sexta-feira, 5 de agosto de 2016

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS


A Grande Revelação do Sagrado Coração de Jesus foi feita a Santa Margarida Maria Alacoque durante a oitava da festa de Corpus Christi  de 1675...

         “Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e se consumir para lhes testemunhar seu amor. Como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelas suas irreverências, sacrilégios, e pela tibieza e desprezo que têm para comigo na Eucaristia. Entretanto, o que Me é mais sensível é que há corações consagrados que agem assim. Por isto te peço que a primeira sexta-feira após a oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa particular para  honrar Meu Coração, comungando neste dia, e O reparando pelos insultos que recebeu durante o tempo em que foi exposto sobre os altares ... Prometo-te que Meu Coração se dilatará para derramar os influxos de Seu amor divino sobre aqueles que Lhe prestarem esta honra”.


... e as doze Promessas:
  1. A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de meu Sagrado Coração.
  2. Eu darei aos devotos do meu Coração todas as graças necessárias a seu estado.
  3. Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias.
  4. Eu os consolarei em todas as suas aflições.
  5. Serei seu refúgio seguro na vida, e principalmente na hora da morte.
  6. Lançarei bênçãos abundantes sobre todos os seus trabalhos e empreendimentos.
  7. Os pecadores encontrarão em meu Coração fonte inesgotável de misericórdias.
  8. As almas tíbias se tornarão fervorosas pela prática dessa devoção.
  9. As almas fervorosas subirão em pouco tempo a uma alta perfeição.
  10. Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais empedernidos.
  11. As pessoas que propagarem esta devoção terão os seus nomes inscritos para sempre no meu Coração.
  12. A todos os que comungarem nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna.

    ATO DE DESAGRAVO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS 
    (rezai-o sempre, particularmente nas primeiras sextas-feiras de cada mês)

Dulcíssimo Jesus, cuja infinita caridade para com os homens é deles tão ingratamente correspondida com esquecimentos, friezas e desprezos, eis-nos aqui prostrados, diante do vosso altar, para vos desagravarmos, com especiais homenagens, da insensibilidade tão insensata e das nefandas injúrias com que é de toda parte alvejado o vosso dulcíssimo Coração.

Reconhecendo, porém, com a mais profunda dor, que também nós, mais de uma vez, cometemos as mesmas indignidades, para nós, em primeiro lugar, imploramos a vossa misericórdia, prontos a expiar não só as nossas próprias culpas, senão também as daqueles que, errando longe do caminho da salvação, ou se obstinam na sua infidelidade, não vos querendo como pastor e guia, ou, conspurcando as promessas do batismo, renegam o jugo suave da vossa santa Lei.

De todos estes tão deploráveis crimes, Senhor, queremos nós hoje desagravar-vos, mas particularmente das licenças dos costumes e imodéstias do vestido, de tantos laços de corrupção armados à inocência, da violação dos dias santificados, das execrandas blasfêmias contra vós e vossos santos, dos insultos ao vosso vigário e a todo o vosso clero, do desprezo e das horrendas e sacrílegas profanações do Sacramento do divino Amor, e enfim, dos atentados e rebeldias oficiais das nações contra os direitos e o magistério da vossa Igreja.

Oh, se pudéssemos lavar com o próprio sangue tantas iniquidades! Entretanto, para reparar a honra divina ultrajada, vos oferecemos, juntamente com os merecimentos da Virgem Mãe, de todos os santos e almas piedosas, aquela infinita satisfação que vós oferecestes ao Eterno Pai sobre a cruz, e que não cessais de renovar todos os dias sobre os nossos altares.

Ajudai-nos, Senhor, com o auxílio da vossa graça, para que possamos, como é nosso firme propósito, com a viveza da fé, com a pureza dos costumes, com a fiel observância da lei e caridade evangélicas, reparar todos os pecados cometidos por nós e por nossos próximos, impedir, por todos os meios, novas injúrias à vossa divina Majestade e atrair ao vosso serviço o maior número possível de almas.

Recebei, ó Jesus de Infinito Amor, pelas mãos de Maria Santíssima Reparadora, a espontânea homenagem deste nosso desagravo, e concedei-nos a grande graça de perseverarmos constantes até a morte no fiel cumprimento dos nossos deveres e no vosso santo serviço, para que possamos chegar todos à Pátria bem-aventurada, onde vós, com o Pai e o Espírito Santo, viveis e reinais, Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

DA CONFIANÇA EM DEUS

Deus provê às nossas necessidades: 'Não vos inquieteis, diz o Senhor. Qual será o sentido exato desse conselho? Deveremos, para obedecer a direção do Mestre, negligenciar completamente os negócios temporais? É certo que a graça pede a certas almas o sacrifício de uma pobreza estrita e de um total abandono à Providência. Entretanto, é notória a raridade dessas vocações. As outras pessoas - comunidades religiosas ou indivíduos - possuem bens: devem geri-los prudentemente.

O Espírito Santo louva a mulher forte que soube governar bem a sua casa. Ele no-la mostra, no Livro dos Provérbios, a acordar bem cedo para distribuir aos criados a tarefa cotidiana e a trabalhar também com as suas próprias mãos. Nada escapa à sua vigilância. Os seus nada têm a temer: acharão todos, graças à sua previdência, o necessário, o agradável e, até, certo luxo moderado. Os seus filhos proclamam-na bem-aventurada, e o seu marido exalta-lhe as virtudes. 

A própria Verdade não teria louvado tão calorosamente essa mulher, se ela não tivesse cumprido o seu dever. Cumpre, pois, não se afligir; ocupando-se embora razoavelmente dos seus afazeres, não se deixar dominar pela angústia de sombrias perspectivas de futuro, e contar, sem hesitações, com o socorro da Providência. 

Nada de ilusões! Uma confiança assim pede grande força de alma. Temos que evitar uma dupla escolha: a falta e a demasia. Aquele que, por negligência, se desinteressa das suas obrigações e dos seus negócios, não pode, sem tentar a Deus, esperar um auxílio excepcional. Aquele que dá às suas preocupações materiais o primeiro lugar das suas cogitações, aquele que conta mais consigo do que com Deus, engana-se ainda mais crassamente; rouba assim ao Altíssimo o lugar que Lhe compete na nossa vida. In medio stat virtus - entre esses extremos, encontra-se a virtude. Quando se cumpriu o dever com diligência, afligir-se com o futuro, é desconhecer o poder e a bondade de Deus.

Nos longos anos em que São Paulo, o eremita, viveu no deserto, um corvo trazia-lhe, cada dia, meio pão. Ora, aconteceu que Santo Antão viesse visitar o ilustre solitário. Conversaram longamente os dois santos, esquecidos nas suas piedosas meditações da necessidade do alimento. Pensava neles, porém, a Providência: o corvo veio; como de costume, trazendo, porém, desta vez, um pão inteiro! O Pai celeste criou todo o universo com uma só palavra; poderia ser-lhe difícil socorrer os seus filhos no momento da necessidade?

São Camilo de Lélis havia-se endividado para tratar dos doentes pobres. Os religiosos alarmavam-se. 'Para que duvidar da Providência?' - tranquilizava-os o santo. 'Será difícil a Nosso Senhor dar-nos um pouco desses bens de que cumulou os judeus e os turcos, inimigos uns e outros da nossa fé?'. A confiança de Camilo não foi iludida; um mês depois, um dos seus protetores legava-lhe, ao morrer, uma soma considerável.

Afligir-se com o futuro é desconfiança que ofende a Deus e provoca a sua cólera. Quando os hebreus, fugindo do Egito, se viram perdidos nas areias do deserto, esqueceram-se dos milagres que o Senhor tinha feito em seu favor. Tiveram medo, murmuraram. 'Deus poderá sustentar-nos no deserto? Poderá dar pão ao seu povo?' Estas palavras irritaram o Senhor. Contra eles lançou o fogo do céu; a sua cólera caiu sobre Israel, 'porque não creram em Deus, nem confiaram no seu socorro” (Sl 77, 19 -22). Nada de aflições inúteis: o Pai vela por nós.

(Excertos da obra 'O Livro da Confiança', do Pe. Thomas de Saint Laurent)

SALVAR ALMAS...

'Ó Jesus, meu divino Esposo! Que eu jamais perca a segunda veste de meu Batismo! Tira-me desse mundo antes que cometa a mais leve falta voluntária. Que sempre procure e encontre só a Ti. Que as criaturas nada sejam para mim, e eu nada seja para elas, mas que Tu, meu Jesus, seja tudo!... Não possam as coisas da terra jamais conturbar minha alma. Nada conturbe minha paz! Jesus, não Te peço senão a paz e também o amor, o amor infinito, sem outro limite senão Tu mesmo... Amor que já não seja eu, mas que sejas Tu, meu Jesus. Por Ti, Jesus, morra eu mártir, o martírio do coração ou do corpo, antes, de ambos...

Faze-se cumprir meus votos em toda a sua perfeição, e leva-me a compreender o que uma esposa Tua deve ser. Faze que nunca seja molesta à comunidade e que ninguém se desvele por mim; que eu seja tida, espezinhada, qual grãozinho de areia que Te pertence, Jesus. Faça-se em mim Tua vontade de uma maneira perfeita. Possa alcançar a mansão que antecipadamente me foste preparar...

Deixa-me, Jesus, salvar muitas almas; que, no dia de hoje, não seja condenada nenhuma e sejam salvas todas as almas do purgatório... Perdoa-me, Jesus, se digo o que não devo dizer. Só quero alegrar-Te e consolar-Te'.

(Dos manuscritos ‘História de uma alma’ de Santa Teresinha)

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

01 DE AGOSTO - SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO


'Quem reza se salva, quem não reza se condena!'

Hoje é o dia da celebração da festa de Santo Afonso Maria de Ligório, fundador da Congregação do Santíssimo Redentor e autor de 'Glórias de Maria', obra prima de devoção mariana. Nasceu em Marianella, pequena comunidade próxima a Nápoles, em 27 de setembro de 1696, de família nobre e, aos 16 anos, já era doutor em direito civil e canônico. Abandonando uma promissora carreira de advogado, consagrou-se a Nossa Senhora e ordenou-se sacerdote em 1726. Em 09 de novembro de 1732, fundou a Congregação do Santíssimo Redentor. Em 1762, foi nomeado Bispo de Santa Ágata dos Godos, cidade perto de Nápoles, retornando à devoção exclusiva à sua ordem somente em 1775. Faleceu no dia 1º de agosto de 1787, aos 91 anos, sendo canonizado pelo Papa Gregório XVI em 1839; Pio IX o declarou Doutor da Igreja em 1871 .

A santificação não é um processo único e específico, mas todos os santos têm em comum um extraordinário senso de auto-sacrifício e uma devoção ardente à Vontade Divina. Santo Afonso correspondeu à graça vencendo dolorosas doenças, perseguições e tentações.  A pior de todas as suas doenças foi um ataque terrível de febre reumática durante o seu episcopado, que durou de maio de 1768 a junho de 1769, que o deixou paralisado até o fim de seus dias. Por esta razão, a sua imagem é comumente retratada com seu queixo avançando proeminente em direção ao peito, reflexo da violenta curvatura que dobrou sua coluna vertebral para a frente e que limitava enormemente seus movimentos. As perseguições vieram principalmente do seu zelo fervoroso no combate às heresias do jansenismo e as tentações surgiram principalmente no final de sua vida quando, ao longo de três anos, passou por terríveis provações e diabólicas tentações contra todas as suas virtudes.

Tão notável quanto a intensidade com que Santo Afonso trabalhou é a enorme quantidade de trabalhos que produziu, sendo que esta prodigiosa coleção de obras teve início quando o santo já contava com cerca de 50 anos de idade. O primeiro esboço de sua obra 'Teologia Moral', por exemplo, só apareceu por volta de 1748. Entre o grande número de suas obras dogmáticas e ascéticas, 'Glórias de Maria', 'A Selva' e 'Meditações para Todos os Dias e Festas do Ano' são as mais conhecidas. Foi também poeta, músico e até pintor (o crucifixo abaixo foi pintado pelo santo). Amparava-se no princípio de não ser admissível perder um único momento do seu tempo em render graças a Deus, como ilustrado exemplarmente neste seu sermão sobre o valor do tempo.


VALOR DO TEMPO

Fili, conserva tempus et devita a malo: 'Filho, guarda o tempo e evita o mal' (Ecl. 4, 23)

Sumário. Um só momento de tempo vale tanto como Deus, porque o homem pode a cada instante, por um ato de contrição ou de amor, adquirir a graça de Deus e aumentar a glória eterna. E tu, meu irmão, em que empregas o tempo tão precioso? Porque adias sempre para amanhã o que podes fazer hoje?... Reflete que o tempo passado já não te pertence; que o futuro não está em tua mão. Só tens o tempo presente para fazeres o bem, e este é brevíssimo! Mister é, pois, que o aproveites depressa, se não o quiseres chorar depois como perdido irremediavelmente.

I. Meu filho, diz o Espírito Santo, sê cuidadoso em conservar o tempo, porque é a coisa mais preciosa e o maior dom que Deus pode dar ao homem na terra. Até os próprios pagãos sabiam o que vale o tempo. Dizia Sêneca que não há valor igual ao do tempo: Nullum temporis pretium. Os Santos, porém, avaliaram muito melhor ainda o valor do tempo. Diz São Bernardino de Sena que um só momento vale tanto como Deus; porque o homem pode a cada instante, por um ato de contrição ou de amor, adquirir a graça de Deus e aumentar a glória eterna: Tempus tantum valet, quantum Deus.

O tempo é um tesouro que só se acha nesta vida; não se encontra na outra, nem no inferno, nem no céu. No inferno o grito contínuo dos réprobos é este: Oh, si daretur hora! 'Oxalá se nos desse uma hora!' Comprariam por todo o preço uma hora de tempo, que lhes bastaria para reparar a sua ruína; mas essa hora não a terão mais. No céu não há tristeza; mas se os bem-aventurados pudessem estar tristes, a sua única tristeza seria de terem perdido tempo nesta vida, tempo em que podiam adquirir maior glória e que não existe mais para eles.

Uma religiosa beneditina apareceu, depois da morte, com a auréola da glória, a uma pessoa e disse-lhe que estava plenamente contente; mas, se pudesse desejar alguma coisa, seria voltar à terra e sofrer para merecer mais glória. Acrescentou que de boa mente consentiria em sofrer até o dia do juízo a doença dolorosa que tinha sofrido antes de morrer, para adquirir a glória que corresponde ao merecimento de uma só Ave-Maria. - 'E tu, meu irmão, em que empregas o tempo? Porque adias sempre para amanhã o que podes fazer hoje?'

II. Reflete que já não te pertence o tempo passado; que o futuro não está em teu poder: só tens o tempo presente para praticares o bem. Pelo que te avisa São Bernardo: 'Desgraçado! como ousas contar com o futuro, como se Deus tivesse posto o tempo à tua disposição?' E Santo Agostinho acrescenta: 'Diem tenes, qui horam non tenes?' ('Como te podes prometer o dia de amanhã, se nem sequer sabes se te é dada mais uma hora de vida?') Em suma, conclui Santa Teresa: 'Se não estás pronto hoje para a morte, teme morrer mal'.

Ó meu Deus, agradeço-Vos o tempo que me dais para reparar as desordens da minha vida passada. Se chegasse a morte neste momento, uma das minhas maiores penas seria pensar no tempo que perdi. Ah! meu Senhor, destes-me o tempo para Vos amar, e empreguei-o em Vos ofender! Merecia ser enviado ao inferno desde o instante em que Vos voltei as costas; Vós, porém, me chamastes à penitência e me perdoastes. Prometi nunca mais ofender-Vos, mas quantas vezes tornei a injuriar-Vos, e Vós ainda me perdoastes! Bendita seja para sempre a vossa misericórdia! Se não fosse infinita, como poderíeis suportar-me tanto tempo? Quem poderia ter para comigo a paciência que Vós tivestes? Quanto sinto ter ofendido um Deus tão bom!

Meu amado Salvador, a vossa paciência para comigo deveria ser suficiente para me inflamar de amor para convosco. Por quem sois, não permitais que viva por mais tempo ingrato ao amor que me haveis dedicado. Desligai-me de tudo, e atraí-me todo ao vosso amor. Não, meu Deus, não quero perder outra vez o tempo que me dais para reparar o mal que fiz; quero empregá-lo todo em vosso serviço e em vosso amor. Fortalecei-me, dai-me a santa perseverança. Amo-Vos, ó bondade infinita, e espero amar-Vos sempre. Graças vos dou, ó Maria! Tendes sido a minha advogada para impetrar-me o tempo que estou gozando. Assisti-me agora, e fazei que o empregue sem reserva a amar o vosso divino Filho, meu Redentor, e a vós, minha Rainha e minha Mãe (II 50).

Santo Afonso Maria de Ligório: 'Valor do tempo' em Meditações para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II. Herder & Cia, 1921, p. 252-254, disponível em www.obrascatolicas.com

Santo Afonso de Ligório, rogai por nós!

domingo, 31 de julho de 2016

31 DE JULHO - SANTO INÁCIO DE LOYOLA


Ad Maiorem Dei Gloriam 


Para a Maior Glória de Deus

O fundador da Companhia de Jesus e autor dos 'Exercícios Espirituais' buscou a via da santidade pelo completo despojamento de si, pelo abandono completo de sua vontade aos desígnios da Divina Providência, abstraindo-se de todo comodismo humano na sua caminhada espiritual para Deus. Eis aí a santidade das atitudes extremas, das decisões moldadas por uma fé intrépida, pela ação de um 'sim' sem rodeios ou incertezas. Uma vida de conversão e de entrega generosa a Deus, testemunho eloquente da fé cristã coerente e tenaz, levada às últimas consequências. 

Inácio Lopez nasceu na localidade de Loyola, atual município de Azpeitia, no País Basco/Espanha, em 31 de maio de 1491. De família rica, levou vida mundana até ser ferido gravemente numa perna na batalha de Pamplona. Na longa convalescença e pela leitura da vida de grandes santos, decidiu abandonar os bens terrenos e viver para a glória de Deus, quando tinha então 26 anos. Entre 1522 a 1523, escreveu os chamados 'Exercícios Espirituais', uma síntese de sua própria conversão e método de evangelização para uma vida espiritual em plenitude. Em 1528, ingressou na Universidade de Paris e a 15 de agosto de 1534, com mais seis companheiros, entre eles São Francisco Xavier, fundou a Companhia de Jesus, tornando-se sacerdote e assumindo o cargo de superior-geral da ordem jesuítica em 1540, com a aprovação do Papa Paulo III. Santo Inácio morreu em Roma, em 31 de julho de 1556, aos 65 anos de idade. Foi canonizado em 12 de março de 1622 pelo Papa Gregório XV. Em 1922, o Papa Pio XI declarou Santo Inácio padroeiro dos Retiros Espirituais.

ORAÇÃO DE SANTO INÁCIO DE LOYOLA

Tomai Senhor, e recebei
Toda minha liberdade,
A minha memória também.
O meu entendimento
E toda minha vontade.
Tudo que tenho e possuo,
Vós me destes com amor.
Todos os dons que me destes,
Com gratidão vos devolvo:
Disponde deles, Senhor,
Segundo vossa vontade.
Dai-me somente 
O vosso amor, vossa graça.
Isto me basta,
Nada mais quero pedir.

A VERDADEIRA RIQUEZA ESTÁ EM DEUS

Páginas do Evangelho - Décimo Oitavo Domingo do Tempo Comum


'Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo' (Lc 12,13). Alguém, no meio da multidão, fez este pedido a Jesus. Um pedido movido por razões absolutamente terrenas e dirigido a alguém que era julgado apenas na dimensão da sabedoria humana. Um apelo, potencialmente justo, afeto às demandas de um juiz dotado de isenção e discernimento, bastava ao postulante. Mas, diante dele, estava Deus entre os homens e não um mero sábio das contendas humanas. Àquele homem, Jesus destinou então um ensinamento muito mais profundo, muito além da busca desenfreada da aquisição de bens materiais, mas centrado num caminho de heranças eternas. 

É preciso primeiro buscar as coisas do Alto. Os legítimos interesses humanos devem ser pautados pelo equilíbrio e pela moderação, para não ser instrumentos de afeições desmedidas e descontroladas, sementes de ganância. Jesus é enfático neste conselho: 'Tomai cuidado contra todo tipo de ganância' (Lc 12, 15). A abundância de bens é uma fonte de preocupações contínuas e a soberba do possuir é mera vaidade: 'Tudo é vaidade' como diz o Livro do Eclesiastes (Ecl 1,2). 

Para ilustrar a insensatez do homem que busca acumular tesouros na terra, Jesus apresenta, então, a parábola do homem rico. Entusiasmado por uma farta colheita, planeja em detalhes multiplicar sua riqueza com a construção de celeiros muito maiores, armazenar grandes quantidades de trigo, viver uma vida de gozo e tranquilidade. Mas, tolo entre tolos, não cuida que seus dias estão contados e não terá usufruto algum de tanta riqueza acumulada: 'Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo' (Lc 12, 21). A ganância de querer sempre mais e a ânsia de ser ainda mais rico aviltam a legitimidade do bem possuído aos domínios da cobiça mórbida. 

Deus não tem lugar no coração abrasado de poder de tal homem porque o nosso coração permanecerá inquieto enquanto não repousar em Deus. A paz interior nasce da partilha, no ato de compartilhar os bens e os dons disponíveis com todos. Dispor o que se recebe, repartir o que se tem: eis a regra de ouro para se almejar as heranças eternas e acumular tesouros nos Céus. A verdadeira riqueza é aquela que se guarda no Coração de Deus.

sábado, 30 de julho de 2016

BREVIÁRIO DIGITAL - ANNE DE BRETAGNE (I)

LIVRO DE ORAÇÕES DE ANNE DE BRETAGNE* (1477 - 1514) - PARTE I

* esposa de dois reis sucessivos da França, Charles VII e Luís XII


AUTORIA DAS ILUMINURAS: JEAN POYER 


I.1 - Santíssima Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo são representados por Poyer na forma de três homens jovens e de cabelos compridos, sentados no trono da Realeza Divina e carregando esferas encimadas por cruzes, que representam o mundo sob a tutela da redenção de Cristo. 


I.2 - A Anunciação: a Virgem Maria (sob uma concepção visual da própria Anne de Bretagne) recebe o anúncio do Anjo Gabriel. O mistério da Anunciação é revelado pela ação conjunta da Santíssima Trindade: Poyer retrata Deus Pai, segurando uma esfera e enviando o Menino Jesus que, carregando uma cruz, acompanha o Espírito Santo, representado em forma de pomba, em meios a raios dourados que são emitidos em direção à futura Mãe de Deus (iconografia clássica deste evento a partir do século XIV). A iluminura é acompanhada pela parte inicial da Ave Maria em latim, truncada pelo termo et, abreviatura de etcetera - 'e o resto'), em função da indisponibilidade do espaço na iluminura para o texto completo da oração. 


I.3 - O Apóstolo Pedro e o Profeta Jeremias: iluminura inicial de uma série de outras doze, que representam sempre a figura de um apóstolo, identificado sob um halo e um atributo específico, junto a um profeta do Antigo Testamento, segurando um rolo de pergaminho. A série começa com o apóstolo Pedro - o príncipe dos apóstolos -  e com o profeta Jeremias. As iluminuras são complementadas por partes do texto do Credo. A presença destes textos - raríssimos em livros medievais por se tratar de orações que todos os cristãos sabiam de cor - demonstra que a obra foi dirigida ao catecismo de uma criança (no caso, Charles-Orland (1492–1495), filho de Anne).



I.4 - O Apóstolo André e o Profeta Davi: o primeiro apóstolo chamado por Jesus é representado carregando uma cruz em forma de X, símbolo do seu martírio. Davi é representado com vestes luxuriantes, provavelmente representando a sua vida passada de pecado. A inscrição do rolo de pergaminho define os desígnios divinos sobre a sua pessoa (Sl 2, 7): D(omi)n(u)s dixit a(d) me filius  - Disse-me o Senhor: 'Tu és o meu filho'.


I.5 - O Apóstolo Tiago Maior e o Profeta Isaías: o apóstolo é representado como um peregrino tipificado com atributos típicos como chapéu, calçado, bordão e sacola. O profeta Isaías, assim como todos os demais profetas expostos nas iluminuras, carrega um rolo de pergaminho. Os dois personagens encontram-se representados como em um diálogo envolvendo elevadas reflexões teológicas.