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quinta-feira, 4 de abril de 2019
quarta-feira, 3 de abril de 2019
SOBRE A MORTE E O SOFRIMENTO DAS CRIANÇAS
Alguns ignorantes costumam objetar a tais argumentos uma objeção caluniosa, concernente à morte das crianças e acerca dos sofrimentos corporais pelos quais nós as vemos frequentemente serem afligidas. Dizem eles: 'Que necessidade tinha essa criança de nascer pois, se antes mesmo de ter realizado qualquer obra meritória, deixa a vida?' E em que categoria será preciso colocar, no momento do julgamento final, aquele pequeno ser cujo lugar não está entre os justos pois não praticou nenhuma boa ação, nem entre os maus, posto que não cometeu pecado algum?
Respondemos a isso: considerando o conjunto do universo e a ordem perfeita que une todas as criaturas através do espaço e tempo, chega-se à conclusão da impossibilidade de homem algum ser criado inutilmente, visto que nenhuma folha de árvore tenha sido criada sem motivo. Entretanto, é por certo supérfluo interrogar sobre os méritos de alguém que nada mereceu. Porquanto não é para temer que não possa haver uma espécie de vida média entre a virtuosa e a pecaminosa. E em referência a um juiz, pode ser que ele tome uma decisão média entre a recompensa e o castigo.
...
Reflitamos, agora, sobre o caso dos sofrimentos corporais com os quais as crianças pequenas são atormentadas, as quais, devido à sua idade, estão isentas de qualquer pecado. Na suposição de as almas que vivificam as crianças não terem já começado a existir antes, costumam alguns erguer lamentações maiores, como se tivessem pena, e dizem: 'Que mal fizeram para sofrer assim?' Falam como se pudesse haver algum mérito devido à inocência, antes de alguém poder cometer algum mal.
E no caso de Deus pretender obter alguma coisa de bom para a correção dos adultos, quando os prova pelas dores e morte das crianças, que lhe são queridas, por qual razão não haveria de fazê-lo? Posto que, uma vez tendo passado esses sofrimentos, tudo será como se não tivessem existido, para aqueles a quem aconteceram? E quanto àqueles em cuja intenção tais coisas terão acontecido, ou eles se tornarão melhores, no caso de se corrigirem por meio dessas aflições temporais, e assim terem optado por viver com mais retidão, ou, no caso contrário, não terão desculpa alguma diante da punição no julgamento futuro, pois recusaram, apesar das angústias da vida presente, a voltarem os seus desejos em direção da vida eterna.
Aliás, quem é que pode saber o quanto a essas crianças cujos tormentos visaram abalar a dureza do coração dos mais velhos ou por em prova sua fé, ou ainda manifestar a sua piedade, quem, pois, poderá saber qual será a feliz compensação que Deus reserva a essas crianças, no segredo de seus julgamentos? Porquanto, se elas não praticarem ainda bem algum, foi também sem haver pecado em nada que suportaram tais sofrimentos. Assim, lembremos aquelas crianças postas à morte, quando Herodes procurava o Senhor Jesus Cristo para o matar (Mt 2,6). Não é em vão que a Igreja as apresenta à nossa veneração, reconhecendo-as no número glorioso dos mártires.
(Excertos da obra 'O Livre Arbítrio', de Santo Agostinho)
terça-feira, 2 de abril de 2019
02 DE ABRIL - SÃO FRANCISCO DE PAULA
O grande santo das curas prodigiosas, São Francisco de Paula nasceu na Calábria/Itália em 1416. Analfabeto, místico e profético, tornou-se o 'eremita da caridade' e fundou a Ordem dos Mínimos (formada por aqueles que deveriam ser os menores dos servos de Cristo).
São Francisco de Paula tinha, entre as suas devoções particulares, o culto ao mistério da Santíssima Trindade, à Anunciação da Virgem e à Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Faleceu na Sexta-feira Santa do ano de 1507 (02/04/1507), aos 91 anos de idade. Foi canonizado pelo Papa Leão X em 1518. Em 1562, durante as Guerras de Religião na Europa, os protestantes calvinistas invadiram o convento de Plessis, na França e daí retiraram do sepulcro o corpo ainda incorrupto do santo e o queimaram em seguida; por esta razão, diz-se que São Francisco de Paula foi martirizado depois da morte.
Dotado de poderes sobrenaturais, curou muitas doenças e realizou milagres extraordinários. Além da levitação e da graça da maternidade que concedeu a muitas mulheres estéreis, promoveu a ressuscitação de várias pessoas: seu sobrinho Nicolas, um malfeitor que havia sido morto por enforcamento e, por duas vezes, de um homem chamado Tomás de Yvre, morto em acidentes distintos durante a construção de um convento da cidade de Paterne, na França.
Dotado de poderes sobrenaturais, curou muitas doenças e realizou milagres extraordinários. Além da levitação e da graça da maternidade que concedeu a muitas mulheres estéreis, promoveu a ressuscitação de várias pessoas: seu sobrinho Nicolas, um malfeitor que havia sido morto por enforcamento e, por duas vezes, de um homem chamado Tomás de Yvre, morto em acidentes distintos durante a construção de um convento da cidade de Paterne, na França.
ORAÇÃO A SÃO FRANCISCO DE PAULA
Ó glorioso São Francisco de Paula que tanto vos aprofundastes na humildade, único alicerce de todas as virtudes, alcançando através dela um grande prestígio junto de Deus, a tal ponto de jamais lhe terdes pedido graça alguma que prontamente não vos fosse concedida.
Aqui venho aos vossos pés para suplicar-vos. Extinga do meu coração todo afeto de soberba e vaidade e em seu lugar floresçam os preciosos frutos da humildade para que possa ser verdadeiro devoto e imitador vosso e merecer o grande patrocínio que, de vossa eficaz intercessão, espero e rogo me alcanceis de Deus a graça de que tanto necessito, não sendo contra a vontade do Altíssimo. Amém.
segunda-feira, 1 de abril de 2019
SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (XXVIII)
XXVIII
NATUREZA DA VIRTUDE DE RELIGIÃO
Que entendeis por virtude de religião?
A virtude de religião é assim chamada porque constitui o vínculo que deve ligar o homem com Deus, como princípio de todo bem, e uma perfeição da vontade, mediante a qual se aprecia e estima em seu verdadeiro valor a relação de dependência do homem para com Deus, como primeiro princípio, último fim, ser infinitamente perfeito e causa primeira de toda a perfeição (LXXXI, 1-5)*.
Quais são os seus atos?
Os atos próprios da religião são todos os que, por sua natureza, manifestam e confessam esta dependência. Pode, além disso, a virtude da religião ordenar para este mesmo fim os atos das outras virtudes e, neste caso, podemos dizer, que converte a vida do homem em um ato de culto permanente (LXXXI, 7-8).
Como poderemos chamá-la neste último caso?
Podemos chamá-la de santidade, porque santo é o homem cuja vida se transforma num ato de religião (LXXXI, 8).
É grande e excelente a virtude da religião?
Depois das Virtudes Teologais, é a mais excelsa (LXXXI-6).
Por que?
Porque, entre todas as virtudes morais, cuja finalidade é disciplinar a atividade consciente do homem para lançá-lo na conquista de Deus, conhecido pela fé, prometido pela esperança e amado pela caridade, nenhuma tem objeto mais elevado e próximo do último fim. As outras virtudes regulamentam os atos e deveres do homem para consigo mesmo ou para com as outras criaturas; a religião ensina-lhe as suas obrigações para com Deus, a reconhecer e acatar a sua soberana majestade, a servi-lo e honrá-lo como servido e honrado quer ser Aquele cuja grandeza e perfeição excedem, com diferença infinita, a de todas as criaturas (Ibid).
XXIX
ATOS INTERIORES DA RELIGIÃO: A DEVOÇÃO E A ORAÇÃO: SUA NECESSIDADE E FÓRMULA — O PAI NOSSO OU ORAÇÃO DOMINICAL E SUA EFICÁCIA
Qual é o primeiro ato da religião?
O ato interior chamado devoção.
Que entendeis por devoção?
Um movimento da vontade, em virtude do qual ela (e quanto dela depende) se acha sempre disposta para empregar-se no serviço de Deus. (LXXXII, 1, 2).
Qual é, depois da devoção, o primeiro ato com que o homem se ocupa no serviço de Deus?
A oração.
Que entendeis por oração?
No sentido mais elevado da palavra, é um ato da razão prática, mediante o qual intentamos persuadir a Deus para que cumpra os nossos desejos e, para consegui-lo, empregamos a súplica e a petição (LXXXIII, 1).
É possível e razoável semelhante intento?
Sim, Senhor; e não há coisa no mundo mais razoável, nem mais conforme com a nossa natureza (LXXXIII,2).
Por que?
Posto que sejamos seres racionais e conscientes, temos necessidade de saber quem é Deus e quem somos nós: Ele é fonte e origem de todo o bem e perfeição; nós pura indigência; logo, com quanta maior firmeza nos formos convencendo da nossa pequenez e miséria, tanto em geral como em cada caso particular, e de que só Ele pode remediar-nos, mais nos ajustaremos ao que de nós exige a própria natureza; este é, pois, o objeto da oração: donde se segue que, tanto mais perfeita será quanto melhor nela adquiramos o conceito mais cabal da própria pequenez e da grandeza e generosidade divinas: e por onde viremos ao conhecimento da razão por que Deus, em sua infinita misericórdia, quis que orássemos e decretou não conceder-nos coisa alguma se não com a condição de pedirmos.
Logo, quando tratamos de forçar a Deus para satisfazer os nossos desejos, limitamo-nos a cumprir a sua vontade?
Quando pedimos bens conducentes à nossa salvação, sim, Senhor.
Deus ouve e atende sempre às nossas orações?
Quando, movidos pelo Espírito Santo, pedimos alguma coisa em harmonia com a nossa felicidade, sim, Senhor (LXXXIII, 15).
Existe alguma fórmula de orar com cujo emprego podemos estar seguros de pedir sempre o que convém?
Há uma que podemos chamar fórmula por excelência, conhecida com o nome de Pai Nosso ou Oração Dominical (LXXXIII, 9).
Que entendeis por Oração Dominical?
A que Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou no Evangelho.
Qual é?
Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai as nossas dividas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém.
Contém esta oração tudo o que podemos e devemos pedir a Deus?
Sim, Senhor; e quanto lhe pedimos e se é justo o nosso desejo, ele se acha incluído em alguma das petições do Pai Nosso (LXXXIII, 9).
Tem a Oração Dominical alguma outra qualidade própria e exclusiva dela?
Sim, Senhor; a de por nos lábios, com a mesma ordem que deve ter no coração, o que estamos obrigados a querer e a desejar (Ibid).
Podereis dar a razão da ordem das suas petições?
Sim, Senhor; a primeira coisa que estamos obrigados a desejar é a glória de Deus, fim e objeto da criação; donde se segue que também nós devemos cooperar para ela, e o único meio eficaz de cooperar consiste em sermos admitidos a participar dela no céu. Este é o significado das duas primeiras petições: 'Santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino'. A glória de Deus e a nossa Nele é o término da jornada da vida; mas para obtê-lo, necessitamos conquistá-lo e merecê-lo; a única maneira de merecê-lo é fazer neste mundo, do modo mais perfeito possível, a vontade de Deus. Isto pedimos ao dizer: 'Faça-se a vossa vontade assim na terra, como no céu'. Porém, como não podemos cumprir devidamente a vontade de Deus, se Ele não vem em auxílio de nossa fraqueza, tanto nas necessidades materiais, como nas espirituais, por isso ajuntamos: 'O pão nosso de cada dia nos dai hoje'. Com este auxílio teríamos o suficiente, se além disso não tivéssemos necessidade de afastar certos obstáculos que se opõem, uns à aquisição do reino dos céus, outros ao cumprimento da vontade de Deus, e outros que impedem de nos dedicarmos ao serviço divino, como os padecimentos, as penas e a falta do necessário para viver; por isso dizemos: 'Perdoai as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores; e não nos deixeis cair em tentação; mas livrai-nos do mal' (LXXXIII, 9).
Por que iniciamos a oração Dominical com as palavras 'Pai Nosso que estais no céu'?
Para excitar em nós uma confiança ilimitada, pois Aquele a quem invocamos é Pai, e reina no céu como Dono Onipotente do universo (LXXXIII, 9 ad 5).
É conveniente rezar com frequência o Pai Nosso?
Convém, antes de tudo, nutrir-se da sua seiva e espírito, e depois rezá-lo de quando em quando, com a maior frequência que nos permitam as nossas ocupações e gênero de vida (LXXXIII, 14).
Quaisquer que sejam as nossas ocupações, não devemos passar nem um dia sem rezá-lo?
Não, Senhor.
A quem devemos dirigir as nossas orações?
Exclusivamente a Deus, pois só Dele esperamos o que lhe pedimos. Podemos contudo, orar a algumas criaturas, suplicando-lhes que intercedam em nosso favor diante do trono do Senhor (LXXXIII, 4).
Quais são as criaturas a quem podemos orar?
Os Anjos e Santos do céu e os justos da terra (LXXXIII, 11).
É conveniente e louvável encomendar-se aos santos e solicitar as suas orações?
Sim, Senhor.
Existe alguma criatura que tenha títulos especiais para que os homens se acolham ao seu amparo e proteção?
Sim, Senhor; a Santíssima Virgem Maria, Mãe do Verbo Encarnado e Senhor Nosso, Jesus Cristo.
Que nome se deu à Santíssima Virgem, atenta a missão especial que tem de rogar pelos homens?
O de Onipotente pela intercessão.
E isto o que quer dizer?
Que Deus acolhe favoravelmente as súplicas daqueles por quem ela intercede.
Há alguma fórmula consagrada de orar para pedir a mediação e amparo da Santíssima Virgem?
Sim, Senhor: a Ave Maria.
Como a rezamos?
Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém.
Quando devemos rezá-la?
Com a maior frequência possível e particularmente, nas orações privadas, depois do Pai Nosso.
Existe algum modo de orar em que de maneira singularmente perfeita se juntem e enlacem estas duas orações para assegurar a sua eficácia?
Sim, Senhor; o Santíssimo Rosário.
Que entendeis por Rosário?
Uma maneira de orar que consiste em meditar os quinze principais mistérios da nossa Redenção e rezar durante a Meditação de cada um, um Pai Nosso e dez Ave-Marias, terminando com o 'Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, assim como era no princípio, agora e sempre, por todos os séculos dos séculos. Amém'.
* referências aos artigos da obra original
('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular)
domingo, 31 de março de 2019
PAI DE MISERICÓRDIA
Páginas do Evangelho - Quarto Domingo da Quaresma
Com a parte da herança que lhe cabe, o 'filho mais novo' opta pelo caminho fácil e tortuoso dos prazeres e vícios humanos, dos instintos insaciados, do vazio do mal. E esbanja, na via dolorosa do pecado, os bens que possuía: a alma pura, o coração sincero, os nobres sentimentos, a fortuna da graça. E, a cada passo, se afunda mais e mais no lodo das paixões humanas desregradas, da vida consumida no nada. Mas, eis que chega o tempo da reflexão madura, da conversão sincera, do caminho de volta ao Pai: 'Pequei contra ti; já não mereço ser chamado teu filho' (Lc 15, 18-19).
O pai nem ouve as palavras do filho pródigo; no abraço da volta, somente ecoa pelos tempos a misericórdia de Deus: 'Haverá maior alegria no Céu por um pecador que fizer penitência que por noventa e nove justos que não necessitem de arrependimento' (Lc 15, 7). Diante do filho que volta, um coração de misericórdia aniquila a justiça da razão: 'Trazei depressa a melhor túnica para vestir o meu filho. E colocai um anel no seu dedo e sandálias nos pés' (Lc, 15, 22). Como as talhas de água que se tornam vinho, a conversão verdadeira apaga e aniquila o mal desejado e consumido outrora: na reconciliação de agora desfaz-se em pó as misérias passadas de uma vida de pecado.
O 'filho mais velho' não se move por igual misericórdia e se atém aos limites difusos da justiça humana. Na impossibilidade absoluta de compreender o júbilo do pai com o filho que volta, faz-se vítima e refém da soberba e do orgulho humano: 'tu nunca me deste um cabrito para festejar com meus amigos' (Lc, 15,29). O filho mais novo, que estava tão longe, está lá dentro outra vez. E o filho mais velho, que sempre lá esteve, recusa-se agora a entrar na casa do pai. Tal como no caso do primeiro filho, o pai de misericórdia vem, mais uma vez, buscar a ovelha desgarrada no filho mais velho que está fora e não quer entrar. Porque Deus, pura misericórdia, quer salvar a todos os seus pobres filhos afastados de casa e espera, com paciência e amor infinitos, a volta dos filhos pródigos e a volta dos seus filhos que creem apenas na justiça dos homens.
sábado, 30 de março de 2019
SOBRE A PRESENÇA DE DEUS
Através dos tempos, os santos encontraram seu caminho para o Espírito Santo; para a grande maioria, porém, o Espírito Santo permanece como um Deus Desconhecido. Quão verdadeiro é o que Courtois escreveu: 'Não é a nossa idade que é pobre, mas os homens que vivem nela que são anões, porque não têm mais com eles e neles o Espírito do Deus vivo. O que falta em nosso tempo nada mais é do que a orientação do Espírito Santo. Falta-nos homens que, na sua vida cotidiana, dependam do Espírito Santo, homens que, dia após dia, se esforcem por andar na presença do Cristo vivo'.
A dificuldade é que interpretamos a graça como coisa enquanto, na realidade, é Alguém. Como Rahner coloca: 'A primeira coisa que devemos fazer é ouvir simplesmente o que a Escritura nos diz sobre o Espírito. Isso aceito, acreditado, vivido, abraçado e amado nas profundezas do nosso ser ... esse é o Espírito Santo! Lá Ele nos encontra como Ele é e não como uma mera apropriação abstrata. Em qualquer caso, a nossa verdadeira vida sobrenatural consiste na comunicação do Espírito Divino e tudo o que se pode dizer sobre a essência, glória e fim do cristão pode ser resumido dizendo que ele recebeu o Espírito do Pai, e deste modo foi preenchido com a vida divina'.
Quando os santos descobriram isto, Alguém nas profundezas de suas almas, mudaram as suas vidas e isso foi o começo do que eles chamavam de conversão. Os primeiros mártires estavam cheios do Espírito Santo e se consideravam como portadores de Deus. E, para os primeiros Pais, somos compostos de corpo, alma e Espírito Santo. O que a alma é para o corpo, o Espírito Santo é para a alma.
Eusébio nos conta como Leônidas, o pai de Orígenes, costumava se ajoelhar e beijar o peito de seu filho adormecido porque ele acreditava que era habitado pelo Espírito Santo. Santo Agostinho procurou Deus por toda parte e encontrou-o em seu próprio coração: 'Retorne ao seu próprio coração e o encontre'. E ainda: 'Ó beleza sempre antiga, sempre nova, tarde demais eu te conheço, tarde demais eu te amei. E eis que tu estavas dentro de mim enquanto eu estava a te buscar ... Tu estavas comigo mas eu não estava contigo'.
Santa Teresa de Jesus também se arrependeu do tempo durante o qual ela negligenciou o grande rei que morava no palacete de sua alma. E ela acrescenta: 'Lembre-se de como Santo Agostinho nos conta sobre como ele buscou a Deus em muitos lugares e eventualmente o encontrou dentro de si mesmo. Não precisamos de asas para buscá-lo, mas temos apenas que encontrar um lugar onde possamos estar sozinhos e olhar para ele presente dentro de nós ... Lembre-se de quão importante é para você ter entendido esta verdade - que o Senhor está dentro de nós e que devemos estar lá com ele'.
Quando Isabel da Trindade“ descobriu isso, tudo ficou claro para ela: 'Parece-me que encontrei meu paraíso na terra, já que o céu é Deus e Deus está em minha alma. No dia em que entendi isso, tudo ficou claro para mim'... Em seu Magnificat, Paul Claudel, que cresceu agnóstico, descreve como, num dia de Natal, ele foi para Notre-Dame onde as Vésperas estavam sendo cantadas. Num momento Deus se tornou Alguém para ele e desde então toda a sua vida foi dominada pela presença de Deus.
O cardeal Newman definiria o cristão como alguém com um senso dominante da presença de Deus: 'Um verdadeiro cristão, então, pode ser quase definido como aquele que tem um senso dominante da presença de Deus dentro dele ... Em todas as circunstâncias de alegria ou tristeza, esperança ou medo, tenhamos como objetivo tê-lo no mais íntimo dos nossos corações; não tenhamos nenhum segredo além dele. Vamos reconhecê-lo como entronizado dentro de nós na própria primavera do pensamento e afeição ... Esta é a verdadeira vida dos santos. Isto é para que o Espírito testemunhe, com o nosso espírito, que somos filhos de Deus'.
O Espírito Santo não é apenas o doce convidado de nossas almas. Como São Gregório, o Grande, diz: 'Deus é amor e o amor nunca é ocioso'. Ele é a Primavera Viva que nunca deixa de fluir; o Fogo Vivo que nunca deixa de consumir e inflamar e difundir a vida de Deus em nossas almas. Ele é o Dedo de Deus moldando, formando e moldando-nos nas imagens vivas de Cristo e nos guiando ao longo do caminho que é Cristo. São Paulo revela a ação do Espírito Santo em nossas vidas quando ele escreve aos coríntios: 'Agora o Senhor é o Espírito, e onde está o Espírito do Senhor, há liberdade. E todos nós, com rostos desvelados, contemplando a glória do Senhor, estamos sendo transformados à sua semelhança de um grau de glória para outro; isso vem do Senhor que é o Espírito' (2 Cr 3, 17-18).
A vida que está sendo transfigurada pelo Espírito Santo é a vida que vivemos dia a dia em nossas ocupações cotidianas. Foi no âmbito da labuta diária que Cristo realizou a obra da nossa redenção: é no mesmo cenário que nos santificamos e redimimos o mundo ao nosso redor. 'E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim' (Jo 12,32). É através do poder do seu Espírito que Cristo nos atrai para si mesmo. Ele revelou a atitude básica de sua vida quando disse: 'Eu vivo para o Pai'. O Espírito Interno está nos atraindo para a corrente de rendição amorosa que ainda preenche o coração de Cristo. Se aceitarmos a vida como ela vem no espírito de amar a entrega à vontade do Pai, estamos certamente cooperando com o Espírito Santo e nossa vida está indo, a cada momento, para o Pai em Cristo. A corrente viva da vida divina está nos levando de volta à sua Fonte.
São João nos diz que 'Aquele que diz que nele permanece deve viver da mesma maneira que ele viveu' (1 Jo 2,6). Requer uma fé viva para se viver e andar na luz do Espírito Interno. Fé é o meio pelo qual vemos a Deus; quanto mais profunda, mais agudo é o nosso senso de sua realidade e de sua presença onipresente. E uma vez que a oração é o óleo na lâmpada da fé, não há despertar para a presença divina dentro de nós sem oração perseverante. Quanto mais a nossa vida se torna em oração, mais clara é a nossa visão de Deus. Uma certa medida de desapego é necessária para a prática da Presença de Deus. Nós somos os peregrinos da eternidade, nós não temos aqui uma cidade duradoura; nós devemos viver nestes dois mundos ao mesmo tempo. É quando a luz de cima encontra a luz de baixo que podemos construir o Reino de Cristo e um mundo melhor para a humanidade ao mesmo tempo.
Ao abordar diariamente a dupla mesa da Palavra e a Eucaristia, podemos tornar Cristo uma realidade viva em nossas vidas diárias. A palavra de Deus é vida e espírito: é a Palavra recriando o mundo à sua imagem. São Jerônimo escreve sobre um amigo que, pela oração e pelo estudo, fez do seu coração a biblioteca viva das palavras de Cristo. Um coração desse tipo está cheio do Espírito Santo. Maria é o exemplo supremo de quem soube ponderar a palavra de Deus. Ela manteve todas as coisas que lhe foram ditas sobre seu Filho e ponderou-as amorosamente em seu coração. É assim que ela se tornou a discípula perfeita de Cristo.
A Eucaristia é o próprio Cristo que vem renovar sua presença em nós e nos tornar mais vivos à sua presença no corpo místico... 'Aproxime-se de Deus e Ele se aproximará de você' (Tg 3,8). Deus está nos buscando com um amor infinitamente maior do que poderíamos imaginar. É um amor assombroso que encontrou expressão nas palavras da Cruz: 'tenho sede'. O amor que o reduziu à total fraqueza da cruz ainda nos busca. Como De Caussade escreveu: 'Ele está se oferecendo para mim a todo momento, em todo lugar. Quando eu vejo isso ... tudo se torna pão para me alimentar, fogo para me purificar, um cinzel para moldar-me de acordo com o padrão celestial. Tudo se torna um instrumento de graça para as minhas necessidades. Agora vejo que aquele que eu costumava buscar em outras direções é ele mesmo me buscando incessantemente, e entregando-se a mim em tudo o que acontece'.
'Vinde e vede' (Jo 1,39). O convite de Cristo a André para vir e permanecer com Ele aplica-se a todos nós. Foi na presença divina que André encontrou o amor que o elevou até a cruz e o uniu tão intimamente ao seu Mestre. 'Aproxime-se de mim e eu me aproximarei de você - esta é uma promessa de tremendo valor espiritual. Se abrirmos nossos corações para o Senhor no espírito de fé e entrega amorosa, Ele tomará plena posse de nossas almas e as tomará como suas.
(Excertos da obra 'The Practice of the Presence of God', de Fr. Kilian Lynch)
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