sexta-feira, 27 de junho de 2014

PALAVRAS DE SALVAÇÃO





'Todo aquele que se declarar a meu favor diante dos homens, também eu me declararei em favor dele diante do meu Pai que está nos céus. 

Aquele, porém, que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante do meu Pai que está nos céus.' 

(Mt 10, 32 - 33)

quinta-feira, 26 de junho de 2014

CINCO SINAIS DE PROGRESSO NA VIDA ESPIRITUAL

A vida espiritual é toda feita de contradições; isto, em outras palavras, quer dizer que a natureza humana é uma natureza decaída. Uma das maiores contradições, e talvez das mais difíceis de manejar, é a seguinte: na espiritualidade é importantíssimo termos um profundo conhecimento de nós mesmos e, ao mesmo tempo, pensarmos muito pouco em nossa pessoa, o que não é muito fácil de conciliar. Menciono esta dificuldade, de início, porquanto, no correr deste tratado, teremos de olhar muito para nós mesmos, e, consequentemente, corrermos risco de pensar também muito em nós; e disto poderia advir maior mal, do que, daquilo bem.

Nenhum conhecimento nos pode ser mais útil que saber a situação em que estamos perante Deus. Tudo depende disso. É para nós a ciência das ciências, mais do que a ciência do bem e do mal que tentou tão violentamente Adão e Eva. Se estamos bem com Deus, tudo está bem conosco, ainda que as mais negras adversidades nos cerquem. Se não estamos bem com ele, nada está bem conosco, esteja embora aos nossos pés o que o mundo possui de melhor e de mais brilhante. É natural que desejemos saber se progredimos na vida espiritual, nada havendo de mal, nem sequer de imperfeito neste desejo, conquanto não seja demasiado. Ser-nos-ia imensa consolação termos razões para supor que adiantamos. Se, pelo contrário, tivermos motivos para crer que haja algo de errado, pelo menos nos será uma segurança e uma garantia ver que não continuamos nas trevas numa matéria que nos toca mais de perto que qualquer outra. O amor gosta de saber se é aceito e retribuído e, sendo Deus o seu objeto, se não é rejeitado como merece ser. O temor deseja esse mesmo conhecimento, por causa dos interesses eternos que estão em jogo.

Não podemos, no entanto, por mais que o desejemos, ter completo conhecimento do nosso progresso na vida espiritual, e isto tanto pelas razões que pertencem a Deus, como pelas nossas. Quanto a Deus, ele gosta de ocultar os seus desígnios. Quanto a nós, o amor próprio exagera o pouco que fazemos. Nem sabemos, com certeza, se estamos em estado de graça, ou, como diz a Escritura, se merecemos amor ou ódio. Asilamos no coração uma quantidade de pecados secretos, e como nos admoesta o inspirado Escritor, não devemos estar sem receio, mesmo quanto ao pecado perdoado.

Há meios errôneos de adquirir este conhecimento, que o coração impaciente e ansioso procura. Todo desejo que não for rigorosamente disciplinado e firmemente subjugado, torna-se, com o tempo, exagerado e desregrado e então sabe encontrar, com astúcia fatal, os meios mais funestos de satisfazer-se a si próprio. Um desses meios errôneos é importunar os diretores para saber qual a opinião que tem a nosso respeito. Isto lhes repugna, porque não querem parecer que tem dons sobrenaturais, como é o discernimento dos espíritos, e porque sabem que esse conhecimento raras vezes é para nosso bem.

(...) Um certo conhecimento do nosso estado é, todavia, possível, desejável e mesmo necessário, enquanto for desejado com moderação e procurado com reta intenção. Carecemos de consolo em tão difícil e duvidosa batalha, e não estamos ainda suficientemente certos no conhecimento claro das operações de graça em nossas almas. Não podemos ser muito dados à oração, sem termos algum conhecimento do proceder de Deus para conosco; e, na verdade, se não soubermos quais as graças que Deus nos dá, não lhes poderemos corresponder. Assim, certa soma de conhecimentos é-nos absolutamente necessária para continuarmos a luta dos cristãos, e os meios lícitos de adquiri-los são a oração, o exame de consciência e as admoestações espontâneas do diretor espiritual.

Sobre o conhecimento do nosso próprio estado espiritual, basta repetir o que já foi dito. É assunto árduo e arriscado. O menor conhecimento que nos possa satisfazer é o bastante, porque é muito difícil procurá-lo com retidão e usá-lo com moderação. Não podemos, porém, dispensá-lo de todo, ainda que sua importância varie segundo a condição espiritual do indivíduo.

É importante, pois, termos uma noção clara no tocante à condição da vida espiritual em que atualmente nos encontramos. Quem se converte, quem torna a Deus, e começa vida nova, faz penitência dos pecados e abjura as falsas máximas que até então observara; sente-se outro para com Deus e Jesus Cristo; entrega-se a certas práticas de mortificação; obriga-se a certas observâncias religiosas; põe-se sob obediência de um diretor espiritual. Então sente os primeiro fervores, é ajudado pela prontidão sobrenatural em tudo o que se refere ao serviço de Deus, pela doçura sensível na oração, pela alegria na recepção dos sacramentos, por um gosto novo pela penitência e pela humildade, por uma facilidade para a meditação, e às vezes pela cessação total ou parcial das tentações. Esses primeiros fervores podem durar semanas, ou meses, ou um ano, ou mesmo dois, mas depois sua obra está feita. Correspondemos mais ou menos fielmente. Tais fervores tem seus característicos próprios, suas peculiaridades, seus sintomas, suas dificuldades. Tem um feitio particular, e necessitam de uma direção especial, que não conviria de outra forma. Agora já passaram e estão fora do nosso alcance. Encontrá-lo-emos de novo no diz do juízo, e não antes.

(...) Pelo amor de Deus, não vos entregueis ao desânimo, senão tudo está perdido. Mas direis: se soubesse pelo menos que estou avançando; se pudesse realmente crer que estou fazendo algum progresso, forçaria meus membros cansados a prosseguir! Dois valem mais que um, diz a Escritura; pois então vamos trabalhar juntos durante algum tempo, falando dos nossos obstáculos e dos meios que temos para superá-los. Não somos santos, bem o sabeis. Não aspiramos talvez à altura dos santos, e, portanto, não devemos tomar liberdades de santos. As nossas lições devem ser sóbrias, seguras e simples. Em todo o caso, não devemos nem voltar atrás, nem parar em meio caminho.

Estamos progredindo: infelizmente, no caminho celeste não há nem poço nem palmeira pelo qual possamos medir as distâncias; só há areia e horizonte. Coragem! Vou indicar-vos cinco sinais de progresso. Se tiverdes um, está bem; se dois, melhor; se três, melhor ainda; se quatro, ótimo; se todos os cinco, alegrai-vos sumamente.

1. Estamos nós descontentes com o nosso estado atual, qualquer que seja, e anelamos algo de melhor e de mais elevado? Então temos razão para ser agradecidos a Deus, porque esse descontentamento é um dos seus melhores dons, e sinal evidente de que realmente estamos progredindo na vida espiritual. Mas devemos lembrar-nos que esse descontentamento deve ser de natureza a aumentar-nos a humildade, e não a causar inquietação de espírito ou desassossego nos exercícios espirituais. Deve consistir num desejo, um tanto impaciente, de adiantar na santidade, acompanhado de profunda gratidão pelas graças passadas e grande confiança nas futuras, e de um sentimento de viva indignação pelo número muito maior de graças recebidas do que correspondidas.

2. Talvez pareça estranho, mas é sinal de progresso estarmos sempre a tentar novos esforços. O grande Santo Antônio fazia a perfeição consistir nisto. Para pessoas, porém, que confundem novos esforços na vida devota com o incessante levantar e recair dos pecados habituais, parece, por ignorância, motivo de desânimo. Não devemos confundir esses esforços contínuos e sempre novos com a inconstância que tantas vezes leva à dissipação e nos retém no caminho do céu. Esses esforços visam coisa mais alta e, portanto, mais árdua, enquanto a inconstância está cansada do jugo e procura conforto e variedade. Nem tão pouco consistem esses esforços em mudar de livros espirituais, de penitências ou métodos de oração, muito menos de diretores. Consistem principalmente em duas coisas: primeiro, em renovar a intenção de querer a maior glória de Deus; e, segundo, em reanimar o fervor.

3. É também sinal de progresso na vida espiritual o termos em vista algo de determinado, como seja envidar esforços para adquirir certa virtude, emendar certo defeito ou praticar certa penitência. Tudo isto é prova de diligência e também indício de vigor da graça em nós. Se não atacarmos um ponto particular da linha do inimigo, dificilmente será uma batalha. Se atirarmos sem alvo, só resultará barulho e fumaça. Não é provável que progredimos, se caminharmos a esmo, sem ter um fim claramente escolhido e sem empregar os devidos esforços e atividades para alcançá-lo, depois de o ter conscienciosamente escolhido.

4. Mas é ainda maior sinal de progresso termos na alma a firme convicção de que Deus quer algo de nós em particular. Estamos certas vezes cientes de que o Espírito Santo nos está atraindo em uma direção de preferência a outra; de que ele deseja a remoção de certo defeito ou quer que nos encarreguemos de alguma obra pia.

Os escritores espirituais chamam a isto 'atração'. Para alguns será uma atração perseverante que dura toda a vida. Para outros muda constantemente. Para muitos é tão obscura que só a percebem de vez em quando; para outros, enfim parece não haver chamado especial. Quando essa atração se alia a um ativo conhecimento próprio e a uma constante vigilância na oração interior, é um grande dom de Deus pelas imensas facilidades que proporciona para levar a alma à perfeição; assemelha-se quase a uma revelação especial. Sentir, pois, com sóbria reverência, essa atração do Espírito Santo é sinal de progresso. Todavia convém lembrar que ninguém deve inquietar-se pela ausência de tal sentimento, que não é nem universal nem indispensável.

5. Aventuro-me também a dizer que certo desejo geral, e cada vez mais crescente, de adiantar na perfeição, não deixa de ter certo valor, como sinal de progresso, e isso, apesar do que tenho dito da importância de visar determinado objetivo. Acho que não estimamos bastante esse desejo geral da perfeição. Naturalmente não nos devemos deter nele, nem nos contentar unicamente com ele. Só nos é dado para prosseguirmos.

Quando, porém, consideramos o quanto ainda se apegam ao mundo a maioria dos bons cristãos e quão espantosa é a sua cegueira para com os interesses de Jesus e quão inacessíveis são aos princípios sobrenaturais, devemos confessar que esse desejo de santidade vem de Deus, que é um grande dom, e que muita coisa, de consequência superior, está nele compreendida. Deus seja louvado por toda alma que no mundo tem a fortuna de possuí-lo

É quase inconsistente com a tibieza, o que não é, em si, pequena recomendação; e embora possamos subir e ir além desse mero desejo, ainda assim ele continua a ser uma condição indispensável para atingir o que lhe fica acima. Não devemos, entretanto, ignorar os perigos inerentes. Todo desejo sobrenatural gozado e não correspondido praticamente deixa-nos em pior estado do que nos encontrou. Para ficarmos seguros, devemos proceder sem demora, transformando o desejo em ato: oração, penitência ou ação zelosa; nunca, porém, precipitadamente ou sem tomarmos conselho.

Aí temos, pois, cinco sinais mais ou menos prováveis de progresso e nenhum está tão acima da inteligência que não esteja ao alcance do mais fraco dentre nós. Não quero dizer, todavia, que a existência desses sinais implique que tudo esteja certo na nossa vida espiritual; mas mostra que estamos vivos, adiantando no caminho da graça. Possuir qualquer desses sinais é possuir algo de inefável, algo de mais precioso do que tudo que nos possa dar a terra de melhor e mais elevado. Repito: se temos um desses sinais, está bem; se dois, melhor; se três, melhor ainda; se quatro, ótimo; se todos os cinco, alegremo-nos sumamente.

(Excertos da obra 'Progresso na Vida Espiritual', do Pe. Frederico W. Faber)

terça-feira, 24 de junho de 2014

POEMAS PARA REZAR (XIV)

Conta e Tempo

Deus pede estrita conta do meu tempo
E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta.
Mas, como dar, sem tempo, tanta conta.
Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?

Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado, e não fiz conta;
Não quis, sobrando tempo, fazer conta.
Hoje, quero acertar conta, e não há tempo.

Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta!

Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,
Quando o tempo chegar, de prestar conta
Chorarão, como eu, o não ter tempo...

(Frei Antônio das Chagas, Séc. XVII)

DO EXAME DE CONSCIÊNCIA

São João Crisóstomo, ao comentar as palavras do Profeta Davi (Sl 4, 5): 'Refleti nos vossos corações, nos vossos aposentos', trata deste exame e aconselha que seja feito cada noite, antes de deitar. E para isso aponta duas boas razões: 

A primeira é para que, no dia seguinte, nos encontremos mais dispostos e preparados para não pecar, nem cair nas mesmas faltas que hoje caímos. Porque, tendo hoje nos examinado e arrependido delas, e feito propósito de emenda, claro está que isto servirá como freio para não voltar a cometê-las amanhã. 

A segunda é que, mesmo para o dia de hoje, servirá como freio sabermos que, à noite, devemos nos examinar, dar conta do que fizemos. Isto nos fará andar com mais atenção e viver com mais recato. Pois, assim como um senhor - diz São João Crisóstomo - não consente que seu encarregado de compras deixe de prestar contas cada dia, para não haver descuidos e esquecimentos que sejam motivo de contas mal prestadas, assim também devemos nos examinar cada dia, para que o descuido e o esquecimento não conturbe as contas que devemos prestar. 

A alma que não é cuidadosa em examinar-se é semelhante à vinha do homem preguiçoso, da qual diz o Sábio (Prov 24, 30-31) que passou por ela e viu que estava caída e cheia de urtigas e espinhos: 'Passei pelo campo do homem preguiçoso, e pela vinha do homem insensato; e vi que tudo estava cheio de urtigas, e que os espinhos cobriam a sua superfície, e que o muro de pedra estava caído'. Assim está a alma daquele que não se preocupa em examinar sua consciência, como uma vinha que não se cuida, abandonada, repleta de ervas daninhas e espinhos. 

Nesta má terra de nossa carne nunca deixam de brotar algumas ervas daninhas. Assim, é preciso andar sempre com a enxada na mão, arrancando a má erva e a má semente que brota. Para isto, serve o exame de consciência, como enxada, para cortar e arrancar o vício e o mal sinistro que começa a brotar, não o deixando progredir nem criar raízes.

(Excertos da obra 'Ejercicio de perfección y virtudes cristianas' do Pe. Alonso Rodríguez)

segunda-feira, 23 de junho de 2014

ORAÇÃO: SI QUAERIS MIRACULA

Esta oração de louvor - ou responsório - em honra de Santo Antônio, embora já tenha sido atribuída a São Boaventura (1218-1274), foi composta provavelmente entre os anos de 1232 e 1240, pelo frei Giuliano de Spira. A oração faz referência a alguns acontecimentos e milagres associados à vida de Santo Antônio de Pádua.

Si quaeris miracula
mors, error, calamitas,
daemon, lepra fugiunt
aegri surgunt sani.

Cedunt mare, vincula;
membra, resque perditas,
petunt et accipiunt
juvenes et cani.

Pereunt pericula,
cessat et necessitas,
narrent hi qui sentiunt,
dicant Paduani.

Cedunt mare, vincula...

Gloria Patri et Filio et Spiritui Sancto...

Cedunt mare, vincula…

Ora pro nobis, beate Antoni.
Ut digni efficiamur promissionibus Christi.

Oremus:
Ecclesiam tuam, Deus, beati Antonii Confessoris tui commemoratio votiva laetificet, ut spiritualibus semper muniatur auxiliis et gaudiis perfrui mereatur aeternis. Per Christum Dominum nostrum. Amen.

(vídeo)

Se milagres desejais, recorrei a Santo António
Vereis fugir o demônio e as tentações infernais.

Recupera-se o perdido. / Rompe-se a dura prisão, 
e no auge do furacão / cede o mar embravecido.

Pela sua intercessão, foge a peste, o erro, a morte, 
O fraco torna-se forte, e torna-se o enfermo são.

Recupera-se o perdido...

Todos os males humanos se moderam, se retiram,
Digam-no aqueles que o viram, e digam-no os paduanos.

Recupera-se o perdido...

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.

Recupera-se o perdido...

Rogai por nós, bem-aventurado Antônio
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

Oremos:
Que a vossa Igreja, ó Deus, possa louvar jubilosa a solene comemoração do bem-aventurado Antônio e, por seus méritos e assistência espiritual, possamos alcançar as alegrias eternas. Por Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.

domingo, 22 de junho de 2014

'NÃO TENHAIS MEDO!'

Páginas do Evangelho - Décimo Segundo Domingo do Tempo Comum


O Evangelho deste domingo nos infunde o sopro da Verdade de Deus. Todas as nossas ações, gestos, pensamentos, palavras, silêncios, desejos, intenções, atos e omissões, praticados a cada segundo, durante toda a vida de cada um de nós, são conhecidos por Deus como escritos em manchetes nas estrelas: 'Até os cabelos de vossa cabeça estão contados' (Mt 10, 30). Nada, absolutamente nada, ficará envolto em penumbra ou esquecimento; todas as coisas serão refletidas no espelho da verdade divina, como oráculo universal: 'nada há de encoberto que não seja revelado, e nada há de escondido que não seja conhecido' (Mt 10, 27).

A certeza final é que deveremos prestar contas de cada palavra, de cada gesto, de cada intenção. Tudo será pesado na balança do juízo particular. A resposta à graça concedida e o mal devido ao pecado; a caridade anônima ou o juízo temerário, a palavra de conforto ou o gesto de revolta. O valor de uma alma é infinito, pois se trata de um ato puro da criação do Pai, na escolha personalíssima de Deus como criatura destinada a partilhar a eternidade com Ele no Céu. Mas o legado desta graça é cumprir fielmente os desígnios de Deus para as almas de sua predileção.

O pensamento da eternidade transforma em palha e espuma os tesouros, grandezas e glórias do mundo. Deus nos escolheu não para sermos peregrinos nesta terra, mas como herdeiros do Céu. E,assim, em cada pensamento ou palavra, o fim último deve ser sempre a busca da vida eterna em Deus, conforme nos fala o Apóstolo: 'Com temor e tremor trabalhai por vossa salvação’ (Fl 2,12). E esta busca passa pelo horror ao pecado e a tudo que nos aniquila como Filhos de Deus: 'Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma! Pelo contrário, temei aquele que pode destruir a alma e o corpo no inferno!' (Mt 10, 28).

'Não tenhais medo!' (Mt 10, 31). O triunfo da alma é seguir o Cristo, Caminho, Verdade e Vida. Quem tem Deus no coração, ama a Verdade e a pratica em tudo e em todos. Quem ama a Verdade, faz a Vontade do Pai que está nos Céu; quem nega a Verdade, é réu de pecado eterno: 'todo aquele que se declarar a meu favor diante dos homens, também eu me declararei em favor dele diante do meu Pai que está nos céus. Aquele, porém, que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante do meu Pai que está nos céus (Mt 10, 32 - 33). Iustus ex fide vivit — O justo vive pela fé.

sábado, 21 de junho de 2014

REVELAÇÕES DA BEATA ANNA MARIA TAIGI


Anna Maria Antonia Gesualda, nasceu em 29 de maio de 1769, em Siena mas, ainda muito nova, sua família mudou-se para Roma. Sem saber ler nem escrever, a jovem foi trabalhar no palácio da nobre família Maccarani, onde conheceu seu futuro marido, Domenico Taigi, com quem teve sete filhos, três dos quais morreram na primeira infância.

Deus concedeu à Beata Anna Maria Taigi, uma simples e humilde dona de casa e mãe exemplar de muitos filhos, visões e revelações extraordinárias em relação aos perigos que ameaçavam a Igreja, acontecimentos futuros e sobre os mistérios da fé. Estas visões e revelações eram feitas por meio da presença de um 'sol místico', disco brilhante com as mesmas dimensões do sol distante, mas provido de raios irradiantes, que se projetava cerca de doze palmos do seu olho esquerdo e três palmos acima de sua cabeça, conservando sempre essa posição. O 'sol místico' lhe apareceu pela primeira vez a ela por volta de 1790 como um disco de fogo e a acompanhou durante toda a sua vida, tornando-se cada vez mais brilhante ao longo dos anos e sua natureza lhe foi revelada por Deus nos seguintes termos:

'Este é um espelho que Eu te mostro, para que conheças o bem e o mal que é praticado'

Nas condições difíceis da família, um novo inquilino passou a ocupar um quartinho da casa simples: Mons. Raffaele Natali, que iria conviver com a beata por cerca de 30 anos e que escreveu mais de 4 mil páginas manuscritas com as transcrições às pressas das inúmeras visões obtidas pela beata através do 'sol místico', e que constituem o tesouro das referências destes eventos extraordinários ocorridos na primeira metade do século XIX.

(página manuscrita das visões de Anna Maria Taigi)

Eis alguns exemplos das profecias da beata obtidas através do 'sol místico' e transcritas pelo Mons. Natali:

  • Sobre a crença geral de que o 'o Paraíso é ali' (setembro de 1831):

'Ah, filha! Paraíso, Paraíso!... Não acredites que nestes tempos os Pontífices possam ir direta e tão rapidamente ao Paraíso. É bom que saibas que houve Pontífices no passado que foram verdadeiramente bons. Mas, Eu te digo que ainda estão para entrar no Paraíso. Que ainda estão purgando!' 

(...) 'fala-se muito apressadamente: ‘Como era bom! Fez isto e aquilo, e certamente foi para o Paraíso!’ Se pudessem ver onde eles estão e quanto penam!' (Vol. IX, 32-34).

  • Sobre os pecados de Roma (31 de agosto de 1816)

'Oh Roma, Roma, habitantes iníquos, que desconheceis o bem que Eu vos fiz. Vou tomando nota de vossa incorrespondência. Mas, quando Meu Pai der a ordem, tudo acabará!... Sabei que agora as almas chovem como neve no inferno. Chorem e chorem todos amargamente, porque Roma não pode mais ser chamada de santa'.

'Os homens vivem como animais. E não procuram senão comodidades e prazeres, e satisfazer plenamente a sua iniquidade. (...) Eu cobrarei vingança sobre eles e deveria aniquilá-los por causa de seus pecados. Contudo, Eu sou Pai amoroso e fico aguardando. Mas quando o tempo estiver esgotado, não haverá mais remédio. Com teus próprios olhos verás um dia aquelas almas que são premiadas nesta terra e que pela sua soberba' [vão para o inferno]. 

'Quero fazer-te ver este lugar. Então, sim, minha filha, terás medo. Pedirás piedade e misericórdia para eles, mas não haverá piedade para muitos. Porque hão de penar para sempre. Sim! Verás como serão atormentados pelos diabos na proporção de seus pecados. Mas, o que mais me atormenta e mais me causa pena, é Eu ser de tal maneira mal recompensado por meus ministros. E aqueles que devem dar o bom exemplo cometem mais pecados que os leigos' (...)

  • Sobre o destino eterno de Napoleão Bonaparte (24 de julho de 1831)

[a cadeira de Napoleão no inferno] 'é feita inteiramente de pontas afiadas como diamantes, toda ela consumida por um fogo que ardia violentamente. Ouviu que nenhuma alma entre as mais amadas por Deus no Céu podia revogar o decreto'. 

'Na manhã do dia seguinte à chegada da notícia [da morte de Napoleão], logo após comungar, ela ouviu na Missa as seguintes palavras, pronunciadas em tom suave e agradável: eis que acabaram os anos, os dias e os momentos daquele que havia posto o mundo em revolução'.

'De que lhe servem agora todos os seus ornamentos de pedras preciosas, prata e ouro que roubou? O sangue dos pobres clama por vingança e clamará até o dia do Juízo Final. E ele, lá embaixo, sofrerá a pena, e toda a sua estirpe vai se reunir com ele. Porque aqueles que, no mundo gozaram prazeres e contentamentos, é necessário que os paguem na outra vida com cruéis tormentos' (Vol. V, 803 - 805).

  • Sobre o futuro da Igreja (novembro de 1816)

'Tudo o que aconteceu não é nada [tribulações durante o pontificado de Pio VII]. Antes bem, não é mais do que um sopro. Ah o que vai ser a 'definitiva'! [nome usado por Deus para descrever o embate futuro e final entre o bem e o mal] (...) Ah, então sim, chorarão'. 

'Pobre Igreja! Pobres igrejas! Oh como estão mal cuidadas! Oh como estão mal administradas! E por quem! Ai! Para dizer toda a verdade, eu quero destruí-las todas, convertê-las em ruínas, não deixar pedra sobre pedra. Que da antiga igreja não fique sequer um sinal. (...) Dentro de todas elas há relíquias de meus santos. Mas, como são tratadas?' (...) 

'Destruirei!... Estou para destruir Roma. Mas não ainda, por causa de tantas almas minhas que ali estão. Mas ai, mísera Roma! Como acabará! Em que mãos vai cair! Os bons virão comigo e os perversos acabarão seus dias amargamente e depois [sofrerão] eternamente, para sempre' (Vol. VII, 265 - 266).

  • Sobre o respeito humano (1828)

'O respeito humano leva ao inferno muitos confessores com todos os seus penitentes. Para não dar um remédio amargo ou o mais mínimo desgosto, morrem tantas almas e vão para a casa do diabo. (...) de quem é a culpa? (...) Sabes de quem é? (...) Quando esses estarão diante de meu Tribunal, o que será deles? (...) Por esta razão, chove almas no inferno como a neve. (...) Vedes quantas ruínas há no mundo? Esta é a causa' (Vol. VII, 433 - 437).

  • Sobre os maus costumes e a confusão das ideias (8 de junho de 1829)

'Agora reinam os maus costumes, a política, o respeito humano, a simulação. Há um escândalo geral por toda parte. Este é o maior e mais forte castigo que caiu sobre todo o mundo: a confusão das ideias. Muitas vezes te disse que antes do fim passaríamos pela Torre de Babel. Mas o fim virá quando Eu achar por bem'. (Vol. VII, 468).

  • Sobre o Restaurador da Glória da Igreja (1828)

'Viste? Observas? Contemplas? Eis a alma apostólica, eis o homem que luta pela vinha, eis aquele que é igual aos que tanto lutavam pela minha glória. Seus esforços, seus suores, suas obras serão premiadas no Paraíso com tanta glória que mente humana alguma jamais conseguirá imaginar'. 

'É tamanho o amor que Eu tenho por essa criatura, que ela só o conhecerá no Paraíso. Esse é um homem verdadeiramente zeloso. Esse não tem mancha alguma. Esse não tem finalidades humanas, não procura interesses e, desde a mais tenra juventude, jamais passou por ele o vício do cortesão'. (Vol. VII, 380).

  • Sobre os tempos finais (13 de setembro de 1831, mensagem de Nossa Senhora)

'Agora não é tempo de milagres, porque a hora de a Igreja retornar ao seu primeiro estado ainda não chegou. Filhos meus, eis aqui vossa Mãe. Eu vos abençoo, abençoa-vos Meu Pai, mas sede bons, sede bons, sede bons'. 

'Sofrei com boa disposição por meu amor, até que venha o Espírito Santo para vos abrasar de amor e dar a definitiva a este mundo iníquo. Tereis chegado ao fim. Fica-vos pouco por padecer. Todos os reinos, cidades, povos, castelos, províncias, se encontrarão em penas, em problemas, em tribulações, em tormentos até a definitiva' (Vol. IX, 152 - 155).

A beata foi marcada, durante toda a sua vida, por incessantes ataques diabólicos, como se pode concluir neste depoimento do Mons. Natali (que morou num quartinho da casa da beata e conviveu com ela, por cerca de 30 anos):

'Ela era de tal maneira oprimida e infestada pelos demônios durante a noite, que sem uma ajuda extraordinária do Senhor um espírito mais robusto teria sucumbido. Lembro-me que, nos primeiros cinco anos em que morei em sua casa, eram de tal maneira frequentes os fantasmas, os rumores, as aparições monstruosas de espíritos malignos que assolavam toda a casa, que me senti obrigado a dormir vestido sobre um sofá, para ir lhe aspergir água benta; e naquelas circunstâncias eu experimentei a grande virtude desse sacramental contra os demônios'. 

'Eu confesso minha fraqueza: se o Senhor não me sustentasse especialmente, eu fui muitas vezes tentado a deixar essa casa, embora lembrasse que meu bispo [S. Vincenzo Maria Strambi] me dissera que jamais a deixasse. E quando se aproximava o fim da tarde, eu ficava pensando na noite e parecia-me cair sobre mim um peso insuportável ' (Proc. Ordin.,  379 - 380).

Anna Maria Taigi morreu em 9 de junho de 1837, ao cabo de nove meses de agudos sofrimentos, com a idade de sessenta anos. Foi beatificada em 1920 e seu corpo incorrupto  jaz em ataúde de cristal na Igreja de São Crisógono em Roma, dos padres Trinitários, em cuja ordem a beata era terceira.