sexta-feira, 13 de maio de 2022

FÁTIMA - 105 ANOS

 

'Santíssima Trindade, Pai, Filho, Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o Preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da Terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos de seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores'.

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(a história completa de Fátima resumida em 100 questões):


FÁTIMA EM 100 FATOS E FOTOS

quinta-feira, 12 de maio de 2022

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (II)


Cristo, tende piedade de nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

SOBRE A ESCRAVIDÃO DO PECADO

Que situação mais triste, mais infeliz, mais desgraçada e deplorável que a do filho pródigo! Reduzido à pobreza, tendo fome, abandonado de todos os seus inimigos, escravo de um patrão sem compaixão, o qual lhe envia a guardar os porcos; deseja poder nutrir-se com os vis alimentos daqueles animais imundos! Eis aqui uma débil imagem do estado de servidão a que pode levar o pecado mortal.

Um pássaro atado com um fio trata de voar; porém, preso, não pode escapar; assim também o pecador, cativo de suas más inclinações, dá alguns passos, porém, sem adquirir a liberdade, detém-no os laços de seus desgraçados hábitos. O homem terrestre e carnal crer ser livre, porém, na realidade, é escravo. Quer ser livre, e o querer tal liberdade é o que lhe lança na escravidão. Assim é que a liberdade afoga a liberdade de tal modo que o excesso de liberdade é uma extraordinária escravidão; porque, então, não há mais freio para as concupiscências, e chegamos a ser escravos de tantos tiranos cruéis quantas são as paixões diferentes que nos subjugam.

O furor do Eterno acendeu-se contra o povo, diz o Salmista; e entregou o povo ao poder das nações, e seus inimigos chegaram a ser seus donos. Seus inimigos oprimiram-nos e fizeram-no sofrer a humilhação de seu poder (Sl 115, 39-41). Estavam sentados nas trevas e nas sombras da morte, encadeados pelo ferro e pela fome: sedentes in tenebris et umbra mortis, vinctos in mendicitate et ferro (Sl 106, 10). Porém, aquela não era mais que uma sombra da escravidão dos pecadores!

Ouvi, pecadores, os gemidos dos hebreus escravos e cativos; entregai-vos aos mesmos lamentos, posto que o vosso estado é o mesmo, e ainda muito pior. Próximo aos rios da Babilônia, exclamam por meio do Real Profeta, nós nos sentávamos, e derramávamos lágrimas recordando-nos de Sião. Nos salgueiros de suas margens, penduramos nossas harpas. E ali, aqueles que nos levaram para o cativeiro, pediram o canto de nossos hinos. Aqueles que nos arrastaram cativos, disseram-nos: ‘Cantai os cânticos de Sião’. Como havemos de cantar os cânticos do Senhor em uma terra estrangeira? (Sl 136, 1).

Escravos do demônio e das paixões, dai um eterno adeus à felicidade e à vossa antiga alegria; porque perdestes tudo, perdendo a liberdade dos filhos de Deus pelo pecado mortal! Encontramo-nos aqui na terra em uma escravidão semelhante à de uma criança ainda no ventre de sua mãe, diz São João Crisóstomo: sicut in úteropuellus, sic in mundo vivimus interclusi angustiis. Estamos aqui nesta terra de desterro e de maldição em uma situação análoga àquela em que se encontrava Jonas no ventre da baleia.

Ainda que fosse rei, o homem insensato e pecador seria sempre escravo de suas paixões e servente de seus desejos, diz São Jerônimo; não pode, nem de noite nem de dia, sacudir o domínio deles, porque estão em seu coração; e experimenta interiormente uma servidão intolerável: Stultus esto imperet, servit propriis passionibus, servit suis cupiditatibus, quorum dominatio, nec nocte, nec die, fugari potest; quia intra se dominas habet, intra servitium potitur intolerabile. Toda paixão escraviza, diz Santo Ambrósio: servilis est omnis passio.

Ainda que seja um escravo, o homem virtuoso é livre, diz Santo Agostinho, porém, ainda que que o culpável seja rei, é escravo, e escravo não de um só senhor, senão que – o que é pior – é escravo de tantos senhores quantos vícios tenha: Bonus, etiamsi serviat, liver est: malus autem, si regnat, servus est, non unius hominis, sed quodgravius est, tot dominorum quot vitiorum. O rei Lisímaco entregou seu exército ao inimigo somente para apagar sua sede física. Feito cativo, depois de ter recebido e bebido água, exclamou: Desgraçado de mim, por um momento de prazer, que bens e que reino eu perdi! Era rei, e me acho convertido em escravo: Pro deum fidem, quam exiguae voluptatis gratia, quantum bonum, quantum regnum perditi; meque ex rege servum effeci!

'Ai de mim!'… Não tem mil vezes mais motivos de falar da mesma maneira o desgraçado pecador? Ó Deus, por uma gota de água, por um vil e passageiro deleite, quantos bens perdi! Perdi minha alma, perdi a graça, perdi as delícias do Céu, e encontro-me convertido em escravo do demônio, da morte e do Inferno por toda uma eternidade!

Servirá a teu inimigo com fome, com sede, nu e em maior penúria, diz o Senhor, e porá em teu pescoço um jogo de ferro até que te esmague: Servies inimico tuo in fame, et siti, et nuditate, et omni penúria, et ponet jugum ferreum super cervicem tuam, donec te conterat (Dt 28, 48). E ele devorará o fruto de teus ganhos e todos os frutos de tua terra até que pereças; e não te deixará trigo, nem vinho, nem azeite, nem rebanho de vacas, nem rebanho de ovelhas até que, enfim, te destruas inteiramente (Dt 28, 51). E te pisoteará, e os teus muros fortes e elevados serão derrubados, e comerás o fruto de tuas entranhas e as carnes de teus filhos e de tuas filhas que o Senhor te der, na angústia e desolação com que te oprimirá teu inimigo (Sl 28, 51-53). Porém, todas estas desgraças não são nada quando comparadas com a desgraça de um pecador escravo do demônio!

Temos pecado em Vossa presença, Senhor, exclama a rainha Ester, por cujo motivo vemo-nos entregues nas mãos de nossos inimigos: Peccavimus in conspectu tuo, et idcirco tradidisti nos in manus inimicorum nostrorum (Est 14, 6). Ao ímpio envolvem suas próprias iniquidades, dizem os Provérbios, e está acorrentado nos laços de seu pecado: Iniquitaes suae capiunt impium, et funibus peccatorum suorum constringitur (Pr 5, 22). Além das algemas de seu crime, o pecador carrega as de suas penas e a de sua penitência; porque estas também o atam, sobrecarregando-o e torturando-o. Penas temporais e eternas!

É necessário que sejamos escravos e que soframos todas as consequências e desgraças quando a carne comanda o espírito, ela que deveria ser escrava deste. Quando esta carne rebelde é bajulada e honrada, ela quer mandar, em vez de estar subordinada à razão. Que coisas mais desiguais em valor que a razão e a concupiscência, a alma e o corpo! A concupiscência e a carne são terrestres, semelhantes ao selvagem; porém, a razão e a alma são espirituais, grandes, nobres e semelhantes aos anjos pela inteligência e pela espiritualidade. A concupiscência e a carne são a mesma pobreza, a baixeza; porém, a razão e a alma tem um preço imenso! São, pois, absurdos abomináveis: que a alma sirva ao corpo, pois a ela deve estar este submetido; e que a razão seja escrava da concupiscência.

Edificastes ao meu redor, diz Jeremias, rodeaste-me de fel e trabalho: Aedificavit in gyro meo, et circundedit me felle et labore (Lm 3, 5). Edificastes ao meu redor para que eu não saia, e aumentastes o peso de minhas cadeias: Circunaedificavit adversum me ut non ingrediar; aggravavit compendem meum (Lm 3, 7). Semeastes meu caminho de pedras cortantes, e destruístes minhas veredas: Conclusit vias meas lapidibus quadris, semitas meas subvertit (Lm 3, 9). E a paz foi extirpada de meu coração, esqueci a alegria, e disse: 'Minha força está perdida' (Lm 3, 17-18). Ó profeta Jeremias, ainda não é bastante hábil o teu pincel para pintar-nos as desgraças reais da escravidão do pecador!

(Excertos da obra 'Tesouros de Cornelius a Lapide')

quarta-feira, 11 de maio de 2022

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

'A moderação é sem dúvida a mais bela das virtudes... A moderação, com efeito, deve temperar a justiça. Não sendo assim, como poderia alguém a quem tens desaprovação – alguém que pensasse ser objeto de desprezo e não de compaixão para o seu médico – como poderia ele vir ter contigo para ser tratado? Foi por isso que o Senhor Jesus mostrou compaixão para conosco. O seu desejo era chamar-nos a si, e não fazer-nos fugir, assustando-nos. A doçura marca a sua vinda; a sua vinda é marcada pela humildade. Ele disse: 'Vinde a Mim, vós que estais aflitos e Eu vos reconfortarei'. Assim o Senhor Jesus reconforta, não exclui, não rejeita. E com razão escolheu para discípulos homens que, sendo fiéis intérpretes da vontade do Senhor, reuniam o povo de Deus em vez de o afastar'.

(Santo Ambrósio de Milão)

terça-feira, 10 de maio de 2022

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (I)

 

Senhor, tende piedade de nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

NA SOLIDÃO DO DESERTO...


Os santos, os Padres da Igreja, os grandes monges contemplativos buscaram de forma determinada o retiro espiritual, o afastamento do convívio dos homens, a solidão para viver de Deus e para Deus (Imitação de Cristo - Livro I , XX.1). Os textos das Sagradas Escrituras são muitos e diversos neste sentido: Davi habitava o deserto desde tenra idade, João Batista escolheu o deserto, Jesus se retirava a lugares ermos para se colocar em oração:

'Lembra-te de todo o caminho por onde o Senhor te conduziu durante esses quarenta anos no deserto, para humilhar-te e provar-te, e para conhecer os sentimentos de teu coração, e saber se observarias ou não os seus mandamentos' (Dt 8, 2).

'Ele conduziu seu povo através do deserto, porque sua misericórdia é eterna' (Sl 135, 16).

'Uma voz exclama: “Abri no deserto um caminho para o Senhor, traçai reta na estepe uma pista para nosso Deus" (Is 40, 3).

'Eu disse no deserto a seus filhos: não sigais os preceitos dos vossos pais, não imiteis as suas práticas, contaminando-vos com os ídolos' (Ez 20, 18).

'De manhã, tendo-se levantado muito antes do amanhecer, ele saiu e foi para um lugar deserto, e ali se pôs em oração' (Mc 1,35).

'A essa notícia, Jesus partiu dali numa barca para se retirar a um lugar deserto, mas o povo soube e a multidão das cidades o seguiu a pé' (Mt 14, 13).

'À Mulher foram dadas duas asas de grande águia, a fim de voar para o deserto, para o lugar de seu retiro, onde é alimentada por um tempo, dois tempos e a metade de um tempo, fora do alcance da cabeça da Serpente' (Ap 12, 14).

A santificação impõe a solidão, o retiro da alma do mundo, o recolhimento interior. Estar com Deus e em Deus impõe o deserto do corpo e da alma, a libertação do mundo exterior e do mundo interior, o domínio da imaginação, dos sentimentos e da própria vontade:

'É difícil uma árvore plantada à beira de uma estrada conservar os seus frutos até a maturidade; é difícil também para uma alma, no meio dos homens, conservar a sua inocência até o fim' (São Crisóstomo).

'Aquele que ama a solidão é invulnerável aos dardos de seus inimigos: mas aquele que se mistura com a multidão receberá feridas frequentes e cruéis' (São Nilo) . 

'A solidão é o muro e o baluarte das virtudes' (São Bernardo). 

'Aquele que habita em ti, ó solidão, eleva-se acima de si mesmo, porque tendo a alma faminta de Deus, põe-se acima de tudo o que é da terra; fica suspensa na força da contemplação, e separada do mundo, voa para o céu, e esforçando-se para ver o que é superior a tudo, despreza tudo o mais' (São Basílio).

'A solidão é a forma e a regra da sabedoria; a solidão é por si só uma predileção à virtude; afastar-se do mundo é dispor-se a ir para o Céu' (São Jerônimo).

segunda-feira, 9 de maio de 2022

A VIDA OCULTA EM DEUS: CONHECIMENTO DOS ATRIBUTOS DE DEUS


Quando uma alma adentra em Deus pela primeira vez, experimenta a impressão que alguém teria ao entrar de repente em uma sala ampla e cheia dos mais ricos e variados tesouros. Não seria capaz de perceber nenhum deles em detalhes, mas apenas ter uma visão geral de todos eles. Tal visão, entretanto, causaria nela uma alegria única, moldada de certa forma por todas as alegrias que seria possível ser experimentadas se ela pudesse admirar cada um desses tesouros em particular. Os atributos de Deus são esses tesouros. Na sua união com Deus, a alma interior os vê em um único olhar e os absorve todos de uma vez, porque Deus é riqueza e simplicidade ao mesmo tempo, de tal forma que a impressão que  se grava em nosso espírito e em nosso coração é fruto de ambos. Ao encanto desta alegria, tão nova para a alma, acrescenta-se algo inesgotável, infinito, que nela se impregna de forma discreta e indescritível.

Pouco a pouco a alma se acostuma a viver nesta cela interior. Adormece e vive nela; faz dela a sua morada. Quando tem que deixá-la, sofre e pressente-se estranha, como alguém fora do seu lugar próprio. Assim que possível, busca retornar, pedindo humildemente a Deus que seja recebida de volta. Deus nem sempre a atende de imediato. Então ela reza em recolhimento e espera, com confiança e em paz, como uma virgem fiel atenta ao menor sinal que possa anunciar a vinda do Esposo. E chega o momento em que Deus a recolhe outra vez na sua intimidade: novas luzes, novos encantos; novas alegrias e ainda muito mais profundas. Aí está a recompensa pela sua fidelidade: 'Muito bem, servo bom e fiel... vem regozijar-te com teu senhor!' (Mt 25, 21).

Aquele sentimento geral que a alma experimenta em seu primeiro encontro com Deus é gradualmente delineado e forjado. Em sequência, cada um dos atributos divinos pode ser melhor conhecido e melhor experimentado. A alma pode experimentá-los cada vez mais intimamente e de forma consciente, tendendo então a ser aquilo que se ama. Neste caso, as coisas tornam-se ainda mais fáceis porque Deus fez da alma a sua morada, está ao alcance das suas aspirações. Assim que Ele se manifesta, a vontade impele a alma ao seu encontro, tomando-o para si com todas as suas forças. Ocorre então um processo de deificação consciente da alma, que pode ser genérica e confusa ou mais precisa e clara, expressa pela dimensão da comunhão da Fortaleza, Sabedoria, Bondade, Misericórdia ou qualquer outro atributo de Deus. Que também se expressa como uma união, envolvendo a Trindade Santa ou apenas uma das Três Pessoas em particular. Neste caso a alma, ao assimilar uma certa Pessoa da Santíssima Trindade, busca ser um reflexo dela e agir da mesma forma que ela em todas as suas atitudes e manifestações.

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte III - A União com Deus; tradução do autor do blog)