domingo, 26 de abril de 2020

PÁGINAS COMENTADAS DOS EVANGELHOS DOS DOMINGOS


'Sabeis que fostes resgatados da vida fútil herdada de vossos pais... pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha nem defeito. Antes da criação do mundo, ele foi destinado para isso, e neste final dos tempos, ele apareceu, por amor de vós. Por ele é que alcançastes a fé em Deus. Deus o ressuscitou dos mortos e lhe deu a glória, e assim, a vossa fé e esperança estão em Deus' (1Pd 1, 18-21)

sábado, 25 de abril de 2020

A BÍBLIA EXPLICADA (XXII): 'APASCENTA AS MINHAS OVELHAS!'

'Era esta já a terceira vez que Jesus se manifestava aos seus discípulos, depois de ter ressuscitado. Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: 'Simão, filho de João, amas-me mais do que estes?'. Respondeu ele: 'Sim, Senhor, tu sabes que te amo'. Disse-lhe Jesus: 'Apascenta os meus cordeiros'. Perguntou-lhe outra vez: 'Simão, filho de João, amas-me?'. Respondeu-lhe: 'Sim, Senhor, tu sabes que te amo'. Disse-lhe Jesus: 'Apascenta os meus cordeiros'. Perguntou-lhe pela terceira vez: 'Simão, filho de João, amas-me?'. Pedro entristeceu-se porque lhe perguntou pela terceira vez: 'Amas-me?' – e respondeu-lhe: 'Senhor, sabes tudo, tu sabes que te amo'. Disse-lhe Jesus: 'Apascenta as minhas ovelhas' (Jo 21, 14-17).

Esta passagem do texto do Evangelho de São João é carregada de simbolismos e de sinais proféticos. Trata-se explicitamente da terceira manifestação de Jesus aos seus discípulos após os eventos da sua Paixão e Ressurreição e esta menção não é casual e tem relação íntima tanto com as três perguntas que o Senhor dirigiu a Pedro como às três negações do Apóstolo. Por três vezes Pedro há de negar a Pedro, por três vezes Jesus vai pedir para Pedro (o papado) apascentar a Igreja. Com uma diferença exponencial no terceiro pedido: apascenta as minhas ovelhas e não, como nas duas precedentes, apascenta os meus cordeiros.

Existe, portanto, um caráter completamente distinto envolvendo os dois primeiros diálogos de Jesus com Pedro (e, assim, igualmente, entre a terceira e as duas primeiras negações de Pedro). Entre o rebanho de cordeiros (filhote da espécie, indicando, assim, uma Igreja ainda infante e por cumprir ainda a sua função de evangelizar o mundo) e o rebanho de ovelhas (animais adultos, representando simbolicamente a Igreja madura e já plenamente consolidada no mundo), as palavras de Jesus, mais do que a Pedro, são dirigidas à Igreja Militante de tempos essencialmente diversos.

Serão três eras distintas, três momentos absurdamente críticos para a Igreja de Cristo, momentos tão tenebrosos na história humana que levaram o próprio Senhor a explicitar a Pedro (e aos sucessores de Pedro) a sua ordem divina: 'se me amam de verdade, zelem com cuidado extremo e particular pelos meus filhos nestes tempos de tribulação extremada'. 

O primeiro momento tenebroso da história da Igreja é a mesma ter padecido, no nascedouro, de Jesus ausente em corpo entre os homens. Os discípulos, mesmo após o longo convívio com a presença, os ensinamentos, exemplos e milagres do Senhor, vão se refugiar em lugares fechados por medo dos homens, vão vacilar, vão se acovardar. E será o próprio Pedro o mentor do primeiro apelo de Jesus, o mesmo Pedro que vai negar o Mestre pela primeira vez diante de uma simples criada. Sim, uma simples mulher abre a porta para Pedro adentrar um espaço mundano, mas são os próprios discípulos que fecham as portas dos seus refúgios por medo dos homens e da missão que têm a cumprir. Diante da perturbação e da queda iminente diante um mundo que ainda desconhece por completo os mistérios da graça (a criada), Pedro e os Apóstolos romperão as portas do escondimento e do medo para se tornarem os arautos dos evangelhos e os mártires da fé após o Pentecostes. E, assim, a Igreja Primitiva ouviu e fez cumprir o primeiro mandato de Cristo: apascenta os meus cordeiros.

O segundo momento tenebroso da história da Igreja não teve uma data fixa e definida, mas se estendeu por um longo período de flagelo diante as muitas e variadas eras das perseguições romanas. Naqueles tempos, o martírio se converteu em prática cotidiana. Para subverter a Roma pagã e alçar os ares do mundo, o Evangelho de Cristo floresceu na sementeira do sangue derramado por milhares e milhares de mártires. Como conciliar provação tão tremenda de amor à fé cristã por tantos homens e mulheres diante da figura apequenada de Pedro, refestelado diante do fogo acolhedor para se aquecer da noite fria quando Deus vivo está sendo condenado à morte? É uma outra criada agora que o interpela e o acusa diante de outros, isto porque o mundo pagão agora não pode mais dizer que desconhece a Verdade: a força do evangelho vai arrebentando portas e masmorras e convertendo milhares de milhares e, por isso, deve ser denunciado, atacado e combatido pelos inimigos reunidos em torno do fogo acolhedor das misérias do mundo. Essa perseguição vai ter raízes ainda mais profundas no enfrentamento de hordas heréticas de diversas origens, mas o triunfo da Igreja é definitivo. Pedro vai se transformar em um novo Cristo após o seu 'quo vadis' e juntar o seu martírio ao de outros milhares de mártires que temperaram o cadinho da Igreja Nascente e purificada que reformou o mundo para fazer cumprir fielmente o segundo mandato de Cristo: apascenta os meus cordeiros.

O terceiro momento tenebroso da história da Igreja ainda está por vir e terá um período e data muito bem definidos, conforme as inúmeras profecias e referências presentes nos textos das Sagradas Escrituras: os tempos do Anticristo. Será uma era de provação como nunca se viu, será uma hora tremenda para a Igreja e para o povo santo de Deus. Será uma época de perseguições e martírios, de uma crise de fé espantosa, de uma rebelião inimaginável dos homens contra o Evangelho e a fé cristã. Na terceira provação magna da sua história, os eventos associados às duas primeiras estarão presentes conjunta e simultaneamente, e em magnitude extrema. Isto se conclui porque a terceira negação do Apóstolo não constitui somente uma negação como as outras: Pedro blasfema, faz imprecações e jura em falso. A Igreja não apenas vacila e tem medo, mas muda de lado e se alia ao mal. E o galo canta, pois a noite está no fim e já desponta o amanhecer de um novo dia. Neste simbolismo dos trechos proféticos, fica expresso o triunfo final da Igreja nos novos tempos que seguem o fim da noite fria, escura e tenebrosa de provações tamanhas. Este triunfo da Igreja, como expressamente ratificado por Nossa senhora de Fátima, é a certeza de que, naqueles tristes tempos, será firmemente edificada a Igreja Eterna de Cristo e cumprido in totum o terceiro e último mandato de Cristo: apascenta as minhas ovelhas.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

OS GRANDES MÍSTICOS DA IGREJA (IV)

GERTRUDES DE HEFTA

Escondida no anonimato dos tempos, pouco se sabe realmente sobre as origens de Gertrudes de Hefta, a não ser que o seu nascimento se deu em 6 de janeiro de 1256, provavelmente em Eisleben (Alemanha), e que teria ingressado no mosteiro beneditino de Santa Maria de Helfta ainda criança, com idade de 5 anos, como era costume à época nos mosteiros cistercienses.


Neste ambiente particular de devoção e santidade ímpares, Gertrudes conviveu com outras duas grandes religiosas da vida monástica: Gertrudes de Hackeborn (que tinha o seu mesmo nome e era a priora do mosteiro) e Santa Matilde de Hackeborn (irmã da priora). Sob a tutela direta da segunda, Gertrudes recebeu uma esmerada educação intelectual e religiosa, baseada nos estudos das Sagradas Escrituras, na Liturgia, na Tradição patrística, nas regras e na espiritualidade cisterciense, particularmente nos ensinamentos de São Bernardo de Claraval. Exímia no cumprimento da vida monástica e dócil, obediente e prestativa em todos as funções da vida comunitária, Gertrudes construiu uma vida de santidade singular durante a adolescência e toda a sua juventude. 

Por ocasião do Advento de 1280, viveu um período obscuro de fé dúbia e vacilante. Deus preparava assim a sua eleita, mediante uma profunda provação espiritual, para ser uma das grandes místicas da Igreja. Ao experimentar a primeira visita mística de Jesus, em 27 de janeiro de 1281, com a idade de 25 anos, tem início o que a santa chamaria de 'conversão': a partir de então, toda a sua vida será consagrada a uma íntima, fervorosa e ininterrupta união com Deus e completo abandono à Sua Santa Vontade: 'dai-me a graça que toda criatura seja nada para mim e só Vós sejais o deleite do meu coração', pontuada por êxtases e visões diversas. Em uma destas visões, por exemplo, contemplou o Menino Jesus e Nossa Senhora no dia em que Ele foi apresentado no Templo para o cumprimento dos preceitos da purificação.

A Eucaristia constituía o centro da vida religiosa da santa, cercada sempre por profundos atos de piedade, contrição e adoração a Jesus Sacramentado e, nesse sentido, ela viveu, juntamente com a sua preceptora Santa Matilde de Hackeborn, os mistérios e as graças pioneiras da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, que somente seria revelado em plenitude ao mundo, por meio de Santa Margarida Maria Alacocque, cerca de quatro séculos depois. Essa intimidade da graça, profunda e mística, rendeu à santa a concessão dos estigmas das chagas de Cristo e fez dela, além de ser chamada 'a Grande', a santa da santa humanidade de Cristo, a santa da teologia da Encarnação, a santa da teologia do Sagrado Coração de Jesus.

As suas experiências místicas e espirituais foram compiladas em obras como 'Arauto do Amor Divino', 'Revelações' e 'Exercícios Espirituais'. De particular relevância no conjunto imenso de êxtases e experiências místicas, foi o seu conhecimento avançado da realidade do Purgatório: a natureza das penas associadas a cada tipo de pecado, a natureza dos padecimentos das almas penitentes e, de modo especial, a vinculação das devoções eucarística e ao Sagrado Coração de Jesus em proveito da mitigação dos sofrimentos e da própria libertação das almas do Purgatório. 


É pouco provável que exista uma oração específica da santa pelas almas do Purgatório ou uma oração para libertação de mil ou um número fixado destas almas. Na verdade, Santa Gertrudes fazia várias orações diferentes na intenção das almas do Purgatório, em particular pelas religiosas falecidas do mosteiro. Estas experiências foram intimamente compartilhadas no ambiente monástico da época com Santa Matilde de Hackeborn.

Ambas as santas tiveram visões de multidões de almas deixando o Purgatório após as suas orações e, nas alocuções com Jesus, este fato foi várias vezes ratificado a elas. Numa certa ocasião, por exemplo, Santa Matilde de Hackeborn perguntou a Jesus que alívio tivera a alma de um falecido pela qual rezara cinco Pai-Nossos em devoção às suas cinco chagas, ao que Jesus respondeu: 'ela obtém cinco benefícios assim: os anjos oferecem a sua proteção à direita; à esquerda, consolo; na sua frente, dão esperança, às costas, confiança e, acima dela, a alegria celestial'. E acrescentou então: 'toda pessoa que, movida por um sentimento de compaixão e caridade, intercede em favor da alma de um falecido, participa de todo o bem que é feito na Igreja nesta intenção e, no dia em que deixar este mundo, encontrará todo esse bem para proveito do alívio e da saúde da sua própria alma'.

Depois de um longo período de anos de sofrimentos e enfermidades dolorosas, Santa Gertrudes, a Grande, faleceu em data ainda incerta, se 17 de novembro de 1301 ou de 1302. Embora nunca tenha sido oficialmente canonizada pela Igreja, a sua festa litúrgica é comemorada em 16 de novembro desde o século XVIII, por determinação do papa Clemente XII (papa no período 1730 - 1740).

quinta-feira, 23 de abril de 2020

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (XLIX)

XLI

DO SACRAMENTO DA EXTREMA-UNÇÃO

Existe na Igreja algum sacramento especial cujo objeto seja dispor os moribundos para entrar no céu?
Sim, senhor; o Sacramento da extrema - unção (XXIX, 1)*.

Que entendeis por sacramento da Extrema-Unção?
Um rito instituído por Jesus Cristo, que consiste em ungir com óleo consagrado os enfermos em perigo de morte, pedindo a Deus que lhes perdoe os vestígios e restos das culpas passadas e lhes restitua completa saúde espiritual, para que, em pleno vigor da alma, entrem a desfrutar os gozos da bem-aventurança eterna (XXIX, XXXII).

Serve este sacramento para perdoar os pecados?
Não, senhor; pois nem foi instituído contra o pecado original como o batismo, nem contra os mortais, como a penitência, nem contra os veniais, como indiretamente o foi a Eucaristia. Todavia, como infunde uma graça especial, e a graça é incompatível com o pecado, indiretamente o perdoa, se o sujeito age de boa fé, e fez tudo quanto estava em suas mãos para obter o perdão das suas culpas (XXXI, 1).

Pode este sacramento restaurar a saúde do corpo?
Sim, senhor; de sorte que, se o sujeito se acha convenientemente disposto, em virtude da sua própria e exclusiva eficácia sacramental, devolve o vigor físico, quando recuperar a saúde corporal é útil e conveniente para desfrutar a espiritual, objeto próprio deste sacramento (XXX, 2).

Quando se pode e quando se deve receber?
Só pode receber-se quando a enfermidade ou extenuação corporal ponha o homem em transe de morte e deve fazer-se o possível para que o enfermo o receba com pleno conhecimento e grande fervor (XXXII, 1, 2).

Pode repetir-se?
Durante o mesmo perigo de morte, não senhor; porém, se o enfermo convalesce, ou, pelo menos, sai do perigo, pode recebê-lo tantas quantas vezes recair, quer em enfermidades distintas, quer nas alternativas da mesma doença (XXXIII, 1-2).

É a Extrema-Unção o último sacramento, instituído por Jesus Cristo, em favor dos homens?
Considerado o homem como pessoa privada, sim, senhor; porém, considerado como membro de uma sociedade a propagar-se por todo o mundo e a durar até ao fim dos tempos, desfruta os benefícios de outros dois.

Quais são?
A ordem e o matrimônio.

XLII

DO SACRAMENTO DA ORDEM - DOS SACERDOTES, BISPOS E SOBERANO PONTÍFICE; DA IGREJA, MÃE DAS ALMAS

Que entendeis por Sacramento da Ordem?
Um rito sagrado, instituído por Jesus Cristo, para conferir aos homens o poder de consagrar um corpo real em beneficio do corpo místico (XXXVII, 2).

O poder conferido neste Sacramento é um ou múltiplo?
É múltiplo; porém, a multiplicidade não prejudica a unidade do sacramento, porque as ordens inferiores são meras participações da superior (Ibid).

Que entendeis por ordem superior?
O presbiterado ou a ordem dos que têm faculdade para consagrar a Eucaristia (Ibid).

Que são ordens inferiores?
As que precedem o presbiterado e instituem ministros para servir ao sacerdote no ato da consagração. Ocupam, entre eles, o primeiro lugar os diáconos, os subdiáconos e os acólitos, cuja missão é servirem ao sacerdote no altar. É ofício dos primeiros distribuir a Eucaristia, pelo menos sob a forma de vinho, nos lugares em que os fiéis comungam em ambas as espécies; os segundos colocam nos vasos sagrados a matéria do sacramento, preparada e oferecida pelos terceiros. Vêm em segundo lugar os ministros cujo ofício é dispor os fiéis para receberem a Eucaristia, no que se refere à absolvição sacramental reservada ao sacerdote, expulsando os indignos, instruindo os catecúmenos e livrando os possessos do furor do demônio; e, se bem que estes ofícios não têm hoje aplicação, nos países católicos, tiveram-na nos primitivos tempos do Cristianismo, quando os fiéis se recrutavam entre os pagãos, e subsistem, com o fim de conservar íntegra a hierarquia eclesiástica (Ibid).

Quais são, por conseguinte, as ordens maiores e quais são as menores?
São ordens maiores o presbiterado, o diaconato e o subdiaconato, e menores as que servem para instituir acólitos, exorcistas, leitores e ostiários ou porteiros (XXXVII, 2,3).

Onde residem ordinariamente os ministros inferiores ao sacerdote?
Nos seminários e outros estabelecimentos eclesiásticos destinados à formação intelectual e moral dos que se preparam para a ordem suprema do sacerdócio.

Logo, ao receberem o presbiterado, é quando se põem os ministros da Igreja em contado com os fiéis para trabalhar na obra da sua santificação?
Sim, senhor.

Estão os sacerdotes investidos de algum caráter especial que os distingue dos demais fiéis?
Não só o estão os sacerdotes, mas também todos os membros da hierarquia eclesiástica, já que todas as ordens imprimem caráter. Todavia, está, podemos dizer, mais acentuado e impresso nos presbíteros, facultados para consagrar o corpo e sangue de Cristo e perdoar os pecados no tribunal da penitência.

Logo, os fiéis recebem, por intermédio dos presbíteros, todas as graças e bens espirituais vinculados aos sacramentos?
Sim, senhor; porque, se excetuarmos a confirmação, reservada ordinariamente aos bispos, aos simples presbíteros está entregue, por oficio, a administração de todos os sacramentos destinados a procurar a graça para o homem como pessoa privada, isto é, o batismo, a eucaristia, a penitência e a extrema-unção e assim também a faculdade suprema e divina de oferecer o augusto sacrifício do altar.

A quem são devedores os fiéis do inapreciável benefício de conhecer os mistérios e verdades de nossa santa religião ?
Aos sacerdotes, que tem como ministério cotidiano o de instruí-los nas verdades da fé.

De quem recebem os presbíteros os seus poderes e faculdades?
Dos bispos (XXXVIII, XL, 4).

Em que são os bispos superiores aos presbíteros e como podem conferir-lhes tais poderes?
Não são os bispos superiores aos simples presbíteros no tocante à consagração do corpo real de Cristo, mas no que se refere ao corpo místico, que é a Igreja; e em atenção a isso podemos dizer que Cristo instituiu o poder episcopal. Encontra-se dentro das suas atribuições tudo quanto seja necessário para criar e organizar igrejas e dispô-las para receber todas as graças vinculadas aos sacramentos. Por conseguinte, em virtude da consagração episcopal, adquirem a plenitude do sacerdócio, e podem, não só consagrar o corpo real de Jesus Cristo como os demais presbíteros, mas também administrar sem limites ou reservas todos os sacramentos, inclusive o da confirmação, consagrar ou ordenar sacerdotes e ministros inferiores, conceder-lhes jurisdição sobre os fiéis e confiar-lhes o seu governo e cuidado espiritual (XL, 4. 5).

Logo, podemos dizer que toda a vida e atuação da Igreja se concentra no bispo?
Sim, senhor.

Que necessita, por sua vez, o bispo para ser centro e origem da jurisdição na Igreja?
Viver em comunhão e dependência do Bispo de Roma, chefe e cabeça visível de todas as igrejas do mundo que, sob sua autoridade suprema e poder soberano, formam a congregação universal chamada Igreja de Cristo (XL, 6).

Logo, o Bispo de Roma tem faculdades que os outros não possuem?
No que se refere ao poder de ordem necessário para administrar todos os sacramentos, não, senhor; porém, no tocante ao poder de jurisdição, que compreende tudo o que é relativo ao governo da Igreja de Deus e designação de súditos e limites das diversas jurisdições, sim, senhor. Deste modo, o Soberano Pontífice concentra em sua pessoa todos os poderes da Igreja Católica, ao passo que os bispos só têm jurisdição em suas dioceses, partes integrantes da Igreja Universal, ou nas igrejas que, por ministério da lei eclesiástica, dependam da sua jurisdição no todo ou em parte, e ainda este poder limitado depende, em sua aquisição e exercício, da autoridade suprema do Soberano Pontífice (Ibid).

Por que reside na pessoa do Soberano Pontífice o poder Supremo de jurisdição e governo?
Porque assim o exige a unidade da Igreja; por isso Jesus Cristo deu a Pedro, de quem sucessor legitimo é e será até ao fim dos séculos o Pontífice de Roma, o cargo e ofício de apascentar todo o seu rebanho, tanto as ovelhas como os cordeiros (Ibid).

Logo, a união do homem com Jesus Cristo, mediante a graça dos sacramentos, e, por conseguinte, a salvação eterna de todos os mortais, depende e dependerá sempre e exclusivamente do Soberano Pontífice?
Sim, senhor; porque, se embora seja certo que a graça não está de modo absoluto ligada aos sacramentos, os quais podem ser supridos pela ação interior do Espírito Santo, pelo menos nos adultos impossibilitados, sem culpa sua, de recebê-los — não é menos certo que o homem que, conscientemente se separa da comunhão com o Romano Pontífice, se incapacita para receber a graça de Deus e, se em tal estado morre, está irremediavelmente perdido.

Logo, este é o sentido da frase 'fora da Igreja não há salvação'?
Sim, senhor; como também o é desta outra e equivalente: 'Não pode ter a Deus por pai quem não tem a Igreja por mãe'.

referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular)

quarta-feira, 22 de abril de 2020

O ESCAPULÁRIO AZUL DA IMACULADA CONCEIÇÃO


O chamado Escapulário Azul da Imaculada Conceição é, dentre todos os escapulários aprovados pela Igreja, o mais enriquecido com graças e indulgências. Anexado à Ordem dos Teatinos, após as revelações desta devoção por Nossa Senhora à Venerável Úrsula Benincasa (cujas virtudes foram proclamadas heroicas pelo papa Pio VI, em 7 de agosto de 1793), o Escapulário Azul foi enriquecido com inúmeros privilégios ao longo do tempo, por diferentes documentos papais* (Clemente IX, Clemente XI, Gregório XVI e, particularmente pelo papa Pio IX, que proclamou o dogma da Imaculada Conceição de Nossa Senhora).

* [Decr. Pii VII, die 30 iun. 1818; Breve Leonis XIII, die sept. 1878; Decr. Pii X, die 10 apr. 1913; S. Poenit. Ap., 8. nov. 1934 et 12 iul. 1941].

O fiel devoto deve trazê-lo sempre ao peito, com um firme propósito de rezar pela Igreja, pelo papa e pela conversão dos pecadores, pois tanto a Ordem dos Teatinos (fundada por São Caetano de Tiene e pelo bispo João Pedro Caraffa, depois papa Paulo IV, no século XVI) como a Venerável Benincasa tinham como devoção especial orar pela conversão dos pecadores. A imposição é reservada aos padres teatinos em cerimônias solenes, mas pode ser imposta privadamente por qualquer sacerdote. São os seguintes os muitos, generosos e extraordinários privilégios** desta santa devoção: 

I. Indulgências Plenárias (Sem Confissão e Sem Comunhão)

Ao fiel que usar o Escapulário Azul devidamente imposto, concede-se lucrar as mesmas indulgências plenárias que são concedidas àqueles que visitam as sete basílicas de Roma, a igreja da Porciúncula de Assis, a igreja de Santiago de Compostela e a Terra Santa, cotidianamente, a cada vez que rezarem 6 Pai-Nossos, 6 Ave-Marias e 6 Glórias-ao-Pai, em honra da Santíssima Trindade e da Bem-Aventurada Virgem Maria concebida sem pecado, orando ao mesmo tempo pela exaltação da Santa Igreja Romana e pela extirpação das heresias. 

Para lucrarem-se estas indulgências não é necessário dizer outras orações, nem confessar-se e nem comungar, bastando estar em estado de graça (e este, em caso de pecado grave, pode ser recuperado por um ato de contrição unido ao propósito de confessar-se depois). Todas estas indulgências são aplicáveis aos defuntos (este extraordinário privilégio foi reconhecido e confirmado pela Santa Sé em decreto de 31 de março de 1856, confirmado pelo papa Pio IX em 14 de abril do mesmo ano).

II. Indulgências Plenárias (Condições de Costume)

Ao fiel que usar o Escapulário Azul devidamente imposto, concede-se lucrar uma indulgência plenária a cada dia dos listados abaixo, desde que faça a comunhão nesse dia, reze alguma oração pelas intenções do Papa, tenha arrependimento e propósito de emenda até dos seus pecados veniais e tenha se confessado no dia ou na semana anterior (Decreto do papa Gregório XVI, de 12 de julho de 1846):

- No dia da imposição do escapulário;
- Na hora da morte;
- Todo primeiro domingo do mês;
- Todo sábado da Quaresma;
- Na domingo e na sexta-feira da semana que antecede a Semana Santa;
- Na Quarta, Quinta e Sexta-Feira da Semana Santa;
- Em um dos dias das Quarenta Horas;
- No primeiro e último domingo da novena de Natal;
- Nas festas do Natal, Páscoa, Ascensão, Pentecostes, Invenção e Exaltação da Santa Cruz;
- Nas festas da Imaculada Conceição, da Purificação, da Anunciação, da Assunção e da Natividade de Nossa Senhora;
- No dia 2 de agosto, festa da Porciúncula;
- Nas festas de São Miguel, Anjos da Guarda, São José, São João Batista, São Pedro e São Paulo, Santo Agostinho, Santa Teresa de Ávila e Todos os Santos;
- Uma vez durante qualquer dia de um retiro de ao menos de 3 dias;
- Uma vez em qualquer dia do ano, à escolha da pessoa;
- Nas festas principais dos teatinos, que ocorrem nos dias 24 de março, 12 de abril, 17 de julho, 7 de agosto, 10 de novembro e 13 de dezembro.
- No dia da primeira missa, se o que usa o escapulário é sacerdote;
- Duas vezes ao mês, em dia à escolha da pessoa;

- Pode-se, além disto, ganhar as mesmas indulgências das Estações de Roma, nos dias designados pelo missal, visitando-se nesses dias uma igreja dos teatinos ou, se não for possível, a própria paróquia. Os dias assim designados pelo missal são: os domingos do Advento; os dias 26, 27 e 28 de dezembro; as festas da Circuncisão do Senhor e da Epifania; os domingos da Septuagésima, Sexagésima e Quinquagésima; a quarta-feira de Cinzas e todos os dias que lhe seguem, até ao domingo de Páscoa inclusive; a festa de São Marcos (25 de abril) e os três dias das rogações; a festa da Ascensão; a vigília de Pentecostes e todos os dias da semana que lhe segue e ainda no dias das Quatro Têmporas).

III. Indulgências Parciais

Ao fiel que usa o Escapulário Azul devidamente imposto, concede-se lucrar (bastando estar em estado de graça e ter a intenção geral de ganhar todas as indulgências que puder):

- 60 anos de indulgência pela prática da meditação diária por ao menos meia hora, a cada vez. 
- 20 anos a cada dia das oitavas das festas de Nosso Senhor e outras festas de diversas Ordens Religiosas; 
- 20 anos ao visitar os enfermos, ou, havendo impedimento para tanto, ao rezar 5 Pai-nossos e 5 Ave-Marias pelos enfermos; 
- 7 anos e 7 quarentenas em todas as festas de Nossa Senhora não mencionadas acima; 
- 7 anos e 7 quarentenas cada vez que se confessarem e comungarem; 
- 5 anos e 5 quarentenas cada vez que visitarem uma igreja dos teatinos ou a própria igreja, rezando aí 5 Pai-nossos, 5 Ave-Marias e 5 Glórias-ao-Pai em honra da Santíssima Trindade e da Bem-Aventurada Virgem Maria concebida sem pecado, orando ao mesmo tempo pela exaltação da Santa Igreja Romana e pela extirpação das heresias;
- 300 dias em cada dia da oitava de Pentecostes; 
- 200 dias a cada vez que ouvir uma pregação; 
- 60 dias a cada vez que se fizer qualquer ato de piedade; 
- 50 dias a cada vez que se invocar devotamente os Nomes de Jesus e Maria; 
- 50 dias a cada vez que rezar um Pai-nosso e Ave-Maria pelos fiéis vivos e defuntos.

(Estes períodos de tempo mencionados significam que o fiel recebe, do Tesouro Espiritual da Igreja, uma remissão das penas temporais de seus pecados já perdoados equivalente àquela que receberia um penitente dos primeiros séculos da Igreja por tantos dias ou anos de penitência pública e canônica).

IV. Altar Privilegiado

- Todas as missas que se dizem em qualquer altar, por um defunto que em vida portava o Escapulário Azul, desfrutam dos benefícios de Altar Privilegiado (altar em que cada missa lucra indulgência plenária em favor da alma pela qual se oferece a missa).

** [Meditações Sacerdotais, do Padre Chaignon, S. J., Volume III, 2ª edição, Porto:1935, Edições do Apostolado da Imprensa, p. 785 - 789].

Fórmula de Imposição do Escapulário Azul da Bem-Aventurada Virgem Maria
(Benedictio et Impositio Scapularis Caerulei B. Mariae Virg. Immaculatae)


1. O fiel que vai receber o Escapulário Azul ajoelha-se; o sacerdote, revestido se sobrepeliz e estola branca, diz:

Adiutórium nostrum in nómine Dómini.
- Qui fecit caelum et terram.
Dóminus vobiscum.
- Et cum spíritu tuo.

Oremus: Dómine Iesu Christe, qui tégumen nostrae mortalitátis induére dignatus es, tuae largitátis cleméntiam humíliter imploramus: ut hoc genus vestiménti, quod in honórem et memóriam Conceptiónis beátae Maríae Vírginis immaculátae, nec non ut illo indúti exórent in hóminum pravórum morum reformatiónem, institútum fuit, bene+dícere dignéris; ut hic fámulos tuus, qui eo usus fuérit [vel haec fámula tua, quae eo usa fúerit; vel hi fámuli tui, qui eo usi fúerint; vel hae fámulae tuae, quae eo usae fúerint], éadem beáta María Vírgine intercedénte, te quoque induére mereátur [vel mereántur]: Qui vivis et regnas in sáecula saeculórum. Amen.

2. Em seguida, o sacerdote asperge o Escapulário com água-benta e o impõe ao fiel, dizendo:

Accipe, frater [vel soror], scapuláre Conceptiónis beátae Maríae Vírginis Immaculátae: ut, ea intercedénte, véterem hóminem exútus (a) et ab omni peccatórum inquinaménto mundátus (a), ipsum pérferas sine mácula, et ad vitam pervénias sempitérnam. Per Christum Dóminum nostrum. Amen.

3. Com o Escapulário imposto ao fiel, o sacerdote diz então:

Et ego, ex facultáte mihi concéssa, recípio te [vos] ad participatiónem bonórum ómnium spirituálium, quae in Clericórum Regulárium congregatióne ex grátia Dei fiunt, et quae per Sanctae Sedis Apostólicae privilégium concéssa sunt. In nómine Pátris, et Fílli, + et Spíritus Sancti. Amen.

4. O sacerdote reza então por aquele que recebeu o Escapulário a seguinte oração, fazendo uma genuflexão a cada louvor:

Laudes ac grátiae sint omni moménto, sanctíssimo ac diviníssimo Sacraménto. Et benedícta sit sancta et immaculáta Concéptio beatíssimae Vírginis Maríae, Matris Dei.

5. O sacerdote faz uma pequena alocução fazendo referência explícita aos variados e extraordinários privilégios associados ao Escapulário Azul da Imaculada Conceição.

terça-feira, 21 de abril de 2020

SOBRE AS MORTIFICAÇÕES EXTERNAS E INTERNAS

Nunca percas de vista esta bela sentença de Santa Teresa: 'Quem julga que Deus admite à sua amizade pessoas que amam a comodidade, engana-se redondamente'. 'Os que são de Cristo, crucificaram sua carne com seus vícios e concupiscência', diz o Apóstolo (Gl 5,24). Por isso considera como uma dádiva divina toda a ocasião de te mortificares e não deixes nenhuma sem te aproveitares dela.

Reprime teus olhos e não os detenhas em coisas que satisfazem unicamente a curiosidade. Evita toda conversação em que se trata unicamente de novidades ou de outras coisas mundanas. Esforça-te sempre em mortificar o paladar: nunca comas e bebas unicamente para contentar tua sensualidade, mas só para sustentar o teu corpo. Renuncia voluntariamente aos prazeres lícitos e dize generosamente, quando ouvires falar das alegrias do mundo: 'Meu Deus, só a vós eu quero e nada mais'. 

Faze com fervor todas as mortificações externas que a obediência e as circunstâncias permitirem. Se não puderes mortificar teu corpo com instrumentos de penitência, pratica ao menos a paciência nas doenças, suporta alegremente toda incomodidade que consigo traz a mudança do calor e do frio; não te queixes quando te faltar alguma coisa, alegra-te antes quando te faltar até o necessário.

Mas principalmente a mortificação interna é que deves praticar, reprimindo tuas paixões e nunca agindo por amor-próprio, por vaidade, por capricho ou por outros motivos humanos, mas sempre com a única intenção de agradar a Deus. Por isso, enquanto possível, deves te privar daquilo que mais te agradar e abraçar o que desagrada ao teu amor-próprio. Por exemplo: quererias ver um objeto: renuncia a isso justamente por te sentires levado a contemplá-lo; sentes repugnância por um remédio amargo: toma-o justamente por ser amargo; repugna-te fazer benefícios a uma pessoa que se mostrou ingrata para contigo: faze-o justamente porque tua natureza se rebela contra isso. Quem quer pertencer a Deus, deve se violentar incessantemente e exclamar sem interrupção: 'Quero renunciar a tudo, contanto que agrade a Deus'.

(Santo Afonso Maria de Ligório)

sábado, 18 de abril de 2020

IN SINU JESU: 'REFUGIE-SE NAS MINHAS FERIDAS'


Eu estou aqui diante de você, eu sou a Palavra. Nenhum livro, por mais belo que seja, pode falar ao seu coração como Eu, que sou a Sabedoria Eterna, Amor infinito e Beleza Incriada em diálogo com a sua alma. Minhas palavras não são como as palavras dos homens. Minhas palavras superam até as palavras dos Meus santos, embora esteja acostumado a falar por meio deles e continuo tocando as almas por meio dos seus escritos. Minhas palavras são como flechas de fogo que atingiram o seu coração e o feriram de modo a lhe inflamar e o curar com amor divino.

Torne-se vulnerável às Minhas palavras. Permita-me falar com você de forma a ferir o seu coração com a espada do amor divino. Quando você se coloca diante de Mim e Me espera em silêncio, você assim o permite, escolher como e quando fazer penetrar a Minha palavra no seu íntimo e acender o fogo com a mensagem do amor divino. Espere-me, então, não somente para falar com você para consolá-lo e iluminá-lo, mas também para feri-lo. Porque, a menos que eu lhe machuque dessa maneira, você seria incapaz de enfrentar os ataques do inimigo e de dar testemunho de Mim no meio da escuridão e tribulação.

Na batalha espiritual que está em curso, somente os feridos por Mim sairão vitoriosos. É por isso que chamo todos os Meus sacerdotes a procurar e aceitar as feridas curadoras do Meu amor. Aqueles que se prostram diante do Meu Rosto Eucarístico são os primeiros a serem feridos pelo Meu amor. Eu te chamei para esta adoração porque desejo ferir você não uma vez, mas uma e outra vez, até que todo o seu ser esteja chagado e, assim, purificado e incendiado com o fogo do Meu amor. Que a sua alma seja ferida tantas vezes quantas fui ferido em Meu corpo por amor a você na Minha mais amarga Paixão! Permita-me, então, transpassá-lo mais e mais até que, tão ferido pelo amor divino, você esteja totalmente santificado e pronto para cumprir os Meus propósitos e projetos.

Isso desejo não apenas para você, mas para todos os Meus sacerdotes. Eu feriria cada um deles de novo e de novo com o Meu amor ardente, a fim de purificar toda a ordem sacerdotal da Minha amada Igreja, para apresentá-la aos olhos do mundo como um sacerdócio vitorioso e santificado no holocausto do amor divino. Até que os meus bispos e sacerdotes me permitam feri-los com as flechas ardentes do Meu divino amor, suas próprias feridas - feridas do pecado - continuarão a apodrecer e a espalhar uma infecção repugnante de corrupção e impureza na Igreja. Cada um me implore para assim o ferir pois, ao ferir de amor os Meus sacerdotes amados, eu os curarei e, ao curá-los, eu os santificarei e, ao santificá-los, eu darei glória ao Meu Pai e iluminarei o mundo com o brilho do Meu próprio Rosto e o com o amor do Meu próprio coração.

Considere a verdade do que você realmente é: um pecador que se apega firmemente ao abraço da Minha amizade divina. Quando Eu suspendo esta graça de conversar com você por um tempo, é para que você não a confunda como um produto de suas próprias imaginações e também para que você não fique conformado às Minhas palavras e, assim, pouco a pouco, relaxe de lhes dar o devido valor e de levá-las até o coração. Falo com você para que você possa compartilhar Minhas palavras em todas as ocasiões possíveis. E compartilhe as minhas palavras humildemente, sem pensar em si mesmo. Permaneça recolhido em Mim e eu esconderei você das murmurações dos homens nos mistérios velados da Minha Face e irei preparar para você um lugar secreto nas profundezas do santuário do meu lado aberto na Cruz. Ali, você pode ficar escondido e em silêncio, compartilhando minhas palavras livremente e sem o medo de ser notado ou elogiado.

Me peça então para esconder você dentro das minhas chagas. Há um lugar para você em cada uma das Minhas cinco chagas: cada uma deles representa um refúgio contra as tentações que o ameaçam e contra as ciladas do demônio, que buscam lhe prender e fazê-lo pecar. A ferida na minha mão direita é o seu refúgio contra os pecados da desobediência e da vontade própria. Busque refúgio nela quando estiver tentado a seguir um caminho largo e fácil. A ferida na minha mão esquerda é o seu refúgio contra os pecados do egoísmo, ao dirigir todas as coisas para si e ao captar a atenção dos outros, procurando levar para si o que sua mão direita Me oferece.

A ferida no meu pé direito é o seu refúgio contra os pecados da inconstância. Refugie-se lá quando sentir-se tentado pela tibieza e quando hesitar em suas resoluções de me amar acima de todas as coisas e de Me colocar em primeiro lugar em suas afeições e desejos. A ferida no meu pé esquerdo é o seu refúgio contra os pecados da preguiça e da letargia espiritual. Busque refugiar-se nesta chaga quando estiver tentado a desistir da luta e a consentir em ficar desanimado e a desesperar-se.

Finalmente, a ferida ao meu lado é o seu refúgio contra todo falso amor e contra todos os desejos humanos que podem prometer deleite, mas cujo preço é amargura e morte. Refugie-se na chaga do Meu lado ferido quando for tentado a procurar amor em qualquer criatura. Eu te criei para o Meu amor e somente o Meu amor pode satisfazer plenamente os desejos do seu coração. Adentre, pois, na ferida ao meu lado e, penetrando até ao Meu Coração, sorva profundamente das fontes do Meu amor para refrigério e deleite de sua alma, purificada, então, para o eterno convívio Comigo, porque Eu sou o Noivo da sua alma, o Salvador de todas as coisas que podem corromper você, o seu Deus, que é amor e misericórdia agora e por todos os séculos dos séculos.

(Excertos da obra 'In Sinu Jesu - Quando o Coração fala ao coração: Diário de um Sacerdote em Oração', por um monge beneditino, tradução pelo autor do blog)