domingo, 15 de janeiro de 2017

JESUS CRISTO É O CORDEIRO DE DEUS

Páginas do Evangelho - Segundo Domingo do Tempo Comum


Neste segundo domingo do tempo comum, a mensagem profética que ressoa pelos tempos vem da boca de João Batista: 'Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo' (Jo 1, 29). E complementa: 'Dele é que eu disse: Depois de mim vem um homem que passou à minha frente, porque existia antes de mim' (Jo 1, 30). Eis o primado de João, o Precursor do Messias: Jesus veio ao mundo para resgatar e levar à salvação toda a humanidade e fazer novas todas as coisas.

Diante de Jesus, que viera pela segunda vez até ele às margens do Jordão, assim como foi Maria que visitou a sua prima Santa Isabel, João Batista reconhece no Senhor a glória e a eternidade de Deus 'porque existia antes de mim' (Jo 1, 30). Nas margens do Jordão, uma vez mais, no mistério da Encarnação, os desígnios de Deus são revelados aos homens por meio de João Batista.

Em seguida, reafirma a manifestação da Santíssima Trindade na pomba que desceu do céu, símbolo exposto em dimensão humana para o mistério insondável do Filho na intimidade com o Pai: 'Eu vi o Espírito descer, como uma pomba do céu, e permanecer sobre ele' (Jo 1, 32). O maior profeta de Deus, enviado para batizar com água, declara, então, de forma clara e incisiva, Jesus como Filho de Deus Vivo: 'Eu vi e dou testemunho: Este é o Filho de Deus!' (Jo 1, 34).

Eis aí a figura singular do Batista, de quem o próprio Cristo revelou: 'Na verdade vos digo que, entre os nascidos de mulher, não veio ao mundo outro maior que João Batista' (Mt 11, 11). A grandeza do Precursor é enfatizada por Jesus naquele que recebeu privilégios tão extraordinários para ser o profeta da revelação de tão grandes mistérios de Deus à toda a humanidade: Jesus Cristo é o Unigênito do Pai, o Filho de Deus Vivo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

UMA CONFISSÃO COM O PADRE PIO

"Em novembro de 1928, quando fui ver o Padre Pio pela primeira vez, poucos anos tinham passado desde que eu me convertera do protestantismo para o catolicismo, algo que somente tinha feito por mera conveniência social. Eu não tinha fé; pelo menos agora entendo que eu não tinha mais do que uma ilusão de tê-la. Tendo sido criado em uma família muito anti-católica e imbuído de preconceitos contra os dogmas - até o ponto de que uma ligeira instrução não era suficiente para apagá-los - eu estava sempre ansioso por coisas secretas e misteriosas.

Encontrei um amigo que me introduziu nos mistérios do espiritismo. Muito rapidamente, no entanto, eu me cansei dessas mensagens pouco conclusivas que vinham do além-túmulo; entrei pesadamente no campo do ocultismo e das magias de todos os tipos. Foi então que eu conheci um homem que me disse, em ares de mistério, que ele detinha a verdade única: a 'teosofia'. Rapidamente tornei-me seu discípulo, e em nossas mesas, fomos acumulando livros com os títulos mais atraentes e tentadores. Com muita presunção, ele utilizava palavras como reencarnação, logos, Brahma, Maja, esperando ansiosamente alguma nova e grande realidade que supostamente deveria acontecer.

Não sei porque - ainda acho que era para agradar a minha esposa -  mas de vez em quando ainda me acercava dos santos sacramentos. Este era o estado da minha alma, quando, pela primeira vez, ouvi falar do padre capuchinho que descreviam como um crucifixo vivo, fazendo milagres contínuos. Cheio de curiosidade, decidi ir vê-lo com os meus próprios olhos. Eu me ajoelhei no confessionário e disse ao Padre Pio que considerava a confissão uma boa instituição social e educacional, mas que não acreditava de modo algum na divindade do sacramento. O padre, com expressão de viva dor, respondeu-me: 'Heresia! Então, todas as suas comunhões foram sacrílegas... você deve fazer uma confissão geral. Examinar a sua consciência e lembrar quando foi a última vez que fez uma boa confissão. Jesus tem sido mais misericordioso com você do que com Judas'.

Olhando, então, por cima da minha cabeça, com um olhar severo, disse em alta voz: 'Louvados sejam Jesus e Maria!' E dirigiu-se à igreja para ouvir as confissões de algumas mulheres, enquanto eu fiquei na sacristia, profundamente comovido e impressionado. Minha cabeça girava e eu não conseguia me concentrar, pois me martelava nos ouvidos as suas palavras: 'Lembre-se de quando foi a última vez que você fez uma boa confissão!'. Com dificuldade, consegui chegar à seguinte decisão: vou dizer ao Padre Pio que eu era protestante e que, depois da abjuração, fui rebatizado condicionalmente e que todos os meus pecados de minha vida passada haviam sido apagados pelo santo batismo mas, para a minha inteira tranquilidade, eu gostaria de começar a confissão desde a minha infância.

Quando o padre retornou ao confessionário, me repetiu a mesma pergunta: 'Então, quando foi a última vez que você fez uma boa confissão?' '. Eu respondi: 'Padre, eu ... ' e ele então me interrompeu, dizendo: 'a última vez que você fez uma boa confissão foi quando regressou de sua lua de mel, vamos deixar tudo o mais de lado e começar a partir daí'. Fiquei sem palavras, tomado de estupor, e percebi que havia tocado o sobrenatural. O padre, entretanto, não me deu tempo para refletir. Revelando o seu conhecimento do meu passado, na forma de um questionário, enumerou todas as minhas culpas com absoluta precisão e clareza. Depois me fez conhecer todos os meus pecados mortais com palavras impressionantes, que me levaram a compreender a gravidade dos meus pecados, acrescentando com um tom de voz inesquecível: 'você cantava um hino à Satanás, enquanto Jesus ardia de amor à sua espera de braços abertos'. Então ele me deu a penitência e me absolveu...''

(depoimento da conversão de Frederick Abresh, em 'Stories of Padre Pio' de Katharina Tangari)

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

VERSUS: ANTI-MODERNISMO X ANTI-MODERNISMO

Em 1º de setembro de 1910, o Papa São Pio X publicou o motu proprio Sacrorum Antistitum, no qual promulgou o seu famoso Juramento Anti-Modernista (Iurisiurandi Formula), a ser proclamado por todos e por cada um dos membros do clero católico:

Eu, N......., firmemente aceito e creio em todas e em cada uma das verdades definidas, afirmadas e declaradas pelo magistério infalível da Igreja, sobretudo aqueles princípios doutrinais que contradizem diretamente os erros do tempo presente.
  • Primeiro: creio que Deus, princípio e fim de todas as coisas, pode ser conhecido com certeza e pode também ser demonstrado, com as luzes da razão natural, nas obras por Ele realizadas (Rm 1, 20), isto é, nas criaturas visíveis, como [se conhece] a causa pelos seus efeitos.
  • Segundo: admito e reconheço as provas exteriores da revelação, isto é, as intervenções divinas, e sobretudo os milagres e as profecias, como sinais certíssimos da origem sobrenatural da razão cristã, e as considero perfeitamente adequadas a todos os homens de todos os tempos, inclusive aquele no qual vivemos.
  • Terceiro: com a mesma firme fé creio que a Igreja, guardiã e mestra da palavra revelada, foi instituída imediatamente e diretamente pelo próprio Cristo verdadeiro e histórico, enquanto vivia entre nós, e que foi edificada sobre Pedro, chefe da hierarquia eclesiástica, e sobre os seus sucessores através dos séculos.
  • Quarto: acolho sinceramente a doutrina da fé transmitida a nós pelos apóstolos através dos padres ortodoxos, sempre com o mesmo sentido e igual conteúdo, e rejeito totalmente a fantasiosa heresia da evolução dos dogmas de um significado a outro, diferente daquele que a Igreja professava primeiro; condeno semelhantemente todo erro que pretenda substituir o depósito divino confiado por Cristo à Igreja, para que o guardasse fielmente, por uma hipótese filosófica ou uma criação da consciência que se tivesse ido formando lentamente mediante esforços humanos e contínuo aperfeiçoamento, com um progresso indefinido.
  • Quinto: estou absolutamente convencido e sinceramente declaro que a fé não é um cego sentimento religioso que emerge da obscuridade do subconsciente por impulso do coração e inclinação da vontade moralmente educada, mas um verdadeiro assentimento do intelecto a uma verdade recebida de fora pela pregação, pelo qual, confiantes na sua autoridade supremamente veraz, nós cremos tudo aquilo que, pessoalmente, Deus, criador e senhor nosso, disse, atestou e revelou.
  • Submeto-me também com o devido respeito, e de todo o coração adiro a todas as condenações, declarações e prescrições da encíclica Pascendi e do decreto Lamentabili, particularmente acerca da dita história dos dogmas. Reprovo outrossim o erro de quem sustenta que a fé proposta pela Igreja pode ser contrária à história, e que os dogmas católicos, no sentido que hoje lhes é atribuído, são inconciliáveis com as reais origens da razão cristã.
  • Desaprovo também e rejeito a opinião de quem pensa que o homem cristão mais instruído se reveste da dupla personalidade do crente e do histórico, como se ao histórico fosse lícito defender teses que contradizem a fé do crente ou fixar premissas das quais se conclui que os dogmas são falsos ou dúbios, desde que não sejam positivamente negados. Condeno igualmente aquele sistema de julgar e de interpretar a sagrada Escritura que, desdenhando a tradição da Igreja, a analogia da fé e as normas da Sé apostólica, recorre ao método dos racionalistas e com desenvoltura não menos que audácia, aplica a crítica textual como regra única e suprema.
  • Refuto ainda a sentença de quem sustenta que o ensinamento de disciplinas histórico-teológicas ou quem delas trata por escrito deve inicialmente prescindir de qualquer ideia pré-concebida, seja quanto à origem sobrenatural da tradição católica, seja quanto à ajuda prometida por Deus para a perene salvaguarda de cada uma das verdades reveladas, e então interpretar os textos patrísticos somente sobre as bases científicas, expulsando toda autoridade religiosa, e com a mesma autonomia crítica admitida para o exame de qualquer outro documento profano.
  • Declaro-me enfim totalmente alheio a todos os erros dos modernistas, segundo os quais na sagrada tradição não há nada de divino ou, pior ainda, admitem-no, mas em sentido panteísta, reduzindo-o a um evento pura e simplesmente análogo àqueles ocorridos na história, pelos quais os homens com o próprio empenho, habilidade e engenho prolongam nas eras posteriores a escola inaugurada por Cristo e pelos apóstolos.
  • Mantenho, portanto, e até o último suspiro manterei a fé dos pais no carisma certo da verdade, que esteve, está e sempre estará na sucessão do episcopado aos apóstolos, não para que se assuma aquilo que pareça melhor e mais consoante à cultura própria e particular de cada época, mas para que a verdade absoluta e imutável, pregada no princípio pelos apóstolos, não seja jamais crida de modo diferente nem entendida de outro modo.
  • Empenho-me em observar tudo isso fielmente, integralmente e sinceramente, e em guardá-lo inviolavelmente, sem jamais disso me separar nem no ensinamento nem em gênero algum de discursos ou de escritos. Assim prometo, assim juro, assim me ajudem Deus e esses santos Evangelhos de Deus.

Em 17 de julho de 1967, durante o papado de Paulo VI, a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé substituiu o Juramento dado pela Sacrorum antistitum por uma Profissão de Fé muito mais breve, menos rigorosa e de cunho muito mais generalista.

Eu, N......, creio firmemente e professo todas e cada uma das coisas contidas no Símbolo de Fé, a saber:
  • Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus; Luz da Luz; Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, não criado, consubstancial ao Pai. Por ele todas as coisas foram feitas. E por nós homens e pela nossa salvação, desceu dos céus e se encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem. Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras, e subiu aos céus, onde está sentado à direita do Pai. E de novo há de vir em sua glória, para julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim. Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: Ele falou pelos profetas. Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica. Professo um só batismo para a remissão dos pecados. E espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir. Amém.
  • Aceito e acolho também firmemente todas e cada uma das verdades sobre a doutrina da fé e da moral propostas pela Igreja, quer sejam solenemente definidas, quer sejam firmadas e declaradas pelo Magistério ordinário, bem como as doutrinas propostas pelo mesmo Magistério, sobretudo as que se referem ao Mistério da Santa Igreja de Cristo, aos Sacramentos, ao Sacrifício da Missa e ao Primado do Romano Pontífice.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

FOTO DA SEMANA

Foto tirada em 13 de outubro de 1917; ao centro, sob o arco, estão os três videntes de Fátima: Francisco, Lúcia e Jacinta.

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

LUZ NAS TREVAS DA HERESIA PROTESTANTE (VI)

Anexo à Segunda Objeção* do crente: Os supostos irmãos de Jesus (não constante das objeções diretas apresentadas pelo crente)

Resposta do Pe. Júlio Maria de Lombaerde:

Uma objeção que os amigos protestantes fazem contra a virgindade da Mãe de Jesus é afirmar que ela teve outros filhos, além de Jesus. Estando este assunto intimamente ligado à imaculada conceição, quero tratá-lo aqui separadamente, embora não figure nos números do desafio. Maria Santíssima teve ela outros filhos, depois do nascimento de Jesus? Resolvamos a questão de um modo irrefutável. Para dar a esta objeção uma aparência de verdade, escolhem no Evangelho umas passagens que falam de tais irmãos, sem compreenderem a significação das palavras, e sem conhecerem os costumes dos judeus destes tempos remotos.

Em diversos lugares o Evangelho fala desses irmãos. Assim São Mateus, São Marcos e São Lucas referem que estando Jesus a falar, disse-lhe alguém: 'eis que estão lá fora tua mãe e teus irmãos que querem ver-te' (Mt 12,46-47; Mc 3,31-32; Lc 8, 19-20). São João, por sua vez, fala de tais irmãos (Jo 7, 1-10). Ao ler estes passos, os amigos biblistas, que só enxergam palavras, e não sentidos, concluem imediatamente: A Bíblia fala de irmãos de Jesus, então Maria teve outros filhos e não é pura, nem Virgem, como dizem os católicos. Bela objeção, que mostra a supina ignorância dos biblistas. A invenção não é nova. Foi o herege Elpídio que, no século IV, moveu tal objeção, e foi São Jerônimo que a refutou pela primeira vez.

I. Exemplos da Bíblia

Se os protestantes compreendessem um pouco a linguagem bíblica, ou soubessem, pelo menos, confrontar certas expressões, veriam logo que entre os judeus - como ainda hoje em certos países e línguas - se chamam com o nome de irmãos não só os nascidos do mesmo pai e da mesma mãe, mas também os parentes próximos. As línguas hebraica e aramaica não possuem palavra que traduza o nosso 'primo' ou 'prima', e servem-se da palavra 'irmão' ou 'irmã'. A palavra hebraica ha e a aramaica aha são empregadas para designar irmãos e irmãs do mesmo pai, não da mesma mãe (Gn 37, 16; 42, 15; 43, 5; 12, 8-14; 39, 15), sobrinhos, primos irmãos (1 Par 23, 21), primos segundos (Lv 10, 4) e até parentes em geral (Jó 19, 13-14; 42, 11).

Os passos acima provam que a palavra irmão era uma expressão genérica, em geral. Jesus, tendo pois primos, não havia outra palavra em aramaico senão 'irmão' para exprimir o parentesco. Há muitos exemplos na bíblia. Lê-se no Gênesis que Taré era pai de Abraão e de Harão, e que Harão gerou a Lot (Gn 11, 27), que, por conseguinte, vinha a ser sobrinho de Abraão. Contudo, no mesmo Gênesis, mais adiante, chama a Lot irmão de Abraão (Gn 13, 3). Disse a Lot: 'nós somos irmãos' (Gn 14, 14); ouvindo pois Abraão que seu irmão (Lot) estava preso, armou os criados, etc.

Da mesma forma Jacó era sobrinho de Labão como se deduz também no Gênesis, que afirma ser Jacó filho da irmã de Labão: Ouvindo Labão as novas de sua irmã, correu-lhe ao encontro, etc. (Gn 24, 13). Pois bem, ainda uma vez o Gênesis, dois versículos mais adiante, põe na boca de Labão estas palavras dirigidas ao sobrinho Jacó: 'Então porque tu és meu irmão, hás de servir-me de graça?' (Gn 29, 15). Tobias, o moço, era primo de Sara; pois Tobias, o velho, pai do moço, e Raquel, pai de Sara, eram irmãos: 'Disse Raquel: conheceis Tobias, meu irmão?', etc. (Tob 7, 4-5). Ora, o jovem Tobias dirigindo-se a Deus: 'Senhor, sabes que não é por motivo de luxúria que recebo por mulher esta minha irmã' (Tob 7, 4-6). O protestantes rasgaram este livro de Tobias. Eis diversos passos que provam que a palavra irmão, na linguagem da Bíblia, significa, não somente irmãos, no sentido da nossa palavra, mas sim primos e sobrinhos, até ao terceiro grau.

II. Evangelho na mão

Vamos examinar a questão de perto e ver, pelas próprias palavras do Evangelho, que tais irmãos de Jesus são simplesmente seus primos. Estes supostos irmãos são indicados por São Marcos: Não é este o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão e não estão aqui conosco suas irmãs? Jesus tem pois irmãos e irmãs. Não são irmãos consanguíneos, mas sim irmãos primos de segundos, como o explica o próprio Evangelho.

Vejamos: O tal Tiago e Judas em vez de serem filhos de Maria Santíssima são filhos de Alfeu ou Cléofas. É São Lucas que no-lo afirma: 'Chamou Tiago, filho de Alfeu... E Judas. Irmão de Tiago' (Lc 6, 15-16). E ainda: 'Chamou Judas, irmão de Tiago' (Lc 6, 16). Quanto a José, São Mateus diz que é irmão de Tiago: 'Entre os quais estava... Maria, mãe de Tiago e de José' (Mt 27,56). Eis agora Simão chamado irmão a três outros: Tiago, José, Judas e Simão (Mc 6, 3). Estes quatro supostos irmãos de Jesus são, pois, verdadeiramente irmãos entre si, filhos do mesmo pai e da mesma mãe.

Falta agora só descobrir o nome dos seus pais. O Evangelho os indica: 'Chamou...Tiago, filho de Alfeu' (Lc 6, 15). Alfeu ou Cléofas é, pois, o pai de Tiago e, em consequência, dos irmãos de Tiago, que são os três outros citados. Conhecemos o pai. Procuremos agora a mãe deles. Conhecendo a mãe de um, é conhecida a mãe de todos, visto serem irmãos. Ora, o Evangelho é explícito: 'Entre as quais estavam Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago' (Mt 27,56). Eis o mistério esclarecido: Tiago, José, Judas e Simão, tais pretensos irmãos de Jesus, são simplesmente filhos de Alfeu (Cleofas) e Maria (Cleofas), primos de Jesus, como indica o quadro que segue. Os pobres protestantes confundem tudo; e não enxergam que tal Maria Cléofas é completamente distinta de Maria Santíssima, como faz notar o evangelista: Junto à cruz de Jesus estava sua mãe e a irmã (prima) de sua Mãe, Maria, mulher de Cleofas (Jo 17,25).

III. Um dilema sem saída

Eis os pobres protestantes num dilema sem saída, e em flagrante contradição com o evangelho. Se tais irmãos são verdadeiramente irmãos consanguíneos de Jesus, é preciso concluir que Jesus não é filho de Maria Santíssima, mas, sim, de Maria de Cleófas e Alfeu. Então Maria Santíssima não é mais Mãe de Deus, mãe de Jesus. Ora, o evangelho diz: 'Jacó gerou a José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama Cristo' (Mt 1,16). Jesus é filho de Maria Santíssima. É claro e formal. Maria Santíssima era esposa de São José: de novo é claro e positivo.

Mas, então, ó protestantes, como combinar estes passos do Evangelho? Um filho pode ter dois pais e duas mães? Jesus é filho de Maria Santíssima, que era esposa de São José. Tiago, José, Judas e Simão são filhos de Maria de Cleófas e de Alfeu. E tendes a coragem de dizer que estes últimos são irmãos de Jesus e filhos de Maria Santíssima!!! É ignorância, ou então muita perfídia... Procurai sair deste dilema! Ou o Evangelho mente ou vós caluniais descaradamente. E como o Evangelho é a palavra de Deus, infalível e certa, devemos concluir necessariamente que vós mentis e caluniais. Ou que sois ignorantes obcecados, desconhecendo o que atacais e ignorando o que pretendeis ensinar aos outros. O dilema é humilhante, irrefutável.

IV. Genealogia de Jesus

Para poupar-vos, no futuro, erros tão grosseiros e ajudar-vos a compreender um pouco a Bíblia, cuja letra estudais sem penetrar até ao espírito que a anima, traço aqui a árvore genealógica de Jesus, baseada sobre a Sagrada Escritura, que vos mostrará clara e insofismavelmente toda a família de Jesus Cristo. Por esta árvore vereis que os tais irmãos de Jesus, por serem filhos de Cleófas, que é irmão de São José, e por consequência seus sobrinhos legítimos, são simplesmente primos segundos de Jesus, no mesmo grau que São Tiago Maior, São João Evangelista e São João Batista.

Falando destes assuntos, o Evangelho não os chama pessoalmente irmãos de Jesus. A razão é que os filhos de Cleófas, como sobrinhos de São José, esposo de Maria Santíssima e, ao mesmo tempo primos de Jesus pela descendência do pai, têm para com Jesus um duplo parentesco: Pelo pai e pelo tio, São José. Os quatro primeiros são irmãos de Jesus; os quatro são seus irmãos parentes. Eis o que claramente resulta dos textos do Evangelho. A seguinte árvore genealógica elucidará perfeitamente a questão e dissipará qualquer dúvida.


V. Jesus, Filho unigênito

É pois claro e bem provado pelo próprio evangelho, que Maria Santíssima nunca teve outros filhos além de Jesus. Pura e imaculada, a mãe de Jesus nunca conheceu varão (Lc 1,34) e o filho de Deus que nasceu dela por obra do Espírito Santo (Lc 1,45) é o seu filho unigênito, com diz o evangelho, em alusão à lei judaica. Uma outra coisa e decisiva prova encontra-se nas últimas palavras de Jesus na cruz, remetendo a sua mãe ao desvelo de São João. Se Maria Santíssima tivesse tido outros filhos, Jesus a teria recomendado a um destes filhos, em vez de remetê-la nas mãos de um primo segundo. 

Jesus não teve irmãos, nem mais velhos, nem mais novos. Toda a sua infância, a ida a Jerusalém, na idade de 12 anos, a vida em Nazaré, mostram claramente que a sagrada família, nunca ultrapassou os três membros: Jesus, Maria e José. O evangelista São Marcos chama Jesus 'o filho de Maria' (Mc 6,3) e não 'filho de Maria', o que supõe que Jesus fosse o filho único da viúva. Tais apelações de fato, diz o próprio Renan (Evang., Paris, p.542, não se empregam senão quando o pai é falecido e que a viúva não tenha outros filhos.

Em parte nenhuma os tais supostos irmãos de Jesus partilham com ele este apelido de 'filhos de Maria'. Maria Santíssima não teve, pois, nem mesmo podia ter, nenhum outro filho, além de Jesus. Ela amava extremamente as virtudes, mas dum modo particular a rainha das virtudes, que é a virgindade. Quando todas as donzelas de Israel ardentemente desejavam casar-se, na esperança de terem parte do nascimento do Messias, ela prometeu a Deus guardar perpetuamente a sua virgindade. Ela só aceitou a maternidade divina depois de ter-se certificado de que tal privilégio não contrariava a sua virgindade.

Ela casou-se com São José porque sabia que ele era um homem justo, que tinha feito a Deus solene promessa de perpetuamente guardar a virgindade. O evangelista nos assevera que São José não conheceu Maria, durante todo tempo que ele ignorou o mistério da Encarnação. Como poderia ele desrespeitá-la, depois que o Verbo divino se encarnou e se fez homem em seu puríssimo seio? É, pois, bem claro que Maria Santíssima não teve filhos com São José.

VI. Uma conclusão horrível

Mas então quem é o pai desses outros filhos além de Jesus? Ainda ninguém o disse, nem nunca será capaz de dizê-lo. Mistério incompreensível! Jesus espantou o mundo inteiro por seu saber, por seu poder, por suas virtudes; e tem irmãos e ninguém sabe quem é o pai de seus irmãos! Maria Santíssima é notoriamente reconhecida como verdadeira mãe deste homem extraordinário, portentoso e santo; e ela comete um revoltante escândalo, e ninguém sabe quem é o cúmplice deste horroroso crime.

Pobres e infelizes protestantes, não compreendem que dizer que se Maria Santíssima teve outros filhos além de Jesus é qualificá-la de impura, desonesta, de corrupta, adúltera! Ó quanto esta injúria, este insulto, esta calúnia deve magoar e ofender a Virgem Santa, tão extremosa amante da pobreza! Como deve ofender a Jesus, tão sensível à honra de sua progenitora! Pobres protestantes, refleti um instante e compreendei enfim o que vos dita a consciência, o bom senso e a própria Bíblia, que dizeis ser a regra de vossa crença, e deixai de fechar os olhos à luz refulgente da doutrina católica.

* Esta 'objeção' foi proposta por 'um crente' como um desafio público ao Pe. Júlio Maria e que foi tornado público durante as festas marianas de 1928 em Manhumirim, o que levou às refutações imediatas do sacerdote, e mais tarde, mediante a inclusão de respostas mais abrangentes e detalhadas, na publicação da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', ora republicada em partes neste blog.

(Excertos da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', do Pe. Júlio Maria de Lombaerde)

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

BREVIÁRIO DIGITAL - AS VISÕES DE TONDAL (I)

A experiência além da morte de uma alma medieval percorrendo o Céu, o Inferno e o Purgatório, guiada pelo seu Anjo da Guarda.


VISÕES DE TONDAL - PARTE I

'Visions du Chevalier Tondal' ou simplesmente 'Visions de Tondal' relata uma experiência pós-morte de um nobre irlandês medieval que, em companhia do seu anjo da guarda, visita o Céu, o Inferno e o Purgatório. A obra original, escrita em latim, data do século XII, sendo de autoria de um monge irlandês chamado Marcus, que se encontrava então em Regensburg, na Alemanha. A obra alcançou grande popularidade ao longo do período medieval tendo sido traduzida para diversos idiomas.

A versão mais famosa da obra, entretanto, é um manuscrito em francês de 1475 de autoria de David Aubert (1453 - 1479) e com iluminuras de Simon Marmion (1450 - 1489), elaborado a pedido da duquesa Margaret de York, e atualmente em domínio do Museu Paul Getty, em Los Angeles. Destinada à devoção privada da duquesa, a obra é caracterizada por uma caligrafia esmerada, sendo ricamente ilustrada por imagens e iluminuras, que tornavam menos abstratas ao leitor as referências e as vinculações com o sobrenatural. 


A história se passa na Irlanda no ano de 1149. O nobre Tondal (Tundale na tradução inglesa) era um homem muito rico e desprovido de quaisquer preocupações espirituais, que vivia pura e simplesmente para ficar cada vez mais rico e para experimentar sem restrições todos os prazeres do mundo. Com uma alma tão atormentada pelo pecado, sua condenação eterna parecia irreversível pelo que Deus permitiu a ele viver a experiência da quase morte, como tentativa extrema de sua conversão e salvação.

Numa certa ocasião, dirigindo-se, mais uma vez, para cobrar pagamentos extorsivos a um de seus muitos devedores, Tondal foi recebido com tanta cortesia e amabilidade pelo seu anfitrião que resolveu aceitar até mesmo o convite para almoçar com a sua família, convite este que foi externado também a muitos amigos que o acompanhavam naquela jornada.



Eis que, de repente, Tondal começa a passar mal, o ar lhe falta, uma dor no peito o paralisa, o coração acelera: 'Jesus Cristo, tem piedade de mim' grita, num último esforço de vida, antes de desabar no chão. Enquanto os presentes acorrem em socorrê-lo e depositar o seu corpo sobre um estrado, o espírito de Tondal abandonou o seu corpo inanimado e começou a adentrar num mundo de completa escuridão. 



Ele estava nas portas do inferno, literalmente voando dentro de um túnel escuro enquanto uma legião de demônios, das formas mais asquerosas e espantosas possíveis, corria em sua direção. Ele compreendeu que estava sozinho e perdido e que o prêmio de seus pecados era a condenação eterna. Quando os demônios já estavam quase o alcançando, um anjo o puxou dali e o arrastou para longe de todos eles. E, identificando-se como o anjo da guarda de Tondal, começou a fazer com a alma dele uma longa viagem pelas diferentes moradas do inferno (Parte II). Em contraste com as belas vestimentas do anjo, em traje azul com tons dourados, Tondal é mostrado nu nas iluminuras, como referência à nudez da alma que ainda não alcançou o paraíso.

domingo, 8 de janeiro de 2017

EPIFANIA DO SENHOR

Páginas do Evangelho - Solenidade da Epifania do Senhor


Epifania é uma palavra grega que significa 'manifestação'. A festa da Epifania - também denominada pelos gregos de Teofania, significa 'a manifestação de Deus'. É uma das mais antigas comemorações cristãs, tal como a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo - era celebrada no Oriente já antes do século IV e, somente a partir do século V, começou a ser celebrada também no Ocidente. 

Na Anunciação do Anjo, já se manifestara a Encarnação do Verbo, revelada porém, a pouquíssimas pessoas: provavelmente apenas Maria, José, Isabel e Zacarias tiveram pleno conhecimento do nascimento de Deus humanado. O restante da humanidade não se deu conta de tão grande mistério. Assim, enquanto no Natal, Deus Se manifesta como Homem; na Festa da Epifania, esse Homem se revela como Deus. Na pessoa dos Reis Magos, o Menino-Deus  é revelado a todas as nações da terra, a todos os povos futuros; a síntese da Epifania é a revelação universal da Boa Nova à humanidade de todos os tempos.

A Festa da Epifania, ou seja, a manifestação do Verbo Encarnado, está, portanto, visceralmente ligada à Adoração dos Reis Magos do Oriente: 'Ajoelharam-se diante dele e o adoraram' (Mt, 2, 11). Deus cumpre integralmente a promessa feita à Abraão: 'em ti serão abençoados todos os povos da terra' (Gn, 12,3) e as promessas de Cristo são repartidas e compartilhadas entre os judeus e os gentios, como herança comum de toda a humanidade. A tradição oriental incluía ainda na Festa da Epifania, além da Adoração dos Reis, o milagre das Bodas de Caná e o Batismo do Senhor no Jordão, eventos, entretanto, que não são mais celebrados nesta data pelo rito atual.

A viagem e a adoração dos Reis Magos diante o Menino Deus em Belém simbolizam a humanidade em peregrinação à Casa do Pai. Viagem penosa, cansativa, cheia de armadilhas e dificuldades (quantos não serão os nossos encontros com os herodes de nossos tempos?), mas feita de fé, esperança e confiança nas graças de Deus (a luz da fé transfigurada na estrela de Belém). Ao fim da jornada, exaustos e prostrados, os reis magos foram as primeiras testemunhas do nascimento do Salvador da humanidade, acolhido nos braços de Maria: 'Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe' (Mt, 2, 11): o mistério de Deus revelado de que não se vai a Jesus sem Maria. Com Jesus e Maria, guiados também pela divina luz emanada do Espírito Santo, também nós haveremos de chegar definitivamente, um dia, à Casa do Pai, sem ter que voltar atrás 'seguindo outro caminho' (Mt, 2, 12).