segunda-feira, 1 de março de 2021

TRÊS TESTEMUNHOS DO PURGATÓRIO PELOS PADRES DA IGREJA

'Se alguém parte desta vida com pequenas faltas, é condenado ao fogo que consome todos os materiais combustíveis e prepara a alma para o Reino de Deus, onde nada de impuro pode entrar. Pois se sobre o fundamento de Cristo construístes não apenas ouro e prata mas pedras preciosas e ainda madeira, cana e palha, o que esperas que ocorra quando a alma seja separada do corpo? Entrarias no céu com tua madeira, cana e palha e, deste modo, mancharias o reino de Deus? Ou, em razão destes obstáculos, poderias ficar sem receber o prêmio por teu ouro, prata e pedras preciosas? Nenhum destes casos seria justo. Com efeito, serás submetido ao fogo que queimará os materiais levianos. Para nosso Deus, àqueles que podem compreender as coisas do céu, encontra-se o chamado ‘fogo purificador’. Porém, este fogo não consome a criatura, mas aquilo que ela construiu: madeira, cana ou palha. É manifesto que o fogo destrói a madeira de nossas transgressões e logo nos devolve o prêmio de nossas grandes obras' (Orígenes de Alexandria)

'Uma coisa é pedir perdão; outra coisa, alcançar a glória. Uma coisa é estar prisioneiro sem poder sair até ter pago o último centavo; outra coisa, receber simultaneamente o valor e o salário da fé. Uma coisa é ser torturado com longo sofrimento pelos pecados, para ser limpo e completamente purificado pelo fogo; outra coisa é ter sido purificado de todos os pecados pelo sofrimento. Uma coisa é estar suspenso até que ocorra a sentença de Deus no Dia do Juízo; outra coisa é ser coroado pelo Senhor' (Cipriano de Cartago).

'Contudo, há penas temporais que alguns padecem apenas nesta vida, outros após a morte, e outros agora e depois. De toda forma, estas penas são sofridas antes daquele severíssimo e definitivo juízo. Mas nem todos os que hão de sofrer penas temporais através da morte cairão nas eternas, que terão lugar após o juízo' ... 'Que deve haver algum fogo, inclusive depois desta vida, não é incrível. Algo pode ser examinado e levado à luz ou ocultado, dependendo do fiel que pode ser salvo: alguns mais lentamente, outros mais rapidamente, em maior ou menor grau, conforme amaram as coisas que se consomem mediante um certo fogo purificador' (Agostinho de Hipona).

domingo, 28 de fevereiro de 2021

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'Andarei na presença de Deus, junto a ele na terra dos vivos' (Sl 115)

 28/02/2021 - Segundo Domingo da Quaresma

14. A TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR 


'Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, e os levou sozinhos a um lugar à parte, sobre uma alta montanha' (Mc 9,2). Uma alta montanha, o Monte Tabor. Como testemunhas da extraordinária manifestação da glória celeste e da vida eterna em Deus, Jesus conduz os três apóstolos escolhidos para o alto, numa clara assertiva de que é por meio do profundo recolhimento interior e da elevação da alma muito acima das coisas do mundo é que podemos viver efetivamente a experiência plena da contemplação de Deus.

'E transfigurou-se diante deles. Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar' (Mc 9, 2-3). No mistério da transfiguração do Senhor, os apóstolos testemunharam antecipadamente alguma coisa dos mistérios de Deus. Algo profundamente diverso da natureza humana, pois nascido direto da glória de Deus. Algo muito limitado da Visão Beatífica, posto que deveria atender sentidos humanos: 'nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem jamais passou pelo pensamento do homem o que Deus preparou para aqueles que O amam (1 Cor 2, 9). Ainda assim, algo tão extraordinário e consolador, que perturbou completamente aqueles homens e, ao mesmo tempo, os moldou definitivamente na certeza da vitória e da ressurreição de Cristo.

'Apareceram-lhe Elias e Moisés, e estavam conversando com Jesus' (Mc 9, 4). A revelação da glória de Deus é atestada pela Lei e pelos Profetas, pelo Senhor da vida e da morte, pelos textos das Sagradas Escrituras. Naquele momento, se fecha a Lei e a morte (com Moisés) e se cumprem todas as profecias e se impõe a vida eterna em Deus (com Elias, que ainda vive). E, para não se ter dúvida alguma, Deus se pronuncia no Alto do Tabor em favor do Filho: 'Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!' (Mc 9, 7).

Do alto do Tabor, a ordem divina ecoa pelos tempos e pelas gerações humanas a todos nós, transfigurados na glória de Deus pelo batismo e herdeiros do Tabor eterno: 'Escutai o que ele diz!'. Como batizados, somos como os apóstolos descidos do monte e novamente envoltos pelas brumas e incredulidades do mundo. Pela transfiguração, entretanto, somos encorajados a vencer o mundo como Cristo, a superar a fragilidade de nossos sentidos, a elevarmos nosso pensamento às coisas do Alto, a manifestar em nós a glória de Deus como primícias do Céu, sob o consolo da fortaleza e da perseverança: 'Se Deus é por nós, quem será contra nós?' (Rm 8, 31b).

sábado, 27 de fevereiro de 2021

GALERIA DE ARTE SACRA (XXVIII)

 

Esta é a pintura cristã mais antiga da América e que se mantém preservada até hoje, executada pelos índios astecas em 1539, no México. A obra representa o milagre da transubstanciação ocorrido durante uma missa celebrada por São Gregório, em que Cristo - em modelo parcial pintado acima da cintura, na forma do Homem das Dores - apareceu no altar diante de uma duvidosa assembleia, durante o culto pascal. A pintura, com 56 cm de largura e 68 cm de altura, foi totalmente executada com penas justapostas de aves diversas e fixadas sobre um painel de madeira (técnica chamada 'plumaria'), expressão máxima da arte da cultura asteca utilizada para a representação de uma obra singular da iconografia cristã. A obra de arte encontra-se atualmente no Museu dos Jacobinos, em Auch / França.

A obra de arte foi executada pelos índios astecas, a mando do então governador da cidade do México - Diego Huanitzin - e sob a orientação e os cuidados do religioso franciscano Pierre de Ghant, como um presente do povo asteca ao então papa Paulo III. Executada apenas vinte anos após a conquista espanhola, constitui, assim, um testemunho vivo dos primórdios da evangelização e conversão dos ameríndios ao cristianismo. O trabalho em plumaria asteca da Missa de São Gregório muito provavelmente tomou como base uma impressão trazida da Espanha de uma obra de natureza similar - a Missa de São Gregório de Israhel van Meckenem (1490). Em ambas as obras, os instrumentos da Paixão de Cristo (Arma Christi) são igualmente reproduzidos, incluindo-se a coluna da flagelação, os pregos, a esponja, o galo e o chicote do castigo, inseridos no altar ou em torno dele.

A Missa de São Gregório, de Israhel van Meckenem (1490/1500)

A obra possui um valor artístico e histórico incomensuráveis mas, como instrumento de culto religioso e devocional, parece transmitir uma ideia de irradiação divina, pelo movimento ordenado e iridescente das mudanças de posição das centenas de penas fixadas em um mosaico único, sob iluminação difusa ou pelo simples fluxo de ar. Tais características e simbolismo são comparáveis aos vitrais das catedrais góticas, como expressão comum de Cristo como lux mundi (a luz do mundo). Essa constitui a síntese e o propósito final da aplicação da técnica da plumaria à arte cristã.

 Retrato de Cristo, plumaria com penas de beija-flor e papagaio, de Juan Bautista Cuiris (1550)

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

TESOURO DE EXEMPLOS (52/54)


52. ENTRE NA MINHA GUARITA!

O veterano capitão Hurtaux, cavaleiro da Legião de Honra, não era católico praticante; tinha, como muitos homens, certo temorzinho ou respeito humano de chegar-se à confissão. Muito antes de dar o passo definitivo, gostava de invocar a Santíssima Virgem, indo rezar no santuário de Nossa Senhora em Chartres, onde morava.

Um dia, estando de joelhos diante de um grande Cristo na catedral, viu que um sacerdote, que o conhecia e tinha a franqueza de um militar, aproximou-se, bateu-lhe no ombro e disse:
➖ Capitão, pouco adianta estar o senhor estar aí a rezar, se não se põe na graça de Deus. E, tomando-o pelo braço, acrescentou:
➖ Entre na minha guarita.

O capitão deixou-se levar, fez a sua confissão e saiu com o rosto radiante e a alma revestida da graça de Deus. Foi desde esse dia um cristão modelo: todos os dias fazia a sua hora de guarda aos pés de Nossa Senhora e não se levantara sem lançar um afetuoso olhar para a Mãe do Céu. Um dia, afinal, já não pôde ir fazer a guarda e teve Nosso Senhor, sem dúvida acompanhado de sua Mãe, que vir ao leito de morte de seu servo. Recebeu os sacramentos com fé viva e, ao apresentar-lhe o padre a sagrada Hóstia, exclamou:
➖ Senhor, não sou digno... não sou digno que venhais à minha casa, mas sois tão bom!

O capitão não se envergonhava de suas crenças nem dissimulava suas práticas piedosas e sabia tapar a boca dos que o interpelavam.
➖ Aonde vais? perguntou-lhe certo dia um amigo, ao vê-lo dirigir-se a uma igreja.
➖ Vou aonde tu deverias ir e não tens coragem.
Com este seu gênio tão simples como firme granjeara o respeito de todos.

53. UM CASTIGO E UMA GRAÇA

O Sr. Beauveau, marquês de Novian, deveu a sua conversão e vocação religiosa à Companhia de Jesus a uma vitória sobre o respeito humano para honrar a Nossa Senhora. Em 1649, estando as tropas alemãs na região da Alsácia-Lorena, alguns soldados alojados em Novian, depois de haverem bebido em excesso, puseram-se a jogar. 

Um deles, depois de haver perdido no jogo, vendo uma estátua de Nossa Senhora colocada na parede, ficou furioso como se fôra ela a causa de sua falta de sorte, e começou a golpeá-la proferindo horríveis blasfêmias. Apenas terminara, caiu por terra com um tremor em todo o corpo e dores tão fortes e contínuas que foi impossível fazê-lo tomar alimento durante quatro ou cinco dias. Tendo a tropa recebido a ordem de partir, ataram o infeliz em seu cavalo para que acompanhasse a marcha. Soube-se que, à força de agitar-se, caíra da montaria e morrera no caminho, mordendo a terra espumando de raiva.

Naquela vila falou-se, por muito tempo, do exemplar castigo do blasfemo. Dois anos após, a pedido de um missionário, resolveu-se fazer um ato solene de reparação. Para esse fim, foram àquela casa em procissão o vigário, o missionário, alguns outros sacerdotes e o povo de Novian com o marquês à frente.

Chegados ao lugar, por mais que o padre chamasse a alguns homens, nenhum se apresentou para levar a imagem à igreja. O Sr. Beauveau, indignado com semelhante indiferença para com Nossa Senhora, sentiu-se interiormente movido a levá-la ele mesmo. Apesar do respeito humano e de parecer beato aos olhos daquela gente, tomou a imagem e levou-a com respeito à capela do castelo onde, por ordem do bispo, foi colocada com todas as honras. 

Maria Santíssima não tardou a recompensar esse ato de piedade, pois, segundo declarou ele mesmo, começou o marquês a receber tal abundância de graças e tão fortes inspirações para a vida perfeita que não só se tornou um cristão modelo, mas ainda abraçou a vida religiosa, na qual viveu e morreu santamente.

54. CASTIGO DE UM ESTUDANTE

Dois estudantes perversos iam certo dia pelo caminho que conduz ao santuário de Nossa Senhora de Ostaker, onde muitos enfermos recobram a saúde, bebendo água da fonte milagrosa. Discorriam ambos sobre como se divertiriam naquele feriado, quando um exclamou:

➖ Sabes o que vamos fazer?
➖ Não.
➖ Um milagre; sim, um autêntico milagre. Não te rias e ouve-me. Vendar-te-ei os olhos, tu te fingirás de cego e eu te levarei à fonte.
➖ E depois?
➖ Quando chegarmos, começarás a rezar, lavarás os olhos com a água, e gritarás que estás curado, que estás vendo... assim pregaremos uma peça aos devotos. Não te parece divertido?
➖ Sim, ótimo. E quando voltarmos, contaremos o prodígio aos jornais e como se rirão os leitores desses pobres imbecis que vão lá buscar saúde. Falarão de nós e nos tornaremos célebres...
➖ Vamos...

Assim foram nossos dois comediantes, fazendo cada um o seu papel, até a fonte milagrosa. Como sempre, havia ali muitos peregrinos. Vendo os dois jovens, aproximaram-se deles com sinais de simpatia como fazem os bons cristãos com os enfermos. Todos se puseram a rezar enquanto o jovem ímpio se aproximava da fonte para se lavar. 

Com o auxílio de seu hipócrita companheiro, tira o pano dos olhos, fingindo chorar e lamentar-se de seu infortúnio. Toma da água, esfrega os olhos... Mas, ó milagre! A água produz o efeito! Uma espessa névoa lhe cobre os olhos. Não vê mais nada, está cego! Lança então um grito de desespero, chama por sua mãe, conjura a Santíssima Virgem que lhe perdoe... censura seu companheiro, mudo de espanto, por lhe haver aconselhado aquela maldade.

Os peregrinos, espantados, nada compreendiam daquela cena. Fazem-lhe perguntas e arrancam-lhes a confissão da culpa. Nunca se vira emoção semelhante ao redor da fonte; em vão põem-se os peregrinos em oração para obter o perdão aos miseráveis. Deus não suporta que se zombe de Maria, sua Mãe: o cego ficou cego... Teve este tamanho pesar de seu crime, que perdeu o juízo e foi terminar num manicômio, onde esperamos que Nossa Senhora, em vista de sua pena temporal, lhe tenha alcançado a misericórdia de Deus.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

ver PÁGINA: TESOURO DE EXEMPLOS

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DESATADORA DOS NÓS

 


Virgem Maria, Mãe do Amor Formoso,
Mãe que jamais deixais de vir
socorrer os Vossos filhos aflitos.

Mãe cujas Mãos não param nunca
de servir seus amados filhos,
pois são movidas pelo Amor Divino
e a imensa Misericórdia
que existem em Vosso Coração.

Voltai o vosso olhar compassivo sobre mim
e vede o emaranhado de nós
que há em minha vida.
Vós bem conheceis o meu desespero,
a minha dor e o quanto estou amarrado
por causa destes nós.

Maria, Mãe que Deus
encarregou de desatar os nós
da vida dos seus filhos,
confio hoje a fita da minha vida em Vossas mãos.

Ninguém, nem mesmo o maligno
poderá tirá-la do Vosso precioso amparo.
Em Vossas mãos não há nó
que não possa ser desfeito.

Mãe poderosa, por Vossa graça e Vosso poder intercessor
junto a Vosso Filho e Meu Libertador, Jesus,
recebei hoje em Vossas mãos este nó...(expor o problema ou dificuldade)
Peço-Vos que o desateis para a Glória de Deus, e por todo o sempre.
Vós sois a minha esperança.

Ó Senhora minha,
sois a minha única consolação dada por Deus,
a fortaleza das minhas débeis forças,
a riqueza das minhas misérias, a liberdade,
com Cristo, das minhas cadeias.

Ouvi a minha súplica.
Guardai-me, guiai-me, protegei-me, ó meu seguro refúgio e caminho para Deus.
Mãe, Desatadora dos Nós, rogai por mim!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

A COMUNHÃO ESPIRITUAL

I. Segundo Santo Tomás, a comunhão espiritual consiste num desejo ardente de receber Jesus Cristo sacramentalmente e num amplexo amoroso, como se já fora recebido. O santo Concílio de Trento louva muito a comunhão espiritual e convida todos os fiéis a que a ponham em prática. E Deus mesmo, repetidas vezes, tem dado a entender às almas devotas quanto lhe agrada esta devoção.

Um dia apareceu Jesus a Soror Paula Maresca, fundadora do convento de Santa Catarina de Sena em Nápoles, e mostrou-lhe dois vasos preciosos, um de ouro e outro de prata, dizendo-lhe que o primeiro guardava as suas comunhões sacramentais e, no segundo, as espirituais. Em outra ocasião, disse o Senhor também à Venerável Joana da Cruz que, sempre que comungava espiritualmente, concedia-lhe uma graça semelhante à que lhe dava na comunhão sacramental.

Mais tocante é o que um autor fidedigno refere a outro servo de Deus. Quando este fazia na missa a comunhão espiritual, sentia a partícula consagrada ser levada aos lábios e experimentava na alma uma doçura indizível, querendo o Senhor recompensar desta forma o desejo de seu bom servo. Por isso todas as almas devotas costumam praticar com frequência o santo exercício da comunhão espiritual. A bem aventurada Angela da Cruz, dominicana, chegou a dizer que, se o confessor não lhe tivesse ensinado este modo de comungar, não teria podido viver. Fazia cem comunhões espirituais durante o dia, e outras cem durante a noite. 

Nem é de admirar, pois que este modo de comungar, sobre ser uma devoção muito proveitosa, é também facílimo e pode ser praticado cada dia por todos, e quantas vezes se quiser. A já mencionada Joana da Cruz exclamava: 'Ó meu Senhor, que bela maneira de comungar é essa! Sem ser vista por ninguém, sem ter de dar conta ao meu diretor espiritual, sem dependência de ninguém senão de Vós, que alimentais minha alma na solidão e lhe falais ao coração!'

II. Procura fazer com frequência a comunhão espiritual; tanto mais que ela é também um meio valiosíssimo para dispor a alma a fazer com mais fruto a comunhão sacramental. Por isso, nas tuas visitas ao Santíssimo Sacramento, na tua oração mental, em cada missa que ouvires, no momento da comunhão do celebrante, faze a comunhão espiritual.

Faze então um ato de fé, crendo firmemente que na Eucaristia está o corpo, o sangue, a alma e a divindade de Jesus Cristo, tão vivo como está no céu. Faze também um ato de amor, unido ao arrependimento dos teus pecados; e em seguida um ato de desejo, convidando Jesus Cristo a entrar em tua alma a fim de a fazer toda sua. Agradece-lhe, afinal, como se já o tivesses recebido.

Para que essas comunhões espirituais sejam mais proveitosas, une-as aquelas que fizeram todos os santos e, em particular, ás da tua querida Mãe Maria. Quantos frutos colherás desta forma para tua alma! Representa que cada uma de tuas comunhões será uma pedra preciosa que ornará a tua coroa no céu.

Ó meu Redentor amabilíssimo, agradeço-Vos o me haverdes ensinado este grande meio de santificação e, com o vosso auxilio, quero aproveitá-lo sempre, a começar pelo dia de hoje. Ó, meu Jesus, creio que estais presente no Santíssimo Sacramento. Amo-Vos sobre todas as coisas e desejo possuir-Vos em minha alma. Visto que não posso agora receber-Vos sacramentalmente, vinde ao menos espiritualmente ao meu coração. Abraço-Vos, como se já tivesses vindo, e me uno inteiramente a Vós; não permitais que jamais me separe de Vós.

Ó Maria, vós que tanto desejais ver vosso Filho amado de todos, se me amais, eis aí a graça que vos peço e que me haveis de alcançar: obtende-me um grande amor a Jesus. Obtende-me também um grande amor a vós, que sois a criatura mais amante, a mais amável e a mais amada de Deus. O amor para convosco é uma graça que Deus não concede senão a quem deseja salvar.

(Excertos da obra 'Meditações para Todos os Dias e Festas do Ano', de Santo Afonso Maria de Ligório)

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

DICIONÁRIO DA DOUTRINA CATÓLICA (XXI/Final)


UNIÃO HIPOSTÁTICA

É a união misteriosa da natureza divina e da natureza humana, na Pessoa do Verbo divino com as duas naturezas distintas, conservando cada uma os atributos que lhe são próprios.

VASO DE ABLUÇÕES

É  um pequenino vaso, de vidro ou de prata com água, que deve estar junto do sacrário para o sacerdote purificar os dedos, antes e depois da comunhão aos fiéis. Com esse vaso deve haver um manustérgio para enxugar os dedos. Deve estar coberto e a água deve ser renovada com alguma frequência.

VASOS SAGRADOS

São aqueles que, consagrados pelo bispo, só podem servir para os atos do culto divino.

VERBO DIVINO

É o Filho de Deus, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, como o ensina o Evangelho: 'No princípio era o Verbo e o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus (Jo 1,1)... O Verbo fez-se homem e habitou entre nós e nós vimos a sua glória, glória como Filho unigênito do Pai' (Jo 1, 14). O Verbo feito homem é Jesus Cristo.

VÉSPERAS

É o nome da quinta Hora do Ofício divino, que corresponde às seis horas da tarde, segundo o modo de contar dos antigos.

VESTES LITÚRGICAS

São aquelas que, benzidas pelo bispo ou pelo sacerdote, só podem ser usadas nos atos do culto divino.

VIA SACRA

É uma devoção que tem por objeto a contemplação dos sofrimentos, crucificação e morte de Jesus Cristo. Costuma ser instituída nas igrejas e capelas em que é permitido rezar a missa. Só pode ser instituída por sacerdote que tenha recebido essa faculdade da Santa Sé ou do Geral dos Franciscanos e a faculdade está sujeita a uma autorização do bispo do lugar, dada por escrito para cada instituição. É essencial que haja 14 cruzes de madeira benzidas no lugar em que se faz a instituição, antes ou depois de estarem afixadas na parede; devem estar afixadas a alguma distância umas das outras. As cruzes podem ser afixadas na parede por qualquer pessoa, antes ou depois da bênção. Não é necessário colocar quadros ou pinturas relativas à Paixão e Morte de Jesus. Se todas as cruzes, ou ao menos metade delas, tiverem sido tiradas e substituídas, é preciso fazer uma nova instituição canônica; caso contrário, não. Faz-se a Via Sacra visitando-se as 14 cruzes (estações), uma após outra, sem grande interrupção, e meditando em cada estação, ainda que por pouco tempo, sobre a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. São estas as condições necessárias para poder lucrar as indulgências que se ganhariam visitando pessoalmente as Estações da Via Sacra em Jerusalém, sendo todas as indulgências aplicáveis às almas do Purgatório. Na Via Sacra, feita em oratórios ou capelas domésticas, somente podem lucrar as indulgências os seus proprietários, os seus parentes e seus criados, que morarem na casa. Os doentes e as pessoas que se encontram numa real impossibilidade, mesmo moral, de ir à Igreja fazer a Via Sacra, podem lucrar as mesmas indulgências, com a condição de terem na mão um crucifixo (não uma cruz somente), benzido expressamente para esse efeito por quem para isso tenha faculdade, e de recitarem com piedade e contrição 20 vezes o Pai Nosso, Ave Maria e Glória ao Pai; 4 vezes para recordar as 14 Estações, 5 em honra das cinco chagas de Jesus Cristo e a última pelo Sumo Pontífice. Quando muitas pessoas, legitimamente impedidas de visitar as estações, recitam em comum vinte vezes - Pai Nosso, Ave Maria e Glória ao Pai - basta que uma só delas tenha em mãos um crucifixo devidamente benzido.

VIÁTICO

É a comunhão aos enfermos em perigo de morte. Em perigo de morte, seja qual for a causa, os fiéis são obrigados a receber a Sagrada Comunhão e não é necessário que o perigo seja certo; basta que seja provável. O Viático pode e deve ser dado às crianças perigosamente enfermas, que tenham chegado ao uso da razão. Para isso basta que saibam distinguir do alimento comum o Corpo de Cristo e adorá-lo com reverência. Ainda que o fiel tenha recebido a comunhão por devoção no mesmo dia, dando-se o perigo de morte, deve ser muito exortado a que comungue outra vez por Viático e, perdurando o mesmo perigo, é lícito e convém recebê-lo mais vezes, em dias distintos, segundo o prudente conselho do confessor.

VÍCIO

É a tendência habitual para o mal. Os vícios podem ser tantos como o número dos deveres, porque a falta do cumprimento do dever é um mal. Um ato mau isolado é uma falta; a repetição habitual desse ato constitui o vício, que é coisa detestável e difícil de curar.

VIDA ETERNA

É a felicidade do homem, é a sua aspiração suprema. Só a pode realizar depois da vida terrena, vendo Deus, amando-o e o possuindo eternamente. Para consegui-la, é necessário crer e praticar o que Jesus Cristo ensinou: 'Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna' (Jo 5, 21); 'Se queres entrar na vida eterna guarda os mandamentos' (Mt 19, 17). 

VIDA RELIGIOSA

É um gênero de vida fundada sobre o Evangelho e aprovada pela Igreja, que tem por fim procurar a perfeição da vida cristã, pela prática dos três votos — pobreza, obediência, castidade — segundo regras determinadas. Os três votos de religião são os meios mais próprios para conseguir a perfeição, porque se opõem diretamente aos três grandes obstáculos da santidade. Pelo voto de pobreza, afasta-se a cobiça das riquezas; pelo voto de obediência, afasta-se o amor desordenado da vontade própria; pelo voto de castidade, afasta-se o amor dos prazeres sensuais.

VIDA SOBRENATURAL

É a vida do cristão habitualmente na graça de Deus, procedendo sempre de harmonia com as virtudes teologais — fé, esperança e caridade — e com as virtudes morais — prudência, justiça, fortaleza e temperança.

VIGÍLIAS

Chamam-se assim as vésperas das grandes festas da Igreja — Natal, Páscoa, Pentecostes, Assunção e Festa de Todos os Santos. A Igreja prescreve o jejum e a abstinência nesses dias, com o fim de os fiéis se prepararem, pela mortificação dos sentidos, para a celebração mais piedosa e mais espiritual, dessas grandes solenidades.

VISÃO BEATÍFICA

É a clara e intuitiva, mas não compreensível visão de Deus face a face.

VISITA AD SACRA LIMINA

É a visita que o bispo de cada diocese tem obrigação de fazer periodicamente ao papa, com o fim de informá-lo do estado da sua diocese, no que diz respeito à disciplina eclesiástica, à vida religiosa do povo cristão e às relações da Igreja com o Estado. Por este meio o papa assegura a unidade da Igreja na diversidade dos povos.

VOTO

É uma promessa deliberada e livre, feita a Deus, de um bem possível e melhor. Nem todas as promessas que fazemos a Deus têm a natureza de voto. Se não temos intenção de nos obrigar a fazer o que prometemos, emitimos apenas um propósito de fazer alguma coisa em honra de Deus, mas não foi um voto o que fizemos. Há várias espécies de voto: (i) público ou privado, conforme é ou não é aceite em nome da Igreja pelo legítimo superior eclesiástico; (ii) solene ou simples, conforme é considerado pela Igreja; (iii) reservado, quando só a Sé Apostólica o pode dispensar; (iv) pessoal, quando o que se promete é uma ação do postulante (jejum por exemplo); (v) real, quando se promete alguma coisa (uma esmola, por exemplo); (vi) misto, quando o que se promete é ao mesmo tempo uma coisa e uma ação do postulante; (vii) temporário, perpétuo o, condicional. O voto deve ser cumprido como se promete e sem demora: 'Quando fizeres voto ao Senhor, não demores em cumpri-lo, porque o Senhor, teu Deus, o exigirá, e, se tardares, a demora te será imputada como pecado' (Dt 23, 21). Se o voto é condicional, só obriga depois de satisfeita a condição; se é pessoal, só obriga aquele que o fez; se é real e não foi cumprido em vida pelo postulante, a obrigação passa para os seus herdeiros, não obrigando mais do que a herança permite. Por vários motivos a obrigação do voto pode cessar. Entre os motivos, está a dispensa dada em nome de Deus pela autoridade eclesiástica. O papa pode dispensar de todos os votos. O bispo pode dispensar dos votos não reservados ao papa, que são: o voto privado de perfeita e perpétua castidade e o voto de entrar em ordem religiosa de votos solenes, quando feito de modo absoluto e depois de 18 anos de idade. O voto solene de castidade constitui impedimento dirimente do Matrimônio. Os votos simples de castidade, mesmo em Congregação Religiosa onde se fazem somente 
votos simples, o de virgindade e o de receber Ordens Sacras, são impedimentos impedientes do Matrimônio.

VULGATA

Chama se Vulgata à tradução latina da Bíblia, na sua maior parte obra de São Jerônimo, declarada autêntica pelo Concílio de Trento. Na composição da Vulgata, entraram elementos de três origens diferentes. Alguns oriundos de antigas versões latinas, que não foram revistas por São Jerônimo, são os chamados elementos deuterocanônicos do Antigo Testamento, com exceção dos livros de Tobias e Judite. Outros faziam parte de versões anteriormente revistas pelo Santo Doutor; tais são os livros do Novo Testamento e o Saltério chamado galicano. E, finalmente, também fazem parte da Vulgata versões feitas por São Jerônimo diretamente sobre o texto original (hebreu e caldeu); são deste grupo os livros protocanônicos do Antigo Testamento exceto o Saltério, os livros de Tobias e Judite e as partes deuterocanônicas de Daniel e de Ester.

ZELO

É a chama do amor manifestado exteriormente pela ação. Quem ama a Deus procura em tudo a sua maior glória; quem ama o próximo procura contribuir o melhor que pode para a salvação da sua alma. Nisso consiste o zelo cristão. O verdadeiro zelo é: (i) sobrenatural, procurando em tudo a glória de Deus; (ii) prudente, evitando o ardor do temperamento e as atitudes irrefletidas; (iii) forte e corajoso, capaz de vencer os maiores obstáculos; (iv) paciente, suportando os defeitos do próximo; (v) constante e perseverante, não se deixando dominar pelo desânimo; (vi) desprendido dos interesses próprios, sacrificando-os na medida do possível; (vii) generoso, fazendo apostolado por meio da palavra e do exemplo e auxiliando, com trabalho ou com dinheiro, as várias obras de caridade aprovadas pela Igreja.

(Verbetes da obra 'Dicionário da Doutrina Católica', do Pe. José Lourenço, 1945)