segunda-feira, 22 de junho de 2020

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

'Deus não te pede muitas coisas porque, por si mesma, a caridade é o pleno cumprimento da Lei (Rm 13,10). Mas este amor é duplo: amor a Deus e amor ao próximo. Quando Deus te manda amar o próximo, não te diz: ama-o com todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua mente; mas diz-te: ama o teu próximo como a ti mesmo. Portanto, ama a Deus com todo o teu ser, porque Ele é maior do que tu; ama o teu próximo como a ti mesmo, porque ele é como tu. Mas, se há três objetos do nosso amor, porque é que há apenas dois mandamentos? Vou dizer-te: Deus não julgou necessário encarregar-te de te amares a ti próprio porque não há ninguém que não se ame a si mesmo. Mas muita gente se perde porque se ama mal. Ao mandar-te amá-Lo com todo o teu ser, Deus deu-te a regra segundo a qual deves amar. Queres amar-te? Então ama a Deus com todo o teu ser. Com efeito é nele que te encontrarás, evitando assim perderes-te em ti. Deste modo é-te dada a regra segundo a qual deves amar-te: ama Aquele que é maior do que tu e amar-te-ás a ti mesmo.
(Santo Agostinho)

domingo, 21 de junho de 2020

PÁGINAS COMENTADAS DOS EVANGELHOS DOS DOMINGOS


'O pecado entrou no mundo por um só homem. Através do pecado, entrou a morte. E a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram... A transgressão de um só levou a multidão humana à morte, mas foi de modo bem superior que a graça de Deus, ou seja, o dom gratuito concedido através de um só homem, Jesus Cristo, se derramou em abundância sobre todos' (Rm 5, 12.15)

sábado, 20 de junho de 2020

TESOURO DE EXEMPLOS (1/3)


1. 'MENINA, LEVANTA-TE!' 

Jairo, o presidente de uma das sinagogas de Cafarnaum, está angustiadíssimo. Sua filhinha de doze anos acha-se gravemente enferma, e sua cura é desesperadora. Como última e extrema solução recorre a Jesus. Sabe que Ele acaba de regressar de Gerasa e vai ao seu encontro. 'Senhor' diz-lhe com voz angustiada, 'minha filha está morrendo. Vem, impõe a tua mão sobre ela para que sare e viva'. 

O Mestre, sempre misericordioso e amicíssimo das crianças, acede e imediatamente se põe a caminho; mas a multidão o rodeia e o aperta de tal forma, nas ruas estreitas da cidade, que o detém mais tempo do que Jairo o quisera e a enfermidade da menina o permitiria. Por isso, antes de chegarem a casa, encontram-se com alguns criados, que dão ao seu amo a fatal notícia da morte da pequena. Pobre pai! Cheio de esperanças recorrera ao Redentor; no caminho vira crescer seu otimismo com a cura milagrosa da hemorroíssa, mas agora todas as suas ilusões se desmoronam. 

E' tarde. Morrera a criança. Têm razão seus criados: para que incomodar e cansar mais o Mestre? Jesus, porém, consola-o, dizendo: 'Não temas, crê e tua filha será salva'. Chegam à casa coberta de luto. Ali estão a exercer o seu ofício mercenário as carpideiras e os flautistas funerários - importação pagã introduzida nos costumes judeus - e também os parentes e amigos rodeiam a família. 

'Por que chorais e estais alvoroçados?' - pergunta-lhes Jesus. 'A menina não está morta, mas dorme'. Os que o ouvem falar assim riem-se dele, pois viram o cadáver e têm a certeza de que está morta. Não sabem que, para o Senhor da vida, aquela morte é um breve sono, cujo despertar está próximo. Jesus ordena que aquela gente se retire e penetra na câmara mortuária, acompanhado só dos pais da defunta e de três dos seus discípulos. 

Sobre o leito, estendem-se rígidos e frios os membros pálidos do cadáver. Jesus se aproxima e toma, entre as suas, a mão pálida da menina, e ordena com autoridade: talitha, cumi! 'menina, levanta-te!' E com grande espanto de seus pais, a menina levanta-se e começa a andar. Ressuscitou? Sim; não só ressuscitou mas está, além disso, completamente curada; tanto assim que logo começa a alimentar-se. Operado o milagre, Jesus retira-se, ordenando silêncio, porque quer evitar aclamações e demonstrações de entusiasmo. Apesar disso, como seria natural, a notícia do prodígio espalhou-se por toda aquela região.


2. O FILHO DA VIÚVA 

Naim, aldeia situada na encosta setentrional do Pequeno Hermon, a trinta e oito quilômetros aproximadamente de Cafarnaum, foi teatro de um dos maiores milagres de Jesus. Caía a tarde. O sol estava a ponto de esconder-se atrás das montanhas, quando o Salvador, acompanhado de seus discípulos e de uma multidão que não podia separar-se dele, subia pelo estreito caminho que dava acesso ao lugar. 

Próximo à porta da aldeia, a multidão teve de ceder o passo a outro cortejo que dali saía em direção contrária. Era um enterro. Sobre um esquife, sem caixão, conduziam o cadáver de um jovem, envolto num lençol. Atrás vinha, com os parentes e amigos, a mãe muito triste e desolada. Era viúva e o defunto, quase menino ainda, era o seu único filho e seu futuro arrimo. 

O filho morrera. Que seria dela dali em diante? Informado do que se passava, Jesus, sempre misericordioso e compassivo, disse àquela viúva inconsolável: 'Não chores, filha'. E, aproximando-se do féretro, fez sinal para que parassem e deitassem o esquife no solo. Toda gente se apinhou ao redor do Salvador. Que iria acontecer? Os entusiastas do divino Taumaturgo estavam acostumados a vê-lo operar estupendos milagres; mas, com um morto, que era já levado à sepultura, o que poderia Ele fazer? 

Os olhos daquela gente, arregalados pela curiosidade, não perdiam os menores movimentos do Mestre. Jesus, olhando para o cadáver daquele rapaz, pálido e rígido pelo frio da morte, ordenou-lhe em tom imperativo: 'Moço, eu te digo, levanta-te!' Um calafrio da emoção eletrizou os circunstantes. Não havia dúvida, o morto ressuscitara. Todos podiam ver como o cadáver se movia e a sua cor lívida desaparecia; os olhos brilhavam, os lábios abriam-se; o defunto falava. Já não estava morto. Vive e vive sua vida plena. E Jesus, tomando-o pela mão, entrega-o à mãe que, derramando lágrimas de comoção e de alegria, prostra-se por terra para dar graças ao Senhor da vida e da morte.

3. A CURA DE UM CRIADO

Depois do sermão da Montanha, entrou Jesus em Cafarnaum. Achava-se ali um centurião que, embora gentio, simpatizava com os judeus a ponto de edificar-lhes, à sua custa, uma sinagoga. Certamente ouvira talar de Jesus, e é muito provável que o conhecesse de vista e até tivesse ouvido, mais de uma vez, suas pregações e presenciado algum milagre. 

Cai-lhe enfermo um servo 'a quem amava muito'. Sofre um ataque de paralisia e está quase à morte. O centurião, que o ama deveras, deseja a todo custo a sua cura e, ao inteirar-se de que Jesus está no povoado, pensa poder alcançar dele o que, por meios naturais, parece impossível. E' humilde e não se atreve a ir em pessoa ter com o Mestre. 

Como pretender um tal favor, sendo ele um gentio? Mas, como está bem relacionado, envia uma comissão de pessoas principais do lugar. Estas, apresentando-se diante o Salvador, transmitem a Ele o pedido do centurião. E, para mais pesarem o ânimo do benfeitor, elogiam o centurião e enumeram os benefícios recebidos. Jesus, todo atenção e bondade, acolheu amavelmente os representantes do militar, dizendo: 'Eu irei e o curarei'. E pôs-se imediatamente a caminho. 

Avisado de que o Salvador se dirigia a sua casa, e assustado com a grandeza do favor, o centurião enviou-lhe alguns amigos que lhe dissessem: 'Senhor, não te incomodes. Não sou digno de que entres em minha casa; dize, pois, uma só palavra e meu servo ficará curado'. E explicou mais claramente o seu pensamento, dizendo que, embora fosse um simples oficial subalterno, bastava dar uma ordem a seus inferiores que estes lhe obedeciam. Não poderia Jesus, sem o incômodo de ir à sua casa, ordenar que a enfermidade cessasse? Jesus mostrou-se admirado ao ouvir tais palavras e disse aos que o seguiam: 'Em verdade, em verdade vos digo que nem em Israel encontrei tamanha fé'. Em seguida, operou o milagre à distância e, naquele momento, o servo que estava em perigo de morte curou-se instantaneamente.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

ver PÁGINA: TESOURO DE EXEMPLOS

sexta-feira, 19 de junho de 2020

UM ANJO CHAMADO ANNE-GABRIELLE CARON


A vida de Anne-Gabrielle Caron durou 8 anos (2002 - 2010). E, como poucas, foi um testemunho extraordinário de fé e de santificação cotidiana. Desde tenra idade, já manifestava especial predileção pelos sofrimentos alheios. E esta predileção haveria de se tornar o ideal de toda a sua curtíssima vida. Aos seis anos, com fortes dores em uma das pernas, foi diagnosticada com câncer ósseo, extremamente agressivo e que evoluiu rapidamente por todo o seu corpo.

Diante dos sofrimentos crescentes e das intermináveis sessões de quimioterapia, aceitou convictamente todas as provações por amor a Jesus ('Embora eu não goste de estar doente, tenho sorte porque posso ajudar o bom Deus a trazer as pessoas de volta a Ele. Quero ajudar aqueles que sofrem') e no foco de seguir Santa Teresa de Lisieux, sua santa de predileção ('quero ser santa como ela'). 


Em março de 2009, expressou vivamente o desejo de fazer a Primeira Comunhão: 'Gostaria de fazer minha primeira comunhão para poder fazer ainda mais sacrifícios'. E se preparou para isto: 'Quero receber Jesus. Você percebe que Ele vai entrar no seu coração.' Sua primeira comunhão estava marcada para um domingo, dia 07 de junho de 2009, em Toulon, mas mesmo nisso ela foi submetida a uma grande provação.

Dois dias antes, sua condição de saúde piorou consideravelmente e ela teve que ser internada às pressas num hospital de Marselha (cerca de 50 km de Toulon). Ela pediu então a intercessão de Nossa Senhora para lhe permitir participar da primeira comunhão. E foi atendida. Recuperando uma condição estável, recebeu alta do hospital no domingo pela manhã. Vestiu sua roupa branca da comunhão e seu pai fez o trajeto Marselha-Toulon o mais rápido que pôde, e rezaram à Virgem pelo caminho para chegar a tempo. Não contavam, porém, com o tráfego intenso que encontraram na entrada da cidade. Superando todos estes imprevistos, chegaram à igreja quando a missa havia terminado e as crianças se preparavam para sair em procissão final. Em prantos, a menina entrou correndo na igreja, momento em que o coro interrompeu o canto e o sacerdote fez parar o cortejo. Naquele momento, Anne recebeu a sua primeira comunhão e ficou recolhida com o seu Jesus, diante de uma igreja lotada e em absoluto silêncio.

(Anne-Gabrielle em sua primeira comunhão)

A partir daí, sua saúde se deteriorou rapidamente e a menina passou a receber a eucaristia em casa. Nas suas últimas semanas, ela viveu sua própria paixão e, por fim, após 30 horas de agonia, morreu em 23 de julho de 2010. No seu funeral, o padre Dubrule disse: 'Ver Anne-Gabrielle era como estar vendo o próprio Deus'. Sua mãe, Marie-Dauphine Caron, deu o seguinte testemunho: 'a perda de um filho é terrível, ver o sofrimento de um filho também é terrível porque você se sente impotente', mas 'a minha filha me mostrou o caminho para o céu'.

Seu testemunho de vida saiu de Toulon e viajou pelo mundo: seu exemplo tem ajudado muitas famílias a superar as provações impostas por doenças e sofrimentos que afligem crianças e pessoas muito jovens. Muitas outras famílias se esmeraram muito mais na oferta e preparação dos seus filhos para a recepção da primeira comunhão e para a sagrada eucaristia. No próximo dia 12 de setembro, a diocese de Fréjus-Toulon dará início à abertura oficial do processo de beatificação de Anne-Gabrielle Caron.

quinta-feira, 18 de junho de 2020

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (LII)

XLVII

DO JUÍZO OU ATO EM QUE SE CLASSIFICAM OS DESTINADOS AO CÉU, AO PURGATÓRIO E AO INFERNO

Quando se apartam e segregam os que imediatamente hão de entrar no Céu dos destinados a ir para o Purgatório ou para o Inferno?
No ato do Juízo.

Que entendeis por Juízo?
O ato em que a Justiça divina decide sobre a sorte eterna do indivíduo, pronunciando sentença de prêmio ou castigo.

Quando se realiza o Juízo?
Imediatamente depois da morte, isto é, no momento em que a alma se separa do corpo.

Onde se realiza?
Onde ocorrer a morte.

Quem o realiza?
O mesmo Deus, cujo poder reside na humanidade de Jesus Cristo, desde o dia da sua gloriosa ascensão.

As almas vêem a Deus ou a sacratíssima humanidade de Jesus Cristo?
Somente vêem a essência divina e a humanidade de Cristo as almas que hão de entrar imediatamente na glória.

De que forma se celebra o juízo das outras?
Fazendo com que elas contemplem, instantaneamente e de um só golpe, todo o curso de sua vida, donde tirarão a convicção íntima e inquebrantável de que, com justiça, merecem o lugar que se lhes destina, quer no Inferno, quer no Purgatório.

Logo, quando morre um homem, no mesmo instante e quase no mesmo ato, é a alma julgada, sentenciada e colocada no Céu, no Purgatório ou no Inferno?
Sim, senhor, porque o poder divino obra instantaneamente.

De que coisas se examina e se acusa a alma neste tremendo juízo?
De todos os atos de sua vida moral e consciente, desde o primeiro, executado com o uso da razão, até ao que precede o último suspiro.

Pode suceder que o último ato consciente decida, por si só, a sorte eterna de uma alma e lhe franqueie a entrada no Céu?
Sim, senhor; porém, requer-se uma graça especialíssima de Deus, que somente costuma concedê-la quando o homem, de certo modo, a preparou com obras boas anteriormente feitas e a rogos e vivas instâncias dos justos.

Que coisas entende e vê a alma submetida a juízo, mercê da ilustração instantânea que lhe põe diante dos olhos o curso inteiro da sua vida?
Verá, dia por dia, e momento por momento, todos e cada um dos atos por ela praticados e de que pode ser responsável, com as suas mais insignificantes circunstâncias e pormenores; todos os seus pensamentos, por íntimos e rápidos que tenham sido; todos os movimentos afetivos, qualquer que fosse o seu objeto e caráter; todas as palavras, ainda as mais leves, inconsideradas, vãs ou ociosas, todas as suas ações e a parte que nelas tomaram os sentidos, os órgãos e os membros corporais. Compreenderá o alcance, a conformidade ou desconformidade de todos os seus atos com todas as virtudes e vícios, começando pela virtude da Temperança e suas numerosas aplicações, seguindo pela da Fortaleza e suas anexas, a Justiça e suas infinitas ramificações, a Prudência e seu constante exercício na prática das demais, quer se considerem estas virtudes como hábitos naturais, quer como sobrenaturais e infusas, e sobretudo compreenderá como se ajustaram as suas ações às grandes virtudes teologais da Fé, Esperança e Caridade que deviam ter sido a norma da sua vida. Verá a estimação em que teve o sangue de Cristo e os meios de salvação com que a presenteou o Redentor nos sacramentos administrados pela Igreja; como utilizou a grande virtude da penitência e como se aproveitou das facilidades que, por intermédio do soberano poder das chaves, se lhe davam para satisfazer por suas culpas e pecados. Este conhecimento universal, compreensivo e instantâneo, será o que lhe fará exclamar com a plácida alegria dos bem-aventurados, ou com a doce resignação dos justos no Purgatório, ou com a raiva desesperada dos condenados no Inferno: 'Vosso juízo e vossa sentença, ó Deus, são a mesma justiça'.

XLVIII

DO LUGAR DESTINADO AOS QUE NÃO SÃO JULGADOS: O LIMBO DAS CRIANÇAS

Há homens que, ao morrerem, não são julgados?
Sim, senhor; todos os que, por qualquer motivo, não tiveram uso da razão (LXIX, 6)*.

Correm todos a mesma sorte?
Não, senhor; porém, também se lhes não dá destino diverso, no ato do juízo, em atenção aos seus méritos ou deméritos.

Logo a que se atende?
A que uns hajam recebido o batismo e outros não.

Para onde vão os que o recebem?
Para o Céu diretamente.

E os que o não recebem?
Para um lugar especial conhecido com o nome de Limbo.

É o Limbo lugar distinto do Purgatório e do Inferno?
Sim, senhor; porque ali não se padece a pena do sentido, pelos pecados pessoais (Ibid).

Padece-se ali a pena de dano?
Sim, senhor; porque os seus habitantes compreendem que estarão eternamente privados da felicidade proveniente da visão beatífica, se bem que neles não se reveste o caráter de suprema tortura, como nos condenados ao Inferno (Apêndice, 1, 2).

Por que esta diferença na dureza da pena de dano?
Porque os condenados do Limbo compreendem que, se estão privados da visão beatífica, não é em castigo de qualquer pecado pessoal, mas por serem filhos de Adão pecador, isto é, pelo pecado de natureza que pessoalmente contraíram pelo simples fato de terem nascido (Ibid).

Logo, conhecem os mistérios da Redenção?
Certamente que sim, ainda que o conhecimento que deles têm é superficial e puramente externo, se assim nos podemos exprimir (Ibid).

Podemos dizer que possuem a luz da fé?
Se por luz da fé entendemos a claridade interior sobrenatural que aperfeiçoa a inteligência e de algum modo lhe permite penetrar no mais íntimo dos mistérios, e sentir no seu conhecimento gosto e complacência sobrenaturais e desejo eficaz de possuir o que se crê, não, senhor; posto que conhecem as verdades da fé especulativamente, à maneira dos que estão convencidos da verdade da revelação, porém, incapacitados para crê-la sobrenaturalmente e aprofundar-se no seu conhecimento, por faltar-lhes o impulso da graça.

Logo, podemos dizer que vêem os mistérios da fé à claridade de uma luz mortiça e fria que não tem cores nem comunica vigor?
Sim, porque, nem é luz a cujos resplendores se destaquem as negras cores da ingratidão, nem que ocasione acessos de raiva impotente como a raiva dos condenados, nem calor de adesão, de esperança e de caridade como a dos justos na terra, nem a luz ardente e embriagadora da felicidade que ilumina os santos no céu; é uma luz sem radiações sobrenaturais, sem esperança, que não causa remorso nem pesar, e que se limita a dar-lhes conhecimento da existência de um bem que não lhes pertence, de uma felicidade que jamais possuirão, notícia que não lhes causa tristeza, pranto, nem ranger de dentes; pelo contrário, experimentam intensa alegria, ao pensar nos dotes e qualidades naturais recebidas de Deus e nas da mesma ordem com que as dotará o dia da ressurreição (Ibid, ad 5).

Não fala a Igreja de outro limbo situado junto ao das crianças que morrem sem batismo?
Sim, senhor; o limbo em que aguardavam a vinda do Redentor os justos completamente isentos de estorvos pessoais para entrar no céu.

Está agora desabitado?
Recordando que Jesus Cristo baixou a esse limbo no instante de ressuscitar, levando consigo as almas dos que ali estavam detidos, é evidente que não tem nem pode ter o primitivo destino; pode ser, sem embargo disso, que hoje sirva de morada aos inocentes, formando um só com o limbo das crianças.

XLIX

DO FIM DO MUNDO E DO QUE A ELE SE SEGUIRÁ

Dissestes que, no momento em que o último predestinado chegue ao grau de preparação e merecimento a que Deus o destina, sobrevirá o fim do mundo; em que consistirá tal fim e que ordem de coisas se seguirá? Consistirá, exclusivamente em trasladar para o céu o último eleito, e em determinar o estado e lugar definitivo que hão de ocupar os condenados no inferno e as crianças no limbo?
Não, senhor; ao fim do mundo se seguirão os dois atos mais transcendentais e importantes da obra e plano divino; a ressurreição e o Juízo final.

Como acabará este mundo?
O Apóstolo São Pedro nos ensina que no momento em que Jesus Cristo descer, envolto em nuvens de glória para julgar os vivos e os mortos, o mundo terá acabado por meio do fogo (LXXIV, 1, 2).

Logo, a conflagração universal será o ato preparatório do Juízo?
Sim, senhor; pois que servirá para purificar todos os elementos e dispô-los para serem úteis no novo estado de coisas.

O fogo da conflagração final queimará e destruirá somente com a sua energia natural ou possuirá qualidades superiores como instrumento de Deus?
Atuará como instrumento da divina justiça para que nele possam expiar as suas faltas, as almas que deveriam estar mais ou menos tempo no Purgatório (LXXIV, 3-8).

Logo, o tempo de purificação dos que então morrerem durará um só instante?
Sim, Senhor; porque Deus graduará a intensidade e a energia dos tormentos conforme ao que cada um deve, em Justiça, padecer.

Sabemos quando se dará o fim do mundo?
Não, senhor; porém, estamos certos de que à vinda do Juiz Supremo precederão certos sinais e formidáveis avisos.

Quais serão?
Extraordinários transtornos e comoções em toda a natureza, a cuja vista, na expressão do Evangelho, andarão os homens desfalecidos de terror.

Podemos determinar, em concreto, quais serão?
Não, senhor; porém, serão tais que, à sua vista, os justos ou os homens simples e sinceros e não obstinados em cegueira voluntária, reconhecerão a próxima vinda do Juiz.

referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular)

quarta-feira, 17 de junho de 2020

PARA AQUÉM DOS TEMPOS DA TRIBULAÇÃO...

'O dia do Senhor será trevas e não claridade; escuridão, e não luz' 
(Am 5, 20)

Há uma certeza latente nesta e em tantas profecias similares: o dia do Senhor virá e será tremendo. Certeza absoluta, evidência cristalina. Se o homem não se conforma à Vontade de Deus, Deus age sobre a humanidade pecadora. Eventos diversos da história humana comprovam estas intervenções extremadas da onipotência divina. O que podemos esperar então de uma geração singular dos tempos que abandonou Deus até nos rudimentos mais sensíveis da Graça, senão tempos de grande tribulação? Mas, o que Deus espera dos seus escolhidos nestes tempos tremendos? O que Jesus conclama aos justos de toda a terra diante do aviltamento crescente do mal e da impiedade do mundo? O que Nossa Senhora pediu com tanta insistência em Fátima e tem pedido em tantos outros lugares aos seus filhos diletos e amados?

Os Céus pedem o nosso medo? Desespero? Que nos desfaleçamos de terror e espalhemos aterrados os horrores dos castigos universais que nos esperam? Medo, desespero, terror... não são virtudes, não são armas espirituais, não são consolo, não são escudo. Se o medo impera, vacila a fé. Se o desespero assola, a esperança torna-se inútil. Se o horror se manifesta, não há lugar para a temperança e a paz interior. Se o mal é capaz de sitiar as almas em tais angústias, não existirá bem capaz de as livrar de desfalecer de medo.

Deus não quer isso de nós. Jesus não pode aspirar o triunfo da graça com o nosso medo. Nossa Senhora não nos consola para nos adaptarmos à escuridão mas para que possamos enfrentar e superar as trevas. A realidade do mal não pode ser obscurecida, mas sua superação será completa e definitiva: 'Por fim, meu Imaculado Coração triunfará'. O pecado é um vômito repugnante que inunda a face da terra, de todos os modos e formas possíveis. A humanidade parece esmagada pela banalidade do mal que, qual um sorvedouro universal, engole e impulsiona o homem a desatinos e infâmias cada vez mais terríveis. O mal impera, domina, gargalha, reina absoluto. Vivemos a sexta-feira das trevas. 

E tudo isso é nada, é vômito que será ressecado.  É vendaval que se desfaz depois de colossal tormenta de ventos embriagados de fúria; são ondas gigantescas que se arrebentam nos contrafortes dos rochedos; são trevas pastosas e repulsivas que vão se esvair lentamente nas fissuras e crateras da terra sacudida em dinâmica espantosa. É fumaça, porque é só fumaça o poder possível do maligno sobre o homem.

Se o mal que aí está não lhe perturba, é natural que a hora da provação possa lhe amedrontar ... e muito! Se você não tem tempo agora para fazer penitência e mortificação pelos pecadores, como pode achar que terá tempo para você mesmo naquelas horas tremendas?  Se o conformismo modela as suas atitudes e uma descrença generalizada é o acervo do que restou de uma fé católica tíbia e anêmica, o que quaisquer apelos do Céu, por mais assertivos e repetitivos que possam ser, poderiam fazer em seu socorro? Deus tem formas diversas de converter os homens além de fazê-los cair do cavalo como fez com Paulo em alguma estrada de Damasco...

O que Deus quer de nós é oração. O que Jesus nos conclama é buscar a sua misericórdia. O que Nossa Senhora nos impele a fazer é a nossa oferta de nós mesmos, com todas as nossas limitações e dificuldades, com toda a nossa miséria e pequenez, como oferecimento despojado das nossas angústias, sofrimentos, dores, contrariedades e todas as provações cotidianas, como instrumentos dóceis que imploram a conversão dos pecadores e que buscam reparar a avalanche de ofensas e blasfêmias cometidas em golfadas contra o Coração Divino. 

O que você pode oferecer a Deus - hoje, agora! - é amor. Nada mais que isso. Manifeste a Ele este amor agora: em tudo, em todos, o tempo todo!  Ele pode fazer maravilhas com o seu amor abstraído de afeições e sensibilidades humanas; Deus precisa destes pedaços, destas migalhas de amor, para converter o mundo. Deus precisa de suas orações e das minhas! E faça também uma outra coisa pequena: estanque a curiosidade, a angústia e o medo dos tempos que hão de vir no abismo de sua pequenez: pois não há vento em fúria nem terra em transe que possa fazer jorrar as trevas, nem em um momento sequer de toda a eternidade, em uma alma incendiada pela luz que é Cristo. 

terça-feira, 16 de junho de 2020

BREVIÁRIO DIGITAL - ILUSTRAÇÕES DE DORÉ (XIV)

PARTE XIV (Dn 1 - Zc 6)

[O profeta Daniel era exímio na interpretação de sonhos e visões (Dn 1, 17)]

 [Sidrac, Misac e Abdênago na fornalha ardente (Dn 3, 21)]


  [Daniel decifra a inscrição da parede do palácio do rei Baltazar (Dn 5, 17-)]

  [Daniel é confinado na cova dos leões (Dn 6,17)]

 [A visão de Daniel das quatro bestas (Dn 7, 1-)]

  [Suzana é importunada por dois anciãos durante o banho (Dn 13, 17-19)


  [A revolta da multidão contra o falso testemunho dos dois anciãos contra Suzana (Dn 13, 61)]

 [Daniel desmascara os sacerdotes do ídolo Bel (Dn 14, 7]

 [Oráculo do Senhor pelo profeta Amós (Am 1, 1-)]

  [O grande peixe vomita Jonas de suas entranhas (Jn 2,11)]

 [Jonas pregando aos ninivitas (Jn 3,4)]

  [Oráculo do Senhor pelo profeta Miqueias (Mq 1, 1-)]

 [A visão de Zacarias dos quatro carros (Zc 6, 1-6)]