segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

DA EXPLICAÇÃO DO MAGNIFICAT (IX)


Acolheu a Israel, seu servo, lembrando da sua misericórdia
O Deus onipotente fez duas criaturas no princípio do mundo, o anjo e o homem: o anjo no céu, o homem na terra. Ambos foram tão ingratos que se revoltaram contra o seu Criador: o anjo pela soberba, e o homem, pela desobediência ao mandamento de seu Deus. O pecado do anjo, sendo um pecado de soberba, foi tão grande diante de Deus que sua divina justiça O obrigou a expulsá-lo do paraíso e lançá-lo no inferno.

Mas a sua misericórdia, vendo que o homem caíra no pecado pela tentação e sedução de Satanás, teve compaixão dele e tomou a resolução de retirá-lo do estado miserável a que se achava reduzido, e até se comprometeu a isso pela promessa que lhe fez. E todos os gravíssimos e inúmeros pecados cometidos depois dessa promessa, pelos judeus, pelos gentios e por todos os homens, não foram capazes de impedir-lhe a execução; mas retardaram-na de muitos séculos, durante os quais toda a raça de Adão, condenada e reprovada por Deus, achava-se mergulhada em um abismo de trevas e num redemoinho de males infinitos e inexplicáveis, sendo-lhe impossível sair por si mesma.

Mas, finalmente, o Filho de Deus se lembrou de suas misericórdias: 'recordou-se de Sua misericórdia e da promessa que fizera a Adão, a Abraão', a Davi e a outros Profetas de retirar o gênero humano desse abismo de males. Ele mesmo desce do céu ao seio virginal da divina Maria, onde une à sua divina Pessoa a natureza tão miserável que abandonara, faz-se homem para salvar todos os homens que quiserem pertencer ao número dos verdadeiros israelitas, isto é, que quiserem crer nEle e amá-Lo.

Eis o que a Bem-aventurada Virgem nos anuncia pelas palavras: acolheu a Israel, seu servo, lembrando da sua misericórdia. É a conclusão de seu divino cântico; uma recapitulação dos inefáveis mistérios nele encerrados; é o fim da Lei e dos Profetas; a realização das sombras; a consumação das figuras. É o mesmo se ela dissesse: eis o efeito da predição dos Profetas; eis o que as sombras assinalaram; eis o que os Patriarcas esperaram; eis o que me faz cantar do mais profundo de meu coração: proclama a minha alma a grandeza do Senhor. Eis o grande motivo das minhas alegrias e dos meus sofrimentos: exulta meu espírito em Deus meu Salvador. Eis o que fará com que todas as nações me proclamem bem-aventurada. Eis o que exaltará os humildes e confundirá os soberbos: acolheu a Israel seu servo.

(Da Explicação do Magnificat, de São João Eudes)

domingo, 4 de dezembro de 2016

'CONVERTEI-VOS, PORQUE O REINO DE DEUS ESTÁ PRÓXIMO!

Páginas do Evangelho - Segundo Domingo do Advento

Neste domingo, segundo domingo do Advento, quem nos fala (e nos mostra o caminho a tomar) são dois profetas: Isaías e João Batista. Isaías é o profeta messiânico por excelência, o precursor dos evangelistas. É Isaías quem declara que Jesus será da estirpe de Davi, é Isaías quem profetiza o nascimento de Cristo através de uma virgem, são de Isaías as profecias sobre a Paixão e Morte do Senhor, sobre a Santa Igreja de Deus e sobre a pregação de João Batista: 'Esta é a voz daquele que grita no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas' (Mt 3, 3).

E eis que surge o maior de todos os profetas, aclamado pelo próprio Cristo como 'o maior dentre os nascidos de mulher' (Mt 11,11), precursor do Salvador do mundo, pregando no deserto da Judeia: 'Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo' (Mt 3,2). Eis o primado de João Batista: Jesus vem, a sua Vinda é iminente; alegrai-vos todos porque o céu vai tocar a terra e fazer novas todas as coisas. A voz que clamava no deserto, símbolo dos terrenos estéreis e calcinados das almas tíbias e vazias dos homens daquele tempo, vinha moldar com o espírito de conversão os corações daqueles homens duros e insensatos para receber o Cristo da Redenção, que estava prestes a chegar: ''Eu vos batizo com água para a conversão, mas aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu. Eu nem sou digno de carregar suas sandálias. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo' (Mt 3,11).

E o deserto de hoje é ainda mais árido, muitíssimo mais árido do que nos tempos do Profeta João Batista. O deserto tornou-se uma terra de desolação e infortúnio, na qual o pecado é espalhado como adubo e as blasfêmias contra Deus são os arados. Façamos ecoar pelos pântanos e areiais de nova vida costumeira o refrão profético: 'Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo'. Como iconoclastas de nossas própria ruínas, desfaçamos os templos da barbárie, do escândalo, das heresias, das blasfêmias e de tantos pecados contra a glória de Deus, de Cristo e da Santa Igreja! 

Somos a Igreja de Cristo que não se pode sustentar sobre as areias do deserto das almas tíbias, nem sobre as argilas frouxas do ateísmo e da indiferença religiosa. João Batista é tão atual quando da época de sua profecia e sua mensagem ressoa pelos séculos para ser ouvida e vivida pelos soldados de Cristo: tornemos o imenso deserto da nossa humanidade pervertida em terreno fértil para semear com abundância as vinhas do Senhor que está para chegar de novo. Assim seja!

sábado, 3 de dezembro de 2016

03 DE DEZEMBRO - SÃO FRANCISCO XAVIER


Francisco nasceu no castelo de Xavier, em Navarra, na Espanha, a 7 de abril de 1506. Aos dezoito anos foi para Paris estudar, tornando-se doutor e professor. Ao conhecer Santo Inácio de Loyola, sua conversão profunda o levou a ser cofundador da Companhia de Jesus. Tornando-se sacerdote e empenhado no caminho da santidade, São Francisco Xavier (na verdade, de Xavier) foi designado por Santo Inácio a seguir em missão apostólica ao Oriente, para atender o pedido feito pelo Rei João III de Portugal.

Francisco Xavier tinha 35 anos quando cruzou o oceano para evangelizar os domínios portugueses de ultramar. Nesta missão, chegou à cidade de Goa, capital das possessões portuguesas no Oriente, em 6 de maio de 1542. E ali realizou proezas de evangelização, levando as primícias da fé cristã até ao extremo sul da Índia. Neste zelo apostólico, cruzou terras e oceanos em condições de risco extremo, perfazendo, em pouco mais de uma década, uma das mais extraordinárias ações missionárias da história da Igreja. Pregou a palavra de Cristo em inúmeras incursões a áreas remotas e a diferentes povos das possessões portuguesas, da Índia, das ilhas de Málaca, das Molucas e de várias ilhas vizinhas, chegando até o Japão e, mais tarde, até às costas da China, onde veio a falecer, de febre e exaustão, em 3 de dezembro de 1552, aos 46 anos.

O grande Apóstolo do Oriente realizou naquelas regiões milagres portentosos, que incluem vários episódios de ressurreições e feitos espantosos. Seu corpo incorrupto foi exposto em Goa um ano depois de sua morte e seus olhos negros se mantinham como se estivessem vivos, com um olhar penetrante. Mesmo agora, séculos depois, seu corpo incorrupto ainda pode ser visto em Goa. Foi canonizado pelo papa Gregório XV em 12 de março de 1622, junto com Santo Inácio, Santa Teresa de Jesus, São Felipe Neri e Santo Isidoro de Madri. São Francisco Xavier é proclamado pela Igreja como Patrono Universal das Missões, ao lado de Santa Teresinha do Menino Jesus.

(túmulo do santo na Basílica do Bom Jesus em Goa) 

São Francisco Xavier, rogai por nós!

'NO CORAÇÃO DA IGREJA, SEREI O AMOR'


'Não obstante a minha pequenez, queria iluminar as almas como os Profetas, os Doutores, sentia a vocação de ser Apóstolo... Queria ser missionária, não apenas durante alguns anos mas queria tê-la sido desde o princípio do mundo e continuar até à consumação dos séculos. Mas acima de tudo, ó meu amado Salvador, queria derramar o sangue por Vós até à última gota.

Porque, durante a oração estes desejos me faziam sofrer um autêntico martírio, abri as epístolas de São Paulo a fim de encontrar uma resposta. Casualmente fixei-me nos capítulos XII e XIII da Primeira Epístola aos Coríntios; e li no primeiro que nem todos podem ser ao mesmo tempo Apóstolos, Profetas, Doutores e que a Igreja é formada por membros diferentes e que os olhos não podem ao mesmo tempo ser as mãos. A resposta era clara, mas não satisfazia completamente os meus desejos e não me trazia a paz.

Continuei a ler e encontrei esta frase que me confortou profundamente: 'Procurai com ardor os dons mais perfeitos; eu vou mostrar-vos um caminho mais excelente'. E o Apóstolo explica como todos os dons mais perfeitos não são nada sem o amor e que a caridade é o caminho mais excelente que nos leva com segurança até Deus. Finalmente tinha encontrado a tranquilidade.

Ao considerar o Corpo Místico da Igreja, não conseguia reconhecer-me em nenhum dos membros descritos por São Paulo; melhor, queria identificar-me com todos eles. A caridade ofereceu-me a chave da minha vocação. Compreendi que, se a Igreja apresenta um corpo formado por membros diferentes, não lhe falta o mais necessário e mais nobre de todos; compreendi que a Igreja tem um coração, um coração ardente de amor; compreendi que só o amor fazia atuar os membros da Igreja e que, se o amor viesse a extinguir-se, nem os Apóstolos continuariam a anunciar o Evangelho, nem os mártires a derramar o seu sangue; compreendi que o amor encerra em si todas as vocações, que o amor é tudo e que abrange todos os tempos e lugares; compreendi numa palavra, que o amor é eterno.

Então, com a maior alegria da minha alma arrebatada, exclamei: Ó Jesus, meu amor! Encontrei finalmente a minha vocação. A minha vocação é o amor. Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, e este lugar, ó meu Deus, fostes Vós que me destes: no coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o amor; e com o amor serei tudo; e assim será realizado o meu sonho'.

(Dos manuscritos autobiográficos de Santa Teresa de Lisieux)

PRIMEIRO SÁBADO DE DEZEMBRO


Mensagem de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, vidente de Fátima: 
                                                                                                                           (Pontevedra / Espanha)

‘Olha, Minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todo o momento Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que a todos aqueles que durante cinco meses seguidos, no primeiro sábado, se confessarem*, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação.’
* Com base em aparições posteriores, esclareceu-se que a confissão poderia não se realizar no sábado propriamente dito, mas antes, desde que feita com a intenção explícita (interiormente) de se fazê-la para fins de reparação às blasfêmias cometidas contra o Imaculado Coração de Maria no primeiro sábado seguinte.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

QUANDO O INFERNO É AQUI...


Todo um time de futebol, dirigentes, comissão técnica, auxiliares, jornalistas, tripulação... vítimas de mais um acidente aéreo. Seria mais um de tantos acidentes aéreos que, mesmo sendo estatisticamente limitados, são sempre causa de grande comoção pois implicam inevitavelmente em grandes tragédias. Mas este não pode ser simplesmente inserido na listagem comum dos grandes acidentes aéreos, pois se trata, mesmo ainda na concepção das avaliações preliminares, de um evento absurdamente ilógico, afrontoso até para os limites da demência humana, monstruoso. 71 mortos e apenas 6 sobreviventes por causa de uma pane seca, simplesmente pela utilização no voo inconcluído de todo o combustível disponível nos tanques do avião, reflexo de uma estratégica demente de bancar o risco extremo de tantas vidas pelo preço absurdo de lucrar nos limites do impossível. A ganância comprando bilhetes sem volta ao inferno que já começou aqui...


... e que continua aqui em tantos lugares... Em Brasília, a Primeira Turma do STF, num aborto de desvario, despenalizou o crime de aborto durante os três primeiros meses de gestação. Embora aplicável a um caso específico, feito na surdina de outra tragédia, a decisão é igualmente trágica e espantosamente brutal e perigosa: a banalidade do mal levanta voo para uma viagem às cegas e ensandecida sob a máscara de vestais de toga que insistem em brincar de deuses...

BREVIÁRIO DIGITAL - ANNE DE BRETAGNE (VI)

LIVRO DE ORAÇÕES DE ANNE DE BRETAGNE* (1477 - 1514) - PARTE VI

* esposa de dois reis sucessivos da França, Charles VII e Luís XII

AUTORIA DAS ILUMINURAS: JEAN POYER 


I.23 - Santa Maria Madalena Lavando os Pés de Cristo: A miniatura mostra Cristo sentado à mesa de Simão, o fariseu, conversando com o seu anfitrião. Sob a mesa, Maria Madalena lava os pés do Senhor com as suas lágrimas, secando-os em seguida com os cabelos e, depois de beijá-los, inclina-se diante deles em reverente devoção. Para expressar a humildade da serva do Senhor, Poyer coloca Maria Madalena inteiramente sob a mesa, quase prostrada ao chão e com o rosto praticamente escondido. 


I.24 - Santa Catarina Confundindo os Filósofos: Santa Catarina de Alexandria, a padroeira do ensino e da educação, é mostrada utilizando-se de sua sabedoria e inteligência para converter ao cristianismo cinquenta filósofos que foram convocados especialmente para convencer a santa dos erros de sua fé cristã. Tal representação, pela exposição e convencimento das verdades da fé cristã, é totalmente inovador em relação à iconografia clássica da santa, usualmente associada a uma roda serrilhada, símbolo do seu instrumento de martírio.


I.25 - Santa Margarida e o Dragão: Santa Margarida da Antioquia, a exemplo de Santa Úrsula e Santa Catarina de Alexandria, faz parte dos chamados 14 santos auxiliares da Igreja, assim chamados porque são comumente invocados pelos cristãos em casos de necessidades especiais (no caso desta santa mártir, para favorecer um bom parto ou para afastar as tentações diabólicas). Na miniatura, Santa Margarida é representada em pureza e libertada do ventre de um grande dragão, forma que teria sido assumida por satanás para engolir a santa.   


I.26 - São João Evangelista aos Pés da Cruz: Cristo morto e descido da cruz, sem a coroa de espinhos que está deposta ao chão, é representado recolhido nos braços da Sua Mãe e amparado por São João Evangelista, tendo ao fundo o cenário do Calvário. A dor da Virgem é acentuada pela sua expressão de sofrimento e os braços cruzados diante do peito. Ao lado da Virgem, Santa Maria Madalena reza de joelhos e com as mãos postas. A oração que está associada à miniatura é a única de toda a obra escrita em francês, tendo sido composta especialmente para Anne.