quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

29 DE DEZEMBRO - SÃO TOMÁS BECKET


Thomas Becket nasceu em Londres no dia 21 de dezembro de 1117 e, como cortesão da corte, conviveu intimamente com o futuro rei Henrique II que, ao se tornar rei, o nomeou como chanceler. Sob orientação de Teobald, então Arcebispo de Canterbury, foi educado na autêntica fé cristã e enviado para várias missões em Roma. Com a morte do seu preceptor em 1161, tornou-se seu substituto como Arcebispo da Canterbury e Primaz da Inglaterra, por indicação do rei Henrique II. Nesta nova função, a defesa da fé levou a um confronto continuado com o rei e o amigo íntimo dos tempos da adolescência e da juventude, o que culminou com um longo exílio na França. Após seis anos, e mediante a intervenção do papa Alexandre III para uma acordo com o rei, o arcebispo reassumiu o seu cargo, ciente dos riscos que teria de correr, por manter convictos os seus princípios cristãos em detrimento da amizade e lealdade antigas ao rei. E, com efeito, a relação entre os dois tendia a ser, cada vez mais, mais crítica e mais conflituosa.


Na noite de 29 de dezembro de 1170, Thomas (Tomás) Becket dirigiu-se à Catedral de Canterbury, para as cerimônias das Vésperas. De repente, quatro cavaleiros da corte, aparentemente convictos de estarem atendendo a uma vontade expressa do rei, irromperam o recinto sagrado, gritando: 'Onde está o arcebispo? Onde está o traidor?'. Apoiado em um altar lateral, o arcebispo respondeu: 'Aqui me tendes; sou o arcebispo, mas não um traidor'. Diante da ameaça de morte, recusou-se a fugir e enfrentou o covarde ataque. Com vários golpes de espadas, foi ferido mortalmente e, ao morrer, aos 53 anos de idade e nove de episcopado, dos quais dois terços passados em desterro na França, exclamou: 'Morro voluntariamente pelo nome de Jesus e pela defesa de sua Igreja'. 

(altar lateral da Catedral de Canterbury, local do martírio do santo)


Devido às imediatas e intensas manifestações de devoção que se seguiram, na Inglaterra e por toda a Europa, Thomas Becket foi canonizado pouco mais de dois anos após a sua morte, em 21 de fevereiro de de 1173, pelo papa Alexandre III. Em julho de 1174, o rei Henrique II se penitenciou publicamente diante do túmulo do santo, que se tornou local de grande peregrinação religiosa, até ser destruído por ordem do rei Henrique VIII, em setembro de 1538, à época da implantação do Anglicanismo como religião oficial da Inglaterra em rejeição à fé cristã.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

28 DE DEZEMBRO - SANTOS INOCENTES


Santos Inocentes de Deus,
almas cristalinas,
pousai vossos ternos anelos
nas sombras das colinas;
não inquieteis com vosso pranto
as feras sibilinas,
fitai o esgar dos carrascos
com doces retinas;
que a vida que foge breve,
em  adagas repentinas,
renasça em eternos louvores
nas glórias divinas.
(Arcos de Pilares)

Santos Inocentes de Deus, rogai por nós

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

BREVIÁRIO DIGITAL - ANNE DE BRETAGNE (VIII/Final)

LIVRO DE ORAÇÕES DE ANNE DE BRETAGNE* (1477 - 1514) - PARTE VIII/Final

* esposa de dois reis sucessivos da França, Charles VII e Luís XII

AUTORIA DAS ILUMINURAS: JEAN POYER 


I.31 - O Arcanjo Gabriel: O arcanjo é representado com asas e uma faixa dourada cruzando suas vestes, segurando um cetro encimado por uma flor-de-lis. A iluminura faz referência ao papel do arcanjo na salvação da humanidade, no momento da Encarnação, e como ponderador das almas, no Juízo Final.


I.32 - Santo Huberto e a Visão Milagrosa entre os Cornos de um Veado: Huberto era um nobre do século VII-VIII que, numa certa sexta-feira santa, tendo ido a uma caçada em detrimento das cerimônias religiosas daquela data, deparou-se de repente com um veado de imponentes chifres, entre os quais se formou milagrosamente a imagem de um crucifixo. Caindo em adoração diante da visão (evento representado na iluminura), o nobre medieval converteu-se totalmente e, mais tarde, tornou-se bispo da Igreja Católica. É o santo patrono dos caçadores e invocado nas curas da raiva e das mordidas de cães.


I.33 - A Coroa de Espinhos do Salvador: na penúltima iluminura da série, Poyer retrata dois anjos seguram a coroa de espinhos de Jesus, poderoso símbolo da Paixão e Morte do Senhor. A rainha Anne dedicava uma particular e especial devoção à Coroa de Espinhos do Senhor.


I.34 - O príncipe Charles-Orland em oração: a última iluminura da série mostra Charles-Orland, filho primogênito da rainha Anne de Bretagne e do rei Charles VIII. O príncipe é retratado com a idade de 12 anos e ajoelhado em oração, implorando sabedoria a Deus para um dia ocupar o trono, que é mostrado vazio atrás dele. A oração é parte integrante da iluminura e foi composta especialmente para o pequeno príncipe por Anne, para que fosse aprendida por ele mais tarde, mais ou menos com esta idade. Infelizmente o príncipe nunca chegou a aprendê-la, pois morreu logo após completar o seu terceiro aniversário.  

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

OS SONHOS DAS TRÊS ÁRVORES

Numa floresta erma, três pequenas árvores cresciam juntas e, no tempo em que as árvores falavam e sonhavam, também sonhavam juntas.

Suspirando, a primeira árvore, olhando ao longe, disse às outras duas: 'Eu queria guardar um dia os tesouros mais preciosos do mundo'. 

A segunda completou de imediato: 'Pois eu queria fazer parte de muitos navios que levassem reis e rainhas, carregados dos tesouros mais preciosos'.

A terceira árvore ousou ainda mais longe no diálogo dos sonhos: 'Eu queria ser tão grande e imponente que pudesse não apenas carregar e transportar os maiores tesouros do mundo, mas me tornar eu mesma um bem mais valioso que todo o ouro do mundo'.

E os anos passaram como se passam os sonhos. Certo dia, finalmente vieram alguns lenhadores e de imediato passaram a cortar aquelas três árvores tão próximas e tão singulares. As árvores estavam ansiosas para se cumprir os seus sonhos, mas era infelizmente um tempo em que os lenhadores eram apenas homens práticos e não dados a ouvir e a dar realidade a devaneios de árvores sonhadoras...

A primeira árvore foi transformada em muita lenha e em um pequeno coxo, que guardava apenas feno, e que era usado para alimentar animais de uma estrebaria. 

A segunda árvore virou madeira para a construção de pequenos e simples barcos de pesca, que carregavam tão somente rudes pescadores, peixes e redes de pesca. 

A terceira árvore, por sua vez, que havia se tornado mais imponente que as outras duas, foi cortada e recortada num monte de vigas e tábuas, que foram armazenadas em um velho depósito.

E como árvores que sonham tem sentimentos, as três se perguntavam então desiludidas: 'que destino triste o nosso, de que valeram os nossos belos sonhos?'

Mas, numa certa noite, cheia de luz e de estrelas, uma jovem mulher depositou o seu bebê recém nascido no pequeno coxo feito da primeira árvore e fez dele uma manjedoura. 

Anos depois, um homem falou a rudes pescadores num pequeno barco feito da segunda árvore que faria deles 'pescadores de homens' e este mesmo homem, em outro pequeno barco feito da segunda árvore, acordou no meio de uma grande tempestade e fez o mar revolto se acalmar de pronto com uma simples ordem: 'Acalmai!'

Tempos mais tarde, numa sexta-feira, algumas vigas da terceira árvore foram retiradas do velho depósito e foram unidas em forma de cruz; e nela foi pregado um homem cujos braços abertos resgataram a humanidade do pecado e legaram a salvação ao mundo.

E Deus fez entender às três árvores que os seus sonhos tinham sido realizados muito além do possível.

(Livre adaptação do autor do blog de um antigo conto de Natal)

domingo, 25 de dezembro de 2016

O FILHO DO DEUS VIVO ESTÁ ENTRE NÓS!

Páginas do Evangelho - Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo 


Estamos prostrados diante a manjedoura humilde, na Gruta de Belém, na Noite Santa em que Deus nos tornou herdeiros de todas as bem aventuranças eternas. O Filho do Deus Vivo já habita entre nós! Nesta noite extraordinária, os véus dos mistérios insondáveis se desvelam no Menino-Deus: O Filho do Deus Vivo já habita entre nós! É dEle que João exclamou: 'O que vem depois de mim passou à minha frente, porque ele existia antes de mim' (Jo 1, 15). É por Ele que 'foram criadas todas as coisas ... tudo foi criado por Ele e para Ele' (Col 1, 16). Essa criança será Jesus de Nazaré e que forjará numa cruz o legado da redenção e salvação da humanidade. Não se pode polir mais a grandeza extraordinária deste Evangelho, buscar redescobrir palavras que já são por si só sumamente belas; então, apenas as acolhamos no coração como tesouro inesgotável de graças e, ainda com muito mais razão, o Menino-Deus reclinado nesta Noite Santa na humilde manjedoura de Belém!

'No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus; e a Palavra era Deus. No princípio estava ela com Deus. Tudo foi feito por ela, e sem ela nada se fez de tudo que foi feito. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la. Surgiu um homem enviado por Deus; seu nome era João. Ele veio como testemunha, para dar testemunho da luz, para que todos chegassem à fé por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz: daquele que era a luz de verdade, que, vindo ao mundo, ilumina todo ser humano' (Jo 1, 1-9).

'A Palavra estava no mundo — e o mundo foi feito por meio dela — mas o mundo não quis conhecê-la. Veio para o que era seu, e os seus não a acolheram. Mas, a todos que a receberam, deu-lhes capacidade de se tornarem filhos de Deus, isto é, aos que acreditam em seu nome, pois estes não nasceram do sangue nem da vontade da carne nem da vontade do varão, mas de Deus mesmo' (Jo 10, 13).

'E a Palavra se fez carne e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória, glória que recebe do Pai como Filho unigênito, cheio de graça e de verdade. Dele, João dá testemunho, clamando: 'Este é aquele de quem eu disse: O que vem depois de mim passou à minha frente, porque ele existia antes de mim'. De sua plenitude todos nós recebemos graça por graça. Pois por meio de Moisés foi dada a Lei, mas a graça e a verdade nos chegaram através de Jesus Cristo. A Deus, ninguém jamais viu. Mas o Unigênito de Deus, que está na intimidade do Pai, ele no-lo deu a conhecer' (Jo 1, 14 - 18).

sábado, 24 de dezembro de 2016

FELIZ E SANTO NATAL EM CRISTO!


Desejo a todos os nossos amigos visitantes um Santo e Feliz Natal. 
Deseo a todos los amigos y visitantes Felices Navidades. 
I wish to our friends' visitors an happy and Holy Christmas. 
Je désire à tous nos amis un heureux et joyeux Noel. 
Auguro a tutti gli amici uno Santo ed Felice Natale. 
Ich wunshe to unsere Freude eine Wundabar und Stille Nacht.


IGREJA CATÓLICA: ALMA DO NATAL


(clicar para o vídeo)

AS MAIS BELAS CANÇÕES DE NATAL


(clicar para o vídeo)

NATAL

Jesus nasceu! e na pequena estrebaria
José apressa-se em fazer a manjedoura
ajunta palha e feno, mudo de alegria,
enquanto a Mãe em êxtase se entesoura

Os animais se aproximam cautelosos
inebriados diante a luz que transfigura
e os pastores de joelhos, jubilosos,
louvam o Criador agora criatura!

Há uma paz imensa nesta noite fria
todos os anjos cantam a doce melodia
que une céu e terra em amor profundo;

É Natal, a Mãe embala seu pequeno filho
e a luz que inunda a gruta tem o brilho
da salvação que libertou o mundo!

                                                                              (Arcos de Pilares)

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

O NASCIMENTO DE JESUS

Maria sentiu um leve estremecimento no ventre. Estremecimento e não dor. Percebera-o nitidamente em meio ao movimento harmônico do trote do burrico pela estrada poeirenta. No recolhimento de sua oração profunda, sua mão busca tocar levemente o ventre como uma resposta imediata da Mãe ao sinal enviado pelo Filho: a longa preparação do Tempo dos Profetas há de ser realidade em breve naquele tempo da história e Deus feito homem vai nascer no mundo. É o primeiro sinal. Suave estremecimento, perceptivel apenas por Maria, naquele momento da longa travessia que perpassa agora os campos abertos que levam mais adiante à Belém de todas as profecias.

José, puxando o burrico, olha para trás e se preocupa. O vento começa a soprar mais forte e mais frio e a jornada agora é mais lenta e penosa, nos declives mais acentuados da estrada que serpenteia pelo vale e pelos contrafortes de formações rochosas. E há muitas pessoas e alarido em torno deles. De tempos em tempos, são obrigados a parar e dar passagem a outros viajantes em marcha mais apressada ou para superarem com extremo cuidado os trechos mais íngremes. Quase todos os peregrinos têm o mesmo destino e o mesmo objetivo: apresentarem-se às autoridades em Belém e cumprirem as normas do novo recenseamento imposto pelas autoridades romanas. 

Em meio a um acontecimento regional e específico da história humana, está prestes a ocorrer o mais extraordinário evento da humanidade. Em meio ao burburinho e à agitação de toda aquela gente, Maria recebeu o primeiro sinal da manifestação da vinda do Messias prometido. Um murmúrio de humanidade no sagrado ventre consubstancia em definitivo o Mistério da Anunciação. Um leve estremecimento acaba de prenunciar o nascimento de Deus. 


As ruas estreitas se consomem de tanta gente. Há um cenário de mercado livre por toda a Belém daqueles dias. Eles acabaram de cumprir os registros formais do recenseamento e agora buscam ansiosamente uma pousada para o pernoite. Não é apenas o albergue principal da cidade que está com a lotação esgotada; as casas se transformaram em emaranhados de pessoas e utensílios, num entra e sai sem fim de gente ruidosa e apressada. Há o burburinho comum das crianças e o festim grotesco das ofertas gritadas e dos negócios de ocasião. No vaivém das ruas apinhadas e confusas, Maria e José buscam refúgio fora da cidade, além das casas mais ermas e mais afastadas. Aqui e ali ainda se veem acampamentos rústicos, improvisados, à guisa de refúgio de grupos mais ou menos numerosos. Além, mais além, as formações calcárias formam reintrâncias e cavernas, que muitas vezes são utilizadas como estrebarias pelos mercadores das grandes rotas até Jerusalém.

José leva o burrico na direção destas cavernas. Ele não sente no rosto o vento frio da tarde que se desvanece, nem o cansaço da longa jornada. Seu pensamento é todo, totalmente por Maria. A preocupação em encontrar um lugar digno para ela o consome por completo. A ânsia de dar descanso e refúgio a Maria tolhe todos os seus sentidos e atividades. A dimensão do mistério insondável o atordoa e o aniquila: a humanidade de José sente o peso incomensurável dos desígnios da Providência.

Passa adiante da primeira entrada, que não passa de um buraco estreito e irregular na rocha. A seguinte é pouco melhor do que isso. As demais mostram-se maiores e limpas, mas já estão todas ocupadas. As pessoas amontoam-se nos espaços exíguos em silêncio, homens na sua grande maioria, cercados por animais, feno e capim. São estrebarias que agora acomodam pessoas. José se inquieta ainda mais. Não há possibilidade aparente de privacidade para o nascimento de Jesus, não há lugar nenhum para um abrigo ainda que provisório. 

Avançado o paredão rochoso, José agora se depara com um cinturão de amendoeiras que margeiam o caminho adiante, que se abre, então, para campos e vales ao longe. Bem distante, na encosta suave do outro lado do vale, consegue divisar um pastor empurrando o seu rebanho. Nesse momento, sente os ombros dolorosamente pesados e seu andar vacilante. Seu olhar havia percorrido cada entrada rochosa e cada rosto humano em busca de recepção e de um gesto de boa vontade. E nada. Agora volve o seu olhar para Maria, como que pedindo perdão pela sua incapacidade e incerteza daquele momento. A humanidade inteira geme as suas ânsias pelo olhar desconsolado de José. 

Ao passar pela terceira gruta, Maria sentiu, como uma vibração percorrendo todo o seu corpo, o sopro do Espírito de Deus. Desde o primeiro sinal, recolhera-se, ainda com maior devoção, à oração de dar glórias ao Pai pelo que estava prestes a acontecer. Como serva da Anunciação, era agora a mesma serva como Mãe de Deus. E, nesse momento, pressentira o segundo sinal. A Divina Promessa iria dispensar a Redenção em breve à humanidade pecadora. Ao olhar para José, compreendendo a sua aflição e seu desapontamento, fitou-o com os olhos da perseverança e da fé inquebrantáveis e o brilho deste olhar emanava a própria luz de Deus.

Diante do olhar de Maria, a humanidade de José se detém e suas dúvidas se dissipam. Então, ele avança mais vinte, mais cinquenta metros, contorna as árvores e avista a gruta que emerge da continuação do maciço rochoso à esquerda. É e será sempre a visão do paraíso. Não é exatamente uma gruta, mas uma escavação que avança em profundidade na rocha e é protegida por uma murada frontal de pedras mal alinhadas, trançadas com restos de vigas de madeira, espalhados em desordenada profusão, que fecham de maneira irregular a entrada do lugar, protegendo-o dos ventos e das intempéries. Escondida, erma, isolada, bendita seja a gruta de Belém! 

Ela está suja, úmida, mal cuidada, mas não de todo desconhecida ou abandonada, porque um boi ali se encontra, com bastante feno e água. Há sujeira e palha solta em todos os lugares. Num canto, um arranjo de pedras enegrecidas indica o lugar de costume de se acender o fogo. Aliviado e feliz, José se consome nos arranjos práticos do refúgio improvisado. Ajuda Maria a entrar na gruta e se apressa a alimentá-la e a acomodá-la o melhor possível; dá feno e água ao burrico que é levado para junto do boi, monta um tablado de feno no chão, dispondo cuidadosamente os fardos; com paus e pedras, faz um arremedo de cercado em torno de Maria e o cobre com a sua manta grossa de viagem; empilha num canto os troncos e os pedaços de madeira espalhados; limpa as pedras e o chão com feixes de palhas e, com gravetos e pedaços de madeira seca, acende o fogo. A pequena luz se espalha pela escondida, erma, isolada, bendita gruta de Belém! 


O silêncio da gruta é quebrado apenas pelo crepitar das últimas chamas. O fogo aqueceu o espaço limitado e agora existe mais penumbra do que claridade. O fogo emoldura em repentes luminosos o rosto de José enquanto, pelas aberturas das muradas de pedras, o luar desenha feixes de luzes prateadas que cortam a escuridão que envolve toda a gruta. De repente, Maria põe-se de joelhos em contrita oração. Prostra-se com o rosto no chão e José percebe, apesar de toda a escuridão, o que está para acontecer. Coloca-se também de joelhos, também em fervorosa oração, louvando a Deus por ser testemunha e personagem de mistério tão extraordinário. Em muda expectativa, contempla o perfil de Maria apenas esboçado na escuridão da gruta.

A princípio, supõe ver os feixes de luar convergirem para o rosto de Maria ou auréolas de luz provenientes do fogo a envolverem completamente. Mas sabe que é muito mais que isso: uma luz, de claridade e brilho espantosos, nasce, emana e flui dela, enchendo a gruta de uma tal iridescência, que todas as coisas perdem a forma, o volume e a natureza material. Maria não se transfigura em luz, ela é a própria luz! O rosto de Maria é luz, as vestes de Maria são luz, as mãos de Maria são luz. Mas não é uma luz deste mundo, nem o brilho do cristal mais polido, nem o resplendor do diamante mais lapidado, nem a etérea luminosidade dos átomos em fissão; tudo isso seria uma mera pátina de luz. Maria torna-se um espelho do próprio Deus, da qual emana a luz do Céu!

José se transfigura neste redemoinho de luz sem ser a luz. Seus olhos puderam contemplar o terceiro e definitivo sinal da Natividade de Deus. E trêmulo, mudo, pasmado, contempla o recém-nascido acolhido entre os braços de Maria, recebendo o primeiro carinho e o primeiro beijo da Mãe Imaculada. Pressuroso e em êxtase, prepara a humilde manjedoura, o primeiro altar de Jesus na terra. O Filho do Deus Vivo já habita entre nós!

(Adaptação livre do autor do blog sobre os eventos prévios ao nascimento de Jesus)