domingo, 20 de março de 2022

EVANGELHO DO DOMINGO

'O Senhor é bondoso e compassivo' (Sl 102)

 20/03/2022 - Terceiro Domingo da Quaresma 

17. A FIGUEIRA ESTÉRIL 


Neste Terceiro Domingo da Quaresma, o Evangelho nos exorta a viver contínua e decididamente o caminho da plena conversão. E a busca da conversão exige de nós o afastamento incondicional do pecado e a via da santificação plena, como receptáculos abertos a toda a graça de Deus. Entre a retidão de nossos propósitos e a misericórdia do Pai, encontra-se o nosso lugar no portal da eternidade.

E Jesus nos fala primeiro que a grande tragédia humana é o pecado: 'Vós pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem sofrido tal coisa?' (Lc 13,2). Jesus falava dos galileus que tinham sido assassinados no templo por ocasião da Páscoa, a mando de Pilatos. Ele mesmo responderia que não, da mesma forma que não eram mais pecadores as 18 pobres vítimas da queda da torre de Siloé. A justiça divina não é amalgamada pelo castigo em si, mas pela resistência persistente e obstinada aos tesouros da graça. Não são desgraçados os que morrem em tragédias humanas, são miseráveis os que perdem a alma e a vida eterna consumidos na tragédia pessoal de apenas querer ganhar o mundo. 'Se não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo' (Lc 13, 5).

Jesus ratifica estes ensinamentos com a parábola da figueira estéril, que não produz bons frutos, ano após ano, símbolo da alma fechada a todas as graças recebidas. Mas o Senhor busca incessantemente a volta da ovelha desgarrada e a espera e a consome de favores e bênçãos, porque o 'Senhor é indulgente, é favorável, é paciente, é bondoso e compassivo' (Sl 102). É como o vinhateiro que nunca descuida da planta bruta, cultiva o solo, dispõe o adubo, rega a terra, acompanha ciosa e pacientemente os seus primeiros frutos. No nosso caminho de vida espiritual, o vinhateiro é o próprio Cristo, é Nossa Senhora, é a Santa Igreja, são os santos intercessores, é o nosso próprio Anjo da Guarda. Um derramamento abundante de graças à espera de nosso arrependimento sincero, de nossa dor ao pecado, de nossa conversão definitiva.

Mas o Evangelho termina também com uma determinação explícita: 'Se (a figueira) não der (fruto), então tu a cortarás’ (Lc 13,9). Assim, uma vez desprezados todos os limites da graça e tornados vãos todos os esforços do vinhateiro, a figueira torna-se inútil e a tragédia humana se consome na perda eterna das almas criadas para a glória de Deus.

sábado, 19 de março de 2022

19 DE MARÇO - SÃO JOSÉ

  

São José, esposo puríssimo de Maria Santíssima e pai adotivo de Jesus Cristo, era de origem nobre e sua genealogia remonta a Davi e de Davi aos Patriarcas do Antigo Testa­mento. Pouquíssimo sabemos da vida de José, além de suas atividades de carpinteiro em Nazaré. Mesmo o seu local de nascimento é ignorado: poderia ser Nazaré ou mesmo Belém, por ter sido a cidade de Davi. Ignora-se igualmente a data e as condições da morte de São José, mas existem fortes razões para afirmar que isso deve ter ocorrido an­tes da vida pública de Jesus. Com certeza, José já teria falecido quando da morte de Jesus, uma vez que não se explicaria, então, a recomendação feita aos cuidados mútuos à mãe e ao filho, dados, da cruz, por Jesus a Maria e a São João Evangelista.

Não existem quaisquer relíquias de São José e se desconhece o local do seu sepultamento. Muitos pais da Igreja defendiam que, devido à sua missão e santidade, São José, a exemplo de São João Batista, teria sido consagrado antes do nasci­mento e já gozava de corpo e alma da glória de Deus no céu, em companhia de Jesus e sua santíssima Esposa. As virtudes e as graças concedidas a São José foram extraordinárias, pela enorme missão a ele confiada pelo Altíssimo. A dig­nidade, humildade, modéstia e pobreza, a amizade íntima com Je­sus e Maria e o papel proeminente no plano da Redenção, são atributos e méritos extraordinários que lhe garantem a influência e o poder junto ao tro­no de Deus. Pedir, portanto, a intercessão de São José, é garantia de ser ouvido no mais alto dos céus. Santa Tereza, ardorosa devota de São José, dizia: 'Não me lembro de ter-me dirigido a São José sem que tivesse obtido tudo que pedira'.

A devoção a São José na Igreja Ca­tólica é antiquíssima. A Igreja do Oriente celebra esta festa, desde o século nono, no domingo depois do Natal. Foram os carmelitas que in­troduziram esta solenidade na Igreja Ocidental; os franciscanos, já em 1399, festejavam a comemoração do Santo Pa­triarca. Xisto IV inseriu-a no bre­viário e no missal; Gregório XV ge­neralizou-a em toda a Igreja. Cle­mente XI compôs o ofício, com os hinos, para a celebração da Festa de São José em 19 de março e colocou as missões na China sob a proteção do Santo. Pio IX introdu­ziu, em 1847, a festa do Patrocínio de São José e, em 1871, declarou-o Pa­droeiro da Igreja; muitos pontífices promoveram solenemente a devoção a São José, por meio de orações, homilias, encíclicas e devoções diversas.

sexta-feira, 18 de março de 2022

TESOURO DE EXEMPLOS (137/139)


137. DOM BOSCO CONFESSA UM DEFUNTO

Havia um jovem, chamado Carlos, que só pensava em viver e divertir-se. Mas eis que cai doente, tão doente que o médico lhe dá apenas algumas horas de vida. Quis confessar-se a Dom Bosco, que lhe era muito afeiçoado, mas Dom Bosco não pôde ir. Confessou-se com outro sacerdote, mas a confissão não foi sincera, pois ocultou faltas graves.

E o jovem morreu... Comunicaram logo a Dom Bosco que o seu querido Carlito falecera. Nesse momento uma voz misteriosa parecia segredar a Dom Bosco que o infeliz não se confessara bem. Saltou do leito, correu à casa do defunto. Ali estava Carlito imóvel, amarelo, endurecido: ia ser colocado no caixão. Dom Bosco ordenou que todos deixassem o aposento; ali só ficaram o santo e o cadáver.

Dom Bosco, falando ao ouvido do defunto, disse:
➖ Carlito!
O rapaz abriu os olhos e fitou-os em seu santo diretor.
➖ Onde estiveste? - perguntou-lhe o servo de Deus.
➖ Padre, numa região misteriosa e desconhecida. Vi muitos demônios e todos me queriam arrastar ao inferno. Diziam que tinham direito sobre mim.
➖ Filho, é porque não te confessaste bem. Ocultaste um pecado por vergonha, não é verdade?
➖ Sim, padre; mas agora quero declará-lo.

E o rapaz confessou com grande humildade seus pecados e sacrilégios.
➖ Padre, se não fôra esta grande misericórdia de Deus, eu estaria perdido para sempre.
Dom Bosco, erguendo a destra, deu-lhe a absolvição. Recebeu-a o jovem com grande recolhimento e na atitude da mais profunda gratidão. O santo abriu a porta e disse aos que esperavam do lado de fora:
➖ Podem entrar.

Entraram e lançaram um grito de surpresa e de terror. O morto estava sentado na cama. Parentes e amigos caíram de joelhos, mudos de assombro.
Dom Bosco inclinou-se e disse ao ouvido do jovem:
➖ Carlito, agora que estás na graça de Deus, que é que desejas: viver ou morrer?
➖ Padre - respondeu o rapaz - quero morrer.
Enquanto o santo lhe dava a bênção, Carlito deixava cair a cabeça sobre o travesseiro, juntava as mãos sobre o peito, fechava os olhos e... morria.

138. O FILÓSOFO E O BARQUEIRO

Um barqueiro transportava um filósofo em sua barca. Durante a travessia, disse o filósofo ao barqueiro:
➖ Então, meu velho, você sabe alguma coisa?
➖ Eu? Sei remar e nadar.
➖ Não sabe filosofia?
➖ Nunca ouvi falar disso.
➖ Não sabe astronomia?
➖ Não, senhor.
➖ Não conhece a gramática?
➖ Também não, senhor.

E assim foi o filósofo perguntando muitas coisas e o barqueiro respondendo:
➖ Não sei nada disso.
➖ Pois, assim, você perdeu a metade da vida, acrescentou o filósofo.

Nisso, distraídos pela conversa, deram contra um rochedo, partiu-se a barca e os dois naufragaram. O barqueiro, nadando, alcançou a margem; ao passo que o filósofo se afogava. O barqueiro, malicioso, gritou-lhe:
➖ Senhor filósofo, não sabe nadar?
➖ Não.
➖ Ah! não sabe? Então o senhor é um infeliz; perdeu a vida inteira. Suas astronomias e filosofias não lhe servem para nada.

Isto mesmo se pode dizer dos que sabem tudo deste mundo, menos a doutrina cristã, pois a ciência mais apreciada é que o homem bem acabe: porque, no fim da jornada, aquele que se salva, sabe e o que não se salva, não sabe nada.

139. O SOLDADO E O OVO

A pessoa que sabe sofrer com paciência é semelhante a um anjo. Conta Santiago que, num hospital servido por Irmãs de Caridade, achava-se um soldado em tratamento. Certo dia pediu-lhe trouxessem um ovo cozido. Poucos instantes após uma das Irmãs servia o enfermo o ovo cozido; mas aquele indivíduo, querendo, ao que parece, provar a paciência da religiosa, rejeitou o ovo bruscamente, dizendo:
➖ Está duro demais.

Retirou-se a Irmã em silêncio e, depois de alguns minutos, trouxe outro ovo; mas o doente rejeitou-o de novo, alegando:
➖ Está mole demais.

Sem mostrar o menor indício de impaciência, foi a Irmã, pela terceira vez, à copa e trouxe ao soldado um vaso com água fervente e um ovo fresco e disse-lhe com toda calma:
➖ Aqui tem o senhor tudo que é necessário; prepare o ovo do modo que lhe agradar.

Essa paciência inalterável da boa religiosa causou ao soldado tal impressão, que não pôde deixar de exclamar:
➖ Agora compreendo que há um Deus no céu, uma vez que há tais anjos na terra.
Por aí se vê que, pela paciência, pode-se fazer um grande bem ao próximo.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

quinta-feira, 17 de março de 2022

ORAÇÃO DE VISITA AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO

 

Meu Senhor Jesus Cristo, que pelo amor que tendes aos homens, permaneceis noite e dia nesse Sacramento, todo cheio de bondade e de misericórdia, chamando, esperando e acolhendo a todos os que vêm visitar-vos: eu creio que estais realmente presente no Sacramento do Altar; adoro-vos do abismo do meu nada e vos agradeço todas as graças que me tendes dispensado até hoje, especialmente a de vos terdes dado a mim neste Sacramento, de me terdes concedido por advogada vossa Mãe Maria Santíssima e de me haverdes chamado para visitar-vos nesta igreja. 

Adoro e saúdo o vosso Coração amantíssimo e o faço por três fins: primeiro para vos agradecer tão grande dom; segundo, para reparar as injúrias que recebeis de vossos inimigos neste Sacramento de Amor; terceiro, para adorar-vos em todos os lugares da terra, onde permaneceis menos honrado e mais abandonado. Meu Jesus, amo-vos de todo o meu coração. Arrependo-me de ter ofendido tantas vezes a vossa bondade infinita. Proponho, com o auxilio da vossa divina graça, nunca mais vos ofender. 

E agora, miserável como sou, consagro-me inteiramente a Vós e vos ofereço o meu coração, a minha vontade e tudo o que possuo. De agora em diante fazei de mim o que for do vosso agrado. Eu não vos peço e não quero senão o vosso amor, a perseverança final e o cumprimento perfeito da vossa vontade. 

Recomendo-vos as almas do purgatório, particularmente as que foram mais devotas do Santíssimo Sacramento e de Maria Santíssima. Recomendo-vos também todos os pobres pecadores. Finalmente, ó meu amado Salvador, uno todos os meus afetos aos de vosso Coração amantíssimo, e assim, unidos ofereço-os ao vosso Eterno Pai e lhe peço em vosso nome que, por vosso amor, queira aceitá-los e atendê-los. Amém. 

(300 dias de indulgência)

terça-feira, 15 de março de 2022

A FÉ EXPLICADA: PODEMOS FICAR ENTEDIADOS NA ETERNIDADE DO CÉU?


Não, uma alma eleita não pode, nem na mais remota circunstância, ficar 'entediada' das glórias celestes ou da Visão Beatífica. Isso é algo tão absurdo, mais absurdo do que pretender colocar as águas de todos os oceanos da terra em um único e simples copo. Porque Deus de Deus, Luz da Luz - a onipotência divina - não é passível de mensuração pelo tempo, pela percepção de sentidos exteriores, pela miserabilidade da natureza humana.

Deus não pode entediar as almas dos eleitos - porque é Deus. E, em Deus, não existe amplitude, existe plenitude. E, à falta dessa percepção e esmagados pelo furor da deusa razão, os homens mensuram Deus e as coisas de Deus, incluindo o conhecimento, o amor ou a onipotência, sob a ótica humana de um deus de finitude provável. Sob a tutela desse diapasão, constroem então uma ideia falsificada e infantil da eternidade como sendo um tempo sem fim. Eternidade não é um tempo sem fim.

A eternidade não é uma medida de tempo que passa. Se fosse isso, não seria eternidade e Deus não seria Deus. Eternidade é um atributo de Deus e, tal como Deus, não teve início e nunca terá fim. Este conceito, aplicado aos homens, assume um atributo humano adicional - de circunstância. A minha eternidade - ou a eternidade de qualquer homem - teve um início definido (o momento da incorporação de uma alma ao meu corpo nascituro) e jamais terá fim. 

Quando, pois, nos tornamos inseridos na eternidade de Deus, somos eternos de um Deus eterno, infinitamente imutável. Não há um tempo que passa, mas um atributo que não passa. A eternidade com Deus é o momento sublimado da graça - 'coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou, tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam' (I Cor 2,9) e infinitamente imutável - o perpétuo momento.

Não há no Céu 'momentos'; não há no Céu dias e noites, manhãs de inverno ou noites de verão. Não há nas moradas eternas um dia que a alma possa estar 'assim' e um outro dia em que ela possa estar 'não bem assim'. A plenitude divina não pressupõe 'mais' ou 'menos', nem 'pouco' ou muito': é tudo, sempre, sempre, sempre. A santidade plena aniquila por completo a necessidade ou a possibilidade de quaisquer estímulos exteriores ou de quaisquer manifestações do que seriam 'vontade' ou 'pensamento'. 

No perpétuo momento, a alma está saciada infinitamente de Deus e em Deus, em todas as suas aspirações, em todas as suas vontades, em todos os seus pensamentos, em todos os seus atributos, em todas as suas necessidades. No momento perpétuo, Deus está presente em plenitude na alma, preenchendo todas as suas dimensões, espaços, tempos e aspirações, em Verdade, Conhecimento, Justiça e Caridade. E também e principalmente em Amor, Amor de eternidade.

segunda-feira, 14 de março de 2022

A VIDA OCULTA EM DEUS: PUREZA, FORÇA E RIQUEZA DESTE AMOR


Como é puro o vosso amor, ó meu Deus! É o amor de um espírito por outro espírito, que ignora o que São Paulo chamou de carne, e que esta também ignora. Pois este amor não pertence ao mundo dela; está infinitamente acima dela. Mais do que isso, este amor declara guerra à carne, e uma guerra implacável. Para viver, para que possa desenvolver livremente em nós, requer que a carne desfaleça, resseque e morra. Nessa batalha misteriosa, nossa alma é, ao mesmo tempo, palco de teatro e de recompensas. Mil vezes feliz a alma que, para se unir a Vós, não teve que sofrer aquelas excruciantes, mas tão necessárias purificações de amor!

Como é poderoso o vosso amor, ó meu Deus! Podemos confiar nele com certeza absoluta, porque ele nunca nos falta. A alma que se une ao vosso amor torna-se tão firme e imutável como ele e, assim, até pode sentir em suas faculdades sensíveis o inevitável fluxo e refluxo das emoções, mas não tem o íntimo perturbado por elas. Descansa no terreno firme deste amor. Se a tentação ousar perturbar a sua paz, a alma interior só precisa se refugiar mais firmemente a este amor divino, reduzindo a sua ameaça à impotência, até que desapareça por completo. O vosso amor é refúgio e fortaleza; nele a alma está segura e nada poderá perturbá-la. Está protegida por todos os lados; está resguardada em todos os lugares. É como uma nuvem, brilhante e sombria ao mesmo tempo, que a guia e a mantém protegida. A alma sente-se verdadeiramente envolvida por uma presença misteriosa que a fortalece, que lhe dá conforto e segurança, que a vivifica plenamente.

Como é abundante o vosso amor, ó meu Deus! É um tesouro que contém todos os bens e que é inesgotável. Tudo dele procede; é o primeiro dom totalmente gratuito e eivado das graças de Deus. Por que Vós me amais tanto, ó meu Deus? Só porque o quereis e porque sois bom. Ao me dar o vosso Coração, destes tudo a mim: não sois vós o poder infinito? E esse poder infinito não está a serviço do vosso Amor?

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte III - A União com Deus; tradução do autor do blog)