quinta-feira, 23 de julho de 2015

PALAVRAS DE SALVAÇÃO




'Retira o peixe da água e dali a pouco ele estará morto. Retira-te ou afasta-te da oração, e a tua alma vai morrer para Deus e para a graça. Para que o peixe viva, precisa de estar na água; para que a tua alma viva em graça, precisa de estar em oração. Se o peixe tivesse fé e razão, haveria de compreender que tinha o dever rigoroso de não sair da água para não perder a vida; o cristão tem o dever rigoroso de não deixar a oração para não perder a vida da eterna bem-aventurança'.

(São João Crisóstomo)

quarta-feira, 22 de julho de 2015

OUTRAS HISTÓRIAS MEDIEVAIS

'LEVEM OS MEUS OLHOS!'

O Rei Ricardo da Inglaterra, indo ao convento de Santo Emblay, enamorou-se de uma monja. Enviou-lhe muitos presentes e jóias, com a pretensão de vencer sua vontade. Mas como ela não se submetia, mandou avisar a abadessa que a entregasse, sob pena de destruir o convento.

Enviou então uns homens, para que a trouxessem à força. Quando os homens chegaram ao mosteiro, ela lhes perguntou por que o príncipe se havia enamorado dela mais do que das outras monjas. Eles lhe responderam que era por causa da grande beleza de seus olhos. Ela então, com decisão, arrancou os próprios olhos, dizendo aos homens:

'Soldados, levem os meus olhos, já que por eles o rei se enamorou. E deixem a mim, pois amo menos os meus olhos do que minha alma'. E em uma caixinha ela os mandou ao Rei. 

Envergonhado, este dirigiu-se ao mosteiro, para pedir perdão. Pôs a caixa com os olhos sobre o altar da Virgem, dizendo-lhe que não se iria embora até que os restituísse à santa monja. O milagre se fez, e a Virgem restituiu à monja os olhos mais formosos do que antes, fazendo-se o rei devoto de Maria e protetor do mosteiro.

A ESPADA DE SÃO MARTINHO

O Conde de Besalu era um valente que derrotou os mouros em muitas batalhas. Onde havia perigo, lá estava ele com seu exército, e não tardava em dar boa conta das turbas infiéis. Um dia, estando em seu castelo, veio um de seus guardas dizer-lhe que sabia de boa fonte que os mouros subiam de Bañolas em direção a Santa Pau. Imediatamente o Conde reuniu os seus leais, e saiu para enfrentar os mouros e impedir-lhes o avanço.

Quando os encontrou, no mesmo instante, arremeteu-se contra eles com o ímpeto que lhe era peculiar. Mas em pleno combate sua espada se quebrou. Não era o conde homem que se conformasse vendo pelejar seus soldados, mas não lhe era possível seguir lutando desarmado. Recordou-se então de que, muito perto daquele lugar, encontrava-se uma ermida dedicada a São Martinho. Abandonou o combate uns momentos, para dirigir-se a esse lugar. Uma vez ali, ajoelhou-se aos pés do santo e lhe pediu, com todo o fervor, que ele o livrasse do apuro em que se encontrava.

Estava de joelhos, absorto na oração ao santo, quando viu que a imagem deste se movia, e São Martinho, sacando sua espada, ofereceu-a ao conde. Levantou-se o cavaleiro, todo jubiloso, e para certificar-se do que seus olhos estavam vendo, esticou a mão para pegar a espada. Com firmeza a tomou, e depois de dar graças a Deus de todo o coração, saiu depressa em auxílio de seus homens, que estavam perdendo terreno.

Começou a distribuir golpes com sua espada à direita e à esquerda. Seus homens recobraram o valor que haviam perdido momentaneamente, e redobraram seus esforços. Em poucas horas jaziam mortos todos os mouros que haviam iniciado o combate contra a Santa Fé. 

Os cristãos subiram então até Besalu. Quando chegaram a Colsatrapa, sentaram-se para descansar, enquanto contemplavam o panorama de Mirana y Mor. Os soldados elogiavam o conde pelo seu valor. Ele, porém, contestou, dizendo que São Martinho lhe emprestara a espada. Seus homens duvidaram, e ele, para provar a força da espada, deu um forte golpe numa pedra que havia ali, partindo-a em duas. Essa pedra ainda existe e é conhecida como 'Pedra Cortada'.

(Excertos da obra 'Antologia de Leyendas de la Literatura Universal', V. Garcia de Diego, 1953)

22 DE JULHO - SANTA MARIA MADALENA







'Junto à cruz de Jesus, estavam de pé sua mãe e a irmã de sua mãe, Maria de Cleofas, e Maria Madalena' (Jo 19,25).

terça-feira, 21 de julho de 2015

O TRIUNFO DA CRUZ


I. É a Cruz, sobre a terra, mistério profundíssimo, que não se conhece sem muitas luzes. Para compreendê-lo, é necessário um espírito elevado. Entretanto, é preciso entendê-la para que nos possamos salvar.

II. A natureza a abomina, a razão a combate; o sábio a ignora e o demônio a aniquila. Muitas vezes o próprio devoto não a tem no coração e, embora diga que a ama, no fundo é um mentiroso.

III. A cruz é necessária. É preciso sofrer sempre: ou subir o Calvário ou perecer eternamente. E Santo Agostinho exclama que somos réprobos se Deus não nos castiga e nos prova.

IV. Vai-se para a Pátria pelo caminho das cruzes, que é o caminho da vida e o caminho dos reis; toda pedra é talhada proporcionalmente para ser colocada na Santa Sião.

V. De que servirá a vitória ao maior conquistador, se não tiver a glória de vencer-se sofrendo, se não tiver por modelo Jesus morto na Cruz, se, como um infiel, o lenho repelir?

VI. Jesus Cristo por ela acorrentou o inferno, aniquilou o rebelde e conquistou o universo; e Ele a dá como arma aos seus bons servidores; ela encanta ou desarma as mãos e os corações.

VII. 'Por este sinal vencerás', disse Ele a Constantino. Toda vitória insigne se encontra nela. Lede, na história,seus efeitos maravilhosos, suas vitórias estupendas na terra e nos céus.

VIII. Embora contra os sentidos e a natureza, a política e a razão, a verdade nos assegura que a cruz é um grande dom. É nesta princesa que encontramos, em verdade, graça, sabedoria e divindade.

IX. Deus não pôde defender-se contra sua rara beleza. A Cruz o fez baixar à nossa humanidade. Ao vir ao mundo, Ele disse: 'Sim, quero-a, Senhor. Boa Cruz, coloco-vos bem dentro do coração'.

X. Pareceu-lhe tão bela que nela pôs a sua honra, tornando-a a sua eterna companheira e a esposa de seu Coração. Desde a mais terna infância, seu Coração suspirava unicamente pela presença da cruz que amava.

XI. Desde a juventude, ansioso a procurou. De ternura e de amor, em seus braços morreu. 'Desejo um batismo', exclamou Ele um dia: 'a Cruz querida que amo, o objeto de meu amor!'

XII. Chamou a São Pedro Satanás escandaloso, quando ele tentou desviar seus olhos da Cruz aqui na terra. Sua Cruz é fruto de adoração, sua mãe não o é. Ó grandeza inefável, que a terra desconhece!

XIII. Esta cruz, dispersa por tantos lugares da terra, será ressuscitada e transportada para os Céus. A cruz, sobre uma nuvem cheia de brilho rutilante, julgará, por sua visão, os vivos e os mortos.

XIV. Clamará vingança contra seus inimigos, alegria e indulgência para todos os seus amigos. Dará glória a todos os bem-aventurados e cantará vitória na terra e nos céus.

XV. Durante sua vida, os santos só procuraram a cruz, seu grande desejo e sua escolha única. E, não contentes de ter as cruzes que lhes dava o céu; a outras, inteiramente novas, cada um se condenava.

XVI. Para São Pedro, as cadeias constituíam honra maior do que ser o vigário de Cristo na terra. 'Ó boa Cruz', exclamava, cheio de fé, Santo André: 'Que eu morra em ti, para que me dês a vida!'

XVII. E vede, São Paulo esquecia seu grande êxtase para se glorificar tão somente na cruz. Sentia-se mais honrado em seus cárceres horrendos que no êxtase admirável que o arrebatou aos céus.

XVIII. Sem a cruz, a alma se torna lenta, mole, covarde e sem coração. A cruz a torna fervorosa e cheia de vigor. Permanecemos na ignorância quando nada sofremos. Temos inteligência quando sofremos bem.

XIX. Uma alma sem provações não tem grande valor. É a alma nova ainda, que nada aprendeu. Ah! que doçura suprema goza o aflito que se rejubila com sua pena e dela não é aliviado!

XX. É pela Cruz que se dá a bênção, é por ela que Deus nos perdoa e nos concede remissão. Ele quer que todas as coisas tragam este selo, sem o qual nada lhe parece belo.

XXI. Colocada a cruz em algum lugar, torna-se sagrado o profano e desaparecem as manchas, porque Deus delas se apodera. Ele quer a Cruz em nossa fronte e em nosso coração, antes de todos os atos, para que sejamos vencedores.

XXII. Ela é nossa proteção, segurança, perfeição e única esperança. É tão preciosa que uma alma que já está no céu voltaria alegremente à terra para sofrer.

XXIII. Tem este sinal tantos encantos que, no altar, o sacerdote não se vale de outras armas para atrair Deus lá do céu. Faz sobre a hóstia vários sinais da Cruz e, por esses sinais de vida, dita-lhe suas leis.

XXIV. Por este sinal adorável, prepara-se um perfume cujo odor agradável nada tem de comum; é o incenso que se dá a Ele uma vez consagrado, e é com esta coroa que Ele desejaria ser ornado.

XXV. A Eterna Sabedoria procura, ainda hoje, um coração bem fiel e digno deste presente. Quer um verdadeiro sábio, que goste apenas de sofrer e, com coragem, leve a sua cruz até morrer.

XXVI. Devo calar-me, ó Cruz, rebaixo-te ao falar. Sou um temerário e um insolente; já que te recebi de coração constrangido e não te conheci, perdoa meu pecado!

XXVII. Ó Cruz querida, já que nesta hora te conheço, faze de mim tua morada e dita-me tuas leis. Cumula-me, ó princesa minha, com teus castos amores, e faze que eu conheça os teus mais secretos encantos!

XXVIII. Ao ver-te tão bela, bem queria possuir-te, mas meu coração infiel me prende ao meu dever; se queres, Senhora minha, animar meu langor e sustentar minha fraqueza, dou-te o meu coração.

XXIX. Tomo-te para minha vida, meu prazer e minha honra, minha única ventura. Imprime-te, eu te rogo, em meu coração e no meu braço, na minha fronte e na minha face. Não me envergonharei de ti!

XXX. Tomo, para minha riqueza, tua rica pobreza, e, por ternura, tuas doces austeridades. Que tua prudente loucura e tua santa desonra sejam toda a glória e grandeza de minha vida!

XXXI. Minha vitória estará em ser derrotado por tua virtude e para tua maior glória. Não sou, porém, digno de morrer sob teus golpes, nem de ser contrariado por todos.

(Excertos da obra 'Carta aos Amigos da Cruz', de São Luís Grignion de Montfort)

segunda-feira, 20 de julho de 2015

FOTO DA SEMANA

DOS GRAUS DE EXCELÊNCIA DA ORAÇÃO

1. A Oração Dominical, entre todas, é a oração por excelência, pois possui as cinco qualidades requeridas para qualquer oração. A oração deve ser: confiante, reta, ordenada, devota e humilde.

2. A oração deve ser confiante, como São Paulo escreve aos Hebreus (4, 16): 'Aproximemo-nos com confiança do trono da graça, a fim de alcançar a misericórdia e achar a graça para sermos socorridos no tempo oportuno'. A oração deve ser feita com fé e sem hesitação, segundo São Tiago (1,6): 'Se algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus... Mas peça-a com fé e sem hesitação'.

Por diversas razões, o Pai Nosso é a mais segura e confiante das orações. A Oração Dominical é obra de nosso advogado, do mais sábio dos pedintes, do possuidor de todos os tesouros de sabedoria (Cl 2, 3), daquele de quem diz São João (I: 2,1): 'Temos um advogado junto ao pai: Jesus Cristo, o Justo'. São Cipriano escreveu em seu Tratado da oração dominical: 'Já que temos o Cristo como advogado junto ao Pai, por nossos pecados, em nossos pedidos de perdão, por nossas faltas, apresentemos em nosso favor, as palavras de nosso advogado'.

A Oração Dominical parece-nos também que deve ser a mais ouvida porque aquele que, com o Pai, a escuta é o mesmo que no-la ensinou; como afirma o Salmo 90 (15): 'Ele clamará por mim e eu o escutarei. 'É rezar uma prece amiga, familiar e piedosa ao se dirigir ao Senhor com suas próprias palavras' diz São Cipriano. Nunca se deixa de tirar algum fruto desta oração que, segundo santo Agostinho, apaga os pecados veniais.

3. Nossa oração deve, em segundo lugar, ser reta, quer dizer, devemos pedir a Deus os bens que nos sejam convenientes.: 'A oração', diz São João Damasceno, 'é o pedido a Deus dos dons que convém pedir'. Muitas vezes, a oração não é ouvida por termos implorado bens que verdadeiramente não nos convêm. 'Pediste e não recebeste, porque pediste mal', diz São Tiago (Tg 4,3).

É tão difícil saber com certeza o que devemos pedir, como saber o que devemos desejar... O Apóstolo reconhece, quando escreve aos Romanos (8, 26): 'Não sabemos pedir como convém, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis'. Mas não é o Cristo que é nosso doutor? Não foi ele que nos ensinou o que devemos pedir, quando seus discípulos disseram: 'Senhor, ensinai-nos a rezar?' (Lc 11, 1). Os bens que ele nos ensina a pedir, na oração, são os mais convenientes. 'Se rezamos de maneira conveniente e justa', diz Santo Agostinho, 'quaisquer que sejam os termos que empregamos, não diremos nada mais do que o que está contido na Oração Dominical'.

4. — Em terceiro lugar, a oração deve ser ordenada, como o próprio desejo que a prece interpreta. A ordem conveniente consiste em preferirmos, em nossos desejos e preces, os bens espirituais aos bens materiais, as realidades celestes às realidades terrenas, de acordo com a recomendação do Senhor (Mt 6,33): 'Procurai primeiro o reino de Deus e sua justiça e o resto — o comer, o beber e o vestir — ser-vos-á dado por acréscimo'. Na Oração Dominical, o Senhor nos ensina a observar esta ordem: primeiro pedimos as realidades celestes e, em seguida, os bens terrestres.

5. Em quarto lugar, a oração deve ser devota. A excelência da devoção torna o sacrifício da oração agradável a Deus. 'Em vosso nome, Senhor, elevarei minhas mãos', diz o Salmista, 'e minha alma é saciada como de fino manjar'. A prolixidade da oração, no mais das vezes, enfraquece a devoção; também o Senhor nos ensina a evitar essa prolixidade supérflua: 'Em vossas orações não multipliqueis as palavras; como fazem os pagãos' (Mt 6,7). Santo Agostinho recomenda, escrevendo a Proba: 'Tirai da oração a abundância de palavras; no entanto não deixeis de suplicar, se vossa atenção continua fervorosa'. Esta é a razão pela qual o Senhor instituiu a breve oração do Pai Nosso.

6. A devoção provém da caridade, que é o amor de Deus e do próximo. O Pai Nosso é uma manifestação destes dois amores. Para mostrar nosso amor a Deus, o chamamos 'Pai' e para mostrar nosso amor ao próximo, pedimos por todos os homens justos, dizendo: 'Pai nosso', e empurrados pelo mesmo amor, acrescentamos: 'perdoai as nossas dívidas'.

7. Em quinto lugar, nossa oração deve ser humilde, segundo o que diz o Salmista (Sl 101, 18): 'Deus olhou para a prece dos humildes'. Uma oração humilde é uma oração que certamente será ouvida, como nos mostra o Senhor, no evangelho do Fariseu e do Publicano (Lc 18, 9-15) e Judite, rogando ao Senhor, dizia: 'Vós sempre tivestes por agradável a súplica dos humildes e dos mansos'. Esta humildade está presente na Oração Dominical, pois a verdadeira humildade está naquele que não confia em suas próprias forças, mas tudo espera do poder divino.

(Dos Sermões de São Tomás de Aquino)

sexta-feira, 17 de julho de 2015

DAS GRAÇAS EXCELSAS DE MARIA (III)

O SORRISO DE MARIA

Esta lembrança de Maria não pode deixar de nos cativar os corações e elevá-los ao céu. Mas, para tornar ainda mais doce e atraente esta lembrança, imaginemos a Virgem a esboçar este suave sorriso, que afasta toda timidez e nos dá a impressão de estarmos tratando com uma mãe, com a mais amorosa das mães. A este respeito, recordamos aqui um episódio das aparições de Lourdes. Trata-se do sr. Conde de Bruissard, convertido pelo sorriso da Virgem. Deixemo-lo narrar o fato (A grinalda de Maria):

'Estava eu em Cauterets, conta-nos ele, no momento em que se falava tanto das aparições. Não acreditava mais nestas aparições do que na existência de Deus. Era um libertino e, mais do que isto, era um ateu. Tendo lido em um dos nossos jornais que Bernadete tivera uma aparição, no dia 16 de julho, e que a Virgem lhe sorria, resolvi ir a Lourdes, por curiosidade, e tomar a menina em uma flagrante mentira.

Dirigi-me à casa dos Soubirous, e lá encontrei Bernadete no limiar da habitação, consertando um par de meias pretas. A mim Bernadete pareceu bastante vulgar. Entretanto, o seu aspecto sofredor tinha uma certa doçura. A meu pedido ela me contou as suas aparições com uma simplicidade e segurança que me impressionaram. Enfim, disse-lhe eu, como é que esta bela senhora sorria?

A jovem pastora olhou-me com certo espanto e, após um momento de silêncio, assim falou: 'Ó senhor, para reproduzir esse sorriso, seria preciso ir até ao Céu' - 'E não poderíeis vós reproduzi-lo para mim? Sou um incrédulo, e não creio em vossas aparições'. O semblante da jovem anuviou-se, e tomou uma expressão severa: 'Então, o sr. julga-me uma mentirosa?' Senti-me desarmado. Não, Bernadete não era mentirosa, e quase que me pus de joelhos a perdir-lhe perdão. 'Já que sois um pecador', respondeu ela, 'eis qual foi o sorriso da Virgem'.

Lentamente, a jovem elevou-se, juntou as mãos e esboçou um sorriso celestial que jamais eu vi em lábios mortais. Sua fisionomia iluminara-se de um reflexo perturbador. Ela ainda sorria, com os olhos elevados ao céu, e eu estava de joelhos aos seus pés, certo de ter admirado no semblante da vidente o sorriso da Santíssima Virgem. Desde então conservo comigo, no íntimo da alma, esta lembrança divina que me enxugou muitas lágrimas. Perdi minha mulher e minhas duas filhas, e me parece não estar só no mundo: Vivo com o sorriso da Virgem'.

'Viver com o sorriso da Virgem!' Talvez nunca tenhas pensado nesta prática, piedoso filho de nossa Mãe! E, entretanto, que fonte de pensamentos sublimes e luminosos! Muitas vezes, sentimo-nos inclinados à tristeza; nossos ombros curvam-se quase sempre ao peso do acabrunhamento ou do desgosto. Contemplai então o sorriso da Virgem!

Este sorriso é a confiança, é o abandono, é o amor, irradiando sobre a nossa alma e envolvendo-a como que em uma atmosfera de paz e de tranquilidade. Ó terna Mãe, doravante o vosso sorriso ilumine a minha vida e presida as minhas alegrias como as minhas lágrimas, santificando as primeiras e enxugando as segundas. Possa ele, ainda, preservar-me do mal, excitar-me à virtude, guiar-me durante a vida e tranquilizar-me na hora da morte, pois é, sob este sorriso suave, que eu quero viver e morrer.

(Excertos da obra 'Por que amo Maria', pelo Pe. Júlio Maria)