domingo, 6 de dezembro de 2015

AQUIETAI AS COLINAS

Páginas do Evangelho - Segundo Domingo do Advento


Eis a hora do Precursor, o maior de todos os profetas, aclamado pelo próprio Cristo como 'o maior dentre os nascidos de mulher' (Mt 11,11). E, como precursor do Messias, João se autoproclamou 'a voz que clamava no deserto', símbolo dos terrenos estéreis e calcinados das almas tíbias e vazias dos homens daquele tempo. Era preciso gerar vida, frutos e abundância de graças nos corações dos homens duros e insensatos para receber o Cristo da Redenção, prestes a chegar.

João Batista foi escolhido por Deus para levar a todos os homens um batismo de conversão: 'percorreu toda a região do Jordão, pregando um batismo de conversão para o perdão dos pecados, como está escrito no Livro das palavras do profeta Isaías: Esta é a voz daquele que grita no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas. Todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão rebaixadas; as passagens tortuosas ficarão retas e os caminhos acidentados serão aplainados. E todas as pessoas verão a salvação de Deus' (Lc 3, 3-6).

E o deserto de hoje é ainda mais árido, muitíssimo mais árido do que nos tempos do Profeta João Batista. O deserto tornou-se uma terra de desolação e infortúnio, na qual o pecado é espalhado como adubo e as blasfêmias contra Deus são os arados. Façamos ecoar pelos pântanos e areiais de nova vida costumeira o refrão profético: 'Aquietai as colinas, volvei ao chão toda montanha de ceticismo, de orgulho, de rebeldia maldosa!' Como iconoclastas de nossas própria ruínas, desfaçamos os templos da barbárie, do escândalo, das heresias, das blasfêmias e de tantos pecados cometidos contra a civilização cristã e a glória de Deus! 

Somos a Igreja de Cristo que não se pode sustentar sobre as areias do deserto das almas tíbias, nem sobre as argilas frouxas do ateísmo e da indiferença religiosa. João Batista é tão atual quando da época de sua profecia e sua mensagem ressoa pelos séculos para ser ouvida e vivida pelos soldados de Cristo: tornemos o imenso deserto da nossa humanidade pervertida em terreno fértil para semear com abundância as vinhas do Senhor que está para chegar de novo. 

BREVIÁRIO DIGITAL - CATECISMO ILUSTRADO DE 1910 (XXVIII)







(Catecismo Ilustrado de 1910, parte XXVIII)

sábado, 5 de dezembro de 2015

A BÍBLIA EXPLICADA (XVI) - A FIGUEIRA


A figueira constitui um dos símbolos mais recorrentes dos textos bíblicos, desde o Gênesis até o Apocalipse, tendo sido objeto de manifestação explícita pelo próprio Jesus. Como todo símbolo bíblico, a figueira tem, portanto, um significado direto e específico, quase sempre evidenciando uma distinção clara entre a sua floração (caule e folhas) e sua fecundidade (produção de frutos).

A referência à figueira nas Sagradas Escrituras começa com a árvore do conhecimento do bem e do mal, situada no meio do Jardim do Éden, cujos frutos foram proibidos a Adão e Eva por imposição direta de Deus:

'Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: Vós não comereis dele, nem o tocareis, para que não morrais' (Gn 3, 3).

Pela desobediência, enganados pela astúcia da serpente, Adão e Eva conheceram o pecado:

'Então os seus olhos abriram-se; e, vendo que estavam nus, tomaram folhas de figueira, ligaram-nas e fizeram cinturas para si' (Gn 3, 7).

A referência explícita às folhas da figueira não é meramente acidental, mas associada à árvore do conhecimento do bem e do mal. A alma é uma árvore nascida para o amor movido pela compaixão e pela caridade, que deve ser cuidada e cultivada para dar frutos de vida (conhecimento do bem)...

'Quem trata de sua figueira, comerá seu fruto; quem cuida do seu senhor, será honrado' (Pv 27, 18).

... mas, uma vez corrompida nos valores da graça, cultiva apenas o egoísmo e dá frutos de morte (conhecimento do mal). 

'porque então a figueira não brotará, nulo será o produto das vinhas' (Hb 3, 17)

Como a árvore boa que dá bons frutos, a figueira do bem dará figos bons, ao passo que a árvore ruim dará maus frutos: figos estragados que não podem ser comidos

Fez-me o Senhor contemplar esta visão: colocadas diante do templo do Senhor estavam duas cestas de figos (Jr 24, 1) ... Uma das cestas continha ótimos figos, como o são os prematuros; a outra, porém, tão maus que nem mesmo se podiam comer. Disse-me o Senhor: Que vês, Jeremias? Figos, respondi; excelentes uns, péssimos outros, que nem mesmo servem para comer (Jr 24, 2 - 3)... Eis o que disse o Senhor Deus de Israel. Assim como contemplas (com prazer) os figos bons, assim também olharei favoravelmente os desterrados de Judá que destes lugares exilei para a terra dos caldeus (Jr 24, 5)... E, à semelhança do que acontece aos maus figos que por demais estragados (Jr 24,8) ... vou enviar contra eles a espada, a fome e a peste, e os tratarei como figos deteriorados, tão maus que não se podem mais comer (Jr 29,17).

Ai da figueira (alma) que não dá bons frutos, ano após ano (tornando inútil o depositário de graças divinas e seu cultivo); assim, deverá ser cortada e lançada ao fogo:

'Um homem havia plantado uma figueira na sua vinha, e, indo buscar fruto, não o achou. Disse ao viticultor: - Eis que três anos [referência ao tempo do ministério público de Jesus] há que venho procurando fruto nesta figueira e não o acho. Corta-a; para que ainda ocupa inutilmente o terreno. Mas o viticultor respondeu: - Senhor, deixa-a ainda este ano [referência ao tempo da misericórdia de Deus]; eu lhe cavarei em redor e lhe deitarei adubo. Talvez depois disto dê frutos. Caso contrário, cortá-la-ás' (Lc 13, 6 -9). 

'O machado já está posto à raiz das árvores: toda árvore que não produzir bons frutos será cortada e lançada ao fogo' (Mt 3, 10).

Muitas vezes, a árvore do bem parece estar prosperando, e se enche de folhas viçosas, antecipando farta colheita...

'Compreendei isto pela comparação da figueira: quando seus ramos estão tenros e crescem as folhas, pressentis que o verão está próximo' (Mt 24, 32).

... mas eis, então, que os valores do mundo consomem toda a seiva que, assim, não fecunda os frutos:

'Porquanto cada árvore se conhece pelo seu fruto. Não se colhem figos dos espinheiros, nem se apanham uvas dos abrolhos' (Lc 6, 44).

Aquelas figueiras que não produziram frutos nos tempos da misericórdia, jamais produzirão frutos depois dos tempos da justiça divina:

'Vendo uma figueira à beira do caminho, aproximou-se dela, mas só achou nela folhas; e disse-lhe: Jamais nasça fruto de ti! [referência ao tempo da eternidade]. E imediatamente a figueira secou' (Mt 21, 19 - 20).

As figueiras que produziram figos bons estarão transformadas, na eternidade da glória, em árvores da vida (e não mais como árvores do conhecimento, pois o mal não existe mais), que produzem frutos e frutos que são eternos:

'Mostrou-me então o anjo um rio de água viva resplandecente como cristal de rocha, saindo do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da avenida e às duas margens do rio, achava-se uma árvore da vida, que produz doze frutos, dando cada mês um fruto, servindo as folhas da árvore para curar as nações. Não haverá aí nada de execrável, mas nela estará o trono de Deus e do Cordeiro' (Ap 22, 1 - 3). 

PRIMEIRO SÁBADO DE DEZEMBRO


Mensagem de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, vidente de Fátima: 
                                                                                                                           (Pontevedra / Espanha)

‘Olha, Minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todo o momento Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que a todos aqueles que durante cinco meses seguidos, no primeiro sábado, se confessarem*, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação.’
* Com base em aparições posteriores, esclareceu-se que a confissão poderia não se realizar no sábado propriamente dito, mas antes, desde que feita com a intenção explícita (interiormente) de se fazê-la para fins de reparação às blasfêmias cometidas contra o Imaculado Coração de Maria no primeiro sábado seguinte.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS


A Grande Revelação do Sagrado Coração de Jesus foi feita a Santa Margarida Maria Alacoque durante a oitava da festa de Corpus Christi  de 1675...

         “Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e se consumir para lhes testemunhar seu amor. Como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelas suas irreverências, sacrilégios, e pela tibieza e desprezo que têm para comigo na Eucaristia. Entretanto, o que Me é mais sensível é que há corações consagrados que agem assim. Por isto te peço que a primeira sexta-feira após a oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa particular para  honrar Meu Coração, comungando neste dia, e O reparando pelos insultos que recebeu durante o tempo em que foi exposto sobre os altares ... Prometo-te que Meu Coração se dilatará para derramar os influxos de Seu amor divino sobre aqueles que Lhe prestarem esta honra”.


... e as doze Promessas:
  1. A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de meu Sagrado Coração.
  2. Eu darei aos devotos do meu Coração todas as graças necessárias a seu estado.
  3. Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias.
  4. Eu os consolarei em todas as suas aflições.
  5. Serei seu refúgio seguro na vida, e principalmente na hora da morte.
  6. Lançarei bênçãos abundantes sobre todos os seus trabalhos e empreendimentos.
  7. Os pecadores encontrarão em meu Coração fonte inesgotável de misericórdias.
  8. As almas tíbias se tornarão fervorosas pela prática dessa devoção.
  9. As almas fervorosas subirão em pouco tempo a uma alta perfeição.
  10. Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais empedernidos.
  11. As pessoas que propagarem esta devoção terão os seus nomes inscritos para sempre no meu Coração.
  12. A todos os que comungarem nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna.

    ATO DE DESAGRAVO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS 
    (rezai-o sempre, particularmente nas primeiras sextas-feiras de cada mês)

Dulcíssimo Jesus, cuja infinita caridade para com os homens é deles tão ingratamente correspondida com esquecimentos, friezas e desprezos, eis-nos aqui prostrados, diante do vosso altar, para vos desagravarmos, com especiais homenagens, da insensibilidade tão insensata e das nefandas injúrias com que é de toda parte alvejado o vosso dulcíssimo Coração.

Reconhecendo, porém, com a mais profunda dor, que também nós, mais de uma vez, cometemos as mesmas indignidades, para nós, em primeiro lugar, imploramos a vossa misericórdia, prontos a expiar não só as nossas próprias culpas, senão também as daqueles que, errando longe do caminho da salvação, ou se obstinam na sua infidelidade, não vos querendo como pastor e guia, ou, conspurcando as promessas do batismo, renegam o jugo suave da vossa santa Lei.

De todos estes tão deploráveis crimes, Senhor, queremos nós hoje desagravar-vos, mas particularmente das licenças dos costumes e imodéstias do vestido, de tantos laços de corrupção armados à inocência, da violação dos dias santificados, das execrandas blasfêmias contra vós e vossos santos, dos insultos ao vosso vigário e a todo o vosso clero, do desprezo e das horrendas e sacrílegas profanações do Sacramento do divino Amor, e enfim, dos atentados e rebeldias oficiais das nações contra os direitos e o magistério da vossa Igreja.

Oh, se pudéssemos lavar com o próprio sangue tantas iniquidades! Entretanto, para reparar a honra divina ultrajada, vos oferecemos, juntamente com os merecimentos da Virgem Mãe, de todos os santos e almas piedosas, aquela infinita satisfação que vós oferecestes ao Eterno Pai sobre a cruz, e que não cessais de renovar todos os dias sobre os nossos altares.

Ajudai-nos, Senhor, com o auxílio da vossa graça, para que possamos, como é nosso firme propósito, com a viveza da fé, com a pureza dos costumes, com a fiel observância da lei e caridade evangélicas, reparar todos os pecados cometidos por nós e por nossos próximos, impedir, por todos os meios, novas injúrias à vossa divina Majestade e atrair ao vosso serviço o maior número possível de almas.

Recebei, ó Jesus de Infinito Amor, pelas mãos de Maria Santíssima Reparadora, a espontânea homenagem deste nosso desagravo, e concedei-nos a grande graça de perseverarmos constantes até a morte no fiel cumprimento dos nossos deveres e no vosso santo serviço, para que possamos chegar todos à Pátria bem-aventurada, onde vós, com o Pai e o Espírito Santo, viveis e reinais, Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

03 DE DEZEMBRO - SÃO FRANCISCO XAVIER


Francisco nasceu no castelo de Xavier, em Navarra, na Espanha, a 7 de abril de 1506. Aos dezoito anos foi para Paris estudar, tornando-se doutor e professor. Ao conhecer Santo Inácio de Loyola, sua conversão profunda o levou a ser cofundador da Companhia de Jesus. Tornando-se sacerdote e empenhado no caminho da santidade, São Francisco Xavier (na verdade, de Xavier) foi designado por Santo Inácio a seguir em missão apostólica ao Oriente, para atender o pedido feito pelo Rei João III de Portugal.

Francisco Xavier tinha 35 anos quando cruzou o oceano para evangelizar os domínios portugueses de ultramar. Nesta missão, chegou à cidade de Goa, capital das possessões portuguesas no Oriente, em 6 de maio de 1542. E ali realizou proezas de evangelização, levando as primícias da fé cristã até ao extremo sul da Índia. Neste zelo apostólico, cruzou terras e oceanos em condições de risco extremo, perfazendo, em pouco mais de uma década, uma das mais extraordinárias ações missionárias da história da Igreja. Pregou a palavra de Cristo em inúmeras incursões a áreas remotas e a diferentes povos das possessões portuguesas, da Índia, das ilhas de Málaca, das Molucas e de várias ilhas vizinhas, chegando até o Japão e, mais tarde, até às costas da China, onde veio a falecer, de febre e exaustão, em 3 de dezembro de 1552, aos 46 anos.

O grande Apóstolo do Oriente realizou naquelas regiões milagres portentosos, que incluem vários episódios de ressurreições e feitos espantosos. Seu corpo incorrupto foi exposto em Goa um ano depois de sua morte e seus olhos negros se mantinham como se estivessem vivos, com um olhar penetrante. Mesmo agora, séculos depois, seu corpo incorrupto ainda pode ser visto em Goa. Foi canonizado pelo papa Gregório XV em 12 de março de 1622, junto com Santo Inácio, Santa Teresa de Jesus, São Felipe Neri e Santo Isidoro de Madri. São Francisco Xavier é proclamado pela Igreja como Patrono Universal das Missões, ao lado de Santa Teresinha do Menino Jesus.

(túmulo do santo na Basílica do Bom Jesus em Goa) 

São Francisco Xavier, rogai por nós!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

SOBRE A MANSIDÃO

É certo, ganha-se mais sendo manso do que severo. Dizia São Francisco de Sales que não há nada mais amargo que a noz; mas quando bem preparada, torna-se doce e agradável. O mesmo se dá com as repreensões; embora sejam em si desagradáveis, contudo quando feitas com amor e bondade, são bem aceitas e produzem maior proveito. São Vicente de Paulo dizia que, no governo de seu instituto, fizera apenas três repreensões severas, acreditando ter boas razões para agir assim. Mas depois sempre se arrependeu porque nenhuma surtira efeito, ao passo que as correções feitas com mansidão sempre tiveram bom resultado. 

São Francisco de Sales, por sua mansidão, alcançava dos outros tudo o que desejava. Assim conseguiu levar para Deus os pecadores mais endurecidos. A mesma coisa fazia São Vicente de Paulo que ensinava a seus missionários esta regra: 'A afabilidade, o amor e a humildade têm uma força maravilhosa para ganhar os corações dos homens, e levá-los a abraçar as coisas mais desagradáveis à natureza humana'. Uma vez mandou um grande pecador a um de seus padres para que o convertesse. Mas o missionário, vendo inúteis todos seus esforços, pediu ao santo que lhe dissesse alguma coisa. Ele o fez e o pecador se converteu. Este declarou depois que a singular bondade e extrema caridade do santo lhe ganharam o coração. Por isso o santo não admitia que seus missionários tratassem os seus penitentes com dureza, e lhes dizia que o espírito infernal se serve do rigor de alguns para causar maior dano às almas.

É preciso praticar a benignidade com todos, em todas as circunstâncias e em todo o tempo. Adverte São Bernardo que alguns são mansos enquanto as coisas correm de acordo com sua vontade. Mas quando atingidos por alguma contrariedade ou dificuldade, logo se inflamam, e começam a fumegar como um vulcão. Pode-se chamá-los muito bem de carvões acesos escondidos debaixo de cinzas. Quem quer ser santo, deve ser nesta vida como o lírio entre espinhos. Embora nasça entre eles, não deixa de ser lírio, isto é, sempre igualmente suave e benigno! Quem ama a Deus conserva sempre a paz no coração e a deixa transparecer no rosto, apresentando-se sempre o mesmo, tanto nas dificuldades como na prosperidade: 'As várias solicitações das criaturas não o perturbam na incessante luta da vida. Seu coração é como um santuário onde vive sempre em paz, unido a Deus'. 

Conhecemos o espírito de uma pessoa nas horas difíceis. São Francisco de Sales amava com ternura a Ordem da Visitação que lhe custara tantos trabalhos. Muitas vezes, por causa das perseguições que sofria, viu-a em perigo. Conservou, porém, sempre a mesma paz, contente até mesmo em vê-la destruída, se essa fosse a vontade de Deus. Foi então que ele disse estas palavras: 'De algum tempo para cá, as numerosas oposições e contradições que me têm acontecido me dão uma paz incomparável e muito suave. São sinais da união próxima de minha alma com Deus, e sinceramente, essa é a única ambição de meu coração'. 

Quando nos acontece ter que responder a quem nos maltrata, tenhamos cuidado em responder sempre com mansidão. 'Uma resposta branda aplaca o furor'. Uma resposta suave basta para apagar todo o fogo da raiva. Se nos sentimos aborrecidos, é melhor calar, porque nesse momento nos parece justo dizer o que nos vem na cabeça, mas depois, acalmada a paixão, veremos que todas as palavras que proferimos foram erradas. Quando nos acontece cometer alguma falta, é preciso que usemos de mansidão para conosco mesmos; irritar-se contra nós mesmos, após uma falta, não é humildade, mas refinada soberba, como se nós não fôssemos fracas e miseráveis criaturas. Dizia Santa Teresa: 'A humildade de que inquieta nunca vem de Deus, mas do demônio'.

Zangar-se contra nós mesmos, após uma falta, é uma falta maior do que a cometida, e trará consigo muitas outras, pois nos fará deixar as práticas de piedade, a oração, a comunhão; e, se as fazemos, serão mal feitas. Dizia São Luís Gonzaga que não se enxerga na água turva e nela pesca o demônio. Uma alma perturbada pouco conhece a Deus e aquilo que deve fazer. É preciso, portanto, quando caímos em alguma falta, voltarmo-nos para Deus com humildade e confiança e, pedindo-Lhe perdão, dizer, como Santa Catarina de Gênova: 'Senhor, estas são as ervas do meu jardim! Amo-Vos de todo o coração e me arrependo de Vos ter dado esse desgosto. Não quero mais fazê-lo, dai-me o Vosso auxílio'.

(Santo Afonso Maria de Ligório)