segunda-feira, 10 de janeiro de 2022
domingo, 9 de janeiro de 2022
EVANGELHO DO DOMINGO
'Que o Senhor abençoe, com a paz, o seu povo!' (Sl 28)
09/01/2022 - Festa do Batismo do Senhor
7. O BATISMO DE JESUS
No Evangelho do Batismo do Senhor, encerra-se na liturgia o tempo do Natal. João Batista, nas águas do Jordão, realizava um batismo de penitência, de ação meramente simbólica, pois não imprimia ao batizado o caráter sobrenatural e a graça santificante imposta pelo Batismo Sacramental, instituído posteriormente por Nosso Senhor Jesus Cristo: 'Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo' (Lc 3, 16).
O Batismo de Jesus constitui, ao contrário, um ato litúrgico por excelência, pois o Senhor se manifesta publicamente em sua missão salvífica. Chega ao fim o tempo dos Profetas: o Messias tão anunciado torna-se realidade diante o Precursor nas águas do Jordão. E o batismo de Jesus é um ato de extrema humildade e de misericórdia de Deus: assumindo plenamente a condição humana, Jesus quis ser batizado por João não para se purificar pois o Cordeiro sem mácula alguma não necessitava do batismo, mas para purificar a humanidade pecadora sob a herança dos pecados de Adão. Ao santificar as águas do Jordão e nelas submergir os nossos pecados, Jesus santificou todas as águas do Batismo Sacramental de todos os homens assim batizados.
Ao receber o batismo de João, Jesus rezava: 'E, enquanto rezava...' (Lc 3, 21). E, enquanto Jesus rezava, 'o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre Jesus...' (Lc 3, 21-22). O Espírito Santo manifesta-se diante da oração proferida na intimidade com o Pai, sem anelos de vanglória e clamor. Oração humilde, profunda, de absoluta confiança e louvor ao Pai, que induz a primeira manifestação da Santíssima Trindade, ratificada pela pomba e pela voz que vem do Céu: 'Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu bem-querer' (Lc 3, 22). No batismo do Jordão, manifesta-se em plenitude a divindade de Cristo.
Eis a síntese da nossa fé cristã, legado de Deus a toda a humanidade, sem distinção de pessoas: 'ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença' (At 10, 35). No Jordão, o céu se abriu para o Espírito Santo descer sobre a terra. No Jordão, igualmente, manifestou-se por inteiro o perdão e a misericórdia de Deus e a graça da salvação humana por meio do batismo. E, com o batismo de Jesus, tem início a vida pública do Messias preanunciado por gerações. Esta liturgia marca, portanto, o início do Tempo Comum, período em que a Igreja acompanha, a cada domingo e a cada semana, as pregações, ensinamentos e milagres de Jesus sobre a terra, o tempo em que o próprio amor de Deus habitou em nós.
sábado, 8 de janeiro de 2022
SOBRE A MALEDICÊNCIA
Três vidas diferentes temos nós: a vida espiritual, que a graça divina nos confere; a vida corporal, de que a alma é o princípio; e a vida social, que repousa os seus fundamentos na boa reputação. O pecado nos faz perder a primeira, a morte nos tira a segunda e a maledicência nos leva a terceira. A maledicência é uma espécie de assassinato e o maldizente torna-se réu de um tríplice homicídio espiritual: o primeiro e o segundo diz respeito a sua alma e à alma da pessoa com quem se fala; e o terceiro, com respeito à pessoa de quem se deturpa o bom nome.
São Bernardo diz, por isso, que os que cometem a maledicência e os que a escutam tem o demônio no corpo; aqueles na língua e estes no ouvido, e Davi, falando dos maldizentes, diz: 'Aguçaram a sua língua como a das serpentes', querendo significar que, à semelhança da língua da serpente, que, como observa Aristóteles, tem duas pontas, sendo fendida no meio, também a língua do maldizente fere e envenena o coração daquele com quem está falando e a reputação daquele sobre quem se conversa.
Peço-te encarecidamente que nunca fales mal de ninguém, nem direta nem indiretamente. Guarda-te conscientemente de imputar falsos crimes ao próximo, de descobrir os ocultos, de aumentar os conhecidos, de interpretar mal as boas obras, de negar o bem que sabes que alguém possui na verdade ou de atenuá-lo por tuas palavras; tudo isso ofende muito a Deus, de modo particular o que encerra alguma mentira, contendo então sempre dois pecados: o de mentir e o de prejudicar o próximo.
Aqueles que para maldizer começam elogiando o próximo são ainda mais maliciosos e perigosos. Confirmo, dizem eles, que estimo muito a fulano, que, aliás, é um homem de bem, mas para dizer a verdade não teve razão em fazer isso e aquilo. Aquela moça é muito boa e virtuosa, mas deixou-se enganar. Não está vendo a astúcia? Quem quer disparar um arco puxa-o primeiro para si o quanto pode, mas é só para arremessá-lo com mais força. Assim parece que o maldizente primeiro retira uma fofoca que já tinha na língua, mas faz isso somente para que lançando-a depois como uma flecha, com maior malícia, penetre mais profundamente nos corações...
(Excertos da obra Filoteia, de São Francisco de Sales)
sexta-feira, 7 de janeiro de 2022
A VIDA OCULTA EM DEUS: DIGNIDADE E HARMONIA DA ALMA INTERIOR
Quando nos deparamos com uma alma interior, ficamos impressionados com a sua dignidade, desenvoltura e graça. Acreditaríamos que ela teria sangue real, o que em si é verdade, uma vez que ela é filha de um rei e, portanto, é rainha. Jesus não é o Rei dos reis? Ela não é a sua esposa? Por que, então, tal digressão? Na alma interior, tudo participa dessa nobreza divina que é revelada por suas palavras, seus gestos, seus movimentos, seus menores passos, que são polidos, discretos e firmes. Ao caminhar, não faz alarde e nem atrai a atenção e, no entanto, agrada, atinge o seu fim sem esforço. Mal notamos o que está fazendo, suas ações são ordenadas e silenciosas, têm o senso de medida. Age como se tem que agir. Fala como convém falar. Mantém-se calada no momento adequado. Mas o exterior é apenas um reflexo. O interior é o que Deus vê e o que realmente importa e o que é verdadeiramente belo. Um interior ordenado como um todo e em tudo.
Nesta alma, até os menores movimentos interiores são delicados e agradam por completo ao vosso julgamento. Todos eles são inspirados pelo vosso amor, princípio e fim de suas aspirações. E também a sua regra. Sim, todos os pensamentos desta alma são pensamentos de amor e o mesmo se dá com todos os seus desejos e com todas as suas ações.
Uma harmonia profunda reina nesta alma. O Espírito Santo, um artista com mãos hábeis, sempre a moldou. Da vontade, plástica como o barro e firme como o ouro, Ele fez um colar irrepreensível que mantém todas as outras faculdades perfeitamente unidas entre si. As faculdades sensíveis servem às faculdades internas e as obedecem. Estas, por sua vez, estão sob o comando daquela vontade na qual o amor divino penetrou tão profundamente. E todo esse mundo interior assim ordenado tem algo firme, gracioso e forte que agrada aos vossos olhos, ó meu Deus; é como uma participação nessa vossa simplicidade harmoniosa que sustenta - atrevo-me a dizê-lo - as vossas inumeráveis e infinitas perfeições. Basta uma única palavra para expressar tudo quando vos consideramos sob esse ponto de vista: 'caridade' - a mesma palavra que distingue e nos revela o íntimo da alma interior.
(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte III - A União com Deus; tradução do autor do blog)
quinta-feira, 6 de janeiro de 2022
A ADORAÇÃO DOS TRÊS REIS MAGOS
Mas, além da narrativa tão sobejamente conhecida, é importante ressaltar que o ato de adoração dos reis magos diante o Menino-Deus foi um ato de prostração de joelhos. Três reis, de origens incertas e longínquas, símbolos e representantes dos reis de toda a terra e da soberania sobre todas as nações (Sl 71, 11), dotados de poderes humanos e munidos de graças sobrenaturais, prostraram-se diante de Jesus Menino e O adoraram. De joelhos, de joelhos no chão.
Um antigo Pai da Igreja dizia que o diabo não tem joelhos e, em sendo assim, não pode ajoelhar-se, não pode prostrar-se, não pode adorar. A essência do mal é a não adoração, é a não prostração de joelhos. Que a Festa da Epifania do Senhor nos lembre deste grande exemplo dos reis magos: prostrar-nos de joelhos diante o Menino-Deus; dar-nos conta que temos joelhos e somos Filhos da Luz e, assim, inclinados e reclinados diante de Deus, possamos ser testemunhas e ofertas puras de sua santa redenção.
quarta-feira, 5 de janeiro de 2022
O NEGÓCIO CHAMADO SALVAÇÃO ETERNA
O negócio da eterna salvação é, sem dúvida, o mais importante, e, contudo, é aquele de que os cristãos mais se esquecem. Não há diligência que não se efetue, nem tempo que não se aproveite para obter algum cargo, ganhar uma demanda, ou contratar tal casamento… Quantos conselhos, quantas precauções se tomam! Não se come, não se dorme! E para alcançar a salvação eterna? Que se faz? Que procedimento se segue?
Nada se costuma fazer; ao contrário, tudo o que se faz é para perdê-la, e a maior parte dos cristãos vive como se a morte, o juízo, o inferno, a glória e a eternidade não fossem verdades da fé, mas apenas fábulas inventadas pelos poetas. Quanta aflição quando se perde um processo ou uma colheita e quanto cuidado para reparar o prejuízo! Quando se extravia um cavalo ou um cão, quantas diligências para encontrá-los. Muitos perdem a graça de Deus, e entretanto dormem, riem-se e gracejam! Coisa estranha, por certo! Não há quem não core ao passar por negligente nos negócios do mundo, e a ninguém causa rubor olvidar o grande negócio da salvação, que mais do que tudo importa. Confessam que os santos são verdadeiros sábios porque só trabalharam para salvar-se, enquanto eles atendem a todas as coisas do mundo, sem se importar com sua alma. Mas vós — disse São Paulo — vós, meus irmãos, pensai unicamente no magno assunto de vossa salvação, pois constitui o negócio da mais alta importância.
Persuadamo-nos, pois, de que a felicidade eterna é para nós o negócio mais importante, o negócio único, o negócio irreparável se não o pudermos realizar. É, sem contestação, o negócio mais importante, porque é das mais graves consequências, em vista de se tratar da alma, e, perdendo-se esta, tudo está perdido. Devemos estimar a alma — disse São João Crisóstomo — como o mais precioso dos bens. Para compreender esta verdade, basta considerar que Deus sacrificou seu próprio Filho à morte para salvar as nossas almas (Jo 3,16). O Verbo Eterno não vacilou em resgatá-las com seu próprio sangue (1Cor 6,20). De maneira que — disse um Santo Padre, — parece que o homem vale tanto como Deus.
Daí esta palavra de Nosso Senhor Jesus Cristo: 'Que dará o homem em troco de sua alma'? (Mt 16,26). Se tem tamanho valor a alma, qual o bem do mundo que poderá dar em troca o homem que a vir a perder? Razão tinha São Filipe Néri em chamar de louco ao homem que não trabalhava na salvação de sua alma. Se houvesse na terra homens mortais e homens imortais e aqueles vissem estes se aplicarem afanosamente às coisas do mundo, procurando honras, riquezas e prazeres terrenos, dir-lhes-iam sem dúvida: 'Quanto sois insensatos! podeis adquirir bens eternos e só pensais nas coisas miseráveis e passageiras, condenando-vos a penas eternas na outra vida! Deixai-os, pois; nesses bens só devem pensar os desventurados que, como nós, sabem que tudo se acaba com a morte!'
Isto, porém, não é assim: todos somos imortais. Como se haverá, portanto, aquele que, por causa dos miseráveis prazeres do mundo, perder a sua alma? Como se explica — disse Salviano — que os cristãos creiam no juízo, no inferno, na eternidade, e vivam sem receio de nenhuma dessas coisas? Como?
Ah! meu Deus! De que me serviriam tantos anos de vida que me concedestes para adquirir a salvação eterna? Vós, Redentor meu, resgatastes minha alma com o vosso sangue e me entregastes para que a salvasse; entretanto eu apenas me tenho aplicado em perdê-la, ofendendo-vos, que tanto me haveis amado! De todo o coração, agradeço-vos que ainda me concedeis tempo para reparar o mal que fiz.
Perdi a alma e vossa santa graça; arrependo-me, Senhor, e detesto sinceramente os meus pecados. Perdoai-me, pois que estou firmemente resolvido a perder todos os bens, inclusive a vida, mas não quero perder a vossa amizade. Amo-vos sobre todas as coisas e tenho a firme vontade de amar-vos sempre, ó Sumo Bem, digno de infinito amor! Ajudai-me, meu Jesus, a fim de que esta minha resolução não seja semelhante a meus propósitos anteriores, que foram outras tantas infidelidades. Fazei que morra, antes que volte a ofender-vos e deixe de vos amar. Ó Maria, minha esperança, salvai-me, obtendo para mim o dom da perseverança!
(Excertos da obra 'Preparação para a Morte', de Santo Afonso Maria de Ligório)
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