quarta-feira, 2 de julho de 2014

O AMOR SEM MEDIDAS

'Nosso Senhor Jesus Cristo quer estabelecer em nós um amor apaixonado por Ele. Toda virtude, todo pensamento que não termina numa paixão, que não acaba por tornar-se uma paixão, nada de grande produzirá jamais. (...)

O amor só triunfa quando é, em nós, uma paixão vital. Sem isso, podem produzir-se atos isolados de amor, mais ou menos frequentes; a vida não é tomada, não é nada (...). Nosso amor, para ser uma paixão, deve sofrer as leis das paixões humanas. Falo das paixões honestas, naturalmente boas; pois as paixões são diferentes em si mesmas; nós as tornamos más quando as dirigimos para o mal, mas só de nós depende utilizá-las para o bem.

Ora, a paixão que domina o homem, concentra-o. Tal homem quer chegar a uma determinada posição honrosa e elevada. Só para isso trabalhará dez, vinte anos, não importa. Chegarei, diz ele; faz unidade: tudo se acha reduzido a servir esse pensamento, esse desejo, deixa de lado tudo quanto não o conduzir a seu objetivo. Eis como se chega no mundo ao que se deseja; essas paixões podem tornar-se más, e ai! Muitas vezes não são mais que um crime contínuo; mas enfim podem ser e são ainda honoríficas. Sem uma paixão, nada se alcança: a vida carece de objetivo; arrasta-se uma vida inútil.

Pois bem, na ordem da salvação, é preciso ter também uma paixão que nos domine a vida e a faça produzir, para a glória de Deus, todos os frutos que o Senhor espera. Amai tal virtude, tal verdade, tal ministério apaixonadamente. Devotai-lhe a vossa vida, consagrai-lhes os vossos pensamentos e trabalhos; sem isso, nada alcançareis jamais, sereis apenas um assalariado, jamais um herói (...)

Ah! no Juízo, não serão tanto os nossos pecados que nos aterrorizarão e nos serão censurados; estão irrevogavelmente perdoados. Nosso Senhor nos censurará pela nossa falta de amor! 'Vós me amastes menos que às criaturas! Vós não fizestes de Mim a felicidade de vossa vida! Vós me amastes o bastante para não me ofender mortalmente; mas não para viver de Mim!' (...)

Podeis dizer: Mas é exagero tudo isso. Mas que é o amor, senão exagero? Exagerar é ultrapassar a lei; pois bem, o amor deve exagerar! (...) Vamos! Exageremos no amor a Nosso Senhor! Amemos um pouco mais por Ele; saibamos nos esquecer e nos dar ao nosso Salvador! Imolemo-nos um pouco! Considerai-vos como estes círios, esta lâmpada, que se consomem sem deixar vestígios, sem nada reservar'.

(Excertos da obra 'O Santíssimo Sacramento' , de São Pedro Julião Eymard)

terça-feira, 1 de julho de 2014

JESUS, MÉDICO DE NOSSAS ALMAS!

Et orietur vobis, timentibus nomen meum, sol iustitiae, et sanitas in pennis eius — 'Para vós, os que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, e estará a salvação nas suas asas' (Mal 4, 2).

Sumário. Por muito que os médicos terrestres amem os doentes, nenhum tomará sobre si as doenças a fim de as curar. Somente Jesus-Menino foi o médico tão caridoso, que tomou sobre si todas as nossas enfermidades e, para delas nos livrar, tomou o remédio amargoso de uma vida de trabalhos contínuos e de uma morte dolorosíssima sobre um patíbulo infame. Admiremos a grande bondade do Divino Redentor, agradeçamo-la e retribuamos-Lhe com o nosso amor.

I. Virá, disse o Profeta, o vosso médico para curar os enfermos; e virá depressa, qual pássaro que voa, ou qual sol que ao sair no horizonte já envia os seus raios até a extremidade da terra. Mas eis que já veio. Consolemo-nos e rendamos-Lhe ações de graças. Diz Santo Agostinho: Descendit usque ad lectum aegrotantis. Jesus abaixou-se até ao leito do enfermo, quer dizer, até tomar a nossa carne; porquanto os corpos são como que os leitos das nossas almas enfermas. Por muito amor que os outros médicos tenham aos doentes, por muito que se esforcem para lhes restituir a saúde: qual é o médico que para curar um doente toma sobre si a doença? Tal médico tem sido tão somente Jesus Cristo que, para nos curar, tomou sobre si todas as nossas enfermidades.

Nem quis mandar outro qualquer; Ele mesmo quis vir para desempenhar o ofício de médico piedoso, a fim de ganhar todo o nosso amor: Languores nostros ipse tulit, et dolores nostros ipse portavit  — 'Tomou sobre si as nossas fraquezas, e Ele mesmo carregou com as nossas dores'. Com o seu próprio Sangue, quis Jesus sarar as nossas chagas e com a sua morte livrar-nos da morte eterna por nós merecida. Numa palavra, quis tomar o remédio amargo de uma vida de trabalhos contínuos e de uma morte crudelíssima, para nos dar a vida e nos livrar de todos os nossos males.

Calicem quem dedit mihi Pater, non bibam illum? — 'Não queres', disse o Senhor a São Pedro, 'que eu beba o cálice que o Pai meu deu?' Foi necessário que Jesus Cristo abraçasse tantas ignominias, para curar o nosso orgulho; que abraçasse uma vida tão pobre, para curar a nossa cobiça; que abraçasse um oceano de sofrimentos até morrer de pura dor, para sarar a nossa avidez de prazeres.

II. Para retribuirmos a Jesus o seu entranhado amor para conosco, amemo-Lo com todas as nossas forças, e não recuemos diante de qualquer sacrifício por amor d'Ele. E, visto que Ele disse que considera como feito a si o que fizermos a um dos seus irmãos mais pequeninos, amemos também ao próximo por amor de Jesus Cristo; saibamo-nos compadecer das suas fraquezas e socorrê-los em suas necessidades.

Ó amado Redentor, seja para sempre louvado e bendito o vosso amor! Que seria da minha alma,enferma e chagada como estava pelos meus pecados, se Vós, ó meu Jesus, a não pudésseis e quisésseis sarar? Ó Sangue do meu Salvador, em vós confio; limpai-me e curai-me. Meu amor, pesa-me de Vos haver ofendido. Para me provar o amor que me tendes, levastes uma vida tão cheia de tribulações e uma morte tão amargosa. Também eu quisera provar-Vos o meu amor; mas que posso fazer, fraco e enfermo como sou? Ó Deus de minha alma, Vós sois todo-poderoso, Vós me podeis curar e fazer-me santo.

Ó Senhor, acendei em mim um grande desejo de Vos dar gosto. Renuncio a todas as minhas satisfações para Vos agradar, meu Redentor, que tanto mereceis que a todo o custo Vos procuremos agradar. Ó Bem supremo, amo-Vos e estimo-Vos acima de todos os bens; fazei com que Vos ame de todo o meu coração e Vos peça sempre o vosso amor. Pelo passado Vos ofendi e não Vos amei, porque não pedi o vosso amor. Agora Vo-lo peço, juntamente com a graça de o pedir sempre. Atendei-me pelos merecimentos da vossa Paixão. — Ó Maria, minha Mãe, vós estais sempre disposta a atender a quem vos roga, e amais a quem Vos ama: amo-vos, minha Rainha; alcançai-me a graça de amar a Deus; é tudo quanto vos peço. 

(Excertos da obra 'Meditações para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II, de Santo Afonso Maria de Ligório)

segunda-feira, 30 de junho de 2014

OS SANTOS E O PURGATÓRIO

'Devemos ajudar aos que se acham no purgatório. Seria por demais insensível quem não auxiliasse um ser querido encarcerado na terra; mais insensível ainda é o que não auxilia a um amigo que está no purgatório, pois não há comparação entre as penas deste mundo e as de lá'.

(São Tomás de Aquino)

'Se soubéssemos como é grande o poder das boas almas do Purgatório [em nosso favor] sobre o Coração de Jesus, e se soubéssemos também quantas graças poderíamos obter por intercessão delas, é certo, não seriam tão esquecidas'.

(São João Batista Vianney, o Cura D'Ars)

'A alma justa, ao sair de seu corpo, vendo em si mesma alguma coisa que empana a sua inocência primitiva e se opõe a sua união com Deus, experimenta uma aflição incomparável; e como sabe muito bem que este impedimento não pode ser destruído senão pelo fogo do purgatório, desce ali subitamente e com plena vontade (…) Sabendo que o purgatório é o banho destinado a lavar estas espécies de manchas, corre até ele (…), pensando muito menos nas dores que lhe esperam do que na felicidade de encontrar ali sua primitiva pureza'.

(Santa Catarina de Gênova)

'Se Jesus Cristo disse que há faltas que não serão perdoadas nem neste mundo nem no outro, é sinal de que há faltas que, sim, são perdoadas no outro mundo'.

(São Gregório Magno)

'Sepultem meu corpo onde queiram, porém lhes peço que, de onde quer que estejam, recordem-se de mim diante do altar do Senhor'.

(Santa Mônica)

'Que se recordem com piedoso afeto daqueles que foram meus pais na terra… para que aquilo que minha mãe me pediu no último instante, seja-lhe concedido mais abundantemente pelas orações de muitos, provocadas por estas Confissões e não unicamente pelas minhas orações' (...) 'O sofrimento do purgatório é muito mais penoso que tudo o que se pode sofrer neste mundo'.

(Santo Agostinho)

'Se o Senhor promete ser misericordioso para com os que praticam misericórdia: “Bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia” (Mt 5, 7), com muita razão pode esperar a salvação quem procura socorrer as almas do purgatório, tão aflitas e tão caras a Deus'.

(Santo Afonso Maria de Ligório)

domingo, 29 de junho de 2014

AS COLUNAS DA IGREJA

Páginas do Evangelho - São Pedro e São Paulo Apóstolos


Neste domingo, a liturgia católica celebra a Solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, primícias da fé, fundamentos da Igreja. 'Naquele tempo', as mensagens e as pregações públicas de Jesus estavam consolidadas; os milagres e os poderes sobrenaturais do Senhor eram de conhecimento generalizado; multidões acorriam para ver e ouvir o Mestre, dominados pela falsa expectativa de encontrar um personagem mítico e um Messias dominador do mundo. Na oração profunda, Jesus afasta-se do júbilo fácil do mundo e das multidões errantes, que O tomam por João Batista, por Elias, por um dos antigos profetas. Jesus, então, reúne os seus discípulos e lhes pede o testemunho próprio:  'E vós, quem dizeis que eu sou?' (Mt 16, 15). Por inspiração divina, a resposta de Pedro é uma confissão extremada da fé humana: 'Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo' (Mt 16, 16).

E, diante tal testemunho do Apóstolo, Jesus impõe a ele as primícias do  papado e da Igreja: 'Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la' (Mt 16, 18). Esta será a Igreja Militante, a Igreja Temporal, A Igreja da terra, obra temporária a caminho da Igreja Eterna do Céu. Mas ligada a Pedro e aos sucessores de Pedro, sumos pontífices herdeiros da glória, poder e realeza de Cristo.

(Cristo entrega as chaves a São Pedro - Basílica de Paray-le-Monial, França)

E Jesus vai declarar, em seguida e sem condicionantes, o poder universal e sobrenatural da Santa Igreja Católica Apostólica e Romana: 'Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que desligares na terra será desligado nos céus' (Mt 16, 19). Ligado ou desligado. Poder absoluto, domínio universal, primado da verdade, Cátedra de Pedro. Na terra árida de algum ermo qualquer da 'Cesareia de Felipe', erigiu-se naquele dia, pela Vontade Divina, nas sementeiras da humanidade pecadora, a Santa Igreja, a Videira Eterna.

Com São Paulo, a Igreja que nasce, nasce com um gigante do apostolado e se afirma como escola de salvação universal. Eis aí a síntese do espírito cristão levado à plenitude da graça: Paulo se fez 'outro Cristo' em Roma, na Grécia, entre os gentios do mundo. No apostolado cristão de São Paulo, está o apostolado cristão de todos os tempos; a síntese da cristandade nasceu, cresceu e se moldou nos acordes pautados em suas epístolas singulares proferidas aos Tessalonicenses, em Éfeso ou em Corinto. Síntese de fé, que será expressa pelas próprias palavras de São Paulo: 'Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé' (2Tm 4,7).

(São Paulo Apóstolo - Basílica de Alba, Itália)

São Pedro foi o patriarca dos bispos de Roma, São Paulo foi o patriarca do apostolado cristão. Homens de fé e coragem extremadas, foram as colunas da Igreja. São Pedro morreu na cruz, São Paulo morreu por decapitação pela espada. Mártires, percorreram ambos os mesmos passos da Paixão do Senhor. E se ergueram juntos na Glória de Deus pela Ressurreição de Cristo.

29 DE JUNHO - FESTA DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO

FUNDAMENTOS DA IGREJA

São Pedro e São Paulo - Jusepe de Ribera (1591 - 1652)

"Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mt 16,16).

“Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé” (II Tm 4,7).

Excertos da Homilia do Papa João Paulo II, na Solenidade de São Pedro e São Paulo, em 29/06/2000


Jesus dirige aos discípulos esta pergunta acerca da sua identidade, enquanto se encontra com eles na Alta Galileia. Muitas vezes acontecera que foram eles a interrogar Jesus; agora é Ele quem os interpela. A sua pergunta é específica e espera uma resposta. Simão Pedro toma a palavra em nome de todos:  "Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo" (Mt 16, 16). A resposta é extraordinariamente lúcida. Nela se reflete de modo perfeito a fé da Igreja. Nela nos refletimos também nós. De modo particular, reflete-se nas palavras de Pedro o Bispo de Roma, por vontade divina, seu indigno sucessor.

2. "Tu és o Cristo!". À confissão de Pedro, Jesus replica:  "És feliz, Simão, filho  de  Jonas,  porque  não  foram  a carne nem o sangue quem to revelou, mas  o  Meu  Pai  que  está  nos  céus" (Mt 16, 17).

És feliz, Pedro! Feliz, porque esta verdade, que é central na fé da Igreja, não podia emergir na tua consciência de homem, senão por obra de Deus. "Ninguém, disse Jesus, conhece o Filho senão o Pai, como ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar" (Mt 11, 27). Reflitamos sobre esta página evangélica particularmente densa:  o Verbo encarnado revelara o Pai aos seus discípulos; agora é o momento em que o próprio Pai lhes revela o seu Filho unigênito. Pedro acolhe a iluminação interior e proclama com coragem:  "Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo"!

Estas palavras nos lábios de Pedro provêm do profundo do mistério de Deus. Revelam a verdade íntima, a própria vida de Deus. E Pedro, sob a ação do Espírito divino, torna-se testemunha e confessor desta soberana verdade. A sua profissão de fé constitui assim a sólida base da fé da Igreja:  "Sobre ti edificarei a minha Igreja" (Mt 16, 18). Sobre a fé e a fidelidade de Pedro está edificada a Igreja de Cristo.

3. "O Senhor assistiu-me e deu-me forças a fim de que a palavra fosse anunciada por mim e os gentios a ouvissem" (2 Tm 4, 17). São palavras de Paulo ao fiel discípulo Timóteo:  escutamo-las na Segunda Leitura. Elas dão testemunho da obra nele realizada pelo Senhor, que o tinha escolhido como ministro do Evangelho, "alcançando-o" na via de Damasco (cf. Fl 3, 12). Envolvido numa luz fulgurante, o Senhor se lhe havia apresentado, dizendo:  "Saulo, Saulo, por que Me persegues?" (Act 9, 4), enquanto uma força misteriosa o lançava por terra (cf. ibid., v. 5).

"Quem és Tu, Senhor?", perguntara Saulo. "Eu sou Jesus, a quem tu persegues!" (ibid.). Foi esta a resposta de Cristo. Saulo perseguia os seguidores de Jesus e Jesus fez-lhe tomar consciência de que era Ele mesmo a ser perseguido neles. Ele, Jesus de Nazaré, o Crucificado, que os cristãos afirmavam ter ressuscitado. De Damasco, Paulo iniciará o seu itinerário apostólico, que o levará a defender o Evangelho em tantas partes do mundo então conhecido. O seu impulso missionário contribuirá assim para a realização do mandato de Cristo aos Apóstolos:  "Ide, pois, ensinai todas as nações..." (Mt 28, 19).

4. Caríssimos Irmãos no Episcopado vindos para receber o Pálio, a vossa presença põe em eloquente ressalto a dimensão universal da Igreja, que derivou do mandato do Senhor:  "Ide... ensinai todas as nações" (Mt 28, 19). Todas as vezes que vestirdes estes Pálios, recordai, Irmãos caríssimos que, como Pastores, somos chamados a salvaguardar a pureza do Evangelho e a unidade da Igreja de Cristo, fundada sobre a "rocha" da fé de Pedro. A isto nos chama o Senhor; esta é a nossa irrenunciável missão de guias previdentes do rebanho que o Senhor nos confiou.

5. A plena unidade da Igreja! Sinto ressoar em mim a recomendação de Cristo. Deus nos conceda chegarmos quanto antes à plena unidade de todos os crentes em Cristo. Obtenhamos este dom dos Apóstolos Pedro e Paulo, que a Igreja de Roma recorda neste dia, no qual se faz memória do seu martírio e, por isso, do seu nascimento para a vida em Deus. Por causa do Evangelho, eles aceitaram sofrer e morrer e se tornaram partícipes da ressurreição do Senhor. A sua fé, confirmada pelo martírio, é a mesma fé de Maria, a Mãe dos crentes, dos Apóstolos,  dos Santos  e Santas  de  todos  os séculos.

Hoje a Igreja proclama de novo a sua fé. É a nossa fé, a imutável fé da Igreja em Jesus, único Salvador do mundo; em Cristo, o Filho de Deus vivo, morto e ressuscitado por nós e para a humanidade inteira.

sábado, 28 de junho de 2014

SERMÕES DO CURA D'ARS (I)

SOBRE AS TENTAÇÕES

As tentações são necessárias para que possamos perceber que não somos nada por nós mesmos. Santo Agostinho diz-nos que deveríamos agradecer a Deus tanto pelos pecados dos quais Ele nos preservou, como pelos pecados que Ele, por caridade, nos perdoou. Caso venhamos a cair nas ciladas do demônio, nós pensamos que somos capazes de nos levantarmos novamente, confiando muito mais nas nossas promessas e resoluções do que na força de Deus. Isto é uma grande verdade! Quando nós não temos nada do que nos envergonhar, quando todas as coisas estão correndo bem e de acordo com os nossos desejos, nós ousamos pensar que nada poderia nos derrubar. Nós esquecemos facilmente do nosso próprio nada e de nossa fraqueza interior. Chegamos mesmo a protestar, que estamos prontos a morrer do que permitirmos sermos vencidos. 

Nós vemos o esplêndido exemplo de São Pedro, que disse ao Senhor que ainda que todos se escandalizassem Dele, ele não se escandalizaria. Coitado! Para mostrar-lhe, como o homem entregue às suas próprias forças, não é absolutamente nada, Deus fez uso, não de reis, príncipes ou armas, mas sim da voz de uma simples empregada na noite da prisão de Jesus, que confrontou Pedro com um monte de interrogações. E nesse momento Pedro protesta dizendo que nem sequer conhecia o Senhor, e fez de contas que nem sabia do que ela estava falando. Para assegurar aos presentes, de um modo ainda mais veemente de que ele não conhecia Jesus, ele chegou mesmo a jurar! Ó Senhor, o que não somos capazes de fazer quando nós estamos entregues a nós mesmos! 

Existem pessoas, que fazem questão de dizer, o quanto eles invejam os santos que fizeram grandes penitências! Eles chegam a acreditar que poderiam fazer o mesmo! Às vezes quando lemos sobre a vida de alguns mártires, nós gostaríamos, nós pensamos, estarmos prontos para sofrer tudo que eles sofreram por amor a Deus. Chegamos ao ponto de pensar: é um momento de sofrimento muito curto para a recompensa que vamos receber no Céu! Mas o que faz Deus para nos ensinar a nos conhecermos, ou melhor, para reconhecermos que não somos absolutamente nada? 

Eis o que Ele faz: Ele permite que o demônio se aproxime um pouquinho mais de nós. E nesse momento, veja o que acontece com os cristãos que há apenas uns minutos atrás invejavam aquele eremita que vivia retirado no deserto, alimentando-se somente de ervas e raízes e que fez a firme resolução de submeter seu corpo a duras penitências. Coitado! Uma leve dor de cabeça, a simples espetada de um espinho, o faz se condoer todo por si próprio! Não importando o quão grande e forte ele possa aparentar. Ele se aborrece, reclama da dor. A poucos momentos atrás, estava disposto a fazer todas as penitências dos anacoretas (monges do deserto) e agora, o menor contratempo o faz cair no desespero! 

Agora vejamos esse outro cristão, que parece querer entregar toda sua vida a Deus. Que possui um ardor que tormento algum poderia apagar! Um pequeno escândalo... uma palavra de calúnia... e até mesmo uma fria receptividade ou pequena injustiça cometida contra ele... uma gentileza retribuída com ingratidão... imediatamente desperta nele todos os sentimentos de ódio, vingança e descontentamento, a ponto de frequentemente, ele desejar nunca mais ver o seu próximo ou pelo menos tratá-lo de um modo frio, de forma a demonstrar o quanto aquela pessoa o ofendeu. E quantas vezes, isso se torna o seu primeiro pensamento ao acordar, assim como o pensamento que sempre o impede de dormir em paz? Coitado! Meus caros amigos, nós somos umas coisas pobres, e por isso deveríamos contar muito pouco com nossas próprias resoluções. 

Cuidado se você não sofre tentações! A quem o demônio mais persegue? Talvez você ache que as pessoas que são mais tentadas, são indubitavelmente, os beberrões, os provocadores de escândalos, as pessoas imodestas e sem vergonha que deitam e rolam na sujeira e na miséria do pecado mortal, que se enveredam por toda espécie de maus caminhos. Não, meu caro irmão! Não são essas pessoas! Ao contrário, o demônio os deixa de lado, ou seja, ele se apóia nelas enquanto elas vivem, porque do contrário ele não teria tanto tempo para fazer o mal. Isso porque, quanto mais tempo essas pessoas viverem, mais seus maus exemplos arrastarão outras almas para o Inferno. 

De fato, se o demônio tivesse perseguido esse velho companheiro obsceno e sem-vergonha, ele teria encurtado a duração de sua vida em 15 ou 20 anos, de forma que ele não teria destruído a virgindade daquela garota ali, seduzindo-a para a inominável mira de suas indecências. Ele não teria novamente seduzido aquela mulher casada e nem ensinado suas más lições àqueles rapazinhos, que talvez as continue a praticar até o final de suas vidas. 

Se o demônio tivesse incitado a este ladrão ali na frente, a roubar em tudo quanto é ocasião, ele teria ido acabar na forca e não teria tempo pra induzir seu vizinho a seguir seu mau exemplo. Se o demônio tivesse encorajado esse beberrão ali, a se embebedar incessantemente com o vinho, ele já teria morrido a muito tempo atrás nas suas libertinagens, e não teria tempo de fazer com que outros seguissem seu mesmo caminho. Se o demônio tivesse tirado a vida deste músico ali, ou daquele organizador de bailes, ou daquele dono de cabaré, em algum tipo de tumulto ou assalto, ou em qualquer outra ocasião, quantas almas não seriam poupadas da danação eterna! 

Santo Agostinho nos ensina que o demônio não importuna muito essas pessoas; pelo contrário, ele até as despreza e cospe sobre elas. Assim, você me perguntaria: então quem são as pessoas mais tentadas? São estas, meus caros amigos, observem-nas atentamente. As pessoas mais tentadas são aquelas que estão prontas, com a graça de Deus, a sacrificar tudo pela salvação de suas pobres almas, que renunciam a todas as coisas que a maioria das pessoas buscam ansiosamente. E não é um demônio só que as tenta, mas milhões de demônios procuram armar-lhes ciladas. 

Uma vez, São Francisco de Assis e todos os seus religiosos estavam reunidos numa área plana e aberta, onde eles tinham erguido algumas choupanas de palha. Buscando um meio de fazer com que todos fizessem penitências extraordinárias, São Francisco ordenou que fossem trazidos todos os instrumentos de penitência, e seus religiosos os trouxeram aos feixes. Nesse momento, havia um jovem homem a quem Deus concedeu a graça de poder ver o seu Anjo da Guarda. De um lado, ele viu todos esses bons religiosos que buscavam satisfazer sua sede por mais penitências e, do outro, o Anjo permitiu-lhe ver uma legião de 18 mil demônios, que estavam se reunindo em conselho para ver de que modo eles poderiam subverter esses religiosos pela tentação. Um dos demônios disse: 'Vocês não percebem mesmo! Esses religiosos são tão humildes; Ah! que virtude espantosa! são tão desapegados de si próprios, tão apegados a Deus! Eles possuem um superior que os guia, de forma que é impossível ser bem sucedido em qualquer ataque que façamos a eles. Vamos esperar até que o superior deles morra e então introduziremos entre eles jovens sem nenhuma vocação que trarão um certo relaxamento de espírito para a ordem, e aí sim, nós os venceremos'. 

Mais tarde, quando esse homem entrou na cidade, ele viu um demônio sentado sozinho no portão de entrada da cidade e que tinha a tarefa de tentar todos os habitantes daquele lugar. Esse santo perguntou ao seu Anjo da Guarda porque motivo, para tentar apenas aquele grupo de religiosos, haviam tantos demônios, ao passo que, para toda aquela cidade, havia apenas um sentado à sua entrada. Seu bom Anjo respondeu-lhe então, que aquelas pessoas não precisavam de tentação, uma vez que já estavam entregues aos seus próprios pecados, ao passo que aqueles religiosos buscavam fazer tudo que era bom, apesar de todas as ciladas que os demônios podiam armar para eles. 

Meus caros irmãos, a primeira tentação com a qual o demônio tenta qualquer um que começou a servir melhor a Deus chama-se 'respeito humano'. Aquela pessoa acometida pelo respeito humano, não ousará mais a ser vista em todo lugar, passará a se esconder de todos aqueles com os quais ela andava misturada na busca de uma vida de prazeres. Se alguém lhe disser que ela está muito mudada, imediatamente ela ficará envergonhada! Aliás, o que as pessoas vão dizer dela, é a sua contínua preocupação. Chega a um ponto de perder a coragem de fazer qualquer boa ação diante dos olhos alheios. Se o demônio não consegue fazê-la retroceder na caminhada espiritual através do respeito humano, ele infundirá nela um extraordinário medo, dizendo-lhe que suas confissões não servem para nada, que seu confessor não a entende, que seja lá o que ela fizer, será sempre em vão, que ela irá para a condenação eterna do mesmo modo ou que ela obteria o mesmo resultado (a salvação) no final, deixando tudo correr solto ao invés de continuar a lutar, afinal as ocasiões de pecado já demonstraram ser demais para ela! 

Por que será, meus irmãos, que quando alguém não dá a mínima importância à salvação de sua alma, ele parece não sofrer a menor tentação? Mas assim que ele resolve mudar de vida, em outras palavras, assim que ele deseja reformar sua vida para que Deus venha morar nele, imediatamente todo o inferno cai em cima dele? Ouçamos o que nos diz Santo Agostinho a esse respeito: 'Do modo como o demônio se comporta em relação ao pecador: Ele atua como um carcereiro que possui muitos prisioneiros trancados em sua prisão, mas como ele não carrega ou não possui a chave que poderia libertá-los dali, ele tranquilamente pode sair sossegado, certo de que nenhum deles tem como fugir. Este é o modo como ele age com aqueles pecadores que nem sequer consideram a possibilidade de deixar o pecado para trás. Ele nem sequer se dá ao trabalho de tentá-los. Ele vê tais pessoas como perda de tempo, não apenas porque elas não pensam em deixá-lo, mas também porque ele não deseja multiplicar suas cadeias. Por outro lado, seria inútil tentá-los. Ele permite que eles vivam em paz enquanto estiverem vivendo no pecado mortal. Ele esconde do pecador a situação em que ele se encontra, o mais que ele pode, até a morte, e quando acontece dele pintar um quadro da vida daquele pecador, ele o faz de uma maneira tão aterrorizante, que o infeliz pecador súbito cai no desespero. Mas com qualquer um que se decidiu a mudar de vida, que se decidiu a entregar-se completamente à Deus, é toda uma outra história!'
Enquanto Santo Agostinho vivia no pecado e na maldade, ele não tinha porque se preocupar com as tentações. Ele acreditava se encontrar em paz, como ele mesmo nos conta. Mas no momento que ele resolveu dar as costas para o demônio, ele teve que travar um combate contra ele a ponto de perder sua respiração na luta. E isso durou cinco anos! Ele chorou as lágrimas mais amargas e fez as mais severas penitências. Ele chegou ao ponto de dizer: 'Eu discutia com ele em minhas cadeias! Um dia eu achei que tinha sido vitorioso, no próximo dia lá estava eu de novo, prostrado no chão. Esta guerra cruel e obstinada durou cinco anos. No final, Deus me concedeu a graça de vencer o combate contra o meu inimigo'. 

Você pode ver também a luta que São Jerônimo teve que empreender, quando ele se decidiu a viver apenas para Deus e também quando planejou visitar a Terra Santa. Quando ele ainda estava em Roma, concebeu um desejo novo de trabalhar pela sua salvação. Ao sair de Roma, ele se retirou para um deserto para se entregar a todos os exercícios que o amor por Deus o inspirasse a fazer. Então o demônio, prevendo como sua conversão iria influenciar tantas outras pessoas, se encheu de fúria e desespero. São Jerônimo não foi poupado da menor tentação. Eu não acredito que exista um santo que foi mais tentado do que ele. 

Isto foi o que ele escreveu a um de seus amigos: 'Meu caro amigo, eu quero confidenciar-lhe sobre minhas aflições e o estado ao qual o demônio procura reduzir-me. Quantas vezes nessa vasta solidão, na qual o calor do sol se faz insuportável, quantas vezes os prazeres de Roma parecem me assaltar! A dor e a amargura, das quais minh'alma se encontra repleta, fazem me derramar rios de lágrimas dia e noite sem parar. Eu procurei me esconder nos lugares mais isolados para lutar contra minhas tentações e chorar pelos meus pecados. Meu corpo está todo desfigurado e coberto com uma veste rude em trapos. Eu não tenho outra cama a não ser o chão nu e minha única comida é um cozido de raízes e água, mesmo quando estou doente. Apesar de todos esses rigores, meu corpo ainda se recorda dos sórdidos prazeres dos quais Roma inteira está envenenada, meu espírito ainda se encontra no meio daqueles companheiros de prazer e aventuras com os quais eu tão imensamente ofendi a Deus. Nesse deserto, ao qual eu mesmo me condenei para evitar o inferno, junto dessas rochas sombrias, onde eu não tenho outra companhia, a não ser escorpiões e os animais selvagens, meu espírito ainda queima dentro do meu corpo morto, com um fogo de impurezas. O demônio ainda assim, ousa a me oferecer prazeres para que eu os prove. Eu me contemplo tão humilhado por essas tentações e o único pensamento que me faz morrer de pavor é não saber quais austeridades às quais eu ainda devo submeter o meu corpo para uni-lo com Deus. Eis porque eu me atiro ao chão, aos pés do meu crucifixo, banhado em minhas próprias lágrimas, e quando eu não posso mais chorar, eu pego algumas pedras e bato no meu peito com elas, até que o sangue saia pela minha boca, implorando por misericórdia, até que Deus tenha piedade de mim. Será que existe alguém, capaz de entender a miséria do meu estado, desejando tão ardentemente agradar a Deus e amar somente a Ele? Ainda assim, eu estou sempre pronto a ofendê-lo. Que dor isso representa para mim? Ajude-me, meu caro amigo, com o auxílio de suas orações, de forma que eu me torne mais forte para repelir o demônio, que jurou me levar para a condenação eterna'. 

Meus caros amigos, são esses os combates a que são submetidos os grandes santos de Deus. Coitados de nós! Como somos dignos de pena por não sermos assaltados ferozmente pelo demônio! De acordo com todas as aparências, podemos dizer que somos amigos do diabo: ele nos faz viver numa falsa paz, ele nos embala no sono, deixando-nos com a pretensão de que recitamos algumas boas orações, distribuímos algumas esmolas e que fizemos menos más ações do que os outros. De acordo com o nosso padrão, meus caros irmãos, se perguntarmos, por exemplo, àquele sustentador do cabaré ali, se o demônio o tem tentado, ele simplesmente dirá que nada o incomoda absolutamente! Pergunta a esta garota ali, esta filha da vaidade, quais são os combates que ela tem que travar contra o inimigo, e ela vai responder-lhe sorrindo que ela não tem nenhuma luta e que, aliás, ela nem sabe o que é ser tentada. Assim vocês verão, meus caros amigos, que a tentação mais terrível de todas, é exatamente não ser tentado. E vocês verão ainda mais! Vocês verão o estado daqueles a quem o demônio está preservando para o inferno. Eu ousaria dizer ainda, que ele tem o máximo cuidado em não atormentar tais pessoas com a recordação de suas vidas no passado. Do contrário, seus olhos poderiam se abrir para seus pecados! 

O maior de todos os males não é ser tentado porque há então motivos para acreditar que o demônio está apenas esperando nossas mortes para nos arrastar para o inferno. Nada poderia ser mais fácil de ser entendido. Apenas considere o cristão que está tentando, ainda que seja de um modo pequeno, salvar sua alma. Tudo em volta dele parece incliná-lo para o mal, ele dificilmente consegue levantar os olhos sem ser tentado, apesar de todas as orações e penitências! E mesmo assim, um pecador empedernido, que passou uns 20 anos chafurdando na lama do pecado ainda tem a coragem de dizer que não é tentado! Este está num estado muito pior, meus caros amigos, muito pior! Isso é o que deveria fazer você tremer de pavor: não saber o que são as tentações, pois dizer que você não é tentado, é o mesmo que dizer que o demônio não existe ou que ele perdeu todo seu raio de ação sobre as almas cristãs. 

São Gregório nos diz: 'Se você não sofre tentações é porque o demônio é seu amigo, seu líder e seu pastor. E ao permitir que você passe sua pobre vida na tranquilidade, no final de seus dias, ele lhe arrastará com todos os outros para as profundezas do abismo'. Santo Agostinho diz-nos que a maior tentação é não sofrer tentações, pois isso apenas significa que uma pessoa assim, é uma pessoa que foi rejeitada por Deus, abandonada por Deus, e deixada inteiramente à mercê de suas próprias paixões.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

VIDA ESPIRITUAL - A MULHER E A MÃE CRISTÃ

Mulher cristã, tu não nasceste para fazer obras mestras. As grandes obras da política, da guerra, da ciência, da literatura, da arte, não brotaram das tuas mãos, nem do teu engenho. Tudo isto é obra dos homens. Todavia, tu fizeste o que mais vale, formaste esses homens, não só porque os geraste com o teu sangue, mas também porque os modelaste com tua paciência e com teus encantos.

Esposa, Deus te criou para ajuda do homem. Casaste para auxiliar a teu esposo na grande obra de dar filhos a Deus, cidadãos à sociedade, fiéis à Igreja e eleitos ao céu. Sê generosa com Deus; não lhe negues por egoísmo, por temor ao trabalho e à dor, os filhos que te quer dar. Eles serão tua coroa no céu.

Casaste para ajudar teu marido a salvar sua alma, sendo estímulo de sua religião e remédio de suas paixões. Ama-o e sê fiel a ele como a Igreja a Cristo; assiste-lhe com diligência e carinho como a teu companheiro inseparável e sustento de tua existência; obedece-lhe e respeita-o como a teu superior e cabeça; suporta-o com paciência; responde-lhe com mansidão, cala-te quando ele está enfadado; aconselha-o com prudência e sem cansá-lo; não lhe dês ocasião de ciumes com familiariades alheias. Respeita teus sogros, seus pais, como a teus pais; trata as tuas cunhadas, suas irmãs, como a tuas irmãs; promove a harmonia e união entre todos os de casa. Vive em paz com teus parentes e vizinhos.

Mãe, ajuda a teu marido na educação dos filhos. De ti depende, sobretudo, que teus filhos sejam bons cristãos, de ti, que estás sempre com eles; de ti, que és anjo da guarda deles, centro da vida deles, ímã de seus corações e que vales para eles mais que todos os mestres de escola. O que tu lhes ensinares não chegarão jamais olvidar.

Um grande político dizia certo dia: 'Eu teria sido ateu se houvesse podido olvidar uma coisa: a recordação do tempo em que minha mãe tomava minhas mãozinhas com as suas e me fazia ajoelhar dizendo: Pai Nosso que estais nos céus...' Ensina-lhes a rezar, anima-os a frequentar os sacramentos, vigia suas companhias e diversões; tem sumo cuidado em que exista a devida separação entre filhos e filhas e pessoas de diferentes sexos. Corrige-os com amor. Não os castigues com rancor.

Preocupa-te, sobretudo, com as tuas filhas: não dês asas à vaidade delas; obriga-as a aprender os labores de uma dona de casa; não tenhas tanta pressa em casá-las de maneira que não consideres a verdadeira vocação delas, fazendo-as infelizes nesta e na outra vida. Grava em teu coração os mesmos desejos, e em teus lábios as mesmas palavras de Santa Branca de Castela para seu filho São Luís, rei da França: 'Antes que te ver em pecado, quisera ver-te despojado das insígnias régias ou morto'.

(Excertos de texto publicado pela Parroquia del Santísimo Redentor, Chile, pelo Pe. Pedro Felix Salas Fernández).

Retrato de uma mãe

Há uma mulher que tem algo de Deus pela imensidade de seu amor, e muito de anjo pela incansável solicitude de seus cuidados; uma mulher que, sendo jovem, tem a reflexão de uma anciã e na velhice, trabalha com o vigor da juventude; a mulher que, se é ignorante, descobre os segredos da vida com mais acerto que um sábio e, se é instruída, se acomoda à simplicidade das crianças; uma mulher que, sendo rica, daria com gosto seu tesouro para não sofrer em seu coração a ferida da ingratidão; uma mulher que, sendo débil, se reveste às vezes da bravura do leão; uma mulher que, enquanto vive, não a sabemos estimar porque a seu lado todas as dores se esquecem, e que, entretanto, depois de morta, daríamos tudo que temos para vê-la de novo um instante, para receber dela um só abraço, para escutar um só acento de sua voz.(...) 

(Mons. Ramón Ángel Jara)