quarta-feira, 30 de junho de 2021

A VIDA OCULTA EM DEUS: GRAÇAS MÍSTICAS E ATIVIDADE EXTERIOR


Antes mesmo de conceber as graças mais elevadas da oração, Deus começa absorvendo todas as atividades exteriores da alma. Ocorre um processo inverso. Deus nos faz distrair das criaturas e das nossas ocupações assim como, infelizmente, nossas ocupações e as criaturas habitualmente nos distraem de Deus. Quando o nosso modo de vida não permite esse estado de absorção, Deus busca alguma compensação e age, assim, pelo menos durante a oração. Exemplo é o caso de Santa Catarina de Ricci: nem a santa e nem as suas superioras perceberam o que estava passando com ela, pois tratava-se de uma união completa.

Em seguida, a alma padece de um estado de desconforto. A ação de Deus interfere na ação da alma sem a suprimir inteiramente. E, finalmente, Deus, o senhor absoluto da alma, devolve a ela a posse completa e perfeita das suas faculdades, sem fazê-la excluída da união divina. Produzem-se então obras extraordinárias e desproporcionais às forças humanas, como as fundações criadas por  Santa Teresa ou pela Venerável Maria da Encarnação.

A alma totalmente entregue a Deus e ao serviço dos outros vive, ao mesmo tempo e sem esforço, em dois mundos diferentes. Quando nos casos de união total ocorre o êxtase, não se tem mais o uso dos sentidos. Mas que não se confunda levitação ou a rigidez dos membros com êxtase, uma vez que esses fenômenos não são necessários. Pode ocorrer um alheamento quase completo dos sentidos sem que os outros percebam. Pode-se acreditar até mesmo num certo entorpecimento, porque a vida física está diluída e os sentidos encontram-se fragilizados e contidos, de modo que até os mais próximos podem não aperceber de nada.

Este estado pode durar pouco tempo ou, com a recuperação alternada das faculdades, pode durar muito tempo. Mas o ato de união não pode durar indefinidamente na terra; a união é atual e constitui um estado que supõe um ato infundido do amor de Deus. Podemos compará-lo a um riacho subterrâneo ou ao calor de brasas muito vivas sob cinzas. De vez em quando, feixes de chamas emanam desta fornalha mas, se as chamas fossem mantidas continuamente, a própria vida não poderia resistir a elas. São João da Cruz assim o diz expressamente. Porém, a fornalha é fogo vivo e sua irradiação pode ser imensa.

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte II -  A Ação de Deus; tradução do autor do blog)

terça-feira, 29 de junho de 2021

29 DE JUNHO - FESTA DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO

'Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo' (Mt 16,16)

'Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé' (II Tm 4,7)

Excertos da Homilia do Papa João Paulo II, na Solenidade de São Pedro e São Paulo, em 29/06/2000

1.'E vós, quem dizeis que Eu sou?' (Mt 16, 15). Jesus dirige aos discípulos esta pergunta acerca da sua identidade, enquanto se encontra com eles na Alta Galileia. Muitas vezes acontecera que foram eles a interrogar Jesus; agora é Ele quem os interpela. A sua pergunta é específica e espera uma resposta. Simão Pedro toma a palavra em nome de todos: 'Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo' (Mt 16, 16). A resposta é extraordinariamente lúcida. Nela se reflete de modo perfeito a fé da Igreja. Nela nos refletimos também nós. De modo particular, reflete-se nas palavras de Pedro, o Bispo de Roma, por vontade divina o seu indigno sucessor.

2. 'Tu és o Cristo!'. À confissão de Pedro, Jesus replica: 'És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne nem o sangue quem to revelou, mas o Meu Pai que está nos céus' (Mt 16, 17).

És feliz, Pedro! Feliz, porque esta verdade, que é central na fé da Igreja, não podia emergir na tua consciência de homem, senão por obra de Deus. 'Ninguém', disse Jesus, 'conhece o Filho senão o Pai, como ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar' (Mt 11, 27). Reflitamos sobre esta página evangélica particularmente densa: o Verbo encarnado revelara o Pai aos seus discípulos; agora é o momento em que o próprio Pai lhes revela o seu Filho unigênito. Pedro acolhe a iluminação interior e proclama com coragem: 'Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!'

Estas palavras nos lábios de Pedro provêm do profundo do mistério de Deus. Revelam a verdade íntima, a própria vida de Deus. E Pedro, sob a ação do Espírito divino, torna-se testemunha e confessor desta soberana verdadeA sua profissão de fé constitui assim a sólida base da fé da Igreja: 'Sobre ti edificarei a minha Igreja' (Mt 16, 18). Sobre a fé e a fidelidade de Pedro está edificada a Igreja de Cristo.

3. 'O Senhor assistiu-me e deu-me forças a fim de que a palavra fosse anunciada por mim e os gentios a ouvissem' (2 Tm 4, 17). São palavras de Paulo ao fiel discípulo Timóteo: escutamo-las na Segunda Leitura. Elas dão testemunho da obra nele realizada pelo Senhor, que o tinha escolhido como ministro do Evangelho, 'alcançando-o' na via de Damasco (Fl 3, 12). Envolvido numa luz fulgurante, o Senhor se lhe havia apresentado, dizendo:  'Saulo, Saulo, por que Me persegues?' (At 9,4), enquanto uma força misteriosa o lançava por terra.

'Quem és Tu, Senhor?', perguntara Saulo. 'Eu sou Jesus, a quem tu persegues!'. Foi esta a resposta de Cristo. Saulo perseguia os seguidores de Jesus e Jesus fez-lhe tomar consciência de que era Ele mesmo a ser perseguido neles. Ele, Jesus de Nazaré, o Crucificado, que os cristãos afirmavam ter ressuscitado. De Damasco, Paulo iniciará o seu itinerário apostólico, que o levará a defender o Evangelho em tantas partes do mundo então conhecido. O seu impulso missionário contribuirá assim para a realização do mandato de Cristo aos Apóstolo: 'Ide, pois, ensinai todas as nações...' (Mt 28, 19).

4. Caríssimos Irmãos no Episcopado vindos para receber o Pálio, a vossa presença põe em eloquente ressalto a dimensão universal da Igreja, que derivou do mandato do Senhor: 'Ide... ensinai a todas as nações' (Mt 28, 19). Todas as vezes que vestirdes estes pálios, recordai, irmãos caríssimos que, como pastores, somos chamados a salvaguardar a pureza do Evangelho e a unidade da Igreja de Cristo, fundada sobre a 'rocha' da fé de Pedro. A isto nos chama o Senhor; esta é a nossa irrenunciável missão de guias previdentes do rebanho que o Senhor nos confiou.

5. A plena unidade da Igreja! Sinto ressoar em mim a recomendação de Cristo. Deus nos conceda chegarmos quanto antes à plena unidade de todos os crentes em Cristo. Obtenhamos este dom dos Apóstolos Pedro e Paulo, que a Igreja de Roma recorda neste dia, no qual se faz memória do seu martírio e, por isso, do seu nascimento para a vida em Deus. Por causa do Evangelho, eles aceitaram sofrer e morrer e se tornaram partícipes da ressurreição do Senhor. A sua fé, confirmada pelo martírio, é a mesma fé de Maria, a Mãe dos crentes, dos Apóstolos,  dos Santos  e Santas de  todos  os séculos.

Hoje a Igreja proclama de novo a sua fé. É a nossa fé, a imutável fé da Igreja em Jesus, único Salvador do mundo; em Cristo, o Filho de Deus vivo, morto e ressuscitado por nós e para a humanidade inteira.

São Pedro e São Paulo, rogai por nós!

segunda-feira, 28 de junho de 2021

O DOGMA DO PURGATÓRIO (X)

 

Capítulo X

Dores do Purgatório - Santa Catarina de Gênova - Santa Teresa - Padre Nieremberg -  A Dor da Perda 

Depois de termos ouvido os teólogos e os doutores da Igreja, ouçamos outros doutores: são santos que falam dos sofrimentos da outra vida e relatam o que Deus lhes deu a conhecer por comunicação sobrenatural. Santa Catarina de Gênova, em sua obra 'Tratado sobre o Purgatório' (cap. II, 8) diz: 'As almas suportam um tormento tão extremo que nenhuma língua pode descrevê-lo, nem o entendimento poderia conceber a menor noção disso, se Deus não o fizesse conhecido por uma graça particular'. 'Nenhuma língua' - acrescenta - 'pode expressar e nenhuma mente pode conceber qualquer ideia do que é o Purgatório. Quanto ao sofrimento, este é igual ao do Inferno'.

Santa Teresa, na obra 'Castelo da Alma', falando da dor da perda, assim se expressa: 'A dor da perda ou a privação da visão de Deus supera todos os sofrimentos mais lancinantes que podemos imaginar, porque as almas, impelidas em direção a Deus como para o centro de sua aspiração, são continuamente repelidas pela sua Justiça. Imagine-se um marinheiro naufragado que, depois de uma longa batalha contra as ondas, chega finalmente ao alcance da costa, apenas para se ver constantemente empurrado para trás por uma mão invisível. Que agonia torturante! No entanto, para as almas do Purgatório são mil vezes maiores!' (parte 6, cap. 11).

Padre Nieremberg, sacerdote da Companhia de Jesus e falecido em odor de santidade em Madri em 1658, relata um fato corrido em Treves e que foi reconhecido pelo Vigário Geral da diocese (de acordo com o padre Rossignolli em Merveilles, 69), como possuindo todas as características da verdade. Na Festa de Todos os Santos, uma jovem de rara piedade viu aparecer diante dela uma senhora conhecida que havia morrido algum tempo antes. A aparição estava vestida de branco, com um véu da mesma cor na cabeça, e segurando na mão um longo rosário, um símbolo da terna devoção que ela sempre professou em favor da Rainha dos Céus. Ela implorou a caridade de sua piedosa amiga, dizendo que tinha feito voto de que três missas fossem celebradas no altar da Virgem Maria e que, não tendo podido cumprir o seu voto, essa dívida aumentava seus sofrimentos. Ela então implorou que ela pagasse essa dívida em seu lugar. 

A jovem concedeu de bom grado a súplica que lhe fôra pedida e, depois de celebradas as três missas, a falecida apareceu de novo, exprimindo a sua alegria e gratidão. Ela sempre continuou a aparecer todos os meses de novembro, e quase sempre na igreja. Sua amiga a viu ali em adoração diante do Santíssimo Sacramento, dominada por um temor que nada pode dar ideia; ainda não podendo ver Deus face a face, ela parecia querer indenizar-se contemplando-o pelo menos sob as espécies eucarísticas. Durante o Santo Sacrifício da Missa, no momento da elevação, o seu rosto tornou-se tão radiante que parecia um serafim descido do céu. A jovem, cheia de admiração, declarou que nunca tinha visto algo tão bonito. 

Enquanto isso, o tempo passava e, não obstante as missas e orações oferecidas por ela, aquela alma sagrada permaneceu em seu exílio, longe dos Tabernáculos Eternos. No dia 3 de dezembro, festa de São Francisco Xavier, quando a sua protetora foi receber a comunhão na Igreja dos Jesuítas, a aparição a acompanhou até a Mesa Sagrada e ficou ao seu lado durante todo o tempo de ação de graças, como se para participar da a felicidade da Sagrada Comunhão e desfrutar da presença de Jesus Cristo. No dia 8 de dezembro, festa da Imaculada Conceição, ela retornou novamente, mas tão brilhante que a amiga não conseguia mais olhar para ela. Ela visivelmente se aproximava do prazo final de sua expiação. Finalmente, no dia 10 de dezembro, durante a Santa Missa, ela apareceu em um estado ainda mais maravilhoso. Depois de fazer uma profunda genuflexão diante do altar, ela agradeceu à piedosa menina por suas orações e subiu ao céu na companhia de seu anjo da guarda.

Algum tempo antes, esta alma sagrada havia feito saber que ela não havia sofrido nada mais do que a dor da perda ou da privação de Deus; mas ela acrescentou que essa privação lhe causou uma tortura intolerável. Esta revelação justifica as palavras de São Crisóstomo na sua 47ª Homilia: 'Imagina todos os tormentos do mundo e não encontrarás igual à privação da visão beatífica de Deus'.

Na verdade, a tortura da dor da perda, de que agora tratamos é, segundo todos os santos e todos os doutores da Igreja, muito mais aguda do que a dor dos sentidos. É verdade que, na vida presente, não podemos compreender isso, porque temos muito pouco conhecimento do Bem Soberano para o qual fomos criados; mas, na outra vida, aquele Bem inefável parece para as almas o que o pão é para o homem faminto ou a água cristalina para o que morre de sede, como a saúde é para o doente torturado pela longanimidade da doença; que faz excitar os seus desejos mais ardentes e que o atormentam sem nunca poder satisfazê-los.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)

domingo, 27 de junho de 2021

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Eu vos exalto, ó Senhor, pois me livrastes e preservastes minha vida da morte!' (Sl 29)

 27/06/2021 - Décimo Terceiro Domingo do Tempo Comum

31. A FÉ QUE MOVE MONTANHAS


O Evangelho desse domingo nos revela o encontro de duas mulheres com Jesus: uma jovem - a filha de Jairo - que morre para então ser tocada pelo Senhor da Vida; a outra -  mulher adulta que padece de um fluxo de sangue - que, morta pela dor e pelo sofrimento de uma enfermidade prolongada, será resgatada igualmente pelo Senhor da Vida. A primeira será levantada dos umbrais da morte: 'Menina, levanta-te!' (Mc 5,41), enquanto a segunda há de ser curada de sua enfermidade de muitos anos: 'Filha, a tua fé te curou. Vai em paz e fica curada dessa doença' (Mc 5, 34).

A primeira é uma menina de apenas 12 anos, vida perdida para quem apenas começava a florescer para a geração da vida; a outra, mulher feita, era outra vida perdida pela doença terrível que, por 12 anos, lhe roubava a fecundidade e o dom da maternidade. Por caminhos diferentes e por ações distintas do Senhor, a vida será restituída por completo às duas mulheres: 'levanta-te!' vai dizer imperativamente à primeira; 'sê curada!' vai expressar sem quaisquer rodeios ou condicionantes a cura completa e definitiva da mulher enferma.

'Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida' (Jo 14, 6) - assim Jesus se referiu diante dos homens. O Reino de Deus é um triunfo da vida da graça, movida pelos ditames da fé. Um chefe de sinagoga cai de joelhos e suplica a Jesus para curar a sua filha: 'Minha filhinha está nas últimas. Vem e põe as mãos sobre ela, para que ela sare e viva! (Mc 5, 22). A fé que move montanhas reconhece que basta ao Senhor tocar a menina... Uma mulher consumida por hemorragias vai mais longe ainda. A fé que move montanhas não precisa dizer nada e, por conceber-se impura, contenta-se tão somente em tocar as vestes de Jesus: 'Se eu ao menos tocar na roupa dele, ficarei curada' (Mc 5,28).

A fé que move montanhas é aquela que se basta: tocar Jesus, ser tocado por Jesus. A fé que se basta é aquela que nasce como fruto da confiança absoluta, do despojamento da vontade, da compreensão plena da pequenez humana. Em meio ao burburinho da multidão que o cerca ou envolvido pelo alvoroço da casa e da família transtornados pela presença da morte, o Senhor da Vida se manifesta por inteiro em favor daquelas duas mulheres, frágeis sim pelas limitações humanas, mas que, convertidas em exemplos da fé autêntica, tornaram-se modelos para a manifestação extremada da misericórdia de Deus. A fé que move montanhas torna possível testemunhar as grandes maravilhas que Deus pode fazer por nós.

sábado, 26 de junho de 2021

26 DE JUNHO - SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ

 


São Josemaria Escrivá de Balaguer nasceu em 09 de janeiro de 1902 em Barbastro, Espanha. Em 02 de outubro de 1928, durante um retiro espiritual em Madrid, concebeu e fundou o OPUS DEI, atualmente prelazia pessoal da Igreja Católica. A missão específica do Opus Dei é promover, entre homens e mulheres de todo o âmbito da sociedade, um compromisso pessoal de seguir a Cristo, de amor a Deus e ao próximo e de procura da santidade na vida cotidiana. Faleceu em Roma em 26 de junho de 1975. Foi beatificado em 17 de maio de 1992 e canonizado, pelo Papa João Paulo II na Praça de São Pedro, em 06 de outubro de 2002. Sua obra mais conhecida é Caminho, escrita como orientações espirituais em diferentes parágrafos. Outras obras do autor são ForjaSulco e É Cristo que Passa.

A CRUZ NÃO É UM CONSOLO FÁCIL

'A doutrina cristã sobre a dor não é um programa de fáceis consolações. Começa logo por ser uma doutrina de aceitação do sofrimento, inseparável de toda a vida humana. Não vos posso esconder - e com alegria pois sempre preguei e procurei viver a verdade de que, onde está a Cruz, está Cristo, o Amor - que a dor apareceu muitas vezes na minha vida; e mais de uma vez tive vontade de chorar. Noutras ocasiões, senti crescer em mim o desgosto pela injustiça e pelo mal. E soube o que era a mágoa de ver que nada podia fazer, que, apesar dos meus desejos e dos meus esforços, não conseguia melhorar aquelas situações iníquas.

Quando vos falo de dor, não vos falo apenas de teorias. Nem me limito a recolher uma experiência de outros, quando vos confirmo que, se sentis, diante da realidade do sofrimento, que a vossa alma vacila algumas vezes, o remédio que tendes é olhar para Cristo. A cena do Calvário proclama a todos que as aflições hão-de ser santificadas, se vivermos unidos à Cruz.

Porque as nossas tribulações, cristãmente vividas, convertem-se em reparação, em desagravo e em participação no destino e na vida de Jesus, que voluntariamente experimentou, por amor aos homens, toda a espécie de dores, todo o gênero de tormentos. Nasceu, viveu e morreu pobre; foi atacado, insultado, difamado, caluniado e condenado injustamente; conheceu a traição e o abandono dos discípulos; experimentou a solidão e as amarguras do suplício e da morte. Ainda agora, Cristo continua a sofrer nos seus membros, na Humanidade inteira que povoa a Terra e da qual Ele é Cabeça, Primogênito e Redentor'.
(É Cristo que Passa)

sexta-feira, 25 de junho de 2021

O MILAGRE EUCARÍSTICO DE BOLSENA

(Bolsena / Itália - 1263)

No retorno de uma peregrinação a Roma, um sacerdote oriundo de Praga (de nome Pedro, segundo a tradição) parou na localidade de Bolsena, tradicional ponto de parada ao longo da Via Cassia (uma das mais antigas estradas romanas). Ali, celebrou uma Santa Missa na Igreja de Santa Cristina, que guarda os restos mortais da mártir e padroeira da cidade. Durante as palavras da consagração, o sangue começou a fluir de repente da hóstia consagrada, a escorrer pelas mãos do sacerdote e a respingar sobre as pedras de mármore do altar.

(Igreja de Santa Cristina, em Bolsena)

(altar do milagre na Igreja de Santa Cristina, em Bolsena)

Deslocando-se até Orvieto, cidade situada a menos de 20km de Bolsena, comunicou o milagre ao papa Papa Urbano IV, que estava ali em residência temporária. E fez uma confissão e um pedido de perdão: ele, mesmo sendo sacerdote, muitas vezes havia duvidado da real presença de Cristo nas hóstias consagradas. O papa, sabendo tratar-se de um sacerdote justo e piedoso, embora incrédulo, o absolveu, procedeu a uma investigação particular dos fatos junto à diocese local e, posteriormente, fez conduzir a hóstia e o corporal utilizado na Missa - pequeno pano quadrangular de linho sobre o qual se coloca o cálice para o ato de consagração - manchado de sangue, para imposição no altar da catedral de Orvieto.

(Catedral de Orvieto)

(Corporal do milagre de Bolsena - altar da Catedral de Orvieto)

(Manchas de sangue no corporal do milagre de Bolsena)

Motivado por este milagre eucarístico, o papa Urbano IV encarregou São Tomás de Aquino a compor o Próprio para uma Missa e um Ofício honrando a Sagrada Eucaristia e o Corpo e o Sangue de Cristo. Em agosto de 1264, pouco mais de um ano após o milagre, o Papa Urbano IV instituiu na Igreja a festa de Corpus Christi (bula papal Transiturus de Hoc Mundo). Em agosto de 1964, no 700º aniversário da instituição da festa de Corpus Christi, o Papa Paulo VI celebrou a Santa Missa diretamente do altar da Catedral de Orvieto, que guarda as relíquias do milagre eucarístico de Bolsena.