 100 FATOS E FOTOS