sábado, 28 de outubro de 2017
EXERCÍCIOS DO AMOR DIVINO A JESUS (Parte IV)
34 exercícios de amor a Jesus, propostos por São João Eudes, em honra e devoção aos 34 anos de sua vida; um ano no ventre de Maria e 33 de sua vida nesta terra.
PARTE IV
29. Ó amigo querido da minha alma e alma do meu amor, quão triste, quão lamentável e digno de se chorar com lágrimas de sangue, é ver-Vos tão pouco amado e isto até por aqueles que fazem a profissão no Vosso nome! Coisa estranha, nada é passível de tanto amor quanto Vós e parece que não há nada neste mundo menos amado do que Vós. Muitos são os que amam o Vosso Paraíso e as consolações e deleites do Vosso amor - mas ai - talvez um em mil seja capaz de Vos amar pura e desinteressadamente como único anelo de amor! Ó Jesus, meu único anelo de amor, somente busco a Vós, somente a Vós desejo e quero Vos amar sem almejar interesses pessoais ou satisfações, nem as consolações e deleites de quem apenas procura Vosso afeto, mas porque sois infinitamente digno de ser amado por serdes quem sois, sem concessão alguma a quaisquer outras considerações.
30. Quando é que eu Vos amarei, ó Jesus, com tal pureza que possa dizer de verdade: 'Meu Jesus é meu Tudo, nada mais me importa; só Ele me basta e nada quero além dEle, que todo o meu amor seja dado somente para Ele e nada para mim. Não, isso não, não são as alegrias do Vosso reino, nem as consolações e deleites que o Vosso amor me inspiram que me fazem buscar a Vós; somente ao Senhor dos Céus e Deus de toda consolação é a quem tendem todos os anelos do meu coração. E ainda que isso possa ofender Vossa bondade infinita, pensar que seria possível a Vós não me outorgar jamais consolo algum ou qualquer recompensa de glória pelo meu amor, ainda assim eu Vos haveria de amar por serdes infinitamente digno de todo o meu afeto e devoção. Não desejo nada mais do que Vos amar e Vos amar sempre e cada vez mais!'
Ó Jesus, instaurai esses sentimentos e disposições no meu coração e nos corações de todos os homens, particularmente naqueles que mais conheceis e naqueles aos quais Vos ouso pedir de maneira muito especial. Ó Rei dos corações, tomai-os para Vós, são Vossos; todos estes pobres corações foram criados para amar-Vos e anseiam agora viver a não ser de amor por Vós. Aceitai essa minha oferta, aniquilando nestes corações tudo o que se opõe ao Vosso santo amor e incendiando-os com as chamas ardorosas do Vosso amor divino!
Ó, meu Salvador, atraí-os a Vós, cativai-os com os Vossas graças, prendei-os ao Vosso Coração e enterrai-os nele para que se façam pertencer ao número daqueles de quem está escrito no Livro da Vida: Vivent corda eorum in saeculum saeculum - Seus corações viverão pelos séculos dos séculos (Sl 21, 27), ou seja, seus corações viverão no amor divino e amarão para sempre o Deus do amor e da vida. Ah! Quão felizes esses corações que, por toda a eternidade, não farão nada além de amar, louvar e adorar o adorável e amabilíssimo Coração de Jesus! Bendito seja Aquele que os criou para ser glorificado e amado por eles pelos séculos dos séculos!
31. Ó Deus da minha vida e do meu coração, sempre estais em contínuo exercício de amor para comigo, revestindo-me de Vossa graça e de todas as coisas criadas no céu e na terra para me desvelar o amor que me dedicais, como testemunhado por um dos Vossos servos mais ardorosos, Santo Agostinho: coelum, terra e omnia quae in eis sunt non cessant mihi dicere, ut amem Dominum Deum meum - Que o céu, a terra e todos os seus seres não cessem de me alertarem para amar meu Senhor e meu Deus!
Assim, que tudo o que meus ouvidos ouvem, o que os meus olhos vêem, o que os meus outros sentidos sentem ou pressentem; tudo o que a minha memória, a minha inteligência e a minha vontade possam conhecer e desejar; todos os seres visíveis e invisíveis da ordem da natureza, da graça ou da glória; todas as graças recebidas de Vós, ó meu Deus; todos os Vossos anjos e santos, juntamente com os bons exemplos de suas virtudes e ações louváveis; todas as maravilhas que Vós realizastes em Vossa Mãe Santíssima; todas as perfeições de Vossa essência e divina Pessoa; todos os atributos e mistérios de Vossa divindade e de Vossa humanidade; todas as Vossas graças e virtudes; todos os Vossos pensamentos, palavras, ações e sofrimentos; todos os Vossos passos sobre esta terra; todas as gotas de Vosso Sangue derramado; todas as chagas do Vosso corpo; em uma palavra, tudo que existe na ordem da criação e das coisas incriadas, neste tempo e na eternidade, tudo isso, repito, seja como muitas vozes que proclamem sem cessar, ó meu Jesus, a Vossa infinita bondade e invoquem o Vosso amor por mim e me instruam a Vos amar em igual medida: Amo te, amo te; dilige me, quia ipse prior dilexi te. Dilige Dominum Deum tuum ex toto corde tuo, ex tota anima tua et ex totis viribus tuis - Eu Vos amo, eu Vos amo; amai-me também pois Vos amei primeiro. Amai ao Vosso Senhor e Vosso Deus de todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças!
Ah, meu Senhor e meu Deus, quão bom sois Vós e quão maravilhoso é o Vosso amor por mim! Vós me amais e me procurais ansiosamente, com tanto empenho e dedicação, como se tivésseis necessidade de mim, como se eu tivesse algum valor e como se eu pudesse ser de certa forma algo indispensável. Ansiais tomar-me para Vós e temeis perder-me como a um tesouro inestimável, cuja perda ou posse implicasse a perda da própria felicidade; sondais a minha amizade com a insistência de quem só almejasse isso e na expectativa de que Vossa alegria e glória dependessem do meu afeto e do meu amor; o que mais poderíeis fazer para dispor-me? Ó meu Jesus adorado, ó bondade infinita, eu me desfaço nos abismos insondáveis do Vosso amor! Ó bondade excelsa, como podeis ser tão pouco amado e adorado e tão ofendido e perseguido por aqueles a quem amais com paixão infinita?
Ó coração humano tão endurecido, que não se dobra de ternura diante de tantas vozes suplicantes e amorosas! Quanta frieza tens, que não te inflamam tantas chamas do divino amor! Que fazer, meu Salvador? Como resistir a tantas graças de Vossa bondade infinita? O que devo dizer? O que devo responder ao apelo de tantas vozes que me conclamam a amar-Vos? Minha resposta não poderia ser distinta da resposta do Príncipe dos Vossos Apóstolos: 'Amo te, amo te!' - Eu Vos amo, eu Vos amo! Mas, em vez de responder-Vos assim - ó dor imensa, ó vergonha indescritível - clamei contra Vós como os ímpios judeus, associando a eles a voz dos meus pecados: Tolle, tolle; crucifige eum (Jo 19, 15) - Fora com Ele, fora com Ele; crucifica-O! Todos os meus pecados, toda a minha ingratidão, as minhas inclinações perversas, meu orgulho e meu amor próprio, minha própria vontade e meus outros vícios, todos os meus maus pensamentos, palavras e ações repreensíveis, todo o mau uso que fiz dos meus sentidos corporais e das faculdades e poderes da minha alma, todo o mal que acalentou guarida em meu ser, são outras tantas vozes delirantes que gritam incessantemente contra Vós: Tolle, tolle; crucifige eum - Fora com Ele, fora com Ele; crucifica-O!
Ó homem ingrato, insensato e deplorável, é assim que amas Aquele que o ama com tanto amor? É assim que correspondes o amor de Quem tem por ti anseios de amor infinito? É assim que retribuis à Bondade Infinita a infinitude dos favores recebidos? Clamo o meu perdão, Senhor, perdão, a Vós suplico arrependido o meu perdão! Que a Vossa misericórdia me envolva nesta súplica de perdão. Que a Vossa Mãe Santíssima, e todos os Vossos Anjos e Santos se prostrem aos Vossos pés para interceder por mim, pecador miserável! Que todas essas vozes que me conclamam o dever e a necessidade de Vos amar em plenitude, também clamem diante do trono da Vossa realeza, com toda a humildade, contrição e arrependimento que existiram ou hão de existir: 'Perdão, Senhor, perdão; tende misericórdia deste pobre pecador!'
Ó meu Salvador de tão grande misericórdia, eu Vos suplico, recebei e aceitai com agrado os propósitos que Vos faço de ora em diante. Ó meu Jesus tão amado, uma vez que sempre me amastes e tudo fizestes para me oferecer Vosso amor sem medidas, eu quero também corresponder ao Vosso amor com a pequenez de minhas possibilidades e recursos. E, assim, ainda que eu pudesse imaginar o impossível de não ter nenhum dever de Vos amar, eu Vos amaria com toda a minha alma e com todas as forças do meu ser.
Para este fim, se tal for do Vosso agrado, quero que todos os meus pensamentos, palavras e ações, todos os sentidos do meu corpo, todas as faculdades e potências da minha alma, as minhas respirações, as batidas do meu coração, todo fluxo de sangue em minhas veias, todos os instantes da minha vida, tudo o que foi, é e será em minha vida, mesmo os meus pecados se possível for, pelo poder da Vossa sabedoria, prover o bem do mal em favor dos que Vos amais, eu quero, repito, que tudo isso se converta em muitas outras vozes que, com todo o amor do céu e da terra, clamem sem cessar e eternamente para Vós: 'Amo te, amo te, etiam, Domine Jesu, amo te! - Eu Vos amo, Eu Vos amo; sim Senhor Jesus, eu Vos amo! E se alguma coisa em mim, em meu corpo ou em minha alma, expressar o contrário, que seja arrancada de mim e destruída, aniquilada como pó e lançada aos ventos!
32. Ó meu Jesus, é meu desejo que tudo o que existiu, existe e há de existir, na ordem da natureza, da graça e da glória, tanto no céu como na terra e no próprio inferno, proclame sempre as mesmas palavras repetidas pelos séculos sem fim a meu favor: 'Amo te, amo te, Domine Jesu' - Eu Vos amo, Eu Vos amo, ó meu Senhor Jesus! Este é o propósito a que submeto todas as coisas que, sendo minhas, me foram dadas como meios de vos amar em plenitude, ó Deus único que habita o meu coração!
Ó meu Salvador de tão grande misericórdia, eu Vos suplico, recebei e aceitai com agrado os propósitos que Vos faço de ora em diante. Ó meu Jesus tão amado, uma vez que sempre me amastes e tudo fizestes para me oferecer Vosso amor sem medidas, eu quero também corresponder ao Vosso amor com a pequenez de minhas possibilidades e recursos. E, assim, ainda que eu pudesse imaginar o impossível de não ter nenhum dever de Vos amar, eu Vos amaria com toda a minha alma e com todas as forças do meu ser.
Para este fim, se tal for do Vosso agrado, quero que todos os meus pensamentos, palavras e ações, todos os sentidos do meu corpo, todas as faculdades e potências da minha alma, as minhas respirações, as batidas do meu coração, todo fluxo de sangue em minhas veias, todos os instantes da minha vida, tudo o que foi, é e será em minha vida, mesmo os meus pecados se possível for, pelo poder da Vossa sabedoria, prover o bem do mal em favor dos que Vos amais, eu quero, repito, que tudo isso se converta em muitas outras vozes que, com todo o amor do céu e da terra, clamem sem cessar e eternamente para Vós: 'Amo te, amo te, etiam, Domine Jesu, amo te! - Eu Vos amo, Eu Vos amo; sim Senhor Jesus, eu Vos amo! E se alguma coisa em mim, em meu corpo ou em minha alma, expressar o contrário, que seja arrancada de mim e destruída, aniquilada como pó e lançada aos ventos!
32. Ó meu Jesus, é meu desejo que tudo o que existiu, existe e há de existir, na ordem da natureza, da graça e da glória, tanto no céu como na terra e no próprio inferno, proclame sempre as mesmas palavras repetidas pelos séculos sem fim a meu favor: 'Amo te, amo te, Domine Jesu' - Eu Vos amo, Eu Vos amo, ó meu Senhor Jesus! Este é o propósito a que submeto todas as coisas que, sendo minhas, me foram dadas como meios de vos amar em plenitude, ó Deus único que habita o meu coração!
33. Desejo ainda, ó meu Jesus, que todas as potências de Vossa divindade e de Vossa santa humanidade, todos os Vossos atributos e mistérios, todas as Vossas qualidades, virtudes, pensamentos, palavras, ações e sofrimentos, todas as Vossas chagas sagradas, todas as gotas do Vosso precioso Sangue, todos os momentos da Vossa eternidade (se fosse possível dizer assim) e tudo o que é ou que tenha existido em Vosso corpo, alma e divindade, tudo sejam outras tantas vozes que proclamem sempre por mim a Vós: Amo te, amantissime Jesu, amo te, bonitas infinita, amo te ex toto corde meo, ex tota anima mea, et ex totis viribus meis, et magis atque magis amare volo - Eu Vos amo, ó amantíssimo Jesus; eu Vos amo, bondade infinita; eu Vos amo de todo o meu coração, com toda a minha alma, com todas as minhas forças e, cada vez mais, quero sempre Vos amar!
Em suma, eu quero, ó meu Salvador, se tal for também Vosso desejo, que não haja nada em meu ser e em minha vida, nem no meu corpo, nem na minha alma, nem neste tempo, nem na eternidade, que não seja transformado em chamas ardentes de amor por Vós! E para que esses meus anseios e desejos sejam tão eficazes quanto sinceros, quero que tudo isso se faça, não com minha frágil vontade humana e natural, tão indigna de aspirar por um amor tão sublime, mas pela Vossa divina vontade, ó meu Jesus, onipotente e irresistível, que também passa a ser minha por Vossa concessão à minha mísera condição humana. Ó meu Senhor, se eu tivesse o mesmo poder que a vontade que tenho de Vos amar, tornaria realidade todos estes meus desejos e ânsias por Vosso amor. Mas, o que me cabe é tão somente desejar; o agir é Vosso domínio, porque tudo podeis e sempre satisfazeis os desejos e as vontades daqueles que Vos amam e glorificam!
Concedei-me, pois, eu Vos imploro, estes meus desejos; eu Vos suplico tudo isso pelo que sois, isto é, pela Vossa bondade e misericórdia, por tudo que amais e por todos que Vos amam no céu e na terra, e tudo para Vossa maior glória e louvor! Como Vossa vontade é a minha, e como ouso desejar tudo com a Vossa vontade, tenho a convicção absoluta em Vossa infinita bondade que todos os meus anseios serão cumpridos, de acordo com os Vossos santos desígnios e as intenções propícias à Vossa glória e realeza.
34. Ó bom Jesus, quando será que nada terei em mim que se oponha ao Vosso amor? Eu compreendo bem: isso não pode acontecer neste mundo, mas apenas no céu. Ó céu, como o desejo, pois somente então serei capaz de amar Jesus dignamente, somente então há de reinar em plenitude o amor divino, e somente então os corações poderão vibrar unicamente por amor a Deus! Ó terra, ó mundo, ó corpo, prisão escura da minha alma, quão insustentáveis sois! Ai de mim, quem me livrará desse corpo carnal e perecível? Será preciso ainda permanecer por muitos anos neste miserável exílio, nesta terra inóspita e hostil, nesses lugares de pecado e maldição?
E quando há de chegar o dia, a hora e o instante tão ansiados em que eu, finalmente, possa começar a amar perfeitamente o meu Deus e Salvador? Ah! meu Jesus, meu querido Jesus, meu amadíssimo Jesus, não poderei nunca Vos amar como mereceis! Ó Deus das misericórdias, não havereis de olhar com compaixão o meu infortúnio e não ouvireis as minhas súplicas e gemidos? Meu Senhor e meu Deus, ouvi as minhas súplicas; a Vós clamo, a Vós anseio e a Vós me ofereço por inteiro no meu amor humano; Vós bem o sabeis: ninguém mais quero nem no céu nem na terra, na vida ou na morte, pois somente Vós sois digno de todo o meu amor.
Ó Mãe de Jesus, ó anjos, santos e santas de Deus, ó criaturas de Deus! Tende piedade do meu horrível martírio; intercedei por mim diante de Jesus, para que amando-O sobre todas as coisas e com amor de plenitude, seja manifesto que nada anseio neste tempo e na eternidade que não seja tão somente o puro amor: nem o céu, nem as glórias e as belezas do Paraíso, nem os deleites das graças, mas somente e tão somente o amor de Jesus. Ó meu Jesus, este amor é a razão do meu viver e para o qual anseio desígnios da Vossa divina misericórdia para que, consumido nas chamas ardentes do puro amor, eu possa estar em breve no reino eterno do Vosso amor! 'Amém. Vinde, Senhor Jesus!' (Ap 22, 20). Vinde, minha vida; vinde minha luz, meu amor, meu tudo, vinde até mim para aniquilar tudo no meu ser que possa se opor ao império do Vosso amor. Vinde me envolver num incêndio de amor a Vós, Senhor! Vinde e atraí-me a Vós e me transporteis ao lugar onde reina o amor verdadeiro e perfeito, o lugar onde tudo é amor e amor eterno, contínuo, indefinido e invariável. Ó meu Jesus, meu Jesus, a quem amo de todo o meu coração, vinde, não tardeis!
E quando há de chegar o dia, a hora e o instante tão ansiados em que eu, finalmente, possa começar a amar perfeitamente o meu Deus e Salvador? Ah! meu Jesus, meu querido Jesus, meu amadíssimo Jesus, não poderei nunca Vos amar como mereceis! Ó Deus das misericórdias, não havereis de olhar com compaixão o meu infortúnio e não ouvireis as minhas súplicas e gemidos? Meu Senhor e meu Deus, ouvi as minhas súplicas; a Vós clamo, a Vós anseio e a Vós me ofereço por inteiro no meu amor humano; Vós bem o sabeis: ninguém mais quero nem no céu nem na terra, na vida ou na morte, pois somente Vós sois digno de todo o meu amor.
Ó Mãe de Jesus, ó anjos, santos e santas de Deus, ó criaturas de Deus! Tende piedade do meu horrível martírio; intercedei por mim diante de Jesus, para que amando-O sobre todas as coisas e com amor de plenitude, seja manifesto que nada anseio neste tempo e na eternidade que não seja tão somente o puro amor: nem o céu, nem as glórias e as belezas do Paraíso, nem os deleites das graças, mas somente e tão somente o amor de Jesus. Ó meu Jesus, este amor é a razão do meu viver e para o qual anseio desígnios da Vossa divina misericórdia para que, consumido nas chamas ardentes do puro amor, eu possa estar em breve no reino eterno do Vosso amor! 'Amém. Vinde, Senhor Jesus!' (Ap 22, 20). Vinde, minha vida; vinde minha luz, meu amor, meu tudo, vinde até mim para aniquilar tudo no meu ser que possa se opor ao império do Vosso amor. Vinde me envolver num incêndio de amor a Vós, Senhor! Vinde e atraí-me a Vós e me transporteis ao lugar onde reina o amor verdadeiro e perfeito, o lugar onde tudo é amor e amor eterno, contínuo, indefinido e invariável. Ó meu Jesus, meu Jesus, a quem amo de todo o meu coração, vinde, não tardeis!
(versão para o português do autor do blog)
sexta-feira, 27 de outubro de 2017
DA DIGNIDADE E RESPEITO AOS SACERDOTES
'Consagrei-os e chamei-os 'meus Cristos', porque os incumbi de me dar a vós. Coloquei-os como flores cheirosas no corpo místico da Santa Igreja. O anjo não possui esta dignidade, dei-a aos homens que escolhi como ministros. Estabeleci-os como anjos, e eles devem ser anjos terrestres nesta vida. Peço a qualquer alma a pureza e a castidade; desejo que ela me ame e ame ao próximo, ajudando-o como pode, com as suas orações, vivendo em união com ele.
Mas exijo ainda mais pureza dos meus ministros. Peço-lhes um maior amor para comigo e para com o próximo, a quem eles devem administrar o Corpo e Sangue de meu Filho, com o ardor da caridade e a fome da salvação das almas, para glória e honra do meu nome. Assim como os sacerdotes desejam a pureza do cálice onde é feito o sacrifício, Eu desejo a pureza e a clareza dos seus corações, das suas almas e dos seus espíritos.
E porque o corpo é o instrumento da alma, quero que eles o guardem numa pureza perfeita e não o manchem. Que eles não se encham de orgulho, nem da ambição por altas distinções. Que eles não sejam cruéis para com eles próprios e para com o próximo, pois eles não podem ser cruéis para com eles próprios sem o ser para com o próximo. Se eles são cruéis para eles próprios, eles são cruéis para com as almas, porque não dão o exemplo de uma santa vida, não trabalham para livrar as almas do demônio e distribuir o Corpo e Sangue de meu Filho único, e a Mim, a verdadeira Luz, nos sacramentos da Igreja'.
********
'Desejo que eles [os sacerdotes] sejam respeitados, não por eles mas por Mim e por causa da autoridade com que os revesti. Este respeito nunca deve diminuir, mesmo quando a virtude diminuiria neles. Ele deve conservar-se para os maus e para os bons, porque Eu os fiz ministros do Sol, isto é, do Corpo e Sangue de meu Filho nos sacramentos.
Os bons e os maus têm a mesma dignidade. Todos estão revestidos das mesmas funções, mas mostrei-te que os perfeitos têm as qualidades do sol porque iluminam e aquecem o próximo pelo fogo da sua caridade. Este fogo produz frutos e faz nascer virtudes nas almas daqueles que lhes são confiados. (…) Deveis honrá-los, quaisquer sejam seus defeitos, por amor de Mim que os envio, e por amor da vida da graça que encontrareis no grande tesouro que eles vos dão, porque eles vos distribuem o Deus-Homem todo inteiro, isto é, o Corpo e Sangue de meu Filho, unido à minha natureza divina.
Deve-se lamentar e detestar as suas faltas; deve-se tentar agasalhá-los do zelo da vossa caridade e da santidade das vossas orações; deve-se lavá-los de suas manchas com as vossas lágrimas, e Me apresentá-los com sincera intenção, para que a minha bondade os cubra da veste da caridade. (…) Deveis orar por eles e não julgá-los, deixar-me ser Eu julgá-los. Desejo poder fazer-lhe misericórdia pelas vossas orações. Se eles não se converterem, a dignidade que eles receberam será a ruína deles; e se não mudarem, se não aproveitarem a grandeza da minha misericórdia, Eu, o Juiz supremo, não os atenderei na hora da morte, e enviá-los-ei para o fogo eterno'.
(Excertos da obra 'Tratado sobre a oração', de Santa Catarina de Sena)
quinta-feira, 26 de outubro de 2017
NÓS SABEMOS A RESPOSTA
O Universo não deveria existir, concluem cientistas
Quantidade de matéria e antimatéria formada durante o Big Bang foi igual e, portanto, deveria se anular – mas desequilíbrio misterioso deu origem ao cosmos
Matéria e antimatéria são dois tipos de material presentes na composição do Universo que agem como 'gêmeos idênticos' e, ao mesmo tempo, opostos: para cada partícula de matéria, de carga positiva, haveria uma antipartícula exatamente igual, mas de carga negativa, que formaria a antimatéria. Um estudo divulgado na última semana na revista científica NATURE afirma que esses dois tipos de material teriam surgido em quantidades idênticas durante o Big Bang, há 13,8 bilhões de anos. Isso significa que, teoricamente, as partículas e antipartículas deveriam se anular, impedindo o surgimento do Universo. Mas, como sabemos que isso não aconteceu, cientistas estão intrigados com o fato de que simplesmente não conseguem explicar por que o Universo existe.
A única hipótese levantada é que um misterioso desequilíbrio entre a quantidade desses materiais tenha acontecido em algum momento, explicando a predominância de partículas de matéria. A última esperança dos cientistas para encontrar a fonte dessa assimetria estava no estudo das propriedades magnéticas de prótons (partícula positiva que pode ser encontrada nos átomos) e antiprótons (sua versão na antimatéria) – e foi exatamente isso que a equipe de pesquisadores do laboratório europeu CERN, na Suíça, tentou fazer. Mesmo assim, nenhuma discrepância na proporção dessas partículas foi encontrada.
'Todas as nossas observações encontraram uma completa simetria entre matéria e antimatéria, e é por isso que o Universo, na verdade, não deveria existir', diz o líder da equipe, Christian Smorra, pesquisador do CERN. 'Uma assimetria deve existir aqui em algum lugar, mas simplesmente não conseguimos entender onde está a diferença, qual é a fonte da ruptura dessa simetria'.
Como a antimatéria não pode ser fisicamente contida, Smorra e sua equipe usaram um dispositivo chamado 'armadilha de Penning', que usa campos magnéticos e elétricos para armazenar partículas carregadas (como, no caso, antiprótons) a temperaturas incrivelmente baixas. Com essa experiência, a equipe conseguiu quebrar o recorde de armazenamento de antimatéria – as partículas ficaram contidas por 405 dias, no total. A força do campo magnético dos prótons e antiprótons foi medida com uma precisão de nove dígitos, oferecendo uma exatidão 350 vezes maior do que medições anteriores. Ainda assim, nenhuma diferença entre a matéria e antimatéria pode ser encontrada.
(Matéria publicada originalmente em http://veja.abril.com.br/ciencia/o-universo-nao-deveria-existir-concluem-cientistas/)
quarta-feira, 25 de outubro de 2017
25 DE OUTUBRO - SANTO ANTÔNIO GALVÃO
Um homem marcado pela caridade e por um profundo espírito missionário: este foi o compromisso de fé que levou à santidade Antônio Galvão de França - o Frei Galvão, nascido em 1739 em Guaratinguetá, cidade do interior do estado de São Paulo, e falecido na cidade de São Paulo, em 23 de dezembro de 1822.
A devoção cristã permeou a sua vida desde a infância, levando-o a estudar com os jesuítas na Bahia e, mais tarde, a proceder os votos solenes como franciscano da Ordem Terceira (adotando, então, o nome de Antônio Sant'Ana Galvão) e à ordenação sacerdotal, em 11 de julho de 1762, no Rio de Janeiro. Após a ordenação, tornou-se pregador da ordem franciscana e confessor do Recolhimento de Santa Teresa, onde viviam algumas monjas e que, naquela época, constituía o único estabelecimento de religiosas então existente em São Paulo. Nesta instituição, sob a inspiração da Irmã Helena Maria do Sacramento, Frei Galvão fundou e construiu um novo recolhimento na cidade, no local chamado campo da Luz, hoje Mosteiro de Nossa Senhora da Luz, e ali foi enterrado.
Era dotado de dons prodigiosos, como levitação e a bilocação. Particularmente interessantes são as chamadas 'pílulas de Frei Galvão'. Diante de um homem padecendo muitas dores devido a cálculos renais, o santo teve a súbita inspiração de escrever em um papelote a seguinte frase do ofício da Santíssima Virgem Maria: Post partum Virgo inviolata permansisti: Dei Genitrix intercede pro nobis - 'Depois do parto, ó Virgem, permanecestes intacta; Mãe de Deus, intercedei por nós' e o deu ao homem como remédio, que expeliu em seguida um grande cálculo renal. Utilizando-se deste meio outras tantas vezes, as pílulas logo tornaram-se de uso generalizado até os nossos dias, para curar problemas renais ou de parto ou quaisquer outras dores ou enfermidades. Por sua intercessão, os Céus realizaram muitos milagres e curas sobrenaturais.
Frei Galvão se fez servo de todos e para todos tinha uma enorme generosidade de acolhimento, de perdão, de serenidade e de direção espiritual e, como 'filho e escravo perpétuo de Maria', dedicou toda a sua vida ao apostolado e à salvação das almas e, em meio a tantas glórias e virtudes, só recentemente foi elevado aos altares. Frei Galvão Frei Galvão foi beatificado pelo papa João Paulo II em 25 de outubro de 1998 e canonizado em 11 de maio de 2007 pelo papa Bento XVI, em São Paulo, tornando-se, então, o primeiro santo da Igreja nascido no Brasil. A sua festa litúrgica acontece em 25 de outubro, data de sua beatificação.
(Recolhimento de Nossa Senhora da Luz, século XVIII, atual Mosteiro da Luz)
terça-feira, 24 de outubro de 2017
AS TRÊS FORMAS DA SANTIDADE
A santidade aparece sob três formas bem distintas que respondem aos três grandes deveres para com Deus: conhecê-lo, amá-lo, servi-lo. Todo cristão, sem dúvida, deve observar cada um desses três deveres; mas, no corpo místico, este deve sobressair em tal função e aquele em tal outra.
Existem almas santas que têm por missão sobretudo amar a Deus com ardente amor e reparar assim as ofensas de que Ele é objeto; elas recebem logo graças de amor que transformam suas vontades e fazem delas uma força viva que não cessa de se consumir para glória de Deus e salvação do próximo. Outras almas devem sobressair na contemplação de Deus, conhecê-lo, mostrar-nos o caminho que leva a Ele; elas recebem desde o início graças de luz, que clareiam cada vez mais suas inteligências e são como um farol para guiar os fiéis na sua viagem para a eternidade.
Enfim, outras almas santas têm sobretudo por missão servir a Deus pela fidelidade ao dever cotidiano, em diferentes obras de caridade; aqui, a memória e a atividade prática são postas incessantemente, sob o influxo das virtudes teologais, ao serviço de Deus e do próximo. Contemplemos sucessivamente essas três formas de santidade, que parecem representadas, como já se disse várias vezes, em três apóstolos privilegiados que Nosso Senhor conduziu ao Tabor, depois ao Getsêmani: Pedro, João e Tiago.
Cada uma dessas almas sobressai naturalmente no exercício de uma faculdade e, como a graça aperfeiçoa a natureza no que ela tem de bom, ela apreende mais diretamente e mais vivamente esta faculdade, para se espalhar em seguida sobre as outras que são menos ativas. A graça utiliza assim, para nossa perfeição e nossa salvação, os recursos da nossa natureza e constitui nosso atrativo sobrenatural especial, que devemos sempre seguir, pois é o atrativo de Deus. Mas, em compensação, cada uma dessas almas tem seu defeito dominante a vencer, um obstáculo especial a evitar e é por isto que o Senhor envia a cada uma, provações apropriadas.
Os diretores esclarecidos reconhecem nas almas o atrativo sobrenatural especial que Deus lhes dá e também o defeito dominante a combater. É conveniente conhecer um e outro, o branco e o preto, para compreender a natureza das provações que Deus nos envia, para melhor aproveitá-las e para evitar o julgamento temerário de outras almas que vão em direção ao mesmo cume mas por uma outra vertente. Aqueles que são naturalmente mansos, devem tornar-se fortes, e aqueles que são naturalmente fortes devem torn rovações que Deus nos envia, para melhor aproveitá-las e para evitar o julgamento temerário de outras almas que vão em direção ao mesmo cume mas por uma outra vertente. Aqueles que são naturalmente mansos, devem tornar-se fortes, e aqueles que são naturalmente fortes devem tornar-se doces. Alius sic, alius sic ibat, dizia Santo Agostinho; existem caminhos diferentes que conduzem ao mesmo fim, e numa mesma estrada pode-se andar mais devagar que um outro, sem entretanto, voltar atrás.
O Senhor, na formação das almas, encontra um modo de tudo utilizar. Ele não toma a alma de um homem de ação, devorado pelo zelo, de um missionário, como a de um teólogo; de um santo Tomás, como a de um pintor; de um Angélico, de um poeta como Dante, de um músico como Beethoven; mas Ele faz tudo servir à expressão da Fé, da Esperança e da Caridade.
Ele faz servir, no trato com um teólogo, a lógica de Aristóteles; no trato com um artista, as harmonias bem feitas de sons e de cores. E, em última análise, tudo, na ordem intelectual e na ordem sensível, só vale como expressão das perfeições divinas. Existem diferentes vertentes para se elevar em direção a este cume, mas nada pode nos interessar de uma maneira profunda e duradoura senão aquilo que a ele nos conduz. O ofício da festa de Todos os Santos faz notar admiravelmente todas as nuances da santidade entre os Apóstolos, os Mártires, os Doutores, os Confessores e as Virgens.
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As almas nas quais domina o exercício da vontade e o ardor do amor, se assemelham aos Serafins. Segundo a Revelação, estes anjos superiores são abrasados pelo amor que o Espírito Santo lhes comunica; este é o amor que os leva a contemplar as sublimes belezas de Deus. Sua chama espiritual é mais ardente que luminosa. Eles cantam o cântico: 'Santo, Santo, Santo, é o Senhor, Deus dos exércitos!' Eles constituem a ordem suprema da primeira hierarquia angélica, porque, naqueles que tendem em direção a Deus, a mais alta virtude é a caridade, ou o amor divino, incompatível, ao contrário da ciência, com o pecado mortal.
Do mesmo modo, as almas ardentes são arrebatadas antes de tudo por graças de amor; elas se dirigem ao bem com zelo e firmeza e se perguntam muitas vezes: 'O que eu farei para Deus?'. Elas têm uma sede ardente de sofrer, de se mortificar, para provar a Deus seu amor, de reparar as ofensas das quais Ele é objeto, de salvar os pecadores. Só secundariamente elas se aplicam a melhor conhecer Deus.
Deste grupo de almas parecem fazer parte o profeta Elias, 'cheio de zelo pelo Senhor' (3 Rs 19, 10), o apóstolo Pedro crucificado de cabeça para baixo por humildade e amor por seu Mestre, os grandes mártires: Santo Inácio de Antioquia, São Lourenço, o seráfico Francisco de Assis, Santa Margarida Maria levada desde a sua juventude a sofrer por amor em espírito de reparação, São Bento-José Labre, este amigo apaixonado da Cruz. Do mesmo modo, no apostolado e devotamento ao próximo, São Carlos Borromeu, São Vicente de Paulo e tantos outros.
Todas essas almas são mais notáveis pela sua caridade, pelo arrebatamento de seu coração para Deus, do que pelas suas luzes. Para as almas desse gênero que não fossem suficientemente dóceis ao Espírito Santo, o perigo estaria na própria energia de sua vontade, que poderia degenerar em rigidez, tenacidade e obstinação. Nas menos fervorosas dentre elas, é um defeito dominante bastante visível: seu zelo não é suficientemente esclarecido, nem bastante paciente e doce. Algumas delas podem se entregar demais a obras ativas às custas da oração.
A provação que o Senhor lhes envia tende sobretudo a amansar sua vontade, muitas vezes a quebrá-la, quando ela se torna rígida demais. Ele permite revezes manifestos, para que o ardor natural seja substituído por um zelo verdadeiramente sobrenatural, desinteressado, paciente e manso. Ele lhes ensina a por sua confiança não no impulso natural do coração, mas na misericórdia divina sempre compassiva. O Senhor humilha essas almas ardentes, permitindo também, algumas vezes, violentas tentações, mesmo de desânimo, como aconteceu com Elias, dormindo no deserto sob um junípero. Ele permite também quedas como a negação de São Pedro.
Ele envia ainda a essas almas grande aridez numa contemplação dolorosa mas amorosa e muito meritória. Seus amores ardentes queimam-nas, consomem e as fazem muito sofrer com todas as ofensas que se elevam contra Deus. Ele as estimula a expiar ou a reparar. Assim se formam as almas mais ardentes que luminosas, nas quais domina o zelo ardente da caridade, a mais alta das virtudes teologais.
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Num segundo grupo de almas, predomina o exercício, não da vontade, mas da inteligência. A graça que começa mais diretamente e mais vivamente a elevá-las é uma graça de luz. Elas se assemelham aos Querubins, que estão, dizem os profetas, em torno do trono de Deus. Esses anjos, admiravelmente esclarecidos pela luz que lhes comunica o Verbo Eterno, são, primeiro, arrebatados de admiração. Eles contemplam a beleza de Deus e são levados a amá-Lo e a fazê-Lo conhecido pelos outros. Sua chama espiritual é, a princípio, mais luminosa que ardente.
Do mesmo modo, essas almas são, inicialmente, esclarecidas por graças de iluminação; elas são levadas a se deleitar na contemplação de Deus, nas grandes visões de conjunto que fazem o valor da sabedoria. É somente por via de consequência que seu amor cresce. Elas sentem menos que as precedentes a necessidade de agir, de se mortificar, de sofrer para reparar; mas elas são fiéis, chegam ao amor heroico por esse Deus que as encanta.
A esta família de almas pertencem os grandes Doutores da Igreja, um Santo Agostinho, um Santo Anselmo, um Santo Alberto, o Grande, um Santo Tomás de Aquino, muitos outros que, ao correr dos séculos, foram como faróis que mostraram à humanidade o caminho que leva a Deus. O perigo para essas almas, quando são menos perfeitas, é, muitas vezes, de se contentar com luzes que lhes são dadas e de não conformarem bastante suas vidas com estas luzes. Enquanto sua inteligência é fortemente esclarecida, em sua vontade, muitas vezes, falta ardor; São Francisco de Sales gemia por isso, pedindo graças de força.
Não é raro que grandes provações interiores sejam enviadas a essas almas. A noite dos sentidos e a do espírito, descritas por São João da Cruz, as conduzem progressivamente ao desinteresse completo e à generosidade no amor. Estas provações interiores são, no entanto, habitualmente menos dolorosas para essas almas que para as precedentes. As luzes que elas recebem consolam-nas, elas têm uma atração maior pela oração contemplativa; mas têm bastante tempo que gemer por sua falta de energia. Seu amor pela verdade faz com que elas sofram particularmente com o erro, com as falsas direções doutrinais, que extraviam as inteligências. Isto é para elas uma grande cruz e um estímulo para trabalhar para fazer conhecer a Deus.
Quando essas almas luminosas são purificadas pelo sofrimento e bem fiéis às luzes que Deus lhes envia, elas aspiram cada vez mais a se unir a Ele, a mergulhar nEle, a se perder nEle sem retorno a elas mesmas. Uma alma luminosa fiel será mais unida a Deus que uma alma ardente infiel. Existem grandes santos, como São Paulo, São João, São Bento, São Domingos, Santa Gertrudes, Santa Catarina de Sena, Santa Teresa, São João da Cruz, que foram ao mesmo tempo e desde o início de sua ascensão, muito contemplativos e muito ardentes; elas reuniram logo as qualidades desses dois primeiros grupos de almas, que tendem, aliás, a se assemelhar ao se aproximarem do cume, para o qual todos devem se encaminhar.
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Enfim, existem almas que têm, sobretudo, por missão servir a Deus pela fidelidade ao dever cotidiano. A faculdade que mais se exerce entre elas, é a memória; sua atividade é de ordem prática. É o caso da maior parte dos cristãos. Sua memória os torna atentos aos fatos particulares; eles são tocados pela história dos benefícios de Deus, seja no Antigo Testamento, seja no Evangelho e na vida da Igreja. Essas almas são facilmente tocadas por uma palavra da liturgia, um traço de vida de um santo. A graça se adapta à sua natureza e lhes mostra claramente, nas suas múltiplas ocupações, o dever a cumprir, Deus a glorificar, o próximo a socorrer.
A inspiração divina lhes dá mais raramente grandes visões de conjunto, mas ela os torna muito atentos aos diversos meios de perfeição. Por aí, essas almas, se são fiéis e generosas, chegam a um conhecimento muito prático e vivido das coisas divinas e a um grande amor de Deus e do próximo. Elas podem assim alcançar os mais altos graus da santidade. O obstáculo aqui seria o de se apegar demais às práticas, boas nelas mesmas, mas que não conduzem imediatamente a Deus; a certas austeridades exteriores ou orações vocais. Corre-se o risco então de cair na minúcia, nos escrúpulos, de se apegar sem medida a métodos, úteis no início, mas um pouco mecânicos demais; e isto pode impedir a intimidade da união com o Senhor.
As provações dessas almas se encontram geralmente menos na vida interior que na prática da caridade fraterna e no exercício de seu devotamento. Elas têm muito a sofrer com defeitos do próximo e com os obstáculos que encontram nas obras em que se ocupam. As grandes purificações interiores aparecem nelas notavelmente mais tarde que nas almas precedentes; no entanto, se elas são generosas, chegam, elas também, a uma íntima união com Deus.
Tais são as três formas de santidade que parecem manifestadas pelos três apóstolos privilegiados, Pedro, João e Tiago, que Nosso Senhor conduziu com Ele ao Tabor e depois ao Getsêmani. Todas essas almas são chamadas, por formas variadas, à contemplação dos mistérios da fé e à união íntima com Deus, e quanto mais elas se aproximam do cume para o qual tendem, mais se assemelham, mais são marcadas pela imagem do Cristo, sem perder no entanto sua fisionomia especial.
(Pe. Garrigou-Lagrange)
segunda-feira, 23 de outubro de 2017
O PENSAMENTO VIVO DE BERNANOS (II)

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