POR QUE O INFERNO TEM DE SER ETERNO...
quinta-feira, 23 de novembro de 2017
quarta-feira, 22 de novembro de 2017
DIÁLOGO SOBRE OS ESCRÚPULOS DA CONSCIÊNCIA
Diretor: Conheço os males de que a vossa pobre alma sofre; compadeço-me deles do fundo de minhas entranhas; quisera curá-los; mas sabeis qual seria o meio disso, depois de tudo o que acabais de ler?
O escrupuloso: Não; ignoro-o e desejo vivamente que me ensineis.
Diretor: Tende uma confiança sem limites na misericórdia divina pela mediação de Nosso Senhor Jesus Cristo, que derramou o seu sangue por vós, que vos procurou como uma ovelha desgarrada através das sarças e dos espinhos, e que quis expiar pessoalmente os vossos pecados para vos dar a paz e a salvação. Poderíeis desesperar e perder confiança à vista do que Deus fez por vós, dando-vos Seu Filho, que se fez a Si mesmo vítima por vós? Que há que não obtenhais pela mediação de Jesus Cristo? Que há que não acheis nEle? Força, luz, justiça, santidade, consolação, perseverança; porquanto Jesus Cristo é um dom universal em quem estão encerrados todos os outros dons e todos os tesouros da graça. 'Dando-nos seu Filho', diz São Paulo, 'Deus não nos deu todas as coisas com Ele' (Rm 8, 33). Deu-no-lo para ser o suplemento universal de todas as nossas misérias, de toda a nossa indignidade. E que quereríamos que Deus fizesse a mais para nos inspirar sentimentos de confiança e de amor? Que pode Ele acrescentar a admirável economia da redenção, da religião, dos sacramentos, da mediação da Santíssima Virgem, de tantos caminhos abertas à vossa confiança?
O escrupuloso: Mas eu não mereço senão os repúdios e a indignação de Deus; todas as minhas orações são más e Deus não pode escutar-me.
Diretor: Mas Jesus Cristo, o Filho único do Pai, que intercede por nós, que por nós oferece o preço dos seus méritos, do seu sangue e dos seus trabalhos, não merece bem ser escutado em nosso favor? Poderíamos crer que tal Pai pudesse recusar alguma coisa a tal Filho que lhe oferece tal preço? Este pensamento não seria injurioso tanto ao Pai como ao Filho?
O escrupuloso: Os meus pecados passados, que são tão numerosos, as minhas fraquezas presentes e futuras me assustam.
Diretor: E que são todos os vossos pecados comparados com a misericórdia de Deus e com os merecimentos de Jesus Cristo? Serão outra coisa a não ser como uma gota de água comparada com o oceano? Abri os livros santos, e vede a grande maravilha da misericórdia divina para com pecadores tais como Davi, Zaqueu, Saulo, inimigo declarado de Jesus Cristo, São Pedro perjuro, Madalena prostituída, o bom ladrão, etc. Que tendes a temer depois de tantos exemplos, após tantos santos que reinam no céu, e que, antes da sua conversão, foram mais culpados do que vós?
O escrupuloso: Mas esses eram santos e não miseráveis como eu, que estou tão longe de me aproximar das virtudes deles!
Diretor: Seria um erro crer que os santos não foram o que vós sois, e que vós não podeis ser o que eles são. Os santos tiveram as mesmas tentações, as mesmas fraquezas, as mesmas dificuldades, as mesmas paixões, os mesmos inimigos que vós, e vós tendes as mesmas graças, os mesmos socorros, os mesmos meios, as mesmas esperanças que eles. É só, como eles, terdes plena confiança; tendes só que usar dos socorros que vos são oferecidos e chegareis à mesma felicidade que eles.
O escrupuloso: Longe estou de ousar esperá-lo: estou sobejamente convencido da imensidade das minhas misérias para esperar essa ventura.
Diretor: Permiti-me fazer-vos aqui uma observação que não vos será inútil, espero-o: é que devemos desconfiar dessa desconfiança que parece nascer do sentimento das nossas misérias e que, muitas vezes, não passa de uma falsa humildade e de um verdadeiro orgulho. O bom espírito produz bons frutos e o mau espírito produz maus frutos; é por aí que se deve fazer o discernimento deles, e é por aí também que se deve distinguir a verdadeira da falsa humildade; uma e outra nascem da convicção das nossas misérias e da nossa indignidade; mas os frutos que uma e outra produzem são bem diferentes.
A verdadeira humildade vem de Deus e leva também a Deus. Como ela é um dom de Deus, fortalece a alma e dá-lhe um novo vigor, uma prontidão e uma liberdade santa para rogá-lo e servi-lo: o espírito de Deus não pode enfraquecer nem desanimar as almas, torná-las mais desconfiantes da bondade de Deus, mais pesadas, mais inquietas, mais covardes na oração e no cumprimento dos outros deveres da religião: esses maus frutos não podem, pois, vir senão da operação do espírito maligno. Tomai cuidado nisso, e desconfiai. Santa Teresa dizia às suas religiosas: 'Guardai-vos de certas humildades acompanhadas de inquietações que o demônio nos põe no espírito; elas causam à alma uma aflição que a confrange, que a agita, que a atormenta, e que lhe é inteiramente difícil de suportar. Com isso, o demônio pretende persuadir-nos de que temos humildade, e ao mesmo tempo fazer-nos perder a confiança que devemos ter em Deus'... 'Quando, estiverdes neste estado', acrescenta ela, 'o mais que puderdes desviai o vosso pensamento da consideração da vossa miséria, e levai-o a considerar o quanto é grande a misericórdia de Deus, qual é o amor que Ele nos dedica, e o que Lhe aprouve sofrer por vós'.
Efetivamente, a desconfiança, embora se cubra com as aparências da humildade e da convicção da miséria, da fraqueza e da indignidade do homem, é realmente orgulho. Senão, vede: Deus conhece infinitamente melhor do que nós as nossas fraquezas, a nossa malignidade, a nossa indignidade; mas, apesar disso, manda-nos esperar na sua misericórdia e nos merecimentos de Jesus Cristo; ordena-nos lançar fora as dúvidas, todos os pensamentos que atacam ou enfraquecem a esperança, como os que atacam a fé, a castidade; anima-nos por sua palavra e por suas promessas; e não é um grande orgulho não lhe obedecermos, não escutarmos a sua palavra e rejeitarmos as suas consolações? Ele nos oferece suas graças, declara-nos que se considerará ofendido se dermos ouvido às nossas desconfianças; ameaça-nos se não esperarmos na sua bondade... Então não é orgulho pretender alguém desculpar-se com o fato de ser demasiado indigno e de haver abusado demais das suas graças e da sua paciência?
O escrupuloso: Mas então o que devo fazer? Dignai-vos traçar-me o caminho e eu o seguirei.
Diretor: Primeiramente, como já vos disse, deveis ter uma grande confiança em Deus, visto ser ela a fonte de toda sorte de bens, visto enraizar, nutrir e fortificar as virtudes, amenizar as penas, enfraquecer as tentações, duplicar a coragem, dar nascimento a todas as boas obras, e ser para a alma como um paraíso de bênção e uma espécie de felicidade antecipada. Diz o profeta Jeremias: 'Feliz o homem que põe sua confiança no Senhor e de quem o Senhor é a esperança!' (Jer 17, 7).
A confiança fraca e tímida torna a piedade trêmula e vacilante; é sustada pelos mais pequenos obstáculos, é retardada pelo menor contratempo, desalentada pelas mais leves contradições. Ora, uma esperança tímida e trêmula torna também hesitantes e tímidas as orações que dela nascem e, por conseguinte, incapazes de obter muito. Torna a gratidão menos viva, o amor menos ativo, abre a sua porta às tentações, rouba à alma a paz, enche-a do espírito das trevas, fortifica a oposição natural às virtudes cristãs, serve aos desígnios pérfidos do demônio contra nossa alma. Não admitis estas verdades?
O escrupuloso: Admito-as perfeitamente.
Diretor: Penetrado de confiança em Deus, deveis ter uma grande confiança no vosso guia espiritual. Deveis abrir-lhe o vosso coração, e, uma vez que vos houverdes revelado a ele, ficai convencido de que ele só quer o bem e a salvação de vossa alma; que o lugar onde ele está, o ministério que ele desempenha, o Deus cujo lugar ele ocupa, a responsabilidade que ele assume sobre si, são garantias bastante poderosas de que ele cumpre o seu dever para conosco. Escutai-o em tudo; obedecei às decisões dele, às suas prescrições, às suas proibições, aos seus conselhos, como ao próprio Deus.
O escrupuloso: Sinto que é esse o caminho mais curto; mas como obedecer contra a própria consciência?
Diretor: A vossa consciência pode enganar-vos; a vossa obediência nunca vos enganará. A vossa consciência pode ser trevosa e Jesus Cristo, falando pelo seu ministro, é a luz e a Verdade; foi ele quem nos disse que escutássemos aquele que ocupa o seu lugar. E foi ele quem advertiu o seu ministro de contar com o seu direito, dizendo-lhe: 'Quem vos escuta a mim escuta'.
O escrupuloso: Sou presa de mil tentações.
Diretor: Deveis convencer-vos bem de que, se sois tentado, é porque o Senhor vos ama, é por que sois agradável aos olhos dEle, é porque Ele quer purificar-vos cada vez mais, aumentar os vossos merecimentos, experimentar a vossa fidelidade, e tornar mais brilhante a vossa coroa. 'Deixai correr o vento das tentações', diz São Francisco de Sales, 'e não penseis que o cicio das folhas seja o tilintar das armas. Ficai bem persuadido de que todas as tentações do inferno não poderiam manchar um espírito que não gosta delas'. Pensai que Deus é um pai terno e que Ele não permitirá a provação senão na medida em que ela vos for útil.
Pensai ainda em que os maiores santos, como Santo Antão, São Jerônimo e vários outros, foram mais tentados do que vós, e que saíram vitoriosos; não vos deixeis abater pelo temor; lembrai-vos de que para um pecado mortal é preciso que a matéria seja grave, o conhecimento pleno e inteiro, a vontade expressa. Nas tentações contra a pureza ou contra a fé, não vos detenhais a produzir com esforço atos dessas virtudes: volvei-vos para Deus por um terno olhar de confiança: invocai a Santíssima Virgem, tão boa, tão misericordiosa para conosco; entregai-vos a alguma ocupação exterior, e ficai em paz, aguardando que Jesus Cristo mande a tempestade e o mar se acalmarem.
O escrupuloso: Mas estou sempre distraído diante de Deus; não posso fazer oração; daí vem que não faço nenhum progresso.
Diretor: Não vos perturbeis com isso; quanto mais penosa é a oração, tanto mais meritória. Retiramos dela menos satisfação, é verdade; mas é por isso mesmo que ela é mais agradável a Deus. Lembrai-vos de que Jesus Cristo orou sem consolação durante a sua dolorosa agonia.
Quanto às distrações, quando não vos houverdes prestado a elas consciente e voluntariamente, não vos detenhais a procurar qual lhes possa ser a causa, nem se de algum modo destes lugar a elas; lançai-vos nos braços de Jesus Cristo e convertei em merecimentos o que é uma fonte de apreensões. Fazei uso frequente das orações jaculatórias; estes dardos inflamados têm a virtude de elevar depressa o coração para Deus e de abrir o coração de Deus às nossas necessidades. Elas são curtas, fáceis, podem ser feitas em toda parte e em todo tempo e sem direções, visto que muitas vezes é só uma palavra. Não vos entregueis a mortificações excessivas.
São Jerônimo nos ensina que, quando o demônio não consegue desviar uma alma do amor do bem, trata de impeli-la a mortificações de um rigor excessivo, a fim de que ela fique esmagada por elas, e assim perca o vigor necessário ao seu adiantamento espiritual. Várias almas piedosas caem nesta armadilha; e eis aí por que São Francisco de Sales, que soube guardar um meio termo tão sensato entre o relaxamento e o rigorismo, e cujos conselhos fazem autoridade, disse: 'Concito-vos a conservardes cuidadosamente a vossa saúde, pois Deus exige de vós esse cuidado, e a poupardes vossas forças para empregá-las melhor no seu serviço; de feito, é melhor conservar mais forças corporais do que é preciso, do que arruiná-las mais do que é preciso; porquanto pode-se sempre enfraquecê-las quando se quiser, mas nem sempre se pode repará-las quando se quer'. Concedei-vos, pois, as cuidados necessários para poderdes servir melhor a Deus. Não debiliteis demasiadamente o vosso espírito pelo jejum: porquanto não faríeis com isso senão torná-lo mais fraco e, assim, mais exposto aos ataques do inimigo.
O escrupuloso: O que mais aflição me causa é aproximar-me do tribunal sagrado.
Diretor: Esse tribunal que temeis é, no entanto, o tribunal da misericórdia, e não deveríeis aproximar-vos dele senão com confiança e serenidade. Aquele que ocupa o lugar de Jesus Cristo tem ordem de receber-vos, de perdoar-vos, de consolar-vos, de misturar suas lágrimas às vossas, de vos abrir enfim as portas do céu. Ah! não façais desse sacramento de amor e de remissão um sacramento de tortura e de angústias; ah! que quer o Senhor senão quebrar os nossos grilhões, restituir à nossa alma a sua liberdade, a sua paz, a sua doce alegria, para com nova coragem trilharmos os caminhos da salvação? É preciso arrepender-se dos próprios pecados, mas não se perturbar com eles; é preciso ser humilhado, mas não desesperado.
Depois da confissão, conservai-vos, pois, calmo, e gozai do fruto do sacramento; não deis acesso a mil temores sobre a validade do sacramento, sobre o vosso exame, sobre a vossa contrição; a verdadeira contrição é obra do amor, e o amor age na calma: reinem, pois, no vosso coração o amor e a confiança. Agradecei a Deus, prometei-lhe emendar-vos. Esperai que, por sua graça, cumprireis as vossas resoluções, e, ainda que devêsseis recair cem vezes, não cesseis de prometer e de esperar. Se Deus não vos dá o sentimento da vossa contrição, é para provar o mérito da obediência, que deve bastar para vos tranquilizar sobre a vossa reconciliação perfeita. Diz São Francisco de Sales: 'Grande poder é diante de Deus o poder querer, e vós tendes a contrição pelo simples fato de desejardes tê-la. Não a sentis? Não importa! o fogo que está sob a cinza não se vê, não se sente; e, no entanto, esse fogo existe. Crede, pois, com humildade, obedecei com coragem, e tereis uma dupla recompensa'.
O escrupuloso: Eu bem teria necessidade dos vossos conselhos, pois tremo sempre e estou sempre prestes a abandonar a comunhão.
Diretor: São Francisco de Sales diz que há duas espécies de pessoas que devem comungar com frequência: os perfeitos, para se unirem mais intimamente à fonte de toda perfeição e os imperfeitos, para trabalhar por atingi-la; os fortes, para não se tornarem fracos e os fracos para se tornarem fortes; os doentes, para serem curados; e os que estão com saúde, para não caírem em doença. Dizeis que as vossas imperfeições, a vossa fraqueza, as vossas misérias, vos tornam indigno de comungar com frequência, e eu vos digo que justamente por essa razão é que deveis comungar amiúde, a fim de que Aquele que possui tudo vos dê o que vos falta. Tomai, pois, o vosso quinhão nos conselhos desse grande diretor.
E não creiais que não colheríeis nenhum fruto da comunhão porque não vedes crescerem as vossas virtudes; basta que Deus o veja, e nem é mesmo bom que o vejais. Contentai-vos com saber que ela produz sempre um grande fruto, que é o de manter-vos em estado de graça. Precavei-vos de atormentar-vos, acreditando que estais mal preparado e que abusais de tão grande sacramento, porque vos sentis frio e indiferente e como que sem nenhum sentimento; isso são provações que Deus vos envia para exercitardes a vossa fé e aumentardes os vossos méritos. Sucede com as securas na comunhão como sucede com as que experimentamos na oração. Tende sempre o desejo; o desejo, diz São Gregório, diante de Deus equivale à obra.
Não sois digno! Mas, propriamente falando, quem é que é digno, e quem o será jamais? Então seria preciso renunciar à comunhão, e renunciar também a todos os exercícios de piedade; é justamente o que o inimigo da salvação pede; mas Jesus Cristo, ao contrário, convida-nos a recebê-lo amiúde, e faz do seu corpo um pão de cada dia. Um justo pavor não é censurável, bem longe disto; mas é preciso ter o cuidado de temperá-lo pela consideração da misericórdia de Deus. No Evangelho, Jesus Cristo não disse: 'Vinde a mim vós que sois perfeitos'; disse: 'Vinde a mim vós todos que estais trabalhados pela angústia e carregados do fardo das vossas penas, e eu vos aliviarei'.
E, se tiverdes de aproximar-vos da mesa sagrada, apesar do sentimento da vossa indignidade, sem outro apoio nem garantia senão a vossa obediência, não temais: porquanto essa disposição é uma das mais agradáveis a Deus. Se vierdes a ser assediado de tentações, não vos afasteis por isso da divina Eucaristia; seria cederdes sem resistência à vitória ao inimigo. Quanto mais combates tiverdes a sustentar, tanto mais deveis munir-vos de meios de defesa. Ide, pois, ousadamente restaurar-vos com o alimento dos fortes, e saireis vitorioso.
O escrupuloso: Dou-vos graças por estes preciosos conselhos, sinto toda a sabedoria deles e esforçar-me-ei por fazer deles a regra da minha conduta. Se não receasse tornar-me indiscreto, quereria mesmo pedir-vos alguns outros, como sobre a resignação, de que tenho grande necessidade, sobre a pressa e a inquietação, e sobre uma multidão de coisas que me faltam.
Diretor:. Já que vossa alma o deseja, vou responder em poucas palavras às vossas questões. Primeiramente falemos da resignação. Em tudo o que vos acontece, reconhecei e adorai sempre a santa vontade de Deus. Toda a malícia dos homens e do próprio demônio não pode produzir contra nós coisa alguma que Deus não haja permitido. O Salvador declarou que não cairia um só cabelo da nossa cabeça sem a vontade de nosso Pai celeste. Assim, em toda situação penosa para a natureza, quando fordes afligido por doenças, assaltado por tentações, atormentado pela injustiça dos homens, elevai vossa alma à consideração divina e dizei a Deus com coração afetuoso e submisso: Fiat voluntas tua, seja feita a vossa vontade; faça o Senhor de mim o que quiser, como quiser e quando quiser.
É assim que tornamos fáceis de suportar as penas mais sensíveis e as situações mais aflitivas. Dizia Santa Maria Madalena de Pazzi: 'Não sentis que doçura infinita encerra esta só palavra: 'vontade de Deus'? Semelhante àquele pau mostrado a Moisés, o qual tirava às águas o seu amargor, ela adoça tudo o que é amargo na vida'. Não somente é Deus quem nos envia as nossas penas; mas é para o bem da nossa alma e para nossa vantagem especial que Ele no-las envia: não façais, pois, objeto de queixa daquilo que deve ser um motivo de gratidão. Um aviso bem importante a vos dar é o de vos pordes em guarda contra a inquietação e contra a pressa. Só agindo tranquilamente é que podemos servir ao Deus de paz de uma maneira que lhe seja agradável. Ora, esses defeitos fazem-nos perder o pensamento de Deus em nossas ações, preocupam-nos, embaraçam-nos, fazem-nos cair na impaciência, e é por isto que São Francisco de Sales era inimigo declarado deles.
Açodando-se e agitando-se, a gente não faz mais, e faz pior. Por isto, vemos que Jesus Cristo repreendeu Marta pela sua demasiada solicitude. Quando nós fazemos as coisas bem, fazemo-las sempre bastante depressa. Contende, pois, a vossa vivacidade, moderai-vos, fazei bem o que estiverdes fazendo, não empreendais de mais, a fim de poderdes executar tudo. Não caiais entretanto na trilha contrária, que é a lentidão e a indolência, pois todos os extremos são maus; tende, diz ainda o pio autor supracitado, tende uma atividade tranquila e uma ativa tranquilidade. São Francisco de Sales, que primava nisso, dizia, atribuindo a pressa ao amor-próprio: 'O nosso amor-próprio é um grande trapalhão, que quer empreender tudo e não acaba nada'. Velai, pois, sobre este ponto.
Enfim, guardai-vos de um grande inimigo, que é a tristeza. São Francisco de Sales não receou de dizer que, depois do pecado, nada é pior do que a tristeza. E acrescentava que todo pensamento que nos perturba e nos inquieta não pode vir do Deus de paz, que faz a sua morada nas almas pacíficas. 'Sim, minha filha, digo-vos por escrito tanto quanto de boca, alegrai-vos tanto quanto puderdes fazendo tudo bem; pois é uma dupla graça para as boas obras o serem bem feitas e o serem feitas alegremente; e, quando eu digo: fazendo bem, não quero dizer que, se vos suceder algum defeito, vos deis por isso à tristeza, não, por Deus, pois seria juntar defeito a defeito; mas quero dizer que persevereis em querer fazer tudo bem, e que volteis sempre ao bem logo que conhecerdes haver-vos afastado dele; e que, mediante esta fidelidade, vivais alegre para o geral. Deus esteja no vosso coração, minha filha; vivei alegre e generosa'.
Errado andaríeis, pois, em vos entregardes à tristeza, à melancolia, e em vos vedardes todo divertimento: o espírito fatiga e sombreia-se ficando sempre dobrado sobre si mesmo e, com isso, torna-se mais acessível à tristeza. Os divertimentos e as distrações são, na vida da alma, o que o tempero é na comida do corpo: precisamos saber proporcionar-no-los segundo as nossas necessidades. Quando, pois, sentirdes no vosso coração a aproximação da tristeza, não percais um só momento para vos distrairdes dela; fazei visitas ou procurai um recurso em conversas interessantes, em leituras variadas; passeai, cantai, fazei seja lá o que for, contanto que fecheis a porta do coração a esse perigoso inimigo. Santo Agostinho dizia: 'Amai, e fazei o que quiserdes'.
Termino exortando-vos a agirdes com uma santa liberdade cristã nas ocasiões que o exigirem, a reprimirdes em vossa pessoa todo zelo amargo e em exercerdes um zelo cheio de humildade, de pureza de intenção, de oportunidade e de grande caridade; depois, tornai a piedade amável pela vossa doçura, pela vossa afabilidade, pela vossa modéstia, pelos vossos olhares, sem respeito humano, no mundo. Assim fazendo, amareis a religião, fá-la-eis amar, e atraireis a Jesus Cristo numerosos adoradores.
(Excertos da obra 'Tratado dos Escrúpulos da Consciência', pelo Abade Grimes, 1854)
terça-feira, 21 de novembro de 2017
segunda-feira, 20 de novembro de 2017
NO LIMIAR DO SOBRENATURAL (IX)
Igreja paroquial de Santo Antônio de Sokolka/ Polônia, 12 de outubro de 2008, domingo. Logo após a beatificação do servo de Deus Pe. Miguel Sopocko, durante a Santa Missa, uma hóstia consagrada caiu das mãos de um dos sacerdotes durante a distribuição da comunhão, junto ao altar. De acordo com as normas litúrgicas, a hóstia foi recolhida e depositada no vasculum, para se dissolver neste pequeno recipiente com água que foi, depois, repassado para um outro recipiente conservado num cofre na sacristia da igreja. Uma semana depois, o recipiente mantinha a água incolor e, no meio da hóstia em dissolução, uma mancha de sangue de vermelho vivo, como um coágulo recente. A hóstia foi, então, transportada para a capela da Misericórdia Divina e colocada no sacrário, onde foi conservada durante três anos até 2 de outubro de 2011.
Neste período, fragmentos do coágulo foram recolhidos e submetidos a análises independentes por renomados especialistas, que chegaram à mesma conclusão: trata-se de parte do tecido do músculo cardíaco de uma pessoa viva e em estado de grande agonia, sendo que as fibras do tecido cardíaco na região do coágulo estavam intimamente associadas às fibras da própria hóstia ainda não dissolvida, num arranjo tão perfeito quanto absolutamente inexplicável (indicadas pela região circulada na foto acima).
Em seu comunicado oficial sobre estes eventos, a Cúria Metropolitana de Bialystok afirmou: 'O acontecimento de Sokolka não se opõe à fé da Igreja, mas a confirma. A Igreja professa que, após as palavras da consagração, pelo poder do Espírito Santo, o pão se transforma no Corpo de Cristo e o vinho no Seu Sangue. Além disso, trata-se de um chamamento para que os ministros da Eucaristia distribuam o Corpo do Senhor com fé e cuidado e que os fiéis O recebam com adoração'.
domingo, 19 de novembro de 2017
A PARÁBOLA DOS TALENTOS
Páginas do Evangelho - Trigésimo Terceiro Domingo do Tempo Comum
Como herdeiros das alegrias eternas, somos administradores e não proprietários dos bens recebidos nesta vida. Tudo vem de Deus e tudo há de voltar para Deus na medida em que cada um de nós deverá prestar as devidas contas da infinitude das graças recebidas por Deus para se cumprir o seu plano de nossa salvação. Como nada nos pertence, nem nosso corpo, nem os nossos pensamentos, viver a santidade consiste em fazer em tudo e por todos a Santa Vontade de Deus, colocando todos os nossos dons e talentos a serviço do Reino.
O 'homem (que) ia viajar para o estrangeiro' (Mt 25, 14) não é outro senão Jesus que subiu ao Céu e que, chamando os seus empregados, 'lhes entregou seus bens' (ainda Mt 25, 14). Bens, portanto, que pertencem a Deus e que são distribuídos aos homens de forma diversa, por meio de um, de dois, de cinco talentos, de acordo com os desígnios da Providência e na medida certa para levar a todos ao cumprimento ideal da sua missão salvífica. Desta forma, a glória de Deus é fruto não da graça de se ter mais ou menos talentos, mas da resposta de cada um de nós, pela própria vocação, de cumprir santamente a Vontade de Deus na administração coerente dos bens recebidos em benefício próprio e dos nossos irmãos.
Mérito que tiveram os empregados que receberam cinco e dois talentos: bens que renderam outros bens, na medida do amor de ambos: 'servo bom e fiel' (Mt 25, 21.23); talentos que se multiplicaram e que se distribuíram fartamente, pela medida expressa por um rendimento em dobro: 'Senhor, tu me entregaste cinco talentos. Aqui estão mais cinco, que lucrei' (Mt 25, 20) e 'Senhor, tu me entregaste dois talentos. Aqui estão mais dois que lucrei' (Mt 25, 22). Quem se mostra fiel na administração dos bens recebidos, será merecedor de bens ainda maiores e herdeiro das alegrias eternas: 'Vem participar da minha alegria!’ (Mt 25, 21.23).
Glória que será tirada dos servos infiéis, dos empregados maus e preguiçosos que, diante os dons e talentos recebidos, os enterram nos buracos de sua insensatez, do egoísmo e da busca desenfreada por posses e bens materiais, aviltando a graça de Deus e se consumindo nos próprios interesses e mesquinhez. Ao prestar contas de sua má administração, o servo infiel busca em vão refúgio na tentativa de culpar o patrão, mediante a concepção desvairada de um Deus injusto e severo, para apenas se condenar pelas próprias palavras e pelos pecados de negligência e omissão. E, condenado, perde até o pouco que porventura tenha feito em favor de outros e ganha a perdição eterna: 'Porque a todo aquele que tem será dado mais, e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado. Quanto a este servo inútil, jogai-o lá fora, na escuridão. Aí haverá choro e ranger de dentes!’ (Mt 25, 29 - 30).
sábado, 18 de novembro de 2017
sexta-feira, 17 de novembro de 2017
DA VIDA ESPIRITUAL (95)

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