terça-feira, 4 de setembro de 2018

PRINCÍPIOS E PROFISSÃO DE FÉ (II)

II - Sobre a Indissolubilidade do Matrimônio

17. Creio que a união matrimonial do homem e da mulher é indissolúvel em todos os casos.

'Na sua pregação, Jesus ensinou sem equívocos o sentido original da união do homem e da mulher, tal como o Criador a quis no princípio: a permissão de repudiar a sua mulher, dada por Moisés, era uma concessão à dureza do coração (Cf. Mt 19, 8.): a união matrimonial do homem e da mulher é indissolúvel: foi o próprio Deus que a estabeleceu: Não separe, pois, o homem o que Deus uniu' (Mt 19, 6) e (CCC 1614).

18. Creio que a indissolubilidade do matrimônio nunca é uma exigência irrealizável.

'Esta insistência inequívoca na indissolubilidade do vínculo matrimonial pode criar perplexidade e aparecer como uma exigência impraticável (Cf. Mt 19, 10.). No entanto, Jesus não impôs aos esposos um fardo impossível de levar e pesado demais (Cf. Mt 11, 29-30), mais pesado que a Lei de Moisés' (CCC 1615).

19. Creio que é sempre possível permanecer fiel ao matrimônio indissolúvel, mesmo no meio de tantas dificuldades.

'Tendo vindo restabelecer a ordem original da criação, perturbada pelo pecado, Ele próprio dá a força e a graça de viver o matrimônio na dimensão nova do Reino de Deus' (CCC 1615).

20. Creio que todos os esposos podem perceber o sentido original do matrimônio e vivê-lo com a ajuda de Cristo.

'É seguindo a Cristo, na renúncia a si próprios e tomando a sua cruz (Cf. Mc 8, 34.), que os esposos poderão compreender (Cf. MM 9, 11) o sentido original do matrimônio e vivê-lo com a ajuda de Cristo. Esta graça do matrimônio cristão é fruto da cruz de Cristo, fonte de toda a vida cristã' (CCC 1615).

21. Creio que quem causa o divórcio peca gravemente.

'O divórcio é uma ofensa grave à lei natural. Pretende romper o contrato livremente aceite pelos esposos de viverem um com o outro até à morte. O divórcio é uma injúria contra a aliança da salvação, de que o matrimônio sacramental é sinal' (CCC 2384).

22. Creio que o cônjuge que contrai um novo matrimônio meramente civil encontra-se numa situação que objetivamente contrasta com a lei de Deus.

'Se os divorciados se casam civilmente, ficam numa situação objetivamente contrária à lei de Deus' (CCC 1650).

'O fato de se contrair nova união, embora reconhecida pela lei civil, aumenta a gravidade da ruptura: o cônjuge casado outra vez encontra-se numa situação de adultério público e permanente' (CCC 2384).

23. Creio que a Igreja não pode reconhecer como válida uma nova união se era válido o primeiro matrimônio.

Mesmo se hoje, 'em muitos países, são numerosos os católicos que recorrem ao divórcio, em conformidade com as leis civis, e que contraem civilmente uma nova união, a Igreja mantém, por fidelidade à palavra de Jesus Cristo ('quem repudia a sua mulher e casa com outra comete adultério em relação à primeira; e se uma mulher repudia o seu marido e casa com outro, comete adultério' (Mc 10, 11-12), que não pode reconhecer como válida uma nova união, se o primeiro matrimônio foi válido' (CCC 1650).

24. Creio que não é possível aplicar analogicamente, a uma relação adulterada, o princípio pelo qual faltam algumas expressões de intimidade, 'não é raro que a fidelidade seja metida em perigo e possa vir a ser comprometido o bem dos filhos' (Concílio Ecum. Vat. II, Cost. past. Gaudium et Spes, 51).

Sendo o adultério um pecado grave e 'o pecado o princípio ativo da divisão — divisão entre o homem e o Criador, divisão no coração e no ser do homem, divisão entre os indivíduos e entre os grupos humanos, divisão entre o homem e a natureza criada por Deus — só a conversão do pecado é capaz de operar uma reconciliação profunda e duradoura onde quer que a divisão tenha penetrado' (São João Paulo II, Esort. Apost. Reconciliatio et paenitentia, 2-12-1984, § 23).

25. Creio que a abstenção dos atos próprios dos esposos não prejudica os filhos nascidos da nova união e por isso não constitui uma nova culpa.

Providenciar aos filhos nascidos da nova união não torna necessário cumprir os atos próprios dos esposos entre pessoas que não são na realidade esposos. Se os divorciados recasados têm filhos nascidos no âmbito do novo matrimônio civil, melhor é que se possa providenciá-los a viver na graça de Deus.

(Pe. Alfredo Maria Morselli)

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

PRINCÍPIOS E PROFISSÃO DE FÉ (I)

I - Princípios de Moral Fundamental

1. Creio que existem atos intrinsecamente maus que são sempre pecado mortal, se cometidos com plena advertência e deliberado consentimento, e que por isso não podem receber uma avaliação moral caso para caso.

'Há atos que, por si e em si mesmos, independentemente das circunstâncias e das intenções, são sempre gravemente ilícitos em razão do seu objeto; por exemplo, a blasfêmia e o jurar falso, o homicídio e o adultério. Não é permitido fazer o mal para que dele resulte um bem' (Catecismo da Igreja Católica - CIC - 1756).

2. Creio que as circunstâncias não podem tornar boa uma ação intrinsecamente má.

As circunstâncias não podem, de per si mesmo, modificar a qualidade moral dos próprios atos; não podem tornar boa nem justa uma ação má em si mesma' (CIC 1754).

3. Creio que não é possível avaliar se um ato seja moralmente bom ou menos, considerando somente a intenção e as circunstâncias.

'É, portanto, errado julgar a moralidade dos atos humanos tendo em conta apenas a intenção que os inspira ou as circunstâncias (meio, pressão social, constrangimento ou necessidade de agir, etc.) que os enquadram' (CIC 1756).

4. Creio que a moral do objeto - assim como explicada na encíclica Veritatis Splendor - possa e deva ser oportunamente aplicada à experiência pastoral concreta, mesmo nos casos mais críticos.

'O Magistério da Igreja [...] apresenta as razões do discernimento pastoral necessário em situações práticas e culturais complexas e por vezes críticas' (Papa João Paulo II, Carta Encíclica Veritatis Splendor, 6-8-1993, §115).

5. Creio que Deus não manda a ninguém coisas impossíveis para observar (nem menos aos divorciados civilmente recasados).

'Ninguém, posto que justificado, se deve julgar eximido da observância dos mandamentos [cân. 20]. Ninguém deve pronunciar estas palavras temerárias, condenadas pelos Padres com anátema: é impossível ao homem justificado observar os preceitos de Deus' (Concílio de Trento, Decreto sobre a Justificação, 13-1-1547, Sessio VI, cap.11).

'Deus não manda coisas impossíveis, mas quando manda, adverte que faças o que possas e peças o que não possas, e ajuda a poder' (Concílio de Trento, ibidem).

6. Creio que Deus não permita que sejamos tentados além das nossas forças.

'Nenhuma tentação, superior às forças humanas, vos surpreendeu; Deus é digno de fé e não permitirá que sejais tentados para além das vossas forças mas, juntamente com a tentação, dar-vos-à também o modo para poder sustê-la'(1 Cor 10,13).

7. Creio que não seja necessário violar os Mandamentos de Deus mesmo nas circunstâncias mais graves.

'A Igreja propõe o exemplo de numerosos santos e santas que testemunharam e defenderam a verdade moral até ao martírio ou preferiram a morte a um só pecado mortal. Elevando-os à honra dos altares, a Igreja canonizou o seu testemunho e declarou verdadeiro o seu juízo, segundo o qual o amor de Deus implica obrigatoriamente o respeito dos seus mandamentos, inclusive nas circunstâncias mais graves, e a recusa de atraiçoá-los, mesmo com a intenção de salvar a própria vida (Papa João Paulo II, Carta Encíclica Veritatis Splendor, 6-8-1993, §91).

8. Creio que não é lícito cometer um pecado nem menos no caso que se queira favorecer a educação dos filhos tidos fora do legítimo matrimônio.

'Nunca é lícito, nem sequer por razões gravíssimas, fazer o mal, para que daí provenha o bem [Cf. Rom 3, 8.], isto é, ter como objeto de um ato positivo da vontade aquilo que é intrinsecamente desordenado e, portanto, indigno da pessoa humana, mesmo se for praticado com intenção de salvaguardar ou promover bens individuais, familiares, ou sociais' (Papa Paulo VI, Carta Encíclica Humanae Vitae, 25-7-1968, §14).

9. Creio que a consciência se deva adequar àquilo que é bem e não decidi-lo autonomamente.

'A consciência, no ato prático, é o juízo que cerca a retidão, isto é a moralidade das nossas ações, sejam consideradas nos seus habituais desenvolvimentos, sejam nos seus singulares atos' (Paulo VI, Audiência Geral, 12-8-1969).

10. Creio que a consciência, como anteriormente entendida, é necessária.

A consciência é necessária porque 'a bondade da ação humana depende do objeto na qual é empenhada e, para além das circunstâncias na qual é cumprida, da intenção que a move (Cfr. S. TH. l-lIae, 18, 1-4); então esta complexa especificação da ação, se quer ser humana, implica um juízo subjetivo, imediato de consciência, que depois se desenvolve na virtude reguladora da mesma ação, a prudência' (Paulo VI, Audiência geral, 2-8-1972).

11. Creio que a consciência, como anteriormente entendida, é insuficiente.

A consciência é insuficiente porque sozinha 'não basta, mesmo se ela leve em si mesma os preceitos fundamentais da lei natural (Cfr. Rm 2, 2-16). É necessária justamente a lei; aquilo que a consciência oferece de si mesma à condução da vida humana não chega; deve ser educada e explicada; deve ser integrada com a lei externa, seja no ordenamento civil - quem não o sabe? - e seja no ordenamento cristão - e também isto: quem não o sabe?  A via cristã não nos seria conhecida, com verdade e com austeridade, se não fosse anunciada através da mensagem da Palavra exterior, do Evangelho e da Igreja' (Paulo VI, ibidem).

12. Creio que a consciência não é árbitro do valor moral das ações que se pratica

A consciência 'é interprete de uma norma interior e superior; não a cria sozinha. Ela é iluminada pela intuição de certos princípios normativos, conaturais na razão humana (Cfr. S. TH., I, 79, 12 e 13; l-ll, 94,1); a consciência não é a fonte do bem e do mal; é advertência, é a percepção de uma voz, que se chama justamente a voz da consciência, é o voltar à conformidade que uma ação deve ter perante uma exigência intrínseca ao homem, para que o homem seja homem verdadeiro e perfeito. Isto é, é a intimação subjetiva e imediata de uma lei, que devemos chamar natural, apesar que muitos hoje não queiram mais sentir falar de lei natural' (Paulo VI, Audiência geral, 12-2-1969).

13. Creio que a razão humana não pode criar ela mesma a norma moral

'A justa autonomia da razão prática significa que o homem possui em si mesmo a própria lei, recebida do Criador. Mas, a autonomia da razão não pode significar a criação, por parte da mesma razão, dos valores e normas morais. Se esta autonomia implicasse uma negação da participação da razão prática na sabedoria do divino Criador e Legislador, ou então se sugerisse uma liberdade criadora das normas morais, segundo as contingências da história ou das diversas sociedades e culturas, uma tal suposta autonomia contradiria o ensinamento da Igreja sobre a verdade do homem' (Papa João Paulo II, Carta Encíclica Veritatis Splendor, 6-8-1993, §40).

14. Creio que um colóquio com um sacerdote nunca poderá legitimar uma ação intrinsecamente má.

O sacerdote tem o dever de explicar a malícia de um ato intrinsecamente mau: 'tanto no campo da moral como no do dogma, todos se atenham ao Magistério da Igreja e falem a mesma linguagem' (Paulo VI, Carta Encíclica Humanae Vitae, 25-7-1968, §28).

15. Creio que os preceitos negativos da lei natural - quais por exemplo não blasfemar, não jurar, não cometer homicídio, não cometer adultério (Cfr. CCC 1756) - são universalmente válidos.

'Os preceitos negativos da lei natural são universalmente válidos e obrigam todos e cada um, sempre e em cada circunstância. Trata-se de fato de proibições que não permitem uma determinada ação semper et pro semper, sem exceções, porque a escolha de um tal comportamento não é em nenhum caso compatível com a bondade da vontade da pessoa que age, com a sua vocação à vida com Deus e à comunhão com o próximo. É proibido a cada um e sempre transgredir preceitos que vinculam, todos e a qualquer seja o custo, em não ofender alguém e, antes de tudo, em si mesmo a dignidade pessoal e comum a todos' (São João Paulo II, Carta Encíclica Veritatis Splendor, 6-8-1993, §51).

16. Creio que quem comete um pecado mortal é privado da graça de Deus

'O pecado mortal é uma possibilidade radical da liberdade humana, tal como o próprio amor. Tem como consequência a perda da caridade e a privação da graça santificante, ou seja, do estado de graça' (CCC 1861).
(Pe. Alfredo Maria Morselli)

domingo, 2 de setembro de 2018

PUROS DE CORAÇÃO

Páginas do Evangelho - Vigésimo Segundo Domingo do Tempo Comum


Jesus veio ao mundo para trazer a Boa Nova do Evangelho, para nos despir do homem velho e nos revestir do homem novo, partícipes da Santidade de Deus que é a Verdade Absoluta e para nos libertar de toda sombra do pecado, de toda malícia humana, de todo o obscurantismo de uma fé moldada pelas aparências e pela exterioridade supérflua de práticas inócuas e vazias... No Evangelho deste domingo, nos deparamos, mais uma vez, como esta passagem do velho homem para o novo homem é um primado de rejeição para os que se aferram sem tréguas aos valores humanos. 

Com efeito, os escribas e os fariseus, presenças constantes no Templo e submissos ao extremo das más interpretações da lei mosaica, ficaram petrificados pelo zelo dos costumes antigos, arraigados a práticas absurdas e a minúcias ridículas que transformavam as atividades cotidianas mais simples em complexos rituais de purificação: 'os fariseus e todos os judeus só comem depois de lavar bem as mãos, seguindo a tradição recebida dos antigos. Ao voltar da praça, eles não comem sem tomar banho. E seguem muitos outros costumes que receberam por tradição: a maneira certa de lavar copos, jarras e vasilhas de cobre' (Mc 7, 3 - 4). Divinizaram os preceitos humanos, impuseram como dogmas hábitos comezinhos, exteriorizaram ao extremo as abluções e os banhos para se resgatarem, da impureza das mãos ou do corpo, como homens livres do pecado...

Estes homens velhos, empedernidos e envilecidos por normas decrépitas e insanas, ansiosos por denunciar o Mestre, questionam Jesus: 'Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos?' (Mc 7, 5). Estes hipócritas, que postulavam princípios externos cheios de melindres que não suportam o menor testemunho interior de fidelidade à graça, vão receber de Jesus as palavras de recriminação oriundas do profeta Isaías: 'Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos’ (Mc 7, 6 - 7). E adiante, pela definitiva reprovação: 'Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens' (Mc 7, 8).

Jesus chama para si a multidão e decreta aos homens de boa fé que a fonte de todas as impurezas é o coração humano, entregue a toda sorte de males, quando órfão da graça: 'Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo. Todas estas coisas más saem de dentro, e são elas que tornam impuro o homem' (Mc 7, 21 - 23). Domar o coração e manter a serenidade da alma sob o domínio da graça, eis aí a fonte da água viva que faz nascer, no interior do homem, as sementeiras da vida eterna.

sábado, 1 de setembro de 2018

PRIMEIRO SÁBADO DE SETEMBRO


Mensagem de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, vidente de Fátima: 
                                                                                                                           (Pontevedra / Espanha)

‘Olha, Minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todo o momento Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que a todos aqueles que durante cinco meses seguidos, no primeiro sábado, se confessarem*, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação.’
* Com base em aparições posteriores, esclareceu-se que a confissão poderia não se realizar no sábado propriamente dito, mas antes, desde que feita com a intenção explícita (interiormente) de se fazê-la para fins de reparação às blasfêmias cometidas contra o Imaculado Coração de Maria no primeiro sábado seguinte.

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

DAS VAIDADES DO MUNDO

'Quem me segue não anda nas trevas', diz o Senhor (Jo 8,12). São estas as palavras de Cristo, pelas quais somos advertidos que imitemos sua vida e seus costumes, se verdadeiramente queremos ser iluminados e livres de toda cegueira de coração. Seja, pois, o nosso principal empenho meditar sobre a vida de Jesus Cristo.

A doutrina de Cristo é mais excelente que a de todos os santos, e quem tiver seu espírito encontrará nela um maná escondido. Sucede, porém, que muitos, embora ouçam frequentemente o Evangelho, sentem nele pouco enlevo: é que não possuem o espírito de Cristo. Quem quiser compreender e saborear plenamente as palavras de Cristo, é-lhe preciso que procure conformar à dele toda a sua vida.

Que te aproveita discutires sabiamente sobre a Santíssima Trindade, se não és humilde, desagradando, assim, a essa mesma Trindade? Na verdade, não são palavras elevadas que fazem o homem justo; mas é a vida virtuosa que o torna agradável a Deus. Prefiro sentir a contrição dentro de minha alma, a saber defini-la. Se soubesses de cor toda a Bíblia e as sentenças de todos os filósofos, de que te serviria tudo isso sem a caridade e a graça de Deus? 'Vaidade das vaidades, tudo é vaidade' (Ecle 1,2), senão amar a Deus e só a ele servir. A suprema sabedoria é esta: pelo desprezo do mundo tender ao reino dos céus.

Vaidade é, pois, buscar riquezas perecedoras e confiar nelas. Vaidade é também ambicionar honras e desejar posição elevada. Vaidade, seguir os apetites da carne e desejar aquilo pelo que depois serás gravemente castigado. Vaidade é desejar longa vida e, entretanto, descuidar-se de que seja boa. Vaidade é só atender à vida presente sem providenciar para a futura. Vaidade é amar o que passa tão rapidamente e não buscar pressuroso a felicidade que sempre dura.

Lembra-te sempre do provérbio: 'Os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos de ouvir' (Ecle 1,8). Portanto, procura desapegar teu coração do amor às coisas visíveis e afeiçoá-lo às invisíveis: pois aqueles que satisfazem seus apetites sensuais mancham a consciência e perdem a graça de Deus.

(Imitação de Cristo, do Pe. Tomás de Kempis)

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

CATECISMO MAIOR DE PIO X (X)

Debate de Jesus no Templo

91. Tendo Jesus completado doze anos, seus pais o levaram a Jerusalém para as festas de Páscoa, que duravam sete dias. Terminadas as celebrações, José e Maria partiram para Nazaré, mas Jesus, sem que eles percebessem, permaneceu em Jerusalém. Depois de um dia de caminho procuraram-no em vão entre os parentes e conhecidos, regressando em seguida aflitos para Jerusalém. Encontrando-o ao terceiro dia no Templo, sentado entre os doutores ouvindo-os e interrogando-os, a Mãe docemente lhe perguntou por que havia feito se procurar assim. A resposta de Jesus foi a primeira declaração de sua divindade: 'E por que me procuráveis? Não sabíeis que preciso tratar das coisas de meu Pai?' Depois disso, voltou com eles para Nazaré. Deste ponto até a idade de trinta anos, nada de particular nos conta o Evangelho sobre Ele, resumindo toda a história desse tempo nestas palavras: 'Jesus vivia obediente a Maria e José, e crescia em idade, sabedoria e graça diante de Deus e dos homens'. Pelo fato de Jesus ter passado em Nazaré o tempo de sua vida privada, foi chamado mais tarde: Jesus de Nazaré. 

Batismo de Jesus e seu jejum no deserto 

92. João, filho de Zacarias e Isabel, destinado por Deus, como se disse para ser o Precursor do Messias e preparar os judeus para que o recebessem, havia se retirado para o deserto para viver uma vida de penitente. Chegado o tempo de dar início à sua missão, vestido de peles de carneiro e um cinto de couro na cintura, chegou às margens do Jordão e começou a pregar e batizar. Sua voz era: 'Fazei penitência, pois o Reino dos céus está próximo'. Tendo chegado a idade de trinta anos, um dia Jesus se apresentou entre a multidão do povo, pois devia começar a manifestar-se ao mundo. João, que o reconheceu, quis primeiramente escusar-se, mas logo vencido pela ordem de Cristo, batizou-o. Tendo Jesus saído da água os céus se abriram, e o Espírito Santo em figura de pomba desceu sobre Ele, e uma voz se ouviu, dizendo: 'Este é meu filho muito amado'. Recebido o Batismo e guiado pelo Espírito Santo, Jesus foi para o deserto, onde passou quarenta dias e quarenta noites em vigílias, jejuns e orações. Foi quando quis ser tentado pelo demônio de várias maneiras, para nos ensinar a vencermos as tentações. 

Primeiros discípulos de Jesus e seu primeiro milagre 

93. Depois desta preparação, Jesus deu início à sua vida pública, voltou para as margens do Jordão, onde João continuava pregando. Este, ao vê-lo, exclamou: 'Eis aqui o Cordeiro de Deus, eis aquele que tira os pecados do mundo'. Por este e por outros testemunhos em favor de Jesus, repetidos no dia seguinte, dois discípulos de João resolveram seguir o divino Mestre, que os manteve com Ele naquele dia. Um deles, de nome André, encontrando-se com seu irmão chamado Simão, levou-o até Jesus, que olhando-o no rosto lhe disse: 'Tu és Simão, filho de João, de agora em diante te chamarás Pedro'. E estes foram os seus primeiros discípulos. 

94. Muitos outros, ou chamados por Ele, como Tiago, João, Felipe e Mateus, ou movidos por sua palavra, resolveram segui-lo. A princípio não eram contínuos em seu empreendimento mas, depois de ouvir seus argumentos, retornavam para suas famílias e tarefas, e somente algum tempo depois deixavam tudo para não abandoná-lo jamais. Com alguns deles foi uma vez convidado para um casamento em Caná da Galileia. Sua Mãe Maria também havia sido convidada. Esta foi a ocasião em que, por intercessão de sua Mãe Santíssima, transformou uma grande quantidade de água em requintado vinho. Este foi o primeiro milagre de Jesus pelo qual expressou a sua própria glória e confirmou na fé seus discípulos. 

Eleição dos doze Apóstolos 

95. Entre esses discípulos escolheu depois doze, chamados Apóstolos, para que estivessem sempre com Ele e para enviá-los a pregar, a saber: Simão, a quem ele havia dado o nome de Pedro e seu irmão André; Tiago e João, filhos de Zebedeu; Felipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Tadeu, Simão, o cananeu e Judas Iscariotes, aquele que o traiu. Para chefe dos Apóstolos escolheu Simão Pedro, que seria, naturalmente, seu Vigário na terra. 

Pregação de Jesus 

96. Acompanhado dos Apóstolos e, outras vezes, precedido por eles, percorreu por três anos toda a Judeia e Galileia, pregando seu Evangelho, e confirmando sua doutrina com um número infinito de milagres. Normalmente, no sábado entrava nas sinagogas e ensinava; mas, apresentando-se a oportunidade, não desdenhava dar seus ensinamentos em qualquer lugar. Lemos, com efeito, que as turbas o seguiam, e que Ele não só pregava nas casas e praças, mas também ao ar livre, nos montes e desertos, na orla do mar e até mesmo no mar, subindo na barca de Pedro. O célebre sermão das oito bem-aventuranças é chamado cabalmente sermão do monte, pelo lugar onde o pronunciou. Pregava mais pelo exemplo do que por palavras. Admirados de sua grande oração, os discípulos pediram-lhe um dia para que lhes ensinasse a orar, e Jesus lhes ensinou a sublime oração do Padre Nosso. 

97. Por várias razões, incluindo a capacidade para acomodar-se à maioria de seus ouvintes e a índole dos povos orientais, Jesus servia-se ordinariamente de parábolas ou ensinamentos semelhantes. São simples e sublimes as do filho pródigo, do samaritano, do bom pastor, dos dez talentos, das dez virgens, do homem rico, do administrador infiel, do servo que não perdoa, dos ramos da vinha, dos convidados às bodas, do grão de mostarda, do semeador, do fariseu e do publicano, dos trabalhadores, da cizânia e outras atualmente bem conhecidas dos bons cristãos que assistem a explicação do Evangelho que se faz nos domingos nas paróquias.

Efeitos admiráveis da palavra e do poder do Redentor 

98. Comumente, após seus discursos, enfermos de toda classe eram-lhe apresentados: mudos, surdos, aleijados, cegos, leprosos e Ele a todos lhes devolvia a saúde. Não apenas nas sinagogas Ele derramava suas graças e favores, mas onde quer que estivesse, apresentando-lhe a ocasião, socorria os desgraçados que, em grande número, levavam-lhe de toda a Palestina e aldeias da região, espalhando até a Síria a fama de seus milagres. Levavam-lhe especialmente possuídos pelo demônio, dos quais não havia poucos naquela época e Ele os livrava dos espíritos malignos, que saíam gritando: 'Tu és o Cristo, o Filho de Deus!'

99. Por duas vezes, com alguns poucos pães milagrosamente multiplicados, deixou fartas e saciadas as multidões que o seguiam pelo deserto; às portas da cidade de Naim, ressuscitou o filho de uma viúva que levavam para enterrar e, pouco antes de sua Paixão, ressuscitou Lázaro, que já cheirava mal na sepultura, pois estava morto há quatro dias. 

100. Infinito é o número de milagres, muitos deles famosíssimos, que operou nos três anos de sua pregação, para mostrar que falava como enviado de Deus, que era o Messias esperado pelos Patriarcas e profetizado pelos Profetas, que era o mesmo Filho de Deus. Tal se manifestou em sua transfiguração pelo resplendor de sua glória e pela voz do Pai que o proclamava seu Filho muito amado. Em vista de tais milagres, muitos se converteram e seguiram-no, muitos o saudaram e, alguma vez, pretenderam fazê-lo rei.
(Do Catecismo Maior de Pio X)

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

29 DE AGOSTO - MARTÍRIO DE SÃO JOÃO BATISTA


Ilustre precursor da graça e mensageiro da verdade, João Batista, tocha de Cristo, torna-se evangelista da Luz Eterna.

O testemunho profético que não cessou de dar com a sua mensagem, com toda a sua vida e a sua atividade, assinala-o hoje com o seu sangue e o seu martírio.


Sempre tinha precedido o Mestre: ao nascer, anunciara a sua vinda a este mundo.

Ao batizar os penitentes do Jordão, tinha prefigurado Aquele que vinha instituir o seu batismo.


E a morte de Cristo redentor, seu Salvador, que deu a vida ao mundo, também João Batista a viveu antecipadamente, derramando o seu sangue por Ele, por amor.


Bem pode um tirano cruel metê-lo na prisão e a ferros; em Cristo, as correntes não conseguem prender aquele que um coração livre abre para o Reino.

Como poderiam a escuridão e as torturas de um cárcere sombrio dominar aquele que vê a glória de Cristo, e que recebe Dele os dons do Espírito?

Voluntariamente oferece a cabeça ao gládio do carrasco; como pode perder a cabeça aquele que tem a Cristo por seu chefe?

Hoje sente-se feliz por completar o seu papel de Precursor com a sua partida deste mundo.


Aquele de quem dera testemunho em vida, Cristo que vem e que já aqui está, hoje proclama a sua morte.

Poderia a mansão dos mortos reter esta mensagem que lhe foge?


Alegram-se os justos, os profetas e os mártires, que com ele vão ao encontro do Salvador.

Todos eles rodeiam João com amor e louvores. E com ele suplicam a Cristo que venha finalmente ter com os seus.

Ó grande Precursor do Redentor, Ele não tarda, Aquele que te libertará para sempre da morte.

Conduzido pelo teu Senhor, entra na glória com os santos!

('Hino ao Martírio de São João Batista', de São Beda, o Venerável, Doutor da Igreja, 673 - 735)